20 anos sem Gonzagão // Nem todos se lembram do Rei do Baião


O caderno Viver encerra hoje a série 20 Anos Sem Gonzagão, que desde o último domingo trouxe matérias, entrevistas e reportagens sobre o Rei e seu legado. Durante cinco dias, conversamos com pesquisadores, ex-parceiros, parentes, “afilhados” e também o herdeiro inconteste, o sanfoneiro Dominguinhos. Fomos até Exu para conferir in loco a falta que seu mais ilustre filho faz. Viajamos ao Ceará, terra de Humberto Teixeira, imprescindível parceiro de Asa branca e outros imbatíveis baiões. Por fim, mapeamos o alcance de sua obra, que transita, impávida, pelo improvável percurso que liga o sertão do Araripe aos clubes noturnos de Nova York.

Consciente do papel de Luiz Gonzaga na construção da identidade nordestina, o governo de São Paulo investiu R$ 1,5 milhão em três dias de homenagens, no Vale do Anhangabaú, centro da capital paulista. A programação contou com 35 shows gratuitos com Dominguinhos, Alceu Valença, Elba Ramalho e Cordel do Fogo Encantado, espetáculos decirco e teatro e barracas de comidas típicas e artesanato. Representado por seus familiares, Gonzagão também recebeu a Ordem do Ipiranga, honraria mais elevada do estado. Mais de 200 mil pessoas compareceram ao evento.

Enquanto isso, em Pernambuco, o poder público tratou os 20 anos sem Luiz Gonzaga como fosse uma data qualquer. No último domingo, o principal programa foi promovido pela Prefeitura do Recife, através do Memorial Luiz Gonzaga, que realizou shows, oficinas e mostras no Pátio de São Pedro. Já o governo do estado apoiou a programação de Exu, realizada no Parque Aza Branca, antiga casa dos Gonzaga. O aporte foi de R$ 30 mil, a pedido da ONG que administra o espaço. Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe, informou ao Diario que a grande celebração está reservada para o aniversário de Gonzagão, no próximo 13 de dezembro, quando o festival Pernambuco Nação Cultural encerra as atividades no Sertão do Araripe. “Esse foi o acerto com a região, discutido em fóruns”, diz Azevedo. Como nas demais etapas dofestival, haverá shows, teatro e mostras de cinema, artes plásticas e fotografia.

Ela explica que a Fundarpe optou por investir na sustentabilidade do Aza Branca, tombado patrimônio estadual na última sexta-feira. O acordo prevê o levantamento do acervo de Luiz Gonzaga em parceria com a Fundação Gilberto Freyre e a recuperação física do imóvel que abriga o museu e a casa onde o artista morou. “Não trabalhamos de forma pontual. Estudamos por dois anos o tombamento. Conseguimos homologar no Diário Oficial no último final de semana”, diz Azevedo, que na mesma visita, oficializou o Ponto de Cultura Alegria Pé-de-Serra, que também funciona no local.

(Diario de Pernambuco, 06/08/2009)

20 anos sem Gonzagão

O caderno Viver inicia hoje uma série dedicada a Luiz Gonzaga, o artista que colocou o Nordeste no mapa da MPB.

Quando ele se foi, a tristeza foi grande para aqueles que acompanhavam sua trajetória única com admiração. E para tantos outros que vivem ou se identificam com os valores por ele propagados.

O velho Lua foi pro céu aos 76 anos, vítima de pneumonia, em 2 de agosto de 1989. Aqui, na Terra, sua obra parece não ter data de validade. Se em vida foi cantada por Peggy Lee, Dizzy Gilespie e Amália Rodrigues, no século 21 segue sampleada e reinterpretada por músicos das mais diversas vertentes e quadrantes do mundo.

Segundo de nove filhos de Seu Januário dos Santos e Ana Batista, Luiz Gonzaga do Nascimento foi assim batizado por nascer em 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. O sobrenome foi sugestão do padre, inspirado em São Luiz Gonzaga e no mês do nascimento de Jesus. Dos oito aos 14 anos, acompanhou o pai que tocava em festas da região.

Com 17 se alista noExército, onde é apelidado de “bico de aço”, por tocar corneta. Quando ganha a dispensa, fica no Rio de Janeiro, onde toca para estudantes e trabalhadores nordestinos que para lá migraram.

Em 1946 lança a música Baião, interpretada pelo grupo Quatro Azes e um Coringa, criada em parceria com o compositor cearense Humberto Teixeira. Na esteira viriam Asa Branca, Assum preto, Qui nem jiló e outros sucessos. Em 1949 conhece Zé Dantas, importante parceiro com quem compõe Acauã, Xote das meninas.

Em 1962, morre Zé Dantas e surge João Silva, que o levaria a vender milhões de discos. Em 1980, toca para o papa João Paulo II. No último show, em junho de 1989 no Teatro Guararapes, declarou: “Ninguém vai acabar com o forró. Não vai porque essa é a música do povo”.

Na edição de hoje, dedicada ao cantador do Araripe, conversamos com pesquisadores e artistas, numa tentativa de apresentar caminhos por onde trilham o herdeiro Dominguinhos e seguidores do Rei do Baião.

Há também as homenagens, que começam em Exu, terra natal de Gonzaga, e desembocam no Recife. Confira em reportagens, o legado do sanfoneiro que quis ser lembrado por cantar “as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor”.

(Diario de Pernambuco, 02/08/2009)

Do Recife a Exu, todos lembram Seu Lua

Ao longo do dia, as cidades Recife e Exu se desdobram em homenagens ao Rei do Baião. No Recife, os festejos são iniciativa da Prefeitura Municipal e marcam o primeiro ano de vida do Memorial Luiz Gonzaga, localizado na casa 35 do Pátio de São Pedro. Por isso, das 9h à 0h, o local abre as portas com uma mostra especial de documentários e oficinas de instrumentos para crianças, jovens e adultos. Também às 9h, Arlindo dos Oito Baixos abre uma série de shows em frente ao Memorial, no Pátio de São Pedro, seguido por cinco trios de pé-de-serra.

Entre 10h e 14h, uma frevioca faz o percurso entre o Mercado da Boa Vista e da Madalena, homenagem da Orquestra Sanfônica de Oito Baixos de Santa Cruz do Capibaribe. A partir das 15h, o tradicional Forró de Arlindo (Avenida Hildebrando de Vasconcelos, 2900 – Dois Unidos) abre as portas para reverenciar e evocar Gonzagão, com apresentações do Trio Macambira, Jaqueta de Couro, Trio Chinelão e do anfitrião Arlindo dos Oito Baixos.

De volta ao Pátio de São Pedro, das 17 às 19hé a vez dos sanfoneiros da cidade de Salgueiro prestarem seu tributo. Às 19h, é chegada a hora de celebrar a missa na Igreja de São Pedro dos Clérigos, com a presença de membros da família Gonzaga. Às 20h, Gennaro e Santanna fazem uma homenagem ao zabumbeiro Quartinha. Depois, haverá shows de Chiquinha e Sérgio Gonzaga, Camarão, Território Nordestino, Irah Caldeira, João Lacerda, Genival Lacerda, Andrezza Formiga, Salatiel Dias, Cristina Amaral, Nádia Maia, Sevy Nascimento, Roberto Cruz, Seu Januário, Dudu do Acordeom, Rogério Rangel, Joana Angélica, Ed Carlos, Roberto Lins e Muniz do Arrastapé. O acesso a todos os eventos é gratuito.

Em Exu, terra natal do sanfoneiro, a programação está concentrada no Parque Aza Branca, antiga residência dos Gonzaga, hoje transformada em museu e espaço para eventos. A programação começa às 9h, com uma missa celebrada à sombra de um frondoso juazeiro. Logo após, no mesmo local, o sanfoneiro Joquinha Gonzaga, sobrinho de Luiz, recebe companheiros como Joãozinho de Exu, TarginoGondim, Flávio Leandro, os grupos Harmonia do Forró e Três do Cariri, além de outros sanfoneiros da região do Araripe. A entrada é franca. Informações: (87) 3879-1295.

(Diario de Pernambuco, 02/08/2009)