Lewis Trondheim: "Quadrinhos podem gerar menos dinheiro, mas são um ambiente criativamente mais rico"


Auto-representação do artista: “desenho mais animais do que humanos. Prefiro os traços simples”

Apesar de não ter livros publicados no Brasil, o cartunista Lewis Trondheim tem sido tratado com distinção em sua pasagem pelo país. Iniciados sabem que sua importância vai além do prestigiado Grand Prix de la Ville d’Angoulême, honraria máxima concedida em 2006 pelo festival de mesmo nome, tão importante para as artes gráficas quanto o de Cannes para o mundo do cinema. “Por dez minutos, senti certa agonia. Pensei que este seria o fim, mas depois aceitei como um desafio para fazer coisas novas”, disse Trondheim, durante encontro com cerca de 30 pessoas na Aliança Francesa do Recife, na última segunda-feira.

Para quem perdeu o encontro com o artista, a boa notícia é que Gênesis apocalípticos e Os inefáveis, a primeira versão brasileira de trabalhos de Trondheim, acabam de ser lançadas em volume único pela editora paraibana Marca de Fantasia, que o recebeu com a Aliança Francesa em João Pessoa.

O momento culminante de Trondheim no Brasil será hoje, dentro da programação do Rio Comicon, na capital carioca, ao lado de outro talento francês, o veterano Edmond Baudoin. “Essas convenções são chatas, mas pagam as viagens. Se for para dar autógrafos, prefiro ficar na França. Encontros como estes são muito melhores”, disse o artista.

A visita ao Recife está devidamente registrada em seu caderno de desenhos, em esboços como os feitos na Praça da República, enquanto tomava um café no Teatro de Santa Isabel. Como bom desenhista, ele é observador e não lhe escapou a peculiar árvore da Praça do Arsenal, no Recife Antigo, sustentada por uma estrutura de ferro. “Pensei: é bom que as pessoas se ocupem de árvores e nesse momento alguém passou e fincou uma garrafa de água vazia no tronco”.

Outras amostras de seu humor sarcástico e direto foram dadas durante a conversa, em que produziu uma história inédita inspirada em sua experiência no aeroporto do Rio. “Meu tema preferido é a decapitação de crianças”, declarou. Logo depois, amenizou para não chocar demais a plateia: “gosto de falar de situações de poder e sobre o livre arbítrio que as pessoas podem ter”.

Trondheim conta que começou tarde nos quadrinhos, pois não acreditava ter o talento necessário. Primeiro estudou publicidade e, aos 24 anos, passou a criar fanzines. O primeiro contrato para fazer um livro veio aos 30. Hoje, são mais de 150. Mesmo assim, e com o reconhecimento em Angoulême, ele não se considera um autor de sucesso e se define como preguiçoso. “Por isso desenho mais animais do que humanos e prefiro os traços simples”. Mas chegar ao simples, ao traço mínimo, não é tarefa fácil. É uma arte para poucos.


Trecho de Gênesis Apocalípticos, publicado no Brasil pela Marca de Fantasia

“Tive a sorte de ser bem recebido pela imprensa, mas vendo muito menos do que outros autores franceses. E ganho o suficiente para continuar fazendo o que gosto. Se vendesse mais, o dinheiro me obrigaria a fazer sempre a mesma série, o mesmo personagem. Seria um prisioneiro, não um autor”. Inevitável não lembrar de René Goscinny e Albert Uderzo, os criadores de Asterix e Obelix. “Antes do sucesso, eles criaram outra série, que não funcionou”.

Perguntado se tem algum guru, Trondheim responde que admira o trabalho de alguns artistas mas que procura não pensar muito nisso. “Para não me inspirar demais e correr o risco de fazer uma cópia ou comprometer a originalidade do trabalho; a França tem grandes mestres que são copiados, sem que exista uma compreensão do processo por trás do traço. Para mim, mestre é uma questão de atitude, como Bill Waterson, que desenhou Calvin e Haroldo por dez anos e parou para ficar íntegro, pois quiseram fazer merchandising com os personagens”.

Trondheim é também fundador da L’Association, editora com a qual ele, Menu, Stanislas, Mattt Konture, Killoffer e David B. (Epiléptico) renovaram o quadrinho francês no anos 1990. A ideia não era questionar o mercado editorial do país, um dos maiores do mundo, mas provocar mudanças estéticas.

Entrevista >> Lewis Trondheim

O que motivou a criação da L’Association?
Queríamos fazer algo diferente do convencional para a época, como narrativas autobiográficas e baseadas em sonhos, ou histórias feitas em um único quadro por página. Também fizemos desenhos sem texto, para outra pessoa escrever e vice-versa.

O que acha de adaptações dos quadrinhos para o cinema, como Gainsbourg – vie heroique e Persépolis?
Não assisti. E mesmo assim, prefiro os originais. Sou amigo de Joan Sfar (autor da HQ e do filme sobre Serge Gainsbourg) e disse a ele: se você vai fazer um filme, faça algo próprio, de forma autêntica. Na França há mais cartunistas do que cineastes. Posso compreender a frustração deles e a vontade de fazer cinema. Mas seria algo perigoso se eles fizessem sucesso no cinema. Isso significa mais dinheiro, e portanto, mais problemas. Os quadrinhos podem gerar menos dinheiro, mas são um ambiente criativamente mais rico, o que pode render resultados mais surpreendentes em termos narrativos do que o cinema.

O que importa mais, a qualidade do traço ou a ideia?
Se a HQ for feia, mas tiver ideias interessantes, o leitor vai chegar ao fim. O contrário também funciona assim. É comum artistas gráficos competentes fazerem bons desenhos, mas histórias nem tanto. Eu prefiro uma boa história a um bom desenho.

(Diario de Pernambuco, 23/10/2011)

Vida traçada: Flávio Colin em livro da Marca de Fantasia

A editora paraibana Marca de Fantasia publica Vida traçada, um estudo de Gonçalo Júnior sobre Flávio Colin, um dos maiores artistas da história dos quadrinhos brasileiros.

É o 21º volume da Coleção Quiosque. Custa R$ 13, somente por encomenda.

A biografia aqui publicada traz informações não só da carreira profissional de Colin. Gonçalo foi até a infância do desenhista, marcada por um episódio trágico.

Fez parte da pesquisa três longas conversas com Dona Norma, a viúva de Colin.

Desde os anos 1950, Colin (1935-2002) produziu quadrinhos de diferentes gêneros. Do terror ao histórico (quadrinizou a Guerra dos Farrapos). Nas últimas décadas, se dedicou a temas do folclore nacional, como o Curupira.

Sua última fase se deu em parceria com o roteirista mineiro Wellington Srbek, com quem lançou o premiado Estórias gerais.

Leia matéria sobre a HQ aqui. Entrevista com Srbek aqui.

Roteirista e proeminente pesquisador dos quadrinhos, Gonçalo Jr. é autor de A guerra dos Gibis (Companhia das Letras), O homem abril (Opera Graphica), entre outros.

Novos títulos da editora Marca de Fantasia

A editora paraibana Marca de Fantasia acaba de lançar mais dois números da série Veredas, dedicada a estudos acadêmicos sobre comunicação e artes.

O primeiro título é O documentário paraibano no cinema brasileiro – Mito, reconstituição e ficção em Aruanda (R$ 10), organizado por Lúcio Vilar e Cecília Porto.

O livro reúne artigos dos críticos e cineastas João Batista de Brito, Wills Leal, Jean-Claude Bernardet, Sílvio Da-Rin e Amir Labaki, acerca do cultuado filme do paraibano Linduarte Noronha, que também é nome de festival.

O segundo, O príncipe lê jornais: cotidiano e poder no jornalismo impresso (R$ 14), tem organização do professor da UFPB Wellington Pereira, e é fruto de seus estudos com alunos sobre as mídias e sua relação com o cotidiano.

Os livros estão à venda somente no site da editora.

A Marca de Fantasia é uma editora independente, com base em João Pessoa, PB. Fundada há mais de 10 anos, seu objetivo é publicar e discutir quadrinhos, fanzines, e demais artes gráficas. Recentemente, este blog publicou um post a respeito, com uma longa entrevista com Magalhães.

Sua mais nova série se chama Biografix, dedicada a mestres da HQ e catuns brasileiros. A Caravela, de Nilson; Shima: HQs clássicas de um samurai dos quadrinhos, de Julio Shimamoto; e Você sabia?, de Edson Rontani são os lançamentos mais recentes.

Por email, Henrique Magalhães antecipa os próximos lançamentos:

“O próximo número do Top! Top! trará uma longa entrevista com Edgar Franco, realizada por Michelle Ramos, do sítio ZineBrasil, tratando das investigações desse autor no campo das histórias em quadrinhos eletrônicas e outras áreas de seus estudos. O número seguinte fará uma homenagem a Henfil”.

Professor de comunicação, Henrique disse ao Quadro Mágico que está iminente a criação do Núcleo de Histórias em Quadrinhos na UFPB: “Agora que estamos implantando o Mestrado em Comunicação, ficará mais fácil montar um núcleo de pesquisa em histórias em quadrinhos. Estamos elaborando o projeto, que deve estar pronto neste semestre”.

Marca de Fantasia – exemplo de qualidade e independência editorial

Durante boa parte do dia, Henrique Magalhães trabalha na Universidade Federal da Paraíba, onde dá aula de laboratório de pequenos meios para estudantes de comunicação. Nas horas livres, em vez de descansar, ele começa outro expediente, dedicado a fazer livros e revistas em quadrinhos. Henrique é dono da Marca de Fantasia, a editora independente e absolutamente não-comercial, que há mais de dez anos vem prestando grande serviço aos quadrinhos nacionais.

A Marca de Fantasia começou como fanzine, que circulava em João Pessoa nos idos de 1985. Após voltar da França, onde se pós-graduou no tema, Henrique decidiu ampliar seu trabalho para um projeto editorial mais abrangente, que contemplasse inclusive livros teóricos sobre quadrinhos, fanzines e artes afins.


A NOVA ONDA DOS FANZINES, DE HENRIQUE MAGALHÃES

Para um independente, o catálogo de Henrique impressiona. Dos 70 títulos já publicados, cerca de 50 estão disponíveis em seu catálogo virtual, vendidos ao preço máximo de R$ 15.

Essa fantástica fábrica de revistas em quadrinhos funciona no conforto de um apartamento, na beira mar de João Pessoa. O equipamento – um computador conectado a uma impressora laser, está montado num quarto simples e tranquilo, ideal para a atividade. Nas paredes, estantes revelam o estoque de edições disponíveis para envio imediato. Ao redor há algumas telas, algumas assinadas por Shiko, uma das melhores revelações dos quadrinhos autorais brasileiros dos últimos anos.


MARGINAL, COLETÂNEA DO TRABALHO DE SHIKO EM FANZINES

Além de Shiko, cujo trabalho está na coletânea Marginal, a Marca de Fantasia publicou praticamente todos os artistas paraibanos em atividade: Mike Deodato, Cristóvão Tadeu, Emir Ribeiro, e o próprio Henrique, que além de editor e pesquisador, cria seus próprios quadrinhos.


TOP! TOP! 23 APRESENTA ENTREVISTA INÉDITA COM O GAÚCHO EDGAR VASQUEZ

Semestralmente, o fanzine Top! Top! (o nome vem da onomatopéia feita pelas mãos do Fradinho, o mais sacana personagem de outro Henrique, o grande Henfil) traz uma seleção de quadrinhos que inclui material estrangeiro, além de entrevistas com artistas e estudiosos – as mais recentes são com o paulista Marcio Baraldi, o gaúcho Edgar Vasquez (criador do antológico Rango), o pernambucano Jô Oliveira e o pesquisador paulista Gazy Andraus.


RANGO, UMA DAS CRIAÇÕES DE VASQUEZ

Aliás, dois anos após a morte de Henfil, Magalhães o homenageou fundando a gibiteca Henfil, que veio antes da localizada no Centro Cultural Vergueiro, São Paulo. “Tudo bem, Henfil merece várias gibitecas”, brinca, na entrevista abaixo, concedida pessoalmente, direto de João Pessoa.

O encontro se deu no ano passado, na mesma época do lançamento da Coleção Biografix, dedicada a publicar mestres dos quadrinhos brasileiros. Henrique estava bastante satisfeito em informar que o livro de estréia seria Lugares In-Comuns, de Jaguar, um belo resgate de uma obra há décadas fora de catálogo. Dois dias depois, a decepção: o título deveria ser retirado de circulação, por razões contratuais entre o artista e a editora Desiderata, atual detentora dos direitos de publicação de sua obra. No post abaixo, entre outros assuntos, Henrique fala sobre este frustrante e desnecessário episódio.

Entrevista // Henrique Magalhães: "O quadrinho está deixando de ser um produto de massa para ser uma comunicação dirigida a pequenos públicos"

Como surgiu a Marca de Fantasia?
No início, Marca de Fantasia era um fanzine que eu editei aqui em 1985. Quando eu voltei da França, onde fiz meu doutorado de sociologia comparando o modo de produção entre os fanzines brasileiros, portugueses e franceses, achei interessante fazer um projeto editorial, e não apenas um fanzine. Na França vi tanta coisa, principalmente no meio independente, que eu pensei em adotar essa tendência para os produtos locais. Criar o próprio mercado, independente e específico para a produção nacional. E ocupar um nicho de mercado que não era ocupado pelas editoras comerciais. Que era o mercado das livrarias especializadas, que começava a se expandir. Eu tinha dos EUA, eu vi isso crescendo na França. A idéia não era manter um título, mas um projeto editorial que pudesse publicar a produção nacional independente, os novos autores, dar visibilidade a gente que fica restrita a seus estados, como os produtores de São Luis, Salvador, Porto Alegre, Recife, João Pessoa. E ao mesmo tempo continuar uma produção jornalística, que é o fanzine, com crítica, análise, entrevista.

Daí a editora foi fundada em três linhas: o fanzine Top Top!, que permanece até hoje; os quadrinhos poéticos, que eu reuni numa revista chamada Mandala até o início do ano 2000; e a série Das Tiras Coração, editada com Edgar Guimarães, da revista Quadrinhos Independentes (QI), em Minas Gerais. Cada publicação seria trimestral, o que daria uma por mês. Isso durou mais ou menos um ano.

E os livros teóricos?
Com o tempo, vi que haviam muitos trabalhos acadêmicos sendo feitos por alunos e professores, e que ficavam nas gavetas depois de defendidos. Então eu criei a coleção Quiosque, onde estes estudos são veiculados. É uma coleção de bolso que já tem 18 números de material nacional e estrangeiro. Até hoje continuo lançando livros teóricos, que é o que tem tido maior repercursão dos trabalhos da editora, porque fundamenta outros trabalhos teóricos.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS: ESSA DESCONHECIDA ARTE POPULAR, DO FRANCÊS THIERRY GROENSTEEN – À VENDA POR APENAS R$ 8.

Eles representam que parte de sua produção atual?
Representam mais de 50%, em vendas e títulos disponíveis. Mais do que os quadrinhos. Os álbuns eu lanço mais pelo capricho do que pela viabilidade.

De onde vem esse interesse acadêmico pelos quadrinhos?
Os quadrinhos marcaram a infância de todo mundo. Mesmo quem leu pouco, já passou pelos quadrinhos. E é algo sedutor demais porque mexe com a linguagem própria, que não são as artes plásticas, não é a literatura, é a fusão das duas. Não é cinema, é outra coisa, é outra arte. Isso motiva muita gente. É uma fonte de pesquisa inesgotável.


RISCOS NO TEMPO, DE J. AUDACI: LIVRO-PESQUISA SOBRE A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS PARAIBANOS

Como funciona a produção dos livros, álbuns e revistas?
Produzo conforme a demanda. Todo trabalho é artesanal. Antes eu reproduzia com fotocópias. Mas precisava terceirizar, e não deu pra manter a qualidade. Então comprei uma impressora laser pra fazer o miolo das publicações em casa. Quando vou lançar um livro, faço a capa em off-set, papel cartonado colorido, 200 cópias. E depois faço o miolo conforme a demanda, de 20 em 20 cópias. Todo o trabalho é feito em casa, porque é mais barato para o esquema de pequenas tiragens.

E a divulgação e distribuição?Para divulgar, mando os lançamentos para uma lista de emails, e quando as pessoas acessam o site, acabam se interessando por outros livros. Tem toda uma rede online que faz o círculo de leitores. E cada vez tem mais gente nova procurando a editora, principalmente no meio acadêmico.

Qual a história da Gibiteca Henfil?Foi fundada em 1990, e passou 12 anos no Espaço Cultural José Lins do Rego.

Não tem nada a ver com a gibiteca do Centro Cultural São Paulo, que leva o mesmo nome?
Não. A daqui foi fundada antes (risos). Mas tudo bem, Henfil merece várias gibitecas (risos). Ela foi baseada no meu próprio acervo, na minha coleção. Como eu tinha muita revista, muito fanzine, e não dava mais conta do recado, eu disse: vou socializar isso. E abri uma gibiteca. E ela se transformou num projeto de extensão da faculdade. Mas quem menos dava atenção para a gibiteca era o próprio espaço cultural. A gibiteca circulou em todos os lugares de lá, porque a cada mudança de direção eles tentavam acabar com o projeto, dizendo que era um monte de papel velho. E mudavam para um canto cada vez mais escondido. Briguei com todas as diretorias. Até chegar ao ponto em que eu construí um espaço lá dentro, com a ajuda da prefeitura.

Foi tanto descaso que resolvi tirar a gibiteca de lá. Hoje está no departamento de comunicação da UFPB, que é onde eu trabalho. Eu dou aula nela, atendo aos alunos, mas não está aberta ao público.

Quais os planos para ela?
É continuar no departamento, e servir de fonte de pesquisa. Vou fundar um núcleo de pesquisa em quadrinhos dentro da gibiteca.


LUGARES (IN) COMUNS, DE JAGUAR – LIBERADO ANTES, CENSURADO DEPOIS

Como se deu a censura da reedição do livro de Jaguar, Lugares In-Comuns?
Pela manhã recebi um telefonema da editora da Desiderata, que foi muito indelicada. O acordo com Jaguar houve, sim, há um ano, quando ele morava em Brasília e novamente agora, em junho, por telefone, antes do anúncio do livro. Depois que lhe expliquei que a Marca de Fantasia não tem fins lucrativos e que não se chocava com os interesses da Desiderata, ele concordou que eu fizesse a edição. Enviei-lhe um exemplar já pronto e um modelo de contrato, onde coloco, inclusive, a forma de pagamento dos direitos autorais.

Só que a Desiderata disse que eu desrespeitei o autor, que fiz a publicação sem sua autorização, que não pago o autor. Um monte de desinformação. Liguei pra Jaguar pra tentar resolver o caso e pedir que ele intercedesse pela Marca de Fantasia junto à Desiderata. Ele foi super ríspido, disse que não tinha autorizado nada, que um ano, desde o primeiro contato, era uma eternidade e que ele não permite, de forma alguma que eu prossiga com a edição. Disse até que não tinha mais tido contato comigo, depois de Brasília. Ora, o endereço dele no Rio foi ele mesmo que me deu, quando lhe telefonei em junho deste ano. Certamente ele sentiu a pressão da Desiderata e resolvel voltar atrás, da pior maneira possível. Em vez de assumir o que disse, tentou me chamar de mentiroso e desonesto. Uma coisa realmente triste.

A coleção Biografix continua, não vai parar por isso. Estamos em negociação, eu e Wellington Srbek, para a edição de um livro de Nilson, outro de Shimamoto e mais outro de Edson Rontani. Os autores são muito simpáticos com a proposta da coleção e da editora, mas só farei as edições depois de ter todos os contratos assinados.

Na sua opinião, porque hoje há menos revistas em quadrinhos nas bancas do que 20 anos atrás?
O quadrinho está deixando de ser um produto de massa para ser uma comunicação dirigida a pequenos públicos. A não ser os quadrinhos de super-herói ou os infantis, que realmente são mercados muito amplos. Mas aí você vê gente que tem uma formação literária forte, que está ligada aos quadrinhos, como o Mutarelli, que faz literatura e faz quadrinhos. É um outro ramo, um outro nível de produção.

Claro que as bancas da minha infância havia mais títulos. Mas a gente ta vivendo uma mudança nos meios de comunicação com a informática e com o cinema baseado na informática. Isso de certa forma tira o público dos quadrinhos. Talvez os quadrinhos estejam se tornando um objeto mais de culto, para um público mais adulto, que vai buscar nas livrarias especializadas o seu livro, o seu álbum. Mas sempre vai haver os quadrinhos de massa. Eles sempre vão existir, como o mangá é um fenômeno que não se esperava que acontecesse. Quando as publicações de super-herói entraram em crise, apareceram os mangás, que vendem mais ainda. Não acredito que os quadrinhos no suporte papel vão se acabar.