Um poeta febril

Entre 2000 e 2007, todas as quintas à meia-noite, um grupo de pessoas se reuniu para celebrar a vida. Promovidos por França, os recitais Eu, poeta errante, marcaram época e o coração dos frequentadores. O poeta morreu, mas está vivo naqueles que por ele foram tocados. Hoje às 18h, no quintal do Centro Luiz Freire (Rua 27 de janeiro, 169 – Carmo, Olinda), sua memória será honrada com o lançamento do livro/DVD Poeminflamado, que reúne sua obra completa.

Poeminflamado tem 212 páginas com 160 poesias e dezenas de ilustrações de Mascaro e Sil. O planejamento visual é de João Lin e a capa de Sil, Lin e Pedra França, filha do poeta. Também participam do projeto o fotógrafo Mateus Sá, Juan Ramón Martinez (produção e pesquisa), Mariano Pikman (direção do doc), Jailton Ferreira (criação do site http://www.poetafranca.com), Rafaela Valença Gomes (pesquisa literária e edição do livro), André Telles do Rosário (coordenação da pesquisa) e Laine Amaral (coordenação geral).

O evento de hoje será conduzido por Roger de Renor e Alice Chitunda e conta com participação de Isaar de França (que canta poemas de França para a trilha sonora), e terá música de Felipe França, Toni Boy e Erasto Vasconselos, Capoeira Angola Mãe, recital com Miró, Valmir Jordão e Cida Pedrosa. “França foi um mestre pra mim. Ele viveu a poesia e nos convidava para fazer o mesmo”, diz André Telles, que trabalhou com França no projeto Chá das Cinco.

De Zumbi dos Palmares a Solano Trindade, a linha evolutiva da consciência negra passa por França, que criou a peça A cor da exclusão, inspirado em Solano. “Conheci França na faculdade. Foi uma amizade intensa, como tudo nele. Fiquei muito impactado, desde a primeira vez que o vi declamando”, diz Mascaro, que não ilustrou poemas específicos, mas baseado no conjunto da obra. “Ele tinha uma personalidade forte, marcante. Com questões de raça, era como um fio desencapado”.

“Mais do que poeta, vejo França como educador”, diz Mateus Sá, que convidou França para participar de seu projeto Luz do Litoral. Mas como explicar quem foi o poeta para quem não o conheceu? “Podemos fazer a nossa parte e fazer ecoar um pouco mais uma filosofia que nos faz bem. Nada mais justo do que fazer isso com as palavras e imagens que ele deixou”.

(Diario de Pernambuco, 26/01/2012)

50 artistas reinventam a Turma da Mônica


Penadinho, Frank e a Cranicola, no traço de Samuel Casal

A livre adaptação da Turma da Mônica por diferentes desenhistas do primeiro time nacional é a mais interessante das homenagens que marcam os 50 anos de carreira de Mauricio de Souza. Com lançamento marcado para setembro, MSP 50 traz um grupo e tanto de artistas, entre eles, Angeli, Ziraldo, Laerte, Spacca, Samuel Casal, Marcelo Lélis, Fernando Gonsales, Fábio Moon e Gabriel Bá, Eloar Guazzelli, Fábio Lyra, Fido Nesti e Jô Oliveira. Dois pernambucanos foram convidados para integrar o projeto: Christiano Mascaro e João Lin, editores da coletânea de quadrinhos Ragú.

“É quase um dream team”, diz o coordenador do projeto, Sidney Gusman. “Além de contar com as grandes “feras”, minha preocupação foi apresentar bons quadrinistas que o grande público ainda não conhece”. Gusman conta que, para dar forma ao projeto, buscou inspiração no livro Asterix e seus amigos, que no ano passado homenageou os 80 anos do desenhista Albert Uderzo. Outra referência foi a revista Mônica 30 anos, lançado em 1993, em que Will Einser, Guido Crepax, Hugo Pratt e Milo Manara desenharam a personagem. “Fiquei bem entusiasmado a ideia. Fiz uma lista gigante e fechei com 50 artistas “.

Cada desenhista convocado teve liberdade de eleger e desenhar seu personagem preferido. Gonsales, criador do rato Níquel Náusea, apresentará sua versão para o cachorro Bidu; Spacca escolheu o dinossauro Horácio; Samuel Casal, o fantasma Penadinho; Lélis escolheu Chico Bento; Laerte fará Bidu e Franjinha; e João Lin desenhará o índio Papa Capim. Angeli, Ziraldo, Moon e Bá ainda não divulgaram quais foram suas escolhas. Guazzelli não está 100% decidido, mas deve fazer Sansão, o coelho azul.


O Astronauta de Mascaro

Sem querer, Mascaro escolheu um dos personagens mais requisitados: o Astronauta. A história está em fase de finalização. “Na hora eu pensei que estava sendo bem original”, brinca Mascaro, que adianta com exclusividade aos leitores do Diario um dos estudos que guiarão sua releitura do explorador espacial. “Sempre gostei bastante do Astronauta. Estou fazendo algo que remete às histórias em quadrinhos de ficção científica europeia, como as criadas por Moebius”.

Mascaro acredita que o MSP 50 pode contribuir para evidenciar o mérito artístico do trabalho de Maurício, por vezes criticado por sua vocação comercial. “O sucesso dele é algo que impressiona num país que sequer conta com uma indústria de quadrinhos. Ele construiu um império que se reinventa, e tirar o valor artístico da sua obra é algo que beira o cinismo”.

(Diario de Pernambuco, 26/06/2009)