3ª Mostra Sesc: Curadoria

Marco Fialho fala sobre o processo curatorial da MSC 2019. Foto: Conrado Secassi

Se, diante do inusitado tema do Enem 2019 – “a democratização do acesso ao cinema no Brasil”, alguém se dispôs a refletir sobre a necessidade dos filmes brasileiros alcançarem todas as regiões do país, certamente poderia apontar a Mostra Sesc de Cinema como uma iniciativa exemplar de circulação e visibilidade da produção contemporânea. Há três anos o evento cumpre um papel de importância cada vez maior, mais ainda com o desmonte de políticas públicas de incentivo à produção e exibição independentes.

Curiosamente, o tema do Enem foi revelado no mesmo momento em que os organizadores da 3ª MSC apresentaram alguns dos princípios que guiaram as linhas curatoriais desta edição. Para chegar aos 42 filmes que serão exibidos em Paraty (RJ) e, logo depois, nas dezenas de unidades do Sesc país adentro, uma equipe formada por técnicos e colaboradores externos mergulhou em nada menos do que 1200 produções, que passaram por dois processos seletivos.

É isso mesmo, 1200 inscritos. Um universo e tanto para se pensar as diferenças e dificuldades de distribuição e acesso enfrentadas pelo cinema nacional.

“É uma curadoria longa”, diz Marco Fialho, um dos técnicos responsáveis pela realização da MSC. “Ela começa com as inscrições no começo do ano. A etapa estadual, que desenha o Brasil inteiro, é composta por dois representantes do Sesc e um externo”. Nesta fase foram selecionados 390 filmes, que além de irem para a segunda etapa, estão habilitados para serem exibidos em seus próprios estados.

Esta capilaridade, tanto no processo de observação quanto no de exibição, possibilita mapear filmes que os demais eventos não conseguem, tanto por questões sensíveis como geográficas mesmo. “É uma peneira importantíssima voltada para a ideia de diversidade, onde os seis filmes indicados por cada estado vão para uma segunda discussão, que definirá os seis representantes regionais – exceto o Nordeste, que com seus nove estados, tem cota de oito filmes”.

Tendo a equidade regional como critério diretor, a MSC se depara tanto com uma oportunidade como um desafio: o de alinhar diferentes formas de pensar e fazer cinema – e o país – a partir da diversidade. Diversidade que passa, inclusive, como lembrou Larissa Lisboa (Sesc Alagoas) pelo fim a restrição de metragem, incluindo assim produções de médias duração, e eliminando a obrigatoriedade de selecionar longas.

Sobre o ofício de selecionar filmes, Leonardo Almenara (Sesc Espírito Santo) diz que é preciso exercitar a sensibilidade e estar antenado ao momento histórico, além de compreender realidades específicas para “traduzir urgências e manter a representatividade”. A busca pelo equilíbrio também passa, de acordo com Almenara, pelo fato de o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais concentram mais da metade da produção nacional.

Diante dessa condição, a busca pelo contraponto é bem ilustrada pelo fato de, como informa Fernanda Sólon (Sesc Mato Grosso) todos os filmes selecionados serem do interior do estado. Fábio Belotte, analista de cultura do Sesc RJ e também organizador da MSC ao lado de Marco Fialho, fiz que na primeira e segunda edições da mostra o Rio ficou de fora, “porque as produções não estavam conectadas com a dos demais estados”. Desta vez, o estado participa com o curta “Jessika”.

História – Marco Fialho conta que o desejo de realizar a MSC surgiu em 2010, a partir da ideia de formar um coletivo nacional em que os analistas de cultura fossem os protagonistas, em vez de contratar uma curadoria terceirizada. “A partir de 2011 desenvolvemos um trabalho de formação de curadores no próprio corpo técnico e passamos a viajar, buscando imergir nas discussões e uma vivência mais ampla nos eventos de cinema”.

De olho na formação e aperfeiçoamento de curadores, a MSC oferece uma oficina com a professora e diretora do Cachoeira.Doc, Amaranta César. Decisão bastante acertada e em torno de uma situação urgente. Não há como democratizar o acesso ao cinema no Brasil sem questionar a programação das salas, festivais e fomentar novos espaços de exibição.

* viagem a convite do evento

Deixe um comentário