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Nunca houve um festival de animação no interior de Pernambuco. Coube a Lula Gonzaga, autor do primeiro curta de animação feito no estado (“Vendo Ouvindo”, 1972) e do primeiro encontro brasileiro de animação (1987), realizar o Animacine – Festival de Cinema de Animação do Agreste, que desde a última terça-feira vem se revezando em filmes e ideias, exposições e oficinas.
Sediado em Caruaru, o Animacine tem alcance regional, se estendendo em mostras itinerantes em Gravatá e Bezerros. No emblemático Museu do Barro, a cerimônia de abertura foi marcada pela presença de importantes representações do cinema e da cultura popular, dimensão na qual o evento se propõe a trabalhar. Para Gonzaga, o cinema de animação é atividade estratégica para o fortalecimento da arte popular, no agreste representada pela música, xilogravura, a manufatura de bonecos e objetos de barro.
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Responsável pelo Movimento Canavial, na Zona da Mata Norte, o produtor cultural Afonso Oliveira falou sobre a importância de um evento como o Animacine. “Temos uma política cultural tímida para formação e patrimônio”, disse, elogiando a iniciativa como estratégica para a formação de uma política cultural capaz de formar novos produtores, ao contrário da cultura dos grandes eventos, baseados em palcos grandiosos e passageiros. “Sou a favor de pequenas subversões, contrárias aos grandes eventos, que só oferecem mais do mesmo”.
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Antônio Carrilho: a produção de imagens precisa ser compreendida |
O cineasta Antônio Carrilho trouxe a discussão para o campo do cinema e da necessidade de cada região ter sua própria representação audiovisual. “Precisamos perceber a importância do audiovisual nas nossas vidas. As imagens estão no nosso dia a dia e entender como elas são produzidas é essencial para reagir ao mundo de forma mais crítica. Assim poderemos desmistificar a produção da imagem e seu poder de manipulação”.
Logo após houve uma apresentação da Sambada do Coco de Umbigada do Guadalupe, que veio de Olinda para prestigiar o Animacine. Na sala ao lado, uma exposição de xilogravuras do Mestre Dila recebe os visitantes. Nascido em Caruaru, desde o ano 2000 Mestre Dila foi contemplado com o prêmio Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.
Formação – Do Rio de Janeiro compareceram Alexandre Jardim e Joaquim Eufrasino, técnicos enviados pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv) para realizar uma oficina de produção sonora para filmes de animação. A animação está no DNA do CTAv, que foi fundado em 1985 a partir de uma parceria entre a Embrafilme e o National Film Board (NFB), do Canadá, com o objetivo de auxiliar na formação de animadores em técnicas de baixo custo e com isso fomentar a produção de animação no país.
Além de trabalhar como mixador e com efeitos e ruídos sincronizados, Alexandre é responsável pela restauração do som dos filmes “Assalto ao Trem Pagador” e “A Rainha Diaba”. E Eufrasino, mais conhecido como Babá, atua desde os anos 1970, tendo fotografado boa parte dos curtas de animação brasileiros. Dois veteranos do cinema nacional, que compartilharam sua vasta experiência e contaram boas histórias.
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Lula Gonzaga ao lado do troféu criado por Ed Bernardo |
A parceria com o CTAv também rendeu uma mostra de nove curtas realizados no núcleo de animação de lá. Além disso, o melhor curta da Mostra Competitiva Nacional terá como prêmio o empréstimo de uma câmera 35mm e uma câmera Digital SI-2K pelo período de duas semanas. Já o vencedor da Mostra Formação será premiado com um serviço de mixagem de som. Além disso, os vencedores de cada categoria ganham troféu confeccionado pelo artesão Ed Bernardo.
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Alunas da oficina de recorte digital aprendem a movimentar personagens |
Outro parceiro do festival é o designer e professor da UFPE Marcos Buccini, que ministra oficina de recorte digital. “Para participar não é preciso saber desenhar, pois nos concentramos em termos de tempo e movimento”. Buccini também coordena o Maquinário – Laboratório de Animação da UFPE, do qual fazem parte 35 alunos de design. Apesar do que o uso da tecnologia – computadores Mac e software After Effects – pode insinuar, trata-se de um trabalho 100% artesanal, feito com a mão no mouse e dedos no teclado.Ao dar seus primeiros passos, o Animacine assume um papel pioneiro de catalizador de uma produção que valoriza as raízes para gerar novos frutos, principalmente por se inserir em um contexto jovem e vibrante de produção audiovisual, aliado à tradição do interior nordestino. Lula Gonzaga admite que o festival precisa melhorar, já que esta primeira edição foi feita com recursos reduzidos. Um crescimento necessário, que não deve colocar em risco a dimensão humana, uma das forças do evento.
Os premiados – O júri composto por Alexandre Jardim, Joaquim Eufrasino e Tiago Delácio selecionou dois filmes para o Prêmio CTAV (concedido pelo Centro Técnico do Audiovisual – RJ), sendo um na Mostra Competitiva Nacional, outro na Mostra Formação. Foram selecionados, também, os filmes nas categorias Linguagem, Fotografia, Direção, Som e Mostra Competitiva Internacional.
Os diretores dos filmes selecionados com a premiação CTAV terão 1 (um) ano para utilizar tais serviços. Caso não possam utilizar ou não precisem dos empréstimos dos equipamentos e dos serviços de mixagem, o mesmo júri indicará novo premiado de outras categorias.
Melhor filme – Mostra Competitiva Nacional
A INFÂNCIA DE ANINHA (GO), de Rosa Berardo
Prêmio: (empréstimo por 2 semanas de Câmera 35mm e Câmera Digital SI-2K)
Melhor filme – Mostra Formação
MACACOS ME MORDAM (MG), de César Maurício e Sávio Leite
Prêmio: Serviço de Mixagem
Melhor filme – Mostra Internacional
BENDITO MACHINE IV (Espanha), de Jossie Malis
Melhor Linguagem CABEÇA PAPELÃO, de Quiá Rodrigues (RJ)
O CANGACEIRO, de Marcos Buccini (PE)
Melhor Fotografia
André Arôxa, por A ESCADA (PE)
Melhor diretor
Beatriz Herrera Carrillo, por BOLOLO (México)Melhor Som
Jossie Malis, por BENDITO MACHINE IV (Espanha)