Sem fronteiras para a arte

De hoje a 9 de março, entra em cartaz no Centro Cultural Correios (CCC, no Recife Antigo), a exposição Partido gráfico, com trabalhos inéditos de João Lin, Mascaro, Fernando Duarte e Paulo Régis. O evento também marca o lançamento de um coletivo formado pelos artistas, de estilos e temática diferentes, com a intenção de borrar a fronteira entre artes plásticas e gráficas.

Nesse sentido, a galeria talvez seja o lugar ideal para esse encontro. Montada no terceiro andar do centro cultural, cada artista ocupa uma das paredes do salão. “Consegui pauta para uma exposição individual, mas resolvi convidar Mascaro, Lin e Fernando”, conta Régis, que apresenta uma série de 30 bigornas, objeto popularmente conhecido como pé de ferro. O artista usa diferentes técnicas: grafite, litogravura e recorte, inspirado em cartomas de Aloísio Magalhães.

Editor de arte do Diario e co-fundador da revista Ragu, Mascaro traz em seus desenhos a influência da ilustração editorial e da história em quadrinhos. No entanto, eles foram feitos com uma liberdade que não lhe é permitida no exercício profissional. Alguns deles já foram publicados na seção Um Desenho, do Viver, e traduzem o estado de espírito urbano, moldado pela realidade social. “É um trabalho que fiz por prazer. Para, antes de tudo, me satisfazer, divertir e como forma de relaxar da formatação do universo editorial”.

O trabalho de Fernando Duarte, com quem Régis já tinha dialogado em longínqua exposição nos Correios da Av. Guararapes, e João e Mascaro na coleção Olho de bolso, editado pela Livrinho de Papel Finíssimo, chama a atenção tanto pela forma – três rolos de papel vegetal estendidos horizontalmente por uma parede de 15 metros – quanto pela impactante série de 30 personagens pintados em nanquim, com interferências de carimbos e poemas escritos à mão.

Divididos em pequenos quadros, os 24 personagens de João Lin apontam para o talento do artista em desenvolver marca própria e cada vez mais refinada, arriscando definir, um “zen-cubismo”, baseado em linhas geométricas e ilusões de ótica que brincam com a profundidade, dimensões e cores. Cada personagem pode ser “lido” em pequenos quadros, por sua vez habitados por outros personagens ou labirintos. “Descobri uma influência não-consciente de um painel feito por Lula Cardoso Ayres para o Cinema São Luiz, onde fui pela primeira vez quando tinha nove anos. Assim como do tratamento geométrico e de paleta de cores de Luiz Notari, com quem tive aulas de pintura”, conta Lin.

Haverá uma continuidade para o Partido Gráfico? Mascaro diz que pode acontecer. “Desta vez, estamos nos apresentando individualmente. Numa próxima talvez tenha outro elo, com um tema ou gancho específico”.

(Diario de Pernambuco, 01/02/2012)

Turma da Mônica reinventada

Piteco, Astronauta, Horácio, Jotalhão, o Louco. Das dezenas de personagens secundários de Mauricio de Sousa, o indiozinho Papa-Capim talvez seja o menos lembrado. E foi justamente ele que o ilustrador pernambucano João Lin elegeu para homenagear o maior nome dos quadrinhos brasileiros. A HQ faz parte do projeto MSP + 50, coletânea a ser lançada mês que vem, durante a Bienal do Livro de São Paulo, e que traz 50 versões bastante pessoais para a longeva Turma da Mônica.

Além de revelar novos talentos, o livro trará histórias assinadas pelos maiores quadrinistas do país, como Rafael Grampá, Allan Sieber, Marcatti, Caco Galhardo, Rafael Coutinho e André Kitagawa. Junto com o MSP 50, publicado em 2009 com participação de Angeli, Laerte, Lélis, Samuel Casal, Mascaro (editor de arte do Diario) e Fábio Moon e Gabriel Bá, trata-se da mais completa homenagem a Maurício realizada pelos seus pares.

Graficamente, o MSP + 50 terá 216 páginas e impressão em papel couché, capa dura e cartonada. Sidney Gusman, coordenador editorial da Mauricio de Sousa Produções, diz que o objetivo do projeto é apresentar bons artistas ao público que só lê Turma da Mônica. “Foi uma missão e tanto. Trabalho com quadrinhos há 20 anos e sei que temos muita, muita gente boa atuando no Brasil”. Parte do desafio foi reunir autores de diferentes estilos e partes do Brasil. “Fico feliz por ter conseguido essa variedade nos dois livros”.

Desde que lançou a elogiada HQ Mesmo Delivery, Rafael Grampá tem sido um dos nomes mais requisitados no universo dos quadrinhos. John Constantine e Wolverine estão entre os personagens com que trabalha atualmente. Para o MSP +50, Grampá fez um desenho do Jotalhão. O elefante verde do extrato de tomate foi desenvolvido sob um céu avermelhado, em uma única prancha, sem quadros. Autor de Cachalote, Rafael Coutinho, outro nome celebrado da nova geração, imaginou o reencontro de Mônica e Cebolinha na idade adulta.


O Papa Capim de João Lin

Índios – Ilustrador de diversos livros infantis, João Lin revelou ao Diario queo processo de recriação do Papa-Capim foi um instigante desafio. “Gosto do personagem e também queria aproveitar a ocasião para dizer o que penso sobre a questão indígena no Brasil. A maneira dos índios se relacionarem com as crianças e compreenderem a infância tem muito a nos dizer sobre a relação com o espaço e com o meio ambiente”.

Alguns desenhistas que participam do projeto têm o nome vinculado a histórias com viés violento ou sexual. Amparado por limites editoriais, Gusman não hesitou em convidá-los. “Os autores têm liberdade, dentro de um limite que estabeleço. Lembro a todos que o livro é uma homenagem e, por ser ligado ao Mauricio, em algum momento cairá nas mãos de uma criança”.

Da turma politicamente incorreta, o gaúcho Allan Sieber mostra uma imagem subjetiva da famosa cena da coelhada, feita do ponto de vista do coelho; e o veterano Marcatti elegeu o Cascão, escolha mais que coerente com sua predileção pelo escatológico. “No primeiro livro temos o Laudo, que faz a Tianinha, uma HQ pornô, e nem por isso fez algo similar. Deixei claro a esses autores que, obviamente, não daria para levar essa homenagem a extremos. Todos foram extremamente respeitosos e curtiram participar”, explica Gusman, que revela ter planos para um terceiro volume, a ser lançado em 2011. Cinquenta bons convidados não devem faltar.


Mônica, Cebolinha e Sansão, por Allan Sieber


Mônica e Cebolinha adultos, por Rafael Coutinho


A Turma, por Marcatti


Turma da Mônica por André Kitagawa


Mônica e Cebolinha por Caco Galhardo

(Diario de Pernambuco, 11/07/2010)

O Papa Capim de João Lin

Piteco, Astronauta, Horácio, Jotalhão, o Louco. Das dezenas de personagens de Maurício de Souza, o Papa Capim talvez seja o menos lembrado. E foi justamente ele que o ilustrador pernambucano João Lin elegeu para homenagear o maior nome dos quadrinhos brasileiros. A HQ participa do projeto MSP + 50, a ser lançado em agosto, durante a Bienal do Livro de São Paulo.

Veja prévia dos trabalhos aqui.

Coordenado por Sidney Guzman, o livro trará histórias assinadas pelos maiores artistas gráficos do país, como Rafael Grampá, Allan Sieber, Marcatti, Caco Galhardo, Rafael Coutinho e André Kitagawa. Junto com o MSP 50, publicado em 2009 com participação de Angeli, Laerte, Lélis, Casal, Mascaro, Fábio Moon e Gabriel Bá, trata-se da mais completa homenagem a Maurício realizada pelos seus pares.

Mestre Vitalino também foi criança

Um livro ilustrado com memórias de infância de Mestre Vitalino será lançado em breve pela Fundação Joaquim Nabuco. Voltado para as crianças, mas longe de se restringir a essa faixa de leitores, Vitalino menino tem 40 páginas e deve ser lançado em maio. Ele faz parte de uma nova coleção concebida pelo Museu do Homem do Nordeste intitulada Brincadeiras de Mestres, que adapta para o formato a infância de artistas da cultura popular. Os próximos serão sobre Patativa do Assaré e Mestre Bimba, criador da capoeira regional.

João Lin, que ilustra o volume de estreia, explica que a infância de Vitalino está representada a partir de suas peças de barro mais emblemáticas. Em páginas duplas, episódios de sua vida são contados de forma não linear, diferente das biografias tradicionais. “A peça do Gato Maracajá, a primeira que Vitalino teve consciência de que podia criar e comercializar, ele fez pensando nas caçadas que o pai fazia”.

Parte das passagens foram baseadas em relatos e depoimentos do próprio Vitalino ou de pesquisas sobre ele, encontrados em arquivos de texto, áudio e vídeo disponíveis no acervo da Fundaj. As demais, foram criadas a partir da livre interpretação de Lin, ao lado do designer Rodrigo Sushi e do poeta Valter Ramos, responsável pelo texto final, de acento popular. “Não encontramos nenhuma história sobre a peça do Batismo, disponível na Fundaj. Então inventamos uma, em que ele é o batizado”, diz Lin, que teve como assistente para as ilustrações o desenhista Rafael Anderson. O livro, que tem tiragem de 3 mil cópias, deve ser comercializado a R$ 10.

Vânia Brainer, coordenadora geral do Museu do Homem do Nordeste, diz que o projeto conseguiu definir uma unidade entre o traço de João Lin e a forma dos bonecos de Vitalino. “Ficou tão interessante que até os adultos estão encantados”. O know-how de Lin, que em 2009 assinou os cinco primeiros volumes da série Pequenos craques (Editora Callis) reforçou o interesse da instituição em dar o pontapé inicial do novo projeto convidando o desenhista.

“Entre outros, contei a infância de Garrincha e João do Pulo, do momento do nascimento à adolescência. Só que de forma mais cronológica. Com Vitalino, tive mais liberdade para fragmentar a narrativa e fantasiar a partir do desenho das peças. Penso nas histórias como uma grande tela, que traz uma ilustração ou narrativa de quadrinhos”, diz Lin, que em outro episódio utiliza da mistura dos dois gêneros das artes gráficas para contar a história do Lobisomem a partir de imagens oníricas da noite de lua cheia. Ele também adianta que Vitalino menino pode render produtos derivados, como um desenho animado.

(Diario de Pernambuco, 04/04/2010)

Ragu reafirma liberdade editorial


Ilustração de Fernando Perez na nova Ragu

Nos últimos anos, a produção de quadrinhos autorais no Brasil vem crescendo a passos largos. Ainda assim, raras publicações dão vazão a este material. Nem sempre obras de inegável qualidade artística encontram espaço no mercado. A resposta pode estar em projetos como a Ragu, que completa dez anos com o lançamento de sua maior e mais bem cuidada edição. A noite de autógrafos será hoje, às 21h, no Bar Central (Rua Mamede Simões – Boa Vista).

A Ragu nasceu como revista em quadrinhos, para apresentar uma nova geração de artistas pernambucanos. Dez anos depois, reconhecida como uma das melhores antologias de artes gráficas do país, ela chega ao formato livro. O porte da edição, se comparado com o início, é impressionante: 240 páginas, capa dura e tiragem de 1.200 exemplares, viabilizados por recursos do Funcultura / Fundarpe.

Ao reunir 33 colaboradores de seis países,a sétima Ragu se afirma como mapa da atual produção autoral latino-americana. Os brasileiros são Allan Sieber, Andrés Sandoval, Daniel Cabballero, Daniel Bueno, D’Salete, Guazzelli, Gabriel Góes, Walter Vasconcelos, Silvino, Jarbas, Greg, Mascaro, João Lin, Fábio Zimbres, Fernando Almeida, Joana Lira, Fernando Lopes, Fernando Peres, Kleber Sales, Chiquinha, Caio Gomez, Rodrigo Rosa e Samuca. Os estrangeiros são Àngel de la Calle, Alberto Vazquez e Brais Rodriguez (Espanha), Joaquin Cuevas, Alejandro Archondo e Al Azar (Bolívia), Frank Arbelo (Cuba), Jorge Perez e Avril Filomeno (Peru) e Ariel López (Argentina).

De acordo com João Lin e Mascaro, os organizadores, a ideia desta nova fase é lançar uma edição por ano. “Temos material suficiente para a próxima”, diz João Lin, que reafirma o caminho de independência após tentativas de estabelecer parceria com editoras do Sudeste. “Assumimos esse caminho para preservar a qualidade e liberdade editorial”.


Cartum de João Lin

Lin explica que o atual intercâmbio com os “hermanos” está sendo articulado há dois anos, desde o último Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. “Queremos criar laços com artistas dos países vizinhos, que guardam características próximas às nossas e refletem sobre seu tempo”. Talvez o maior exemplo dessa busca esteja na colaboração do gaúcho Eloar Guazzelli (que também assina a arte da capa), criada após sua visita que fez à Bolívia em junho, quando foi um dos convidados do festival Viñetas Con Altura, em La Paz.

A nova Ragu ainda traz o Recife desenhado por Saul Steinberg (1915-1999), ilustrador romeno famoso por suas colaborações para a revista New Yorker. Praticamente inédito, o material foi encontrado pelo designer gráfico Daniel Bueno, durante seu mestrado sobre a contribuição de Steinberg para o desenvolvimento do cartum e artes gráficas modernos. A viagem de Steinberg pelo Brasil dos anos 50 rendeu três cadernos sobre as cidades que visitou.


Esboço de Steinberg sobre o Recife, de 1956

“A imagem do Recife, até onde eu sei, só foi publicada no livro The Passport e recentemente na Revistada Unicamp, em tamanho pequeno”, diz Bueno. A publicação foi autorizada pela Steinberg Foundation de Nova York. “Eles não tinham clareza sobre as imagens, não sabiam que praticamente todos os desenhos dos cadernos eram sobre o Brasil”.

Nos próximos 30 dias, a Ragu será lançada na Espanha, durante o festival Viñetas desde o Atlântico, coordenado por Miguelanxo Prado, em São Paulo (dia 24), na sede da livraria HQ Mix e em La Paz (03/09), no espaço cultural C +C.

Durante o lançamento, o livro estará à venda por R$ 30. A partir da próxima segunda-feira, ele pode ser comprado por cerca de R$ 40 na Livraria Cultura e em lojas especializadas. Pedidos também podem ser feitos diretamente, pelo e-mail joaolin@terra.com.br ou telefone (81) 3232-3041.

Serviço
Lançamento da Ragú 7
Quando: Hoje, às 21h
Onde: Bar Central (Rua Mamede Simões – Boa Vista)
Quanto: R$ 30, no lançamento

Capa da nova Ragu, por Guazzelli


A nova Ragu, por Eloar Guazzelli

Vale a pena reforçar, desta vez com a imagem da capa e mais informações.

Quinta-feira chega o novo volume da Ragu, um dos melhores projetos de quadrinhos e arte gráfica do Brasil.

O lançamento será no Bar Central (Rua Mamede Simões, Boa Vista – Recife), às 21h.

Allan Sieber, Fábio Zimbres e Daniel Bueno são alguns dos colaboradores da sétima edição da coletânea.

No total, são 33 artistas, dez de língua espanhola, egressos da Espanha, Bolívia, Cuba, Peru e Argentina.

Eis a lista completa:

Brasileiros – Allan Sieber, Andrés Sandoval, Daniel Cabballero, Bueno, D’Salete, Guazzelli, Gabriel Góes, Walter Vasconcelos, Silvino, Jarbas, Greg, Mascaro, João Lin, Fábio Zimbres, Fernando Almeida, Joana Lira, Fernando Lopes, Fernando Peres, Kleber Sales, Chiquinha, Caio Gomez, Rodrigo Rosa e Samuca.

Espanha – Àngel de la Calle, Alberto Vazquez, Brais Rodriguez; Bolívia – Joaquin Cuevas, Alejandro Archondo, Al Azar; Cuba – Frank Arbelo; Peru – Jorge Perez, Avril Filomeno; Argentina – Ariel Lopez.

A Ragu 7 estará à venda por R$ 30, no local. E também na rede da Livraria Cultura.

Nova Ragú chega na quinta

Quinta que vem chega o novo volume da Ragú, um dos melhores projetos de quadrinhos e arte gráfica do Brasil.

O lançamento será no Bar Central (Rua Mamede Simões, Boa Vista – Recife).

Esta será a sétima edição da coletânea (sem contar o histórico número zero, de 1999).

Os editores João Li e Mascaro adiantaram ao Quadro Mágico que esta será a maior e mais bem cuidada edição desde que a série ganhou as ruas, há exatos 10 anos.

A edição, que faz uma homenagem à América Latina, terá 240 páginas e capa dura com arte do artista gaúcho Eloar Guazzelli.

Este ano, Guazzelli lançou uma bela versão em HQ para a peça O pagador de promessas e assinou a capa da edição de abril da revista Piauí.

Ele participa da Ragú com uma história criada a partir da visita que fez à Bolívia em junho, quando foi um dos convidados do Festival Viñetas Con Altura, em La Paz.

Os demais convidados ainda não foram revelado, mas é certo, além de Guazzelli, Mascaro e Lin, a Ragú deve trazer novos trabalhos dos pernambucanos Greg, Flavão, Jarbas e Samuca, longevos colaboradores da publicação.

Um clássico no banco do réus

A polêmica em torno de livros adotados como material paradidático nas escolas públicas tem se estendido para publicações em quadrinhos. Há dois meses, uma onda de acusações inflamadas está colocando em dúvida a validade de certas obras no ambiente escolar. As mais recentes dizem respeito à títulos do norte-americano Will Eisner, recomendadas para alunos do ensino médio pelo Ministério da Educação, através do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). No Rio Grande do Sul, Um contrato com Deus, O sonhador e O nome do jogo foram recolhidos das bibliotecas do ensino público estadual, sob acusações de conterem cenas de sexo e violência. Em São Paulo foram feitas denúncias semelhantes, sem que as obras fossem retiradas das prateleiras.

Na edição da última quarta, o jornal popular paulistano Agora trouxe como uma das chamadas de capa “MEC distribui livro com pedofilia para alunos de 11 anos”. “Fiquei horrorizada”, diz uma professora do ensino fundamental, sobre oconteúdo de um dos livros. Na mesma matéria, o MEC afirma que manterá os títulos no acervo. Maria do Pilar, secretária de educação básica do ministério, não só defende o uso como material complementar de leitura das obras questionadas, como afirma que ele deve ser supervisionado por bibliotecários, de forma a evitar o acesso de alunos fora da faixa etária especificada pelo programa (há diferentes listas para o ensino médio e fundamental).


Quem diria, Will Eisner sob acusações de pedofilia, sexo e violência

Lançado em 1978, Um contrato com Deus é uma obra consagrada e pioneira por estabelecer o conceito de graphic novel (narrativa gráfica) e apresentar relações humanas com a profundidade que merecem. Assim como os outros livros em questão, Eisner parte da experiência de ter crescido num bairro pobre e violento de Nova York. Os desenhos, que geraram controvérsia são basicamente dois: uma menina de dez anos levanta a saia para um adulto e cobra cinco centavos por isso; e um músico bêbado e desmpregado bate na esposa e joga o bebê no sofá. Logo após as situações se invertem: o homem se torna vítima da menina, que rouba seu dinheiro; e, arrependido, o casal se reconcilia no dia seguinte.

A reação de editores e artistas de quadrinhos foi imediata, e conta com uma carta aberta às autoridades de educação, assinada por cinco pesquisadores universitários, entre eles o professor Waldomiro Vergueiro, titular da ECA-USP. “Os argumentos em contrário tem se mostrado infundados, frutos de receio e não de fatos”, diz o documento.

Rogério de Campos, diretor da Conrad, diz que este é um momento terrível para a liberdade de expressão no Brasil. “Importamos dos EUA a praga do politicamente correto, a indústria dos processos por supostos danos morais ou usos indevidos de imagem, e, por fim, a paranóia com crianças”. Ele isenta gestores da educação pela “censura moral” em curso. “Estes estão sendo perseguidos por realizar uma de suas missões que é a de apresentar aos estudantes a produção cultural contemporânea. Os obscurantistas têm horror à cultura viva”.

Leandro Luigi Del Manto, responsável pelos quadrinhos na Devir – editora que publica Eisner no país – crê que as obras estão servindo de “bode expiatório”. “No Brasil, os quadrinhos sempre foram vistos com uma forma de arte menor, literatura barata ou ‘higiene mental’. Justamente agora, que os quadrinhos conquistaram espaço nas bibliotecas públicas e as pessoas começam a olhar com um pouco mais de seriedade para essa forma de arte, algumas pessoas insistem em puxar o freio de mão e engatar a marcha à ré”.

Em maio, outro caso envolvendo o uso de quadrinhos nas escolas ganhou atenção nacional, desta vez sobre o uso supostamente indevido de Dez na área, um na banheira e ninguém no gol (Via Lettera) nas escolas estaduais de São Paulo. Principal alvo político da polêmica repercutida na imprensa, José Serra classificou o livro como “um horror” de “muito mau gosto”.

Dez na área… reúne artistas de reconhecimento internacional como Caco Galhardo e os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Ele foi escolhido pela Secretaria de Educação de São Paulo a partir de um pacote de 80 títulos oferecidos pela editora. Após a polêmica, o livro foi novamente avaliado e nunca chegou às bibliotecas.

Ao contrário dos próprios autores, Roberto Gobatto, gerente de marketing da editora diz que não vê problemas no uso do livro nas escolas. Ele vê na situação uma caça às bruxas motivada por necessidades políticas. “Palavrões e comportamentos questionáveis podem e devem ser tratados em sala de aula”, defende o editor. “Não foi dada a chance do livro ser compreendido como linguagem alternativa ou mesmo trabalhado como uma crônica sobre futebol, um universo vivido por qualquer menino que joga bola”.

Coordenador da coletânea Domínio Público – literatura em quadrinhos, outro título selecionado pelo edital 2009 do PNBE, o pernambucano João Lin acredita que, se realmente há um equívoco, a solução está no processo de escolha do material. “Má adequação não é privilégio dos quadrinhos. Ela poderia acontecer com qualquer obra, como uma pintura. Por isso, temos que estar atentos. Acho que é papel do MEC não só recomendar, mas fiscalizar como os livros estão sendo utilizados”.

Editores temem que prática se multiplique

De tempos em tempos, as histórias em quadrinhos vivem ciclos de perseguição. Nos anos 50, a paranóia anticomunista nos Estados Unidos culminou com o fechamento de várias editoras de HQs e a criação de um selo de aprovação por um conselho de ética. “Os quadrinhos foram obrigados por lei a serem inocentes, puros e bestas. Enquanto outras linguagens artísticas, como a literatura, o cinema e o teatro puderam continuar evoluindo, eles foram censurados de tal maneira que acabaram desistindo de suas ambições. Quando os anos 50 terminaram, quadrinhos eram bobagens que somente satisfaziam adolescentes masculinos e ingênuos”, descreve Campos, da editora Conrad.

Mais otimista, Leandro Del Manto, da Devir, acredita que a polêmica será substituída assim que a mídia eleja a nova “pauta” da vez. “Tudo vai acabar perdendo a graça e, assim espero, alguém de bom senso colocará um ponto final”.

Em 2006, o PNBE abriu espaço para publicações em quadrinhos. Desde então, o governo passou a ser um dos melhores clientes das editoras.Para elas, ter um livro selecionado pelo edital pode ser a salvação da lavoura. “É como fazer um best seller. E a vantagem não é só nossa. Com o aumento da tiragem, o preço diminui para o consumidor das livrarias”, diz Gobatto, da Via Lettera.

“Não há nada no mercado de livrarias que atinja vendas comparáveis a essas”, diz Campos. João Lin ressalta importância do edital como formador de público leitor de quadrinhos. “Os quadrinhos não existiam nas escolas. Foi um avanço compreender que como qualquer outra arte, eles são importantes para a formação dos jovens, tanto quanto outro gênero artístico”.

Ao menos por enquanto, a Conrad não tem títulos listados no “index”. Mesmo assim, Campos toma as dores das editoras que tiveram livros recolhidos. “Temo pelo que possamos regredir”, coloca. “O que está em jogo não é o destino dos meus concorrentes, mas da indústria dos quadrinhos e da liberdade de expressão no Brasil. Em geral, os obscurantistas não são muito chegados à leitura, mas conseguem entender uma história em quadrinhos porque esta tem força decomunicação imediata. Se eles continuarem sua cruzada e se esforçarem para começar a ler livros de literatura, não vai sobrar muita coisa. Talvez cheguem à conclusão que o melhor seja proibir bibliotecas”.

* publicado no Diario de Pernambuco, o texto acima faz parte da reportagem Não queime antes de ler, escrita em parceria com Thiago Corrêa

50 artistas reinventam a Turma da Mônica


Penadinho, Frank e a Cranicola, no traço de Samuel Casal

A livre adaptação da Turma da Mônica por diferentes desenhistas do primeiro time nacional é a mais interessante das homenagens que marcam os 50 anos de carreira de Mauricio de Souza. Com lançamento marcado para setembro, MSP 50 traz um grupo e tanto de artistas, entre eles, Angeli, Ziraldo, Laerte, Spacca, Samuel Casal, Marcelo Lélis, Fernando Gonsales, Fábio Moon e Gabriel Bá, Eloar Guazzelli, Fábio Lyra, Fido Nesti e Jô Oliveira. Dois pernambucanos foram convidados para integrar o projeto: Christiano Mascaro e João Lin, editores da coletânea de quadrinhos Ragú.

“É quase um dream team”, diz o coordenador do projeto, Sidney Gusman. “Além de contar com as grandes “feras”, minha preocupação foi apresentar bons quadrinistas que o grande público ainda não conhece”. Gusman conta que, para dar forma ao projeto, buscou inspiração no livro Asterix e seus amigos, que no ano passado homenageou os 80 anos do desenhista Albert Uderzo. Outra referência foi a revista Mônica 30 anos, lançado em 1993, em que Will Einser, Guido Crepax, Hugo Pratt e Milo Manara desenharam a personagem. “Fiquei bem entusiasmado a ideia. Fiz uma lista gigante e fechei com 50 artistas “.

Cada desenhista convocado teve liberdade de eleger e desenhar seu personagem preferido. Gonsales, criador do rato Níquel Náusea, apresentará sua versão para o cachorro Bidu; Spacca escolheu o dinossauro Horácio; Samuel Casal, o fantasma Penadinho; Lélis escolheu Chico Bento; Laerte fará Bidu e Franjinha; e João Lin desenhará o índio Papa Capim. Angeli, Ziraldo, Moon e Bá ainda não divulgaram quais foram suas escolhas. Guazzelli não está 100% decidido, mas deve fazer Sansão, o coelho azul.


O Astronauta de Mascaro

Sem querer, Mascaro escolheu um dos personagens mais requisitados: o Astronauta. A história está em fase de finalização. “Na hora eu pensei que estava sendo bem original”, brinca Mascaro, que adianta com exclusividade aos leitores do Diario um dos estudos que guiarão sua releitura do explorador espacial. “Sempre gostei bastante do Astronauta. Estou fazendo algo que remete às histórias em quadrinhos de ficção científica europeia, como as criadas por Moebius”.

Mascaro acredita que o MSP 50 pode contribuir para evidenciar o mérito artístico do trabalho de Maurício, por vezes criticado por sua vocação comercial. “O sucesso dele é algo que impressiona num país que sequer conta com uma indústria de quadrinhos. Ele construiu um império que se reinventa, e tirar o valor artístico da sua obra é algo que beira o cinismo”.

(Diario de Pernambuco, 26/06/2009)

Olavo Bilac e companhia em HQs da Domínio Público

Renato L // Diario
renatol@diariodepernambuco.com.br

O projeto Domínio público – literatura em quadrinhos, idealizado pelos pernambucanos João Lin e Mascaro (editor de arte do Diario e do Aqui PE), colocou um desafio instigante diante de um grupo de jornalistas e quadrinistas: adaptar para o universo dos comics uma série de narrativas de autores brasileiros canônicos como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Lima Barreto. Lançado de forma independente em 2006, o primeiro volume retorna às prateleiras pela editora DCL, com outro formato gráfico, que reforça a riqueza narrativa e visual das histórias selecionadas.

João Lin e Mascaro aproveitam no novo projeto a experiência adquirida com a revista Ragú, produzida por eles, que já está na sétima edição – um feito e tanto em um mercado rarefeito para os quadrinhos como o nordestino. O título da nova empreitada dá uma pista dos objetivos da dupla: driblar as restrições cada vez mais contestadas das leis de direito autoral e divulgar a obra de autores muito citados, mas, às vezes, pouco lidos. “Sempre acreditamos no potencial desse produto para sair do gueto underground. O acordo firmado com a DCL nos dá uma distribuição nacional mais eficiente”, afirma Mascaro.

A entrada em cena da editora paulista tem uma explicação: o governo federal incorporou os quadrinhos ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), um projeto instituído em 1997 para facilitar o acesso de professores e alunos aos bens culturais. Esse mercado estatal, cobiçado por toda a indústria do livro brasileira, possibilita que uma obra como Domínio público alcance uma tiragem inicial em torno dos 15 mil exemplares. Agora, a estudantada – mas não só eles, claro – pode conhecer com mais facilidade as adaptações para quadrinhos de contos como O homem que sabia javanês (Lima Barreto), A cartomante (Machado de Assis) e O soldado Jacob (Medeiros e Albuquerque).

“Trabalhar com material desses nomes canônicos foi uma maneira de contornar a escassez de bons roteiros dos quadrinhos nacionais”, afirma Mascaro. Para escolher as duplas de adaptadores e ilustradores, ele e João Lin levaram em conta a compatibilidade dos potenciais convidados com o estilo dos contos originais. “Em alguns casos, a adaptação foi feita antes da quadrinização. Em outros, se deu exatamente o contrário. As duplas tiveram autonomia para decidir sua maneira de funcionar”, conta Mascaro. Vários jornalistas pernambucanos – ou radicados no Estado – estão entre os escolhidos pelos idealizadores, como Júlio Cavani e André Dib, ambos repórteres do Viver, e de Lydia Barros,ex-editora do Viver.

O segundo volume da série Domínio público, reunindo autores estrangeiros como Bram Stoker e Esopo, também foi publicado de forma independente e pode ser encontrado nas livrarias. Por enquanto, a DCL ainda não confirma seu relançamento nacional. Mas Lin e Mascaro não perdem tempo: eles planejam, agora, um terceiro volume, dedicado ao realismo fantástico.

Coleção Olho de Bolso tem lançamento em São Paulo

A coleção Olho de bolso será lançada em São Paulo, será neste sábado, 29 de março, 19h30.

O evento será na HQ Mix Livraria – Praça Roosevelt, 142, Centro, telefone pra informações: (11) 3258-7740.

Abaixo, texto do release:

Entre os meses de agosto de 2007 e fevereiro de 2008 doze publicações autorais chegam às ruas, ou melhor… Às mãos, olhos e bolsos do Recife. Doze autores das mais variadas vertentes do trabalho imagético foram estimulados a criar um livreto de baixo custo e alta qualidade. Eram eles ilustradores, designers, grafiteiros, cartunistas, quadrinistas, artistas plásticos e um ator de teatro. Todos realizaram suas obras em tamanho A6 e no máximo 32 páginas. O resultado é uma fascinante coleção entre os mais variados universos visuais. Antes restrito ao circuito recifense e agora lançada em São Paulo.

Imagens em trânsito pela cidade. Coleção habitual e urgente. Pensamento icônico do viver e traduzir a experiência partilhada da criação, da recriação, da modificação das coisas do mundo pelo olhar do desenho e da escrita. As poéticas traçadamente desenhadas pelas mãos dos autores revelados, reunidos, religados pela sensação do olhar o mundo, o sonho, fazem desta coleção, já, uma raridade. Mas o que encontrar nessas páginas vindas do Recife?

O abrir do livro, do livreto, abre a imaginação, conduzindo-nos a novas letras, diálogos e outras tantas narrativas ilustrativas que confidenciam algo visual a nos tornar cúmplices, leitores. Há poesia, brincadeira e provocação, como é, sempre, na vida latente e periférica.

Idéia dos novos, muitos nomes e possibilidades de edições outras e variadas. Os de agora são: Laerte Silvino, Serjão, Rodrigo Braga, Maurício Castro, Galo, Greg, Moa, HKE, João Lin, Rosinha, Zaza e Mascaro. Publicação independente da capa a contracapa, pelo meio, mais para cima ou para baixo, no bolso da gente. Livros de qualidade autoral promovendo a parceria entre a Livrinho de Papel FinÍssimo Editora e a RagÚ zine, com apoio institucional da Associação Cultural e Musical da Barriguda e patrocínio da Prefeitura da Cidade do Recife.

Recife: João Lin promove Oficina de Ilustração Digital

O artista gráfico João Lin abriu nova turma para seu curso de ilustração digital, sediado na Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia.

As aulas começam em 11 de março. Vagas limitadas a oito alunos (um computador por pessoa).

A carga horária é de 18 horas-aula, das 19h às 22h.

Inscrições pelos fones 3224-5656 / 9667-0394 ou email joaolin@terra.com.br, ao valor de R$ 220. A Oi Kabum! fica à Rua do Bom Jesus, 147.

Quadro Mágico entrevista RAL: "o Pasquim foi o meu curso superior"



Quais quadrinhos você lia quando criança?

Gostava de Cavaleiro Negro, Batman e Tarzan. Dos outros, o estilo desenho não me agradava, mas as histórias sim: Brucutu, Perdidos no Espaço… gostava das tirinhas, essa coisa da seqüência.

Você já gostava de desenhar naquele tempo?
Meu irmão desenhava bem, e eu comecei a imitá-lo. Ele fazia revistinha no caderno da escola, ou no papel de pão. Ele pedia na padaria, e desenhava histórias completas. Com 13 anos, fiz um curso de desenho, em Arcoverde (interior de Pernambuco). Meu irmão, não. Ele já estava adolescente, e queria outras coisas. Vi o anúncio oferecendo o curso: Escola Pan-americana de Arte, “o curso dos famosos artistas” (risos). Entre eles tinha Ziraldo. Nem sabia o que era cartum, queria ser desenhista de quadrinhos. Mandava trabalho, e eles avaliavam, até receber o diploma. Em 1966, minha família resolveu se mudar para o Recife, e eu resolvi tentar a minha área.

Então você começou cedo.
É, foi uma aventura. Em 1968, com 17 anos, fui colaborador do Jornal do Commercio, tentando cavar um local pra mim.Eu acreditava em outra coisa. Meu irmão começou a trabalhar em seguro, área administrativa, minhas irmãs foram ser professoras. Nessa época, a pressão era pra deixar de desenhar, e procurar um emprego, coisas que dão dinheiro. Mas eu vivia freqüentando uma banca de revista de um tio meu. Um dia, vi uma que tinha um tipo de concurso pra publicar na revista deles, da editora Edrel (Editora e Distribuidora de Livros e Revistas, de São Paulo). Na época nem chamava de cartum, era do tipo “anedotas e piadas”. Mandei o material dentro do estilo, aquela coisa mais do humor pelo humor, só pra fazer graça. E consegui entrar como colaborador, trabalhando daqui. Fiz um pezinho de meia.

Quando a Edrel fechou as portas, fiquei de novo num mato sem cachorro (risos). Tive que procurar outra alternativa além do cartum. Aí procurei meu amigo Ivan Maurício, que tinha uma publicação alternativa chamada Resumo, e comecei a publicar por lá. Depois, conheci um amigo dele, um psicólogo chamado Ronaldo, que me indicou pra uma agência de publicidade. Peguei também o trabalho publicado na Edrel, e consegui publicar na coluna de um jornalista chamado Paulo Fernando Craveiro, que trabalhou muito tempo na imprensa. Depois eu o encontrei já no Diário de Pernambuco, quando fui editor de arte.

A partir de quando foi isso?
Em 1995, quando entrei no Diario como ilustrador, não existia setor de arte. Era só o departamento comecial, que fazia os anúncios, e um infografista chamado Júnior. Em 1997, Ivan Maurício deu esse empurrão e criou o setor. Me chamou, chamou Júnior, e eu chamei João Lin. Lá de dentro, consegui tirar Paulo Brasil, que ainda hoje trabalha lá. Fiquei no Diario até 1998, quando Mascaro ainda era estagiário. Daí passei três meses na Folha de Pernambuco, e de lá fui pra Gazeta Mercantil. Não deixou de ser escola, já que não existia escola de desenhista.

E no Pasquim, como você entrou?
Graças ao sustento que ganhava fazendo jornais institucionais, pude colaborar com cartuns para o Pasquim. O Pasquim eu também conheci nessa banca do meu tio. Um dia eu tava lá, e chegou um jornal estranho, com uma entrevista com o Ibrahim Sued. O Pasquim foi a minha escola. O primeiro grau foi o curso de desenho; o segundo foram os jornais locais; o Pasquim foi o meu curso superior (risos). Foi quando comecei a fazer as coisas com uma noção maior de engajamento.


CAPA DO PASQUIM NÚMERO 1

Você colaborou com o Pasquim estando o tempo todo no Recife?
Sim. Eu visitei uma vez a redação do Pasquim no Rio de Janeiro. Fui pro Rio com meu material de quadrinhos pra ver se publicava um livro, intitulado Know-RAL. Não consegui, mas conheci Ziraldo, Jaguar, Millôr…(risos). Logo depois, quem chegou foi José Lewgoy. Presenciei a secretária chegando com um pacote de envelopes com o material censurado. Eles ficaram indignados.


RAL AO LADO DO BOI MISTERIOSO, SUA CRIAÇÃO MAIS FAMOSA, E QUE GANHOU UM BONECO GIRATÓRIO NO FIHQ

Qual é a história do Boi Misterioso?
Mais uma vez, Ivan Maurício (risos). Ele estava como editor do Diário da Noite, mantido pelo Jornal do Commercio – que era um Folha de Pernambuco da época. Ele chamou a mim, Paulo Santos e Bione, e disse: “vocês vivem reclamando que não tem espaço pra publicar tira. Então vamos publicar”. Nenhum deles fez, e então pensei: “é a minha chance”. Comecei a rabiscar, pensando no bumba-meu-boi que eu via no interior, e pensei: “é um bom personagem”. Mas eu não sabia a parte toda do folclore do boi. Um dia estava conversando com Ivan, e ele tinha um livro de Hermilo Borba Filho com uma parte só sobre isso. Eu peguei o livro – nunca mais devolvi (risos) – e comecei a ver os personagens: o Capitão, a Catirina, dá pra fazer uma brincadeira com isso. E já que estávamos na ditadura, coloquei o Capitão como a autoridade, e o Boi como o povão. Apesar do bumba-meu-boi original ser bem colorido, lá embaixo está alguém, uma pessoa pobre, oculta. Pensei: “vou colocar isso pra frente: o boi vagabundo, com a roupa remendada”.

Quais são seus novos projetos?
Eu acho legal o blog, porque não precisa de editor pra distribuir, não é? (risos) Comecei, mas não amarrei, porque se não alimentar, não tem graça. Quando tiver alguma coisa nova, publico (nota: a entrevista foi feita antes de RAL lançar o blog). Para o ano que vem, pretendo reunir meu trabalho em antologia. Uma vez fiz uma aposta com Clériston*, pra ver quem fazia um livro primeiro. Somos dois preguiçosos!

* Antonio Clériston, autor do projeto HQCD: e o som virou quadrinhos, e chargista diário da Folha de Pernambuco.

9º FIHQ – imagens da abertura (domingo, 16/09)


GRANDE PAINEL COM PERSONAGENS CLÁSSICOS RECEBEM OS VISITANTES DO 9º FIHQ

Fiquei sem acesso à internet nos últimos sete dias.

Por isso, publico somente hoje algumas fotos do evento de abertura do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. A nona edição do evento segue até dia 06 de outubro, na Torre Malakoff (exposições) e Oi KAbum! Escola de Arte e Tecnologia (palestras e oficinas).

A festa aconteceu no dia 16 de setembro, das 16h às 20h. Na ocasião foram abertas as exposições e revelados os trabalhos premiados pelo salão.


JOÃO LIN, MASCARO, HKE (LIVRINHO DE PAPEL FINÍSSIMO EDITORA), SAMUCA E JOTA A, REVELAM MAIS UM PREMIADO NA MOSTRA COMPETITIVA

Do começo ao fim, o evento foi animado por palhaços e malabaristas numa performance circence realizada pela ONG Arricirco. Algodão doce, pipoca e churros de graça fizeram a alegria não só da criançada.


JOÃO LIN FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE PÚBLICO E DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOS ARTISTAS

Na abertura estiveram os membros da comissão julgadora, formada pelos artistas gráficos Baptistão (SP), Jota A (MA), Márcio Leite (MG), RAL (PE), os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá (SP), Alejandro Archondo (Bolívia) e Avril Filomeno (peruana radicada na Bolívia), ambos do coletivo de quadrinhos sediado em La Paz, Viñetas com Altura, mais os curadores João Lin, Mascaro e Samuca, da Associação dos Cartunistas Pernambucanos – Acape.


TURMA DA PESADA FAZ A FRENTE DO FIHQ


RAL, O HOMENAGEADO, POSA AO LADO DO BONECO DO BOI MISTERIOSO CONFECCIONADO ESPECIALMENTE PARA SUA EXPOSIÇÃO


VALE A PENA CONHECER A EXPOSIÇÃO DOS IRMÃOS MOON E BÁ


ESPAÇO EXCLUSIVO PARA O TRABALHO DO CARICATURISTA BAPTISTÃO (SP)

Festival Recifense de Literatura terá mesa redonda sobre quadrinhos e literatura

Domínio Público: um bom exemplo de literatura em quadrinhos

O 5º Festival Recifense de Literatura incluiu na programação desta edição a mesa redonda “Quadrinização do Texto Literário“. Ela está marcada para o dia 17 de agosto, às 19h, no auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega – Recife Antigo).

Participam do evento os artistas Mascaro e João Lin , que ao lado do jornalista Mário Hélio, formam o núcleo editor do projeto de literatura em quadrinhos Domínio Público, e Ester Calland Rosa, Diretora Geral de Ensino e Formação Docente da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Recife.

Hoje tem novos lançamentos da Livrinho de Papel Finíssimo (Recife)

Corrigindo (e detalhando) o post abaixo:

Hai-Kaidos Volume 2“, de Samuca e Ricardo Mello, será lançado hoje, às 16h, no Bar do Lula (Rua Padre Roma, 722, Parnamirim). Vale a pena visitar o blog do projeto.

Na tarde de hoje, ele estará à venda por R$ 5. Camisetas confeccionadas com reproduções dos textos e desenhos serão vendidas por R$ 15,00. Um kit com livreto, camiseta e mini-pôster sai por R$ 20.

Já o livro de João Lin (sem título) e outro, de Fernando Duarte, (“Corte Digitao“), serão lançados hoje, às 20h, no Bar do Biu (Rua do Sossego, 144, Boa Vista). O preço de cada um é R$ 5.

Se trata de 34 desenhos aditivados por comentários de vários amigos. Entre as participações ilustres estão a dos artistas Clériston, Fábio Zimbres, Neilton (guitarrista do Devotos), Renato Valle, Públius (da banda Azabumba e Forró Rabecado), Rosinha Campos e Braz Marinho.

Os livros estão sendo lançados pela editora Livraria de Papel Finíssimo, o coletivo que produz revistas, livros e zines a baixo custo.

É exemplar ver artistas de porte como os acima publicando material nesse sistema faça-você-mesmo, quase artesanal. Uma luz para que outros, por falta de patrocínio, não deixem seu material parado na gaveta.

Abaixo, reproduzo matéria publicada no Diario de Pernambuco de hoje:

Pequenos prazeres ilustrados
Livretos de João Lin, Fernando Duarte e a dupla Samuca e Ricardo Mello devolvem a graça das velhas (e boas) impressões na máquina xerox
Júlio Cavani
DA EQUIPE DO DIARIO

“É importante que existam publicações de luxo com produção cara, mas para fazer um bom trabalho não é preciso patrocínio ou leis de incentivo”. Esse pensamento do artista plástico Fernando Duarte expressa bem o espírito independente dos três livros de bolso que são lançados hoje no Bar do Biu, impressos com qualidade em uma máquina de xerox, no lema do faça você mesmo. Junto com ele, o desenhista João Lin e a dupla Samuca & Ricardo Mello também criaram seus livretos ilustrados.

Para fazer seu livro, que não tem título, Lin produziu um conjunto de 34 desenhos e pediu para amigos escreverem textos espontâneos que expressassem impressões e sentimentos provocados pelas imagens. Seus traços, que combinam técnicas artesanais e digitais, sem deixar aparente onde começa e onde termina cada uma, são econômicos e labirínticos e se concentram no potencial poético da linha preta sobre fundo branco (e vice e versa).

Entre os convidados que participaram do livro com palavras, que mesmo assim ficaram bastante visuais, estão Clériston, Fábio Zimbres, Neilton, Renato Valle, Públius, Rosinha Campos e Braz Marinho. Em cada página, Lin apresenta um personagem novo, com corpos e rostos cujas formas traduzem seus estados de espírito.

Corte digitao, de Fernando Duarte, é uma espécie de caderno de anotações do artista. Se seus quadros já costumavam ser divididos em retângulos preenchidos por pequenos desenhos, o formato limitado da publicação ficou perfeito para seus seres imersos em reflexões sobre a vida cotidiana e as questões essenciais do ser humano.

Oportunidade – A liberdade de expressão é o que mais chama atenção em Corte digitao, que se parece com um diário de esboços. Fernando diz que está com pouco tempo para produzir seus quadros, mas não pára de desenhar e tem centenas de imagens para mostrar, então o recurso do livrinho se mostrou oportuno para compartilhar essa produção com o público. Só de rostos, o artista tem um caderno com mais de 200. Ele diz que não conseguiria ser cartunista porque seu traço é solto demais e nãosegue regras de organização narrativa.

Hai-kados 2, de Samuca (desenhos) e Ricardo Mello (texto), é formado por ilustrações simples que acompanham poemas simples. A lógica da economia de informações que se abre para múltiplas interpretações se manifesta tanto nas imagens quanto nos versos. Seus pequenos poemas ilustrados são como lampejos de idéias mínimas que podem se maximizar nas interpretações do leitor. Juntos, eles dois já fizeram sete livros, incluindo o primeiro Hai-kados.

“A gente só tá fazendo isso porque rolou uma ação coletiva. Cada um no seu canto não faria esse negócio”, admite Lin. Os três trabalhos foram impressos pela Livrinho de Papel Finíssimo Editora, que funciona na mesma Rua do Sossego onde se localiza o Bar do Biu. A noite de autógrafos começa às 20h, mas antes, às 16h, Samuca e Ricardo também lançam Hai-kados 2 no Bar do Lula, em Parnamirim. Além de assinarem os livros, todos eles prometem fazer desenhos nas contracapas para tornar único cada exemplar.

Serviço
Lançamento dos livros de João Lin, Fernando Duarte e Samuca & Ricardo Mello
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Bar do Biu (Rua do Sossego, 144, Boa Vista)
Informações: 3222-6422

Lançamento de Hai-kados 2, de Ricardo Mello & Samuca
Quando: Hoje, às 16h
Onde: Bar do Lula (Rua Padre Roma, 722, Parnamirim)
Informações: http://www.hai-kados.blogspot.com

Palestra sobre literatura adaptada em quadrinhos no Recife

Saiu no Diario de Pernambuco de hoje:

PALESTRA – Mascaro e Lin falam sobre Hq

Experimentação nas artes gráficas é o tema das palestras que acontecem hoje, às 19h30, na Escola Oi Kabum (Rua do Bom Jesus, 147, Bairro do Recife). Na ocasião, os quadrinistas Christiano Mascaro e João Lin, responsáveis pelos livros do projeto Domínio Público e pela revista Ragú, discutem quadrinização da literatura, e Renato Alarcão fala sobre Diários gráficos. A entrada é gratuita.

Curso de Ilustração digital na Oi Kabum! (Recife)

O artista gráfico João Lin abriu um curso de ilustração digital na Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia. Vagas limitadas a oito alunos. A carga horária é de 18h, distribuídas entre segundas e quartas, das 19h às 22h. Inscrições pelos fones 3224-5656 / 9667-0394 ou email joaolin@terra.com.br, ao valor de R$ 300. O curso começa dis 3 de junho. A Oi Kabum! fica à Rua do Bom Jesus, 147.