Vá ao Festival de Gramado com tudo pago – aumentou o prazo do concurso

O prazo para se inscrever no concurso que levará um leitor do Diario de Pernambuco a Gramado se estendeu para a próxima quinta-feira.

Ganha quem escrever a melhor crítica sobre o filme A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele.

O motivo da prorrogação é que a próxima sessão do filme será somente na quarta-feira, às 20h15, no Cinema da Fundação.

Para conhecer o regulamento completo, clique aqui aqui.

Concurso de críticas leva leitor do Diario a Gramado

De 9 a 15 de agosto, o Festival de Cinema de Gramado realiza sua 37ª edição. Mais uma vez, o Diario de Pernambuco marca presença e fará a cobertura completa deste que é um dos mais antigos e conhecidos festivais de cinema do país.

Anunciada na semana passada, a programação deste ano traz uma boa amostra da produção nacional e latino-americana. Mérito da curadoria dos cineastas Sérgio Sanz e José Carlos Avellar, que há quatro anos se dedicam a fazer de Gramado um reduto não só de personalidades e famosos da TV, mas também de bons filmes e ideias.

“Antes, as pessoas prestavam mais atenção ao tapete vermelho do que à tela. Nossa preocupação é que os filmes voltem a ser a atração principal”, disse Avelar, no fim da última edição do evento.

O ator Reginaldo Faria e o cineasta Ruy Guerra são os principais homenageados deste ano. Um dos destaques da mostra competitiva é Canção de Baal, longa de estreia de Helena Ignez, atriz de carreira consolidada por filmes como Assalto ao trem pagador e O bandido da luz vermelha. Baseado em peça de Bertolt Brecht, seu filme tem cenários de Guto Lacaz, músicas de Tom Waits cantadas em português e cenas de nudez que prometem dar o que falar.

Na mostra internacional, os olhos se voltam para produção peruana La teta asustada, de Claudia Llosa, vencedora do Urso de Ouro no último Festival de Berlim. Entre os 12 curtas nacionais (ainda há 15 curtas da mostra gaúcha), concorre o pernambucano Não me deixe em casa, de Daniel Aragão.

Fora de competição, o Panorama do Cinema traz Garapa, de José Padilha (também exibido em Berlim), Morro do céu, de Gustavo Spolidoro, e Tudo isto me parece um sonho, de Geraldo Sarno (parcialmente rodado em Pernambuco). A Mostra Música e Poesia exibe, entre outros, Só dez por cento é mentira, de Pedro Cezar (sobre Manoel de Barros) e o pernambucano A geração 65, de Luci Alcântara.

Concurso leva leitor ao festival – Em tradicional parceria com o evento, o Diario de Pernambuco promove um concurso que levará, com todas as despesas pagas, um de nossos leitores para participar do júri popular do Festival de Gramado. Para concorrer, basta escrever uma resenha crítica sobre o longa-metragem A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele, atualmente em cartaz no Cinema da Fundação (veja roteiro). Ano passado, o filme foi um dos destaques de Gramado, onde ganhou 6 Kikitos de Ouro (prêmio especial do júri, melhor ator para Daniel de Oliveira, melhor fotografia, melhor música, prêmio da crítica e melhor filme pelo júri popular).

O texto deve ter até 35 linhas, em corpo Times New Roman 12, e ser enviado para o e-mail edviver.pe@diariosassociados.com.br ou via Correios, endereçado à sede dos Diários Associados (Rua do Veiga, 600, Santo Amaro). O prazo para as inscrições se encerra na próxima segunda-feira, dia 27. Entre os critérios de avaliação estão originalidade, concisão, capacidade argumentativa e teor opinativo. Podem participar candidatos de qualquer faixa etária, desde que residentes na Região Metropolitana do Recife. Ao todo, o festival convocará quinze jurados de todo o Brasil.

(Diario de Pernambuco, Caderno Viver, 22/07/09)

Cinema autoral de Nachtergaele

A festa da menina morta, filme de estreia Matheus Nachtergaele como diretor, teve longa carreira em festivais, onde circulou por quase um ano. Desde que foi exibido pela primeira vez, na sessão Un Certain Regard do Festival de Cannes do ano passado, o longa tem colecionado prêmios e fortes reações. No Festival do Rio, ganhou melhor direção; em Gramado, conquistou seis prêmios, entre eles, o de melhor filme (público e crítica), ator (Daniel de Oliveira) e fotografia (Lula Carvalho). Ao atingir o circuito comercial, neste fim de semana, o público talvez termine por recebê-lo como a seu autor: querido por muitos, rejeitado por outros. No Recife, ele entra em cartaz no próximo dia 26, no Cinema da Fundação, que hoje promove uma sessão especial aberta ao público, às 19h30.

Mistura de ficção e elementos autobiográficos, o roteiro escrito por Nachtergaele e Hilton Lacerda rendeu uma narrativa visceral, ambientada numa comunidade ribeirinha em plena selva amazônica. Naquela região isolada, a equipe entrou numa imersão que durou meses, e o resultado dessa vivência transborda na tela. Isolamento mais do que necessário para materializar o que há de subjetivo em Santinho (Oliveira, em interpretação que poderia ser do diretor), um jovem tirânico e de personalidade afetada, tratado a pão-de-ló por toda a comunidade, inclusive pelo pai de atitudes incestuosas, desde que um cachorro trouxe até ele o vestido de uma menina morta em circunstâncias misteriosas.

O comportamento afeminado de Santinho se justifica na ausência da mãe, a qual tenta obsessiva e muitas vezes violentamente substituir no contexto familiar. O que torna a história algo bastante particular se revela durante o clímax: na cerimônia religiosa, a menina morta é chamada de Maria Cecília, nome da mãe do diretor.

Em termos estéticos, no entanto, é inevitável uma comparação com filmes de Cláudio Assis, em que, não por acaso, Nachtergaele tem sido presença constante. Aqui há a mesma imagem de tons carregados; atuações marcadas pelo excesso (não só de Oliveira, mas de Jackson Antunes, Conceição Camarotti, Dira Paes e Cássia Kiss); direção de arte de Renata Pinheiro (ela trabalhou em Amarelo manga e Baixio das bestas); fotografia escura e granulada de Carvalho (filho de Walter); e situações escatológicas, como um porco sendo abatido por longos minutos.

Nada disso chega a ameaçar a autonomia do projeto. A festa da menina morta e sua densidade que envolve e sufoca, exala a personalidade do criador. E aponta, assim como outros filmes conduzidos por atores (Selton Mello, Marco Ricca), para uma nova safra autoral do cinema brasileiro.

*publicado no Diario de Pernambuco