Festival de Gramado: “360”, de Fernando Meirelles

Meirelles, noite de sexta (10/8), minutos antes da exibição. Foto: Edison Vara/Pressphoto

Em “360”, Fernando Meirelles apresenta métodos e temas que já vinha desenvolvendo em sua carreira internacional. Seu novo longa pode ser visto como uma continuidade de “Ensaio sobre a cegueira” (2008) e “O jardineiro fiel” (2005). São três obras que convergem para um cinema global e conectado ao século 21 – ou aquilo que nele projetamos.

Sua narrativa reticente, cada vez mais distante da linguagem estabelecida em “Domésticas” (2001) e “Cidade de Deus” (2002), é composta por imagens em que pessoas não raro aparecem multiplicadas ou fatiadas em jogos de espelhos e vidraças. Elas se encontram em carros, aeroportos e quartos de hotel, tradução para o que o filme acredita ser a atual condição humana.

Com estréia prevista para a próxima sexta-feira (17/8), “360” conta com atores conhecidos e talentosos, como Anthony Hopkins, Jude Law e Rachel Weisz, que contracenam com nomes brasileiros (Maria Flor e Juliano Cazaré) e de outras partes do mundo. O roteiro escrito por Peter Morgan (de “Frost/Nixon”, “A Rainha” e “Além da Vida”) é composto por diálogos falados em várias línguas e articula tramas aparentemente desconexas, esquematicamente interligada por personagens em comum.

Justamente nele (o esquematismo) pode estar o maior problema de “360”. A carência de entrelinhas e o controle excessivo de Meirelles se torna maior do que o trabalho de (alguns) bons atores, histórias ou personagens interessantes. Não há apuro técnico ou artístico que sobreviva à falta de subliminaridade – algo grave para um filme interessado nas contradições humanas. Isso o reduz a um conjunto de imagens em sua maioria efêmeras, um reflexo a mais da realidade contemporânea que pretende examinar.