O incansável Chico Diaz

A média é de quase dois filmes por ano: são 55, em 29 anos. “Até agora”, diz o incansável Chico Diaz. Da estreia em As aventuras de um paraíba (1982) a O sol do meio dia (2010), de Eliane Caffé, podemos citar papeis memoráveis, como o açougueiro Wellington Canibal, vítima do assédio de Dunga (Matheus Nachtergaele) em Amarelo manga (2003).

Como o professor Paulo, protagonista de Praça Saenz Peña (2009), ganhou o prêmio de melhor ator no Cine PE – Festival do Audiovisual. Foi a segunda estatueta concedida pelo festival – a primeira foi em 1998, por Múcio, o pistoleiro de Os matadores.

Uma trajetória e tanto, que será reconhecida em homenagem na próxima edição do Cine PE. A aproximação com Pernambuco, aliás, rendeu bons momentos de sua carreira. Começou com o curta Cachaça, de Adelina Pontual, que o levou a Baile perfumado, Amarelo manga e Deserto feliz. Entre os projetos novos está o longa O último animal, do diretor português Leonel Vieira, que deve iniciar as filmagens em agosto, no Rio de Janeiro.

Enquanto isso, Chico cuida de seu monólogo, A Lua vem da Ásia, onde versa sobre razão e loucura através de Astrogildo, um aluno que mata o professor de lógica. A peça, que já passou por Brasília, Rio e São Paulo, rendeu elogios da presidente Dilma. Na entrevista a seguir, é o próprio artista quem conta essa história.

Entrevista // Chico Diaz: “A pátria artística que me fez é nordestina”

Você nasceu no México. Como veio para o Brasil
Sou brasileiro nato, pois minha mãe nos registrou na Embaixada do Brasil. Morei na Costa Rica, Peru, Estados Unidos, com férias em Ribeirão Preto e Assunção, no Paraguai, país de meu pai. Ele trabalhava na OEA, de onde se explica esse périplo pelos países e o fato de meus irmãos terem outras naturalidades. Em 1968 chegamos no Rio de Janeiro, de onde, com exceção de meu pai, nunca mais saímos.

Como foi a sua formação?
Fiz arquitetura, porque naquele tempo ser artista era coisa de maluco. Hoje em dia isso é uma bela credencial, apesar de não querer dizer nada. A não ser que você tenha realmente algo para dizer, e para isso você tem que saber ficar calado. Pode parecer paradoxal mas é assim que vejo.

Por que você decidiu ser ator?
Não sei te dizer ao certo. Naquela época, havia sombras silenciosas, gente apanhando e sumindo, as ideias eram veladas e me parecia que a arte, a alegria, o lúdico e a imaginação poderiam ser mais interessantes na medida que congregava as pesssoas.

Como foi o começo?
Em um colégio, o Souza Leão, apareceu um fiscal de disciplina chamado Carlos Wilson, vulgo Damião, que era ator de O Tablado e desencaretou o fazer teatral na Zona Sul. Fundamos um grupo com pretensões circenses chamado Manhas e Manias, com José Lavigne, Andréa Beltrão, Débora Bloch, Pedro Cardoso. Foi minha verdadeira escola, pois faziamos tudo. Por ali mesmo houve possibilidade de participar de O sonho não acabou, de Sérgio Rezende. Daí o vento foi um só, generoso e cálido.

Baile perfumado completa 15 anos e também será homenageado no Cine PE. Que lembranças você guarda do filme?
Da garra, da inteligência e da vontade de se fazer, independentemente de como. Me lembrou muito os tempos do Manhas e Manias. Me lembro do convite sendo feito e me lembro do Cláudio Assis por ali, assuntando possibilidades futuras. Já havia um embrião do que é o cinema pernambucano hoje, com seu vigor e fúria. Fiquei muito orgulhoso quando vi o Baile ganhando prêmio no Festival de Brasília.

Qual sua opinião sobre o cinema feito em Pernambuco?
Sem dúvida é dos mais interessantes no Brasil. Não só o cinema, mas tudo o que diz respeito às artes. Pena é não poder aprender mais com vocês, pois a vida impede. Mas minha admiração é tremenda. Aliás, dizem que sou mexicano, mas eu digo a pátria artística que me fez é nordestina.

Você tem uma longa história com o Cine PE, onde já foi premiado duas vezes. Que lembranças você guarda?
Foram momentos de reconhecimento e gratidão, porque as pessoas acham que é fácil ter um diagnóstico sobre determinado personagem e, consequentemente, sobre sua gente. Mas, se o personagem não representa ninguém, perde a força. As pessoas dizem que nós, atores, representamos personagens. Mas, se eles não representarem a gente, não há porque fazê-los. O corte tem que ser dado ali na raiz, aonde o personagem se torne representativo.

Certa vez Paulo César Peréio disse que faz filmes por identificação com o cinema, porque dinheiro ele ganha com publicidade e TV. Como você vê essa relação?
Acho importante o ator ter curiosidade e se garantir em todas, pois para cada uma existe demanda. No teatro temos os deuses ali perto, os verdadeiros deuses em frente à plateia, sem rede de proteção. Na TV, os deuses são outros e lidamos com ritmo industrial e visibilidade continental, é o olho do furacão. E o cinema exige um conhecimento técnico profundo, aonde a espera e discussão são grandes, sabe-se lá quando o filme vai ficar pronto. Sou muito agradecido a ele, pois nas horas mais duras ele me pegou e levou para uma locação e fez humildemente reconhecer o caminho e a estrada necessárias que me trazem agora ao Recife.

Como tem sido a experiência com o monólogo?
Não poderia ser melhor, pois é fruto de uma ânsia de liberdade criativa que consegui realizar. Uma espécie de graduação, da qual muito me orgulho. A solidão dos dias que correm, a nossa condição no mundo, o tênue limite entre lucidez e loucura, consciência e inconsciência, liberdade e prisão, presentes no texto tem feito com que as pessoas se identifiquem, questionem e reflitam. Isso para mim é o bom teatro.

Na estreia do espetáculo, você foi recebido por Dilma no Planalto. Depois ela o visitou no camarim. O que foi dito nos encontros?
No Planalto Saudamos o teatro, o cinema, as artes em geral e suas impressões sobre a obra de Campos de Carvalho. No teatro falamos sobre a excelência do texto e adequação aos dias de hoje, apesar de ter sido escrito em 1956. Ela já conhecia o autor e gostou demais do que viu, o que me deixou muito orgulhoso e feliz.

(Diario de Pernambuco, 24/04/2011)

A noite carioca do Cine PE

A organização do Cine PE – Festival do Audiovisual anunciou sua programação principal na sede do Oi Futuro Ipanema, na última terça-feira. Alguns famosos renderam certo interesse para a mídia de celebridades, como Ney Latorraca, Bruno Garcia e Marcos Palmeira. Para os pernambucanos, no entanto, o lançamento não acrescentou muitas novidades, a não ser uma programação de longas que, com uma ou outra exceção, não corresponde à grandiosidade do evento. As demais informações, como a programação de curtas e as homenagens a Pelé, Wagner Moura, Chico Diaz, Vânia Debs, Camila Pitanga, Zelito Viana, a Revista de Cinema e ao governador Eduardo Campos, já haviam sido noticiadas.

A cerimônia no Rio também incluiu o lançamento do vídeo publicitário, onde, sob trilha sonora que remete a 2001 – Uma odisseia no espaço, um ovo se quebra no ar e, com música baseada em Pulp fiction, 007, Easy rider e Titanic, é preparado um bolo de debutante. São 15 anos de Cine PE, assim como do longa Baile perfumado, símbolo maior da retomada do cinema pernambucano, que será lembrado em homenagem, na noite de encerramento. A morte recente do diretor de fotografia do filme, o mineiro Paulo Jacinto dos Reis (mais conhecido como Feijão) foi lembrada por Bertini e lamentada por Lírio Ferreira, que, apesar do luto pela perda do amigo, compareceu ao evento. “Quando me mudei para o Rio, morei com ele em seu apartamento. Depois veio Paulo Caldas, que ficou lá até se casar”, lembra o cineasta. Feijão fotografou todos os filmes de Caldas: O rap do pequeno príncipe, Deserto feliz e o inédito País do desejo.

Dos sete longas da programação, todos inéditos, cinco disputam o Calunga: a comédia paulista Família vende tudo, de Allain Fresnot, com Luana Piovanni, Caco Ciocler e Lima Duarte; o documentário carioca Casa 9, de Luiz Carlos Lacerda, sobre a mitológica residência que recebeu vários artistas nos anos 1970, entre eles Lenine; o doc pernambucano JMB, o famigerado, de Luci Alcântara; a ficção paulista Estamos juntos, de Toni Venturi, com Leandra Leal e Cauã Reymond; Casamento brasileiro, de Fauzi Mansur; e a ficção carioca Vamos fazer um brinde, de Cavi Borges e Sabrina Rosa. Fora de competição serão exibidos O teatro de Augusto Boal (RJ), de Zelito Viana, e O rochedo e a estrela (PE), de Kátia Mesel.

Marcada para 28 e 29 de abril, no Cinema da Fundação, a Mostra Pernambuco este ano está reduzida a nove filmes: Cinema americano, de Taciano Valério; Palavra plástica, de Leo Falcão; 1:21, de Adriana Câmara; É lá que eu vejo, de Mateus Sá; Solar dos príncipes (PE), de Bruno Mendes e Henrique Edurado; Diário de um ator, de Cadu Pereiva; Bob Lester, de Hanna Godoy e Mariana Penedo; Vodka, de Victor Dreyer; e Aeroporto, de Marcelo Pedroso.

Sediados no Recife Palace, o hotel do festival, os seminários serão entre 3 e 5 de maio. O principal discutirá coprodução internacional Em conversa com Bertini, a reportagem do Diario apurou que a Mostra Pernambuco voltou para o Cinema da Fundação porque o “estado do Cinema São Luiz voltou a ser crítico”, ou seja não tem condições técnicas de receber o evento. E que, após o festival, os filmes vencedores serão exibidos no teatro do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem.

(Diario de Pernambuco, 14/04/2011)

Cine Pelé

O rei Pelé será a grande atração da 15ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual. O craque em pessoa estará na abertura do evento, no próximo dia 30. A homenagem já estava confirmada há mais de um mês e seria anunciada na terça-feira que vem, durante o lançamento do festival em evento no Rio de Janeiro, mas desde ontem a notícia corre solta na internet. A BPE, produtora do evento, acredita que a informação ´vazou` através da imprensa esportiva, que tem acesso à agenda do rei do futebol, que em outubro passado completou 70 anos.

Por sua vez, o Cine PE comemora 15 anos e, em depoimento, Pelé brinca com o nome do festival, ao qual se refere como ´o Maracanã dos cinemas`. E brinca com o nome: ´Cine Pelé`. Na ocasião, além do depoimento será exibido documentário inédito dirigido por Evaldo Mocarzel (Do luto à luta), que aborda o lado artístico de Pelé, como músico e no cinema, onde atuou em filmes de Anselmo Duarte (Os trombadinhas, 1979), Ipojuca Pontes (Pedro Mico, 1985)e John Huston (Fuga para a vitória, 1981). Neste último, contracenou com Sylvester Stallone, Michael Caine e Max von Sydow. De Sydow, aliás, Pelá disse a Mocarzel ter recebido aulas de atuação.

Afeito ao mundo futebolístico, Alfredo Bertini comemora a homenagem – e o filme – como fosse gol. ´Foi uma tarde excepcional`, diz o produtor, sobre a entrevista de mais de quatro horas que também renderá documentário a ser exibido na abertura do Cine PE e um programa de 25 minutos para o Canal Brasil. ´Pensei que seria uma conversa rápida, mas Evaldo assistiu a todos os filmes e fez um trabalho espetacular, que provocou a memória de Pelé. Tem coisas que ele revela que nunca comentou com ninguém`.

Uma delas é o fato de que o gol de bicicleta que faz no final de Fuga para a vitória foi encenado para substituir Stallone, que não teve os fundamentos para lidar com a bola. ´Ele também citou várias vezes os atores Paulo Goulart, Nicete Bruno, Tereza Raquel e Milton Gonçalves, que precisou dublou a voz dele em Pedro Mico. E se refere a Houston como um conselheiro sentimental, pois na época estava se separando da primeira mulher e o diretor já estava no sétimo casamento`, conta Bertini.

Apesar do ´furo`, Bertini guarda na manga outras novidades que serão reveladas na coletiva da terça-feira que vem, no Rio. Entre elas estão os demais homenageados (um deles internacional, que deve compor uma mesa de co-produção Brasil / Itália) e a programação de longas, todos inéditos, entre eles um pernambucano.

(Diario de Pernambuco, 06/04/2011)

Líderes da Tropa no Recife

José Padilha e Wagner Moura virão ao Recife em abril, como convidados de honra do Cine PE – Festival do Audiovisual. A homenagem, informa o produtor Alfredo Bertini, pode incluir uma retrospectiva de filmes do diretor e também do ator.

“Depois de baterem todos os recordes, nada mais justo que sejam homenageados como a maior referência da história do cinema brasileiro”, diz Bertini, que estuda a possibilidade de potencializar a presença do diretor de Tropa de Elite para promover uma discussão sobre cinema político.

Também estão confirmadas a homenagem aos 15 anos do longa Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, e aos dez anos do programa de TV Revista de Cinema. 2011 também marca os 15 anos do Cine PE e outras novidades podem vir por aí.

Inicialmente anunciada para o período entre 2 e 8 de maio, o evento teve a data da realização antecipada para 30 de abril a 6 de maio, no Centro de Convenções. O lançamento oficial para a imprensa será dia 12 de abril, no Rio de Janeiro. Bertini também considera que o Parque Dona Lindu possa abrigar parte da programação, mas a possibilidade de acontecer novamente no Cine São Luiz não está descartada. “O Dona Lindu seria uma boa opção, tem um teatro com 1200 lugares. Já solicitei agenda com o prefeito, assim como o novo secretário estadual de cultura, Fernando Duarte”.

Os planos de estabececer laços com o cinema italiano em parceria com a Câmara de Comércio Brasil-Itália não decolaram na edição anterior, mas continuam, no convite feito a três realizadores e um organizador de festival. Há também uma possível ponte africana através de um acordo com Angola. “Estamos fechando uma assessoria para um festival em Luanda, com chances de um acordo mais amplo para ser assinado pelos dois países”, revela Bertini.

As inscrições para o Cine PE se encerram hoje. Apesar disso, Bertini estendeu o período para a submissão de longas, pois várias produções ainda não foram finalizadas. E ressalta as boas vindas para que realizadores pernambucanos que produziram longas em 2010 inscrevam seus filmes: Cláudio Assis, Paulo Caldas, Marcelo Gomes, Kleber Mendonça. “A porta está aberta”, garante o produtor.

(Diario de Pernambuco, 31/01/2011)

Cine PE se antecipa amanhã e domingo com mostra pernambucana

A cerimônia oficial de abertura do 14º Cine PE – Festival do Audiovisual será na próxima segunda-feira, mas o evento se antecipa, amanhã e domingo, com a 3ª Mostra Pernambuco de curtas e longas-metragens no Cinema São Luiz. A programação é competitiva e traz 18 produções – 15 curtas e três longa-metragens de diretores pernambucanos ou que tenham vínculo com a cultura do estado. As sessões começam às 19h e ingressos poderão ser retirados gratuitamente na bilheteria do cinema, a partir das 17h.

Entre outros, serão exibidos no sábado o curta Matriuska, adaptação de contos de Sidney Rocha pelo diretor Pablo Pólo e produção de Isabella Cribari, e dois longas: o documentário Travessias, de José Eduardo Souza Lima (o Zé José), sobre estudantes do ensino público que participam de programa patrocinado pela Fundação Roberto Marinho; e Nas rodas do choro, de Milena Sá, pernambucana radicada no Rio de Janeiro, conhecida como percussionista e VJ das últimas edições do Rec Beat.

No domingo, a mostra de curtas traz A minha alma é irmã de Deus (foto), de Luci Alcântara, adaptação do romance inédito de Raimundo Carrero, roteirizado pelo próprio escritor. Na mostra de longas, será exibido pela primeira vez o documentário Porta a porta, de Marcelo Brennand. Em tempo: ontem, a organização do Cine PE informou que, apesar de inicialmente escalado, o curta Incenso, de Marco Hanois, está fora da competição por “motivos de produção”.

3ª Mostra Pernambuco – Programação completa

Sábado, 24 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Tchau e Benção (Digital, Ficção, Direção: Daniel Bandeira, 10’, PE)
Aqui Mora Uma Pessoa Feliz (Digital, Ficção, Direção: Jean Santos, 5’, PE)
Fôlego (Digital, Ficção, Direção: Larissa Cavalcanti, 4’48”, PE)
Matriuska (Digital, Ficção, Direção: Pablo Pólo, 15’20”,PE)
Lula em Cortes (Digital, Documentário, Direção: Marcos Santos, 10’15”, PE)
O Mar de Lia (Digital, Documentário, Direção: Hanna Godoy, 12’51”, PE)
Profissional da Noite (Digital, Documentário, Direção: Kleber Castro Dibianchi, 15’, PE)
Retratos (Digital, Documentário, Direção: Leo Tabosa e Rafael Negrão, 20’, PE)

21h-Exibições de longas-metragens
Travessias (Digital, Documentário, Direção: José Eduardo Souza Lima, 84’,PE/RJ)
Nas Rodas do Choro (Digital, Documentário, Direção: Milena Sá, 50’, RJ)

Domingo, 25 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Balé (Digital, Ficção, Direção: Caio Sales, 10’, PE)
Tereza – Cor na Primeira Pessoa (Digital, Documentário, Direção: Amaro Filho e Marcílio Brandão, 20’, PE)
À Felicidade (Digital, Ficção, Direção: Carlos Nigro, 5’, PE)
Amor Selvagem (Digital, Animação, Direção: Evandro José Mesquita, 3’33”)
Não Sei Se Devo (Digital, Ficção, Direção: Gabriel Muniz e Luis Vitor,4’11”)
Ossos do Ofício (Digital, Ficção, Direção: Camila Rocha, Luciano Branco, Ricardo Arruda, Thiago de Albuquerque e Yure Serbedja, 12’, PE)
A Minha Alma É Irmã de Deus (Digital, Ficção, Direção: Luci Alcântara, 18’, PE)

21h-Exibição de longa-metragem
Porta a Porta (Digital, Documentário, Direção: Marcelo Brennand, 80’, PE)

(Diario de Pernambuco, 23/04/2010)

Cine PE 2010 lançado no Rio de Janeiro


Alfredo Bertini apresenta o Cine PE 2010 na noite de quarta Foto: Daniela Nader

Rio de Janeiro – Um dia depois do previsto, a programação do Cine PE 2010 foi anunciada na Praia de Copacabana, com presença de famosos que concorrem ou serão homenageados durante a 14ª edição do festival. Coincidência infeliz, a cerimônia originalmente seria na terça-feira, dia seguinte ao temporal que arrasou a capital carioca. No entanto, algumas regiões não foram afetadas pelas chuvas, entre elas, o quadrante onde fica a sede da Oi Futuro, local do evento.

A expectativa era saber se, tal qual promete a Bíblia, depois da tempestade, viria a bonança. E qual não foi a surpresa ao encontrar no lounge o compositor Oswaldo Montenegro, cercado de câmeras e microfones. A curiosidade logo seria saciada: ele acaba de finalizar Leo e Bia, antigo projeto de música e teatro, agora vertido para o cinema com trilha de Zé Ramalho, Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Sandra de Sá e Paulinho Moska. “Para mim é um privilégio. O melhor que poderia acontecer com o filme seria começar em Pernambuco”, disse Montenegro, acompanhado de grande elenco, do qual faz parte a atriz Françoise Fourton. Roberto Farias, diretor de Assalto ao trem pagador e presidente da Academia Brasileira de Cinema, também prestigiou o evento. “É de arrepiar ver três mil pessoas reunidas para assistir ao cinema brasileiro”.


Oswaldo Montenegro e equipe de Leo e Bia Foto: Daniela Nader

A programação de longas, selecionada a partir de 70 inscrições, foi anunciada pelo casal Alfredo e Sandra Bertini, que fizeram a seleção junto com Hermes Leal, editor da Revista de Cinema. Antes, Alfredo Bertini lamentou que Giuseppe Tornatore, convidado internacional que sucederia o greco-romano Constantin Costa-Gavras, não confirmou presença. Ele estaria à frente de uma mostra de cinema italiano. Disse que vai lutar para trazê-lo ano que vem.

Dos seis longas em competição, apenas Leo e Bia e o documentário Cinema de Guerrilha, de Evaldo Mocarzel, gozam de ineditismo. As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), será lançado no circuito comercial no próximo dia 16. Sequestro, de Wolney Atalla, Não se pode viver sem amor, de Jorge Durán, e O homem mau dorme bem, de Geraldo Moraes, já foram exibidos em outros festivais. De acordo com os organizadores, o critério foi, além da qualidade fílmica, a representação proporcional de todos os recantos do Brasil que se dispuseram a inscrever seus filmes. O mesmo valeu para guiar a escolha dos curtas.

Hors concours – Fora de competição, O bem-amado, de Guel Arraes, terá premiére nacional na noite de abertura oficial, segunda-feira, dia 26. Arraes e a Globo Filmes serão homenageados, ao lado de Julia Lemmertz e Tony Ramos. Dois outros filmes inéditos serão exibidos em sessão hors concours: Quincas Berro D’Água, de Sérgio Machado (Cidade Baixa), e Continuação, documentário sobre Lenine, dirigido por Rodrigo Pinto. Lemmertz esteve presente no lançamento e disse que guarda boas lembranças de sua passagem no Cine PE em 2003, quando participou do filme As três irmãs, de Aloísio Abranches.

Outras novidades anunciadas são a mostra itinerante em Olinda, seminários que serão transformados em livro e a volta histórica do Cine PE ao Cine São Luiz, que receberá a Mostra Pernambuco (24 e 25 de abril) e a cerimônia de premiação. Bertini justifica a presença de filmes de outros estados na mostra pernambucana, como os longas de Marcelo Brennand e de José Eduardo Souza Lima (Zé José), por serem “produtos que se relacionam ou são filmados Pernambuco”. Também foi apresentada a campanha de divulgação, desenvolvida pela Mart Pet e estrelada por Bruno Garcia, Dira Paes e Flavio Pardal. Este ano, em vez de investir na combinação de cinema e símbolos regionais, o tema é economia da cultura.

O lançamento carioca do Cine PE foi justificado pela BPE Produções como um mecanismo de divulgação de Pernambuco e da cidade do Recife, o que contemplaria o interesse dos patrocinadores locais (Fundarpe, Empetur e Prefeitura do Recife). Outro motivo, disse Bertini, é o fato de que boa parte dos longas e curtas selecionados são produções do Rio de Janeiro. Mas claro que um agrado aos patrocinadorescariocas faz bem. Realizado com R$ 1,9 milhão, o Cine PE precisa estar garantido ano que vem, quando a Petrobras avaliará a continuidade de patrocínio ao evento.

(Diario de Pernambuco, 09/04/2010)

Cine PE abre inscrições para oficinas profissionalizantes

A assessoria de imprensa do Cine PE Festival do Audiovisual informa que estão abetas as inscrições para as oficinas profissionalizantes e o workshop que integram a grade de atividades da 14a edição do festival. Este ano, os interessados terão a oportunidade de participar das oficina de produção, oficina de roteiro e do workshop formas de financiamento ao audiovisual.

Os instrutores serão, respectivamente, o produtor, diretor e roteirista de cinema Chris Rodrigues (Macunaíma, Capitães de Areia); o roteirista de cinema e vídeo, Di Moretti (Nossa Vida não Cabe num Opala, Latitude Zero ); e o advogado Fábio de Sá Cesnik.

As aulas das oficinas ocorrerão de 26 a 30 de abril, das 9h às 13h, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Derby. O workshop será realizado no dia 30 de abril, das 9h às 18h. Serão oferecidas 40 vagas para a Oficina de Produção; 30 para a Oficina de Roteiro; e 50 para o Workshop Formas de Financiamento ao Audiovisual. Cada oficina terá 20 horas/aula. A íntegra dos programas pode ser conferida no site do festival.

De acordo com os diretores do Cine PE, Sandra e Alfredo Bertini, as oficinas já são atividades consolidades e bastante concorridas dentro da programação do festival. “Queremos promover essa troca de conhecimento e formação, trazendo para cá profissionais de renome no mercado. É uma ótima oportunidade parar profissionais de comunicação, cinéfilos, estudantes e até para quem já atua na área de cinema”, sugere Bertini.

A inscrição custa R$ 120,00 e pode ser feita via site, e-mail (festival@bpe.com.br), fax (81 3343.5066) ou na sede da BPE (Rua João Cardoso Ayres, 1042, Boa Viagem, Recife-PE). A confirmação deve acontecer via fax. As inscrições serão encerradas automaticamente no ato do preenchimento das vagas disponíveis.

Informações: (81) 3461.2765

Os curtas do Cine PE 2010

A organização do Cine PE divulgou ontem a lista de filmes selecionados para as mostras competitivas de curta-metragens. O resultado é instigante e reflete a boa safra de curtas 2009-2010. Dos 18 filmes 35mm, os de Gilberto Scarpa, Petrus Cariry, Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena têm acumulado bons momentos e elogios em festivais. Especialmente Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, que em curta carreira venceu prêmios principais em Brasília, Tiradentes, Santa Maria da Feira, foi exibido em Roterdã e nos próximos dias vai ao Rio (Cachaça Cinema Clube), Toulouse (França) e o Festival Indie Lisboa. A recepção efusiva em Brasília só faz aumentar a expectativa em torno da reação do numeroso público do Cine PE.

Outros candidatos ao Calunga de Ouro 35mm a se destacar no circuito de festivais são o simpático Os amigos bizarros de Ricardinho(RS), o poético Azul (PE) e o doc sobre a noite gay Bailão (SP). O único inédito de Pernambuco é Um médico rural, do montador e designer Cláudio Fernandes. Natural de Vitória da Conquista, esse é o curta de estreia de Fernandes, feito com R$ 88 mil patrocinados pelo Petrobras Cultural, e recursos da Lei de Incentivo Municipal e Lei Rouanet. “Meu desafio foi adaptar um texto de Kafka sem usar a voz off para ilustrar o pensamento do narrador. Tentei passar a sensação do conto através da ação cinematográfica”, diz o diretor.

Selecionados a partir de um universo de 259 inscritos, os doze curtas digitais comprovam a força da cinematografia nordestina. Quatro deles são paraibanos. Um deles, Sweet Karolynne, tem recebido destaque nas mostras por onde andou. “Proporcionalmente, vídeos da Paraíba chamaram atenção. Eles fazem cinema que pode não ser perfeito na parte técnica, mas que tem um olhar muito próprio. Tanto que metade dos filmes de lá que foram inscritos entraram na seleção”, diz Lucas Fitipaldi, repórter do Diario e um dos curadores da mostra digital. Fitipaldi ainda ressalta a presença do documentário carioca Se meu pai fosse de pedra como o único a receber nota máxima detoda a comissão. O filme trata do escultor Sérgio Camargo, investigado por sua filha Maria, que assina a direção.

O Cine PE será realizado entre 26 de abril a 2 de maio, no Teatro Guararapes e também no Cine São Luiz. A programação completa do festival será divulgada no início do mês que vem, o que inclui os longas em competição e mostras paralelas.

O que vem por aí

Curta 35mm
A montanha mágica (CE), Documentário , Direção: Petrus Cariry , 13′
A noite por testemunha (DF), Ficção, Direção: Bruno Torres, 20′
Amigos bizarros do Ricardinho (RS), Ficção, Direção:Augusto Canani , 21′
Azul (PE), Ficção, Dir.: Eric Laurence, 19′
Bailão (SP), Doc., Dir.:Marcelo Caetano, 16′
Circuito interno (SP),Fic., Dir.: Júlio Martí , 15′
Faço de mim o que quero (PE), Doc , Dir.: Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, 18′
Geral (RJ), Doc., Dir.:Anna Azevedo , 14′
Homem-bomba (RJ), Ficção, Direção:Tarcísio Lara Puiati , 13′
Nego fugido (BA),Ficção, Direção:Cláudio Marques e Marília Hughes Guerreiro , 16′
O divino, de Repente (SP), Animação, Direção: Fábio Yamaji , 6’20”
O filme mais violento do mundo (MG), Ficção, Direção: Gilberto Scarpa, 17′
Quando a chuva chegar (PA), Ficção,
Direção:Jorane Castro , 15′
Recife frio (PE), Ficção, Direção: Kleber Mendonça Filho, 20′
Revertere ad locum tuum (MG), Ficção, Direção: Armando Mendz, 16′
Senhoras (DF), Ficção, Direção:Adriana Vasconcelos , 10’30”
Um médico rural (PE), Ficção, Direção: Cláudio G.Fernandes, 21′
Zé(s) (RJ), Documentário, Direção: Piu Gomes , 15′

Curta digital
Áurea (RJ), Ficção, Dir.: Zeca Ferreira, 16′
Corpo Urb (PE), Ficção, Dir.: Mariane Bigio, 10’46”
Do morro? (PE), Documentário, Direção: Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, 20′
Ensaio de cinema (RJ), Ficção, Direção: Allan Ribeiro, 15′
Eu queria ser um monstro (RJ), Animação, Direção: Marão, 8′
Família Vidal (PB), Doc., Direção: Diego Benevides, 15′
La traz da serra (PB), Documentário, Direção: Paulo Roberto, 8′
O plano do cachorro (PB), Ficção, Direção: Arthur Lins e Ely Marques, 10′
Se meu pai fosse de pedra (RJ), Docum., Direção: Maria Camargo, 19′
Sobe, Sofia (RJ), Fic., Dir.: André Mielnik, 15′
Sweet Karolynne (PB), Documentário, Direção: Ana Bárbara Ramos, 15′
Tanto (SC), Ficção, Dir.: Nataly Callai, 8′

(Diario de Pernambuco, 02/03/2010)

Cinema italiano no Recife

Ao que tudo indica, um grande artista do cinema italiano será o convidado de honra do Cine PE 2010. Enquanto o nome não se confirma, outras definições vão dando corpo ao festival. Guel Arraes, Tony Ramos e Júlia Lemmertz serão homenageados com o Calunga de Ouro.

Ao contrário do que foi previsto no ano passado, a reforma do Centro de Convenções não começou e o festival continuará sediado no espaço que gabarita o evento a ostentar o título de maior público do Brasil. A cerimônia de encerramento, no entanto, será transferida para o Cine São Luiz, que ainda pode abrigar outras atividades do festival, marcado para o período entre 26 de abril e 2 de maio.

O retorno ao São Luiz é algo simbólico para o Cine PE, que nasceu naquele local, 14 anos atrás. “Vai ser um charme diferente, pois foi onde tudo começou. Além disso, o governo do estado é nosso parceiro, queremos valorizar o trabalho que ele fez no São Luiz”, diz Alfredo Bertini, diretor do festival.

“Notamos que cerimônia de premiação não costuma atrair grande público e jáestávamos procurando alternativas para isso”. Mesmo com o espaço reduzido de 2.500 para 900 poltronas, o encerramento no São Luiz não será apenas para convidados, mas para o público que retirar convites limitados ao longo do evento. Para a ocasião (um domingo à noite), Bertini pretende definir com a Prefeitura do Recife um plano para isolamento da área para estacionar carros e estender o tapete vermelho.

Ano passado, a presença do cineasta greco-francês Constantin Costa-Gavras e seu novo filme A oeste do Éden atraiu olhares de todo o Brasil. Agora o foco está na Itália, que está em alta no panorama mundial de filmes, além de ser país de origem da família Bertini. “2011 será o ano da Itália no Brasil e embaixadas, consulados e a Câmara do Comércio Brasil-Itália estão interessados em antecipar uma parceria com o Nordeste”, diz o produtor.

É certa para esta edição do evento uma mostra especial com filmes do novo cinema italiano. Não se sabe se o convidado de honra que abrirá o evento será um ator, atriz ou diretor. Difícil é não especular. Bertolucci ou Morelli, Scola ou Tornatore, Sophia Loren ou La Cardinale? “Roberto Benigni era sério candidato, mas é comunista de carterinha e não participa de eventos com marcas privadas”, diz Bertini.

Tudo estará definido no início de abril, quando uma coletiva de imprensa anunciará os filmes das mostras competitivas, selecionados entre mais de 60 longas e 400 curta-metragens inscritos até segunda-feira passada. De olho no ibope gerado pela Copa do Mundo, Bertini (que é membro da diretoria do Sport Clube) também prepara mostra especial sobre futebol.

A Fundação Joaquim Nabuco continua a abrigar os workshops, que este ano são três: roteiro cinematográfico com Di Moretti, produção com Chris Rodrigues e elaboração projetos culturais, com o advogado Fabio de Sá Cesnik. As inscrições estão abertas, com vagas limitadas. As oficinas serão nas manhãs de 26 a 30 de abril e custam R$ 120.

(Diario de Pernambuco, 09/02/2010)

A joia rara de Renata Pinheiro

No próximo dia 22, Superbarroco, de Renata Pinheiro, participa do Festival de Cannes. O curta-metragem será exibido no segundo dia da Quinzena Realizadores, na opinião da autora, a mais instigante mostra do maior e mais respeitável evento do cinema mundial. No ano passado, outro curta pernambucano, Muro, de Tião, foi destaque no evento e recebeu o prêmio Regard Neuf (Novo Olhar).

Eleito o melhor curta dos festivais de Brasília e Pernambuco, Superbarroco é uma obra diferente daquelas com começo, meio e fim. Sua narrativa se baseia no mistério, na não-linearidade da memória afetiva. Um filme em que sombras e luzes trabalham a favor do sonho e delírio. Cinema no nível da melhor poesia.

“Fiz este filme como um ourives faz uma joia”, disse Renata, em entrevista ao Diario. Ela contou que a produção tomou aproximadamente três anos de trabalho. Tudo começou do desejo de resgatar a arte da dublagem, cada vez mais em desuso, e a importância da cantora Dalva de Oliveira na cultura brasileira. “Pensando o filme hoje, vejo que ganhou inúmeras camadas interpretativas além destas ideias. A questão é que sempre trabalhamos com liberdade e intuição. O último tratamento tornou o roteiro uma grande sequência de associações livres”.

Boa parte da força de Superbarroco vem da performance do ator paraibano Everaldo Pontes, em interpretação premiada nos festivais acima citados. No fim de semana passado, após a cerimônia de premiação do Cine PE, ele disse à reportagem do Viver que se sente corresponsável pelo filme, pois ele se definiu após uma conversa que teve com o produtor Sérgio Oliveira, marido de Renata. “Estávamos rodando Árido movie, e falei para Sérgio que existe na Paraíba um fã-clube de Dalva de Oliveira, do qual faço parte desde os anos 70″, lembrou o ator, que deve integrar o elenco de Transeunte, próximo filme de Eryk Rocha.

Outro ponto decisivo do curta está no aspecto fantasmagórico da fotografia, a cargo de Pedro Urano, construída a partir de cenários e objetos banhados pela projeção de imagens de arquivo e do próprio ator, que termina por contracenar com ele mesmo. “Não poderia ter a máquina ilusionista do cinema, com suas grandes salas e telas de projeção, e não tirar proveito disto. Quis lembrar que o cinema é, em essência, o passado e a ilusão, e convidei o público a entrar conscientemente nisto”, explica a diretora.

Ela considera Superbarroco a consequência de suas experiências de infância, afetivas e profissionais – ela tem formação em teatro, e construiu carreira como diretora de arte, onde foi premiada por Feliz Natal, de Selton Mello, e Baixio das bestas, de Cláudio Assis, ambos no Festcine – Goiânia, e por Amarelo manga, de Cláudio Assis (Cine Ceará). Outros filmes no currículo são A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele, e Árido movie, de Lírio Ferreira. Em fase de finalização estão Histórias de amor duram apenas 90 minutos (RJ), de Paulo Halm, e Hotel Atlântico (SP), de Suzana Amaral.

Memória parece ser a palavra chave para a compreensão do filme. O casarão onde foi rodado é, há duzentos anos, a casa grande da família de Renata. “Lá ouvi muitas histórias de meus antepassados”.

Quanto às motivações do personagem, embriagado de si, ela prefere deixar a cargo de quem assiste. “Quando estávamos em processo de construção do personagem, fiz questão de deixar lacunas de compreensão. Estudei um pouco de Butô. Nesta dança japonesa, o corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a arquétipos da mente”, revelou Renata, que já articula os primeiros movimentos para viabilizar Vago, projeto de longa-metragem anterior a Superbarroco. A viagem a Cannes pode ser um ótimo trampolim.

*publicado no Diario de Pernambuco

Cine PE atraiu mais de 20 mil pessoas ao Guararapes


EVERALDO PONTES, ATOR DE TALENTO RECONHECIDO POR ATUAÇÃO EM SUPERBARROCO

O número oficial do público que circulou nos nove dias do Cine PE Festival do Audiovisual ainda não foi levantado. Mas a organização arrisca algo em torno de 20 mil pessoas. Foram mais de 60 filmes das mostras oficiais, paralelas e hors concours. Parte deles deixaram a desejar para público e crítica, situação de certa forma compensada por ótimas exceções, quase todas premiadas na noite de domingo, e pela presença de Constantin Costa-Gavras, o que atraiu olhares de todo o país.

“Foi excelente”, afirma Alfredo Bertini, organizador do evento, a respeito desta 13ª edição. E destaca a qualidade das projeções como um dos destaques. Para 2010, ele adianta pelo menos dois planos: transferir a Mostra Pernambuco de curtas, que este ano esteve sediada no Cinema da Fundação, para o evento maior (seja no Cineteatro Guararapes ou, caso ele esteja em reforma, no Chevrolet Hall ou Teatro da UFPE); e tornar a cerimônia de premiação um evento fechado, em local apropriado para festas.

Se esta decisão for tomada, ela tem a ver com a tímida participação da plateia durante a entrega dos troféus. A impressão é de que as pessoas foram mesmo para assistir (e aplaudir bastante) ao longa de Lírio Ferreira, O homem que engarrafava nuvens.

Sobre o resultado, vale destacar os quatro Calungas para o longa Alô, Alô Terezinha!, de Nelson Hoineff; os cinco do curta Muro, de Tião (contando com o prêmio da ABD e de aquisição do Canal Brasil); e os dois prêmios para o curta digital A ilha (DF) – como o próprio diretor Ale Camargo lembrou, é coisa rara o cinema de animação se impor sobre os demais.

Justiça também foi feita ao ator Everaldo Pontes (Central do Brasil, São Jerônimo, Abril despedaçado e Amarelo manga), premiado pela pujante interpretação em Superbarroco (PE), melhor curta do Cine PE, do Festival de Brasília, e que ainda este mês participa da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.

Por fim, motivado pela repercussão positiva gerada pela vinda de Gavras, Bertini vislumbra o próximo convidado internacional, que “será alguém que tenha a ver com o espírito do cinema latino e independente”.

* publicado no Diario de Pernambuco

Cine PE premia "Alô, Alô, Terezinha!", "Superbarroco" e "Muro" – veja lista completa


TIÃO COMEMORA SEIS PRÊMIOS PARA “MURO”

O 13º Cine PE Festival Audiovisual terminou agora há pouco, em cerimônia de premiação dos longas e curtas da mostra competitiva no Cineteatro Guararapes. Na mostra de longa-metragens, os principais vencedores são os cariocas Alô, Alô, Terezinha!, de Nelson Hoineff (melhor filme júri oficial e popular, melhor montagem e prêmio Gilberto Freyre) e Praça Saens Peña, que ganhou melhor direção (Vinícius Reis), ator (Chico Diaz), atriz (Maria Padilha), atriz coadjuvante (Isabela Meireles). O longa KFZ – 1348, de Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro foi eleito o melhor da Mostra Pernambuco, além de ter recebido o prêmio de R$ 10 mil da Assembleia Legislativa.

Entre os curtas em 35 mm, o destaque foi para duas produções pernambucanas. Superbarroco, de Renata Pinheiro, recebeu o Calunga de melhor filme, melhor ator (Everaldo Pontes) e prêmio aquisição da TV Cultura, no valor de R$ 4 mil. Muro, de Tião, foi eleito o melhor pela crítica e júri oficial. Foi premiado ainda pela montagem (João Maria), direção de arte (Leo Lacca, Diogo Balbino e Rita Carelli), recebeu prêmio aquisição Canal Brasil (no valor de R$ 10 mil) e da Associação Brasileira dos Documentaristas (ABD). O paulistano Os sapatos de Aristeu foi escolhido nas categorias direção (Sérgio Guerra), atriz (prêmio coletivo) e fotografia (Juliana Vasconcelos). O júri popular elegeu Blackout (RJ), de Daniel Resende.

O prêmio para o melhor curta documentário social, concedido pelo Centro Josué de Castro, foi para Menino-aranha, de Mariana Lacerda.

A seguir, a lista completa

Mostra Pernambuco

Melhor Longa: KFZ-1348, de Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso.

Melhor Curta-Metragem (1º colocado): Tebei, de Gustavo Vilar, Hamilton Costa Filho, Paloma Granjeiro e Pedro Rampazzo.

Melhor Curta-Metragem (2º colocado): Ave Sangria-Sons de Gaitas, Violões e Pés, de Rayanaia Uchoa, Rebeca Venice e Thiago Barros

Mostra Competitiva de Curtas-Metragens em Digital

Melhor Curta-Metragem Digital: A Ilha (DF), Animação de Ale Camargo

Melhor Diretor: Marão, pelo curta O Anão que Virou Gigante (RJ)

Melhor Roteiro: Maurício Rizzo, pelo curta Quintas Intenções (RJ)

Melhor Montagem: Marc d’ Rossi, pelo curta Nello’s (SP)

Melhor Curta-Metragem/Júri Popular: Manual para se Defender de Alienígenas Zumbis e Ninjas (SP/Ficção/Direção de André Moraes)

Prêmio Especial do Júri: Um Artilheiro no meu Coração (PE/Doc de Diego Trajano, Lucas Fitipaldi e Mellyna Reis)

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: A Ilha

Mostra Competitiva de Curtas-Metragens em 35mm

Melhor Curta-Metragem: Superbarroco (PE/Ficção/Direção de Renata Pinheiro)

Melhor Diretor: Sérgio Luiz René Guerra (Os Sapatos de Aristeu/SP/Ficção)

Melhor Roteiro: Marcela Arantes (Eu e Crocodilos/SP/Ficção)

Melhor Atriz: Prêmio coletivo para as atrizes de “Os Sapatos de Aristeu”

Melhor Ator: Everaldo Pontes (pelo curta Superbarroco)

Melhor Direção de Arte: Diogo Balbino, Rita Carelli, Leonardo Lacca (Muro)

Melhor Trilha Sonora: Bernardo Gebara (Distração, RJ)

Melhor Edição de Som: Alessandro Laroca (Blackout, RJ)

Melhor Montagem: João Maria (Muro)

Melhor Fotografia: Juliana Vasconcelos (Os Sapatos de Aristeu)

Prêmio Especial do Júri: Cocais, a Cidade Reiventada (SP)m de Inês Cardoso

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: Muro

Menção Honrosa do Júri: Para a trilha sonora do filme Nós Somos um Poema

Melhor Curta-Metragem/Júri Popular: Blackout (RJ), de Daniel Rezende


Mostra Competitiva de Longas-Metragens

Melhor Longa-Metragem: Alô, Alô, Terezinha! (RJ), de Nelson Hoineff

Melhor Direção: Vinícius Reis (Praça Saens Peña, RJ)

Melhor Roteiro: Ricardo Dias (Um Homem de Moral, SP)

Melhor Ator: Chico Diaz (Praça Saens Peña, RJ)

Melhor Atriz: Maria Padilha (Praça Saens Peña)

Melhor Atriz Coadjuvante: Isabela Meireles (Praça Saens Peña)

Melhor Ator Coadjuvante: Leonardo Miggiorim (Mistéryos, PR)

Melhor Fotografia: Alziro Barbosa (Miytérios)

Melhor Trilha Sonora: André Moraes (Estranhos, BA)

Melhor Edição de Som: Fernando Henna (Um Homem de Moral)

Melhor Direção de Arte: Zenor Ribas (Mistéryos)

Melhor Montagem: Daniel Maia, Diana Gândra e Felipe Paes (Alô, Alô, Terezinha!)

Prêmio Especial do Júri: Um Homem de Moral

Prêmio Especial da Crítica/Imprensa: Praça Saens Peña

Melhor Filme/Júri Popular: Alô, Alô, Terezinha!

Troféu Gilberto Freyre: Alô, Alô, Terezinha!

Fim de semana agitado no Cine PE

No fim de semana, o Cine PE mostrou aquilo que sabe fazer melhor: atrair gente. De acordo com a assessoria de imprensa do evento, somente sexta e sábado, mais de 6 mil pagantes enfrentaram sinuosas filas para entrar no Cineteatro Guararapes. Durante as projeções, se confirmou uma característica já bem conhecida do evento: a generosidade do público, que aplaudiu quase todos os filmes.

Na sexta-feira, esse ritual quase automático de bater palmas foi desafiado pelo curta Nº 27, exercício estético de Marcelo Lordello sobre um estudante adolescente que se mete em situação constrangedora de implicações escatológicas. Longos intervalos de silêncio e escuridão confundiram a platéia mais afoita e, quando o curta terminou de verdade, o barulho não foi tão grande.

O maior rebuliço girou em torno do documentário Alô alô, Terezinha!, principal atração da mostra competitiva da noite de sexta-feira, em que Nelson Hoineff se dedica a reconstruir o universo do apresentador de TV Abelardo Barbosa, o Chacrinha. No microfone, Hoineff explicou que o longa passou longe de ser uma peça biográfica, daquelas que mostram o local onde o personagem nasceu. “É uma tentativa de mergulho no universo extraordinário do Chacrinha, resgatar sua memória, e fazer com que vocês se divirtam”.

Logo depois, o público demonstrou boa receptividade ao longa KFZ – 1348, o “filme do fusca” de Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro, que concorre na Mostra Pernambuco e deve encerrar a carreira de festivais no Cine PE. No próximo dia 15, anunciaram os realizadores, o filme estreia no Cinema da Fundação. Um pouco antes, a esperta animação carioca O anão que virou gigante provocou risos ao apresentar o personagem que se auto-denomina “a única pessoa que foi anão e gigante na mesma vida”.

A sexta também marcou a despedida de Constantin Costa-Gavras, o mais ilustre convidado do Cine PE. Antes de embarcar de volta à França, ele prestigiou a sessão especial de Z (1969), mas, ao contrário da expectativa, dispensou os holofotes: assistiu a fita que trouxe de seu acervo particular, discretamente, na última fila do gigantesco salão.

A noite de sábado começou com o festival de micro-metragens Cel.U.Cine, que este ano investe na itinerância dos festivais brasileiros. O destaque entre os cinco semi-finalistas desta etapa foi o designer pernambucano André Pinto, que provocou gargalhadas com Ponta cabeça, em que a manipulação digital é usada para inverter os olhos, nariz e boca do personagem, o que gerou uma imagem bastante estranha.

Encerrando a noite, e a mostra competitiva de longas, a produção baiana de pegada rock’n’roll Estranhos, de Paulo Alcântara, injetou adrenalina na platéia. Boa parte pela relação de amor entre dois parceiros do crime que, prestes a serem capturados pela polícia, trocam um improvável beijo de língua.

Do lado de fora do teatro, chamou a atenção a figura de José Mojica Marins, que veio a Recife buscar material para seu programa, O estranho mundo de Zé do Caixão. Durante o dia, ele circulou em, como ele definiu, “lugares estranhos” da cidade, acompanhado pelo jornalista Roberto Beltrão. À noite, circulou pelo Centro de Convenções, que na sexta contou com a presença de toda a diretoria do Canal Brasil, que recebeu homenagem e troféu de mérito institucional das mãos de Alfredo Bertini, diretor do festival.

* publicado no Diario de Pernambuco

Música e futebol dão o tom no Cine PE


PAULO VANZOLINI: “NÃO SOU COMPOSITOR, SOU ZOÓLOGO”

A feliz relação entre cinema e música pode se tornar o grande trunfo desta edição do Cine PE 2009. Na noite de quarta-feira, uma prova disso foi a exibição de Um homem de moral, produção paulista que atualiza para o novo século a obra musical de Paulo Vanzolini. Outros filmes que indicam essa tendência são o curta (exibido ontem) Nós somos um poema, que reconstitui o encontro entre Pixinguinha e Vinícius, e à sessão hors concours no próximo domingo de O homem que engarrafava nuvens, documentário de Lírio Ferreira sobre o compositor de Asa Branca, Humberto Teixeira.

Filmado durante a gravação da caixa de CDs Acerto de contas, Um homem de moral coloca em perspectiva o trabalho e a personalidade de Vanzolini, autor de clássicos como Ronda, Volta por cima e Cuitelinho, e reinterpretado pela nata da MPB: Chico Buarque, Paulinho da Viola, Martinho da Vila. Curiosamente, este senhor não se considera compositor – assume a profissão de zoólogo, ou “zoológico”, como falou Adoniran Barbosa, em imagem de arquivo – uma das tantas manipuladas com elegância pelo diretor Ricardo Dias.

No começo da noite, com a vitória do Sport sobre o LDU pairando no ar, a exibição do curta digital Um artilheiro no meu coração , sobre o pernambucano Ademir Menezes (craque dos anos 40 e 50, que começou no Sport, e hoje é esquecido), provocou aplausos e urros na platéia, a ponto de atrapalhar os primeiros momentos do filme seguinte, o engraçadinho Quintas intenções (RJ). É duro constatar, mas do lado de fora do Teatro Guararapes, no espaço de convivência do Centro de Convenções, são recorrentes os comentários sobre o baixo nível da programação do evento.

A noite terminou um tanto melancólica, com quase ninguém no fim da sessão de Pela vida, pelo tempo, ficção sobre as desventuras de uma mulher pelo sertão pernambucano. A repercussão não foi das melhores. Na manhã de ontem, por exemplo, uma crítica do site carioca Zé Pereira comentou “o quão desagradável foi perder uma hora e vinte minutos da vida na sala deste grande festival”, assistindo a “uma tortura a qualquer amante da arte cinematográfica”.

Costa-Gavras assiste ensaio da Orquestra do Coque

A manhã de ontem foi de sol, ,e ele bem que poderia ter ido à praia ou embarcado em algum programa turístico. No entanto, o cineasta Constantin Costa-Gavras decidiu acompanhar o ensaio da Orquestra Criança Cidadã, no Quartel do Cabanga.

Desde que travou o primeiro contato com o grupo, na abertura do Cine PE, o cineasta fez questão de conhecer de perto o projeto que ensina música erudita a 130 crianças e jovens da comunidade do Coque.

Acompanhado pela mulher, a produtora Michelle, o diretor ouviu atentamente o maestro Cussy de Almeida, que apresentou alguns alunos. Como conjecturar o que se passa quando os olhos do veterano diretor de Z e O quarto poder encontram os do menino Luan, que do alto dos seus quatro anos recém-completados, oferece uma esforçada performance de violino?

O próprio Gavras revelou que, enquanto assistia a um dos meninos tocando violoncelo, lembrou de uma sequência de seu filme Amém, que será exibido no próximo sábado, às 16h, no Cinema da Fundação. “Normalmente, só os filhos da burguesiapodem tocar um violino. Mas esses pequenos músicos que moram na favela são incríveis”, disse Gavras ao Diario. “É um enorme prazer saber que há gênios ali. Ao mesmo tempo, é triste saber que outros tantos podem se perder por falta de apoio”.

Durante uma hora, a orquestra interpretou músicas de Bach, Vivaldi, Ravel e do próprio Cussy. No fim da apresentação, Gavras aplaudiu e gritou “Bravo!”. Antes, declarou que conhecer o projeto provocou uma grande emoção, talvez a maior de sua viagem ao Brasil.

* publicado no Diario de Pernambuco

Entre a política e o espetáculo – lições de cinema de Costa-Gavras


Foto: Daniela Nader

A noite de abertura do Cine PE entrou para a história como a mais importante de todas as edições do evento. O motivo foi a presença do cineasta Constantin Costa-Gavras, que apresentou, Eden a l’ouest, filme em que dedica seu olhar contundente e perspicaz ao problema dos imigrantes ilegais na Europa, retratada como um paraíso para poucos.

Ontem, ele concedeu entrevista coletiva, que contou com participação ativa de sua mulher, a produtora Michelle Gavras. Entre declarações sobre opções estéticas, políticas e o futuro do cinema, uma curiosidade: o diretor conheceu o ex-governador Miguel Arraes em seu exílio na Europa. Além disso, não é a primeira vez que o cineasta visita Pernambuco. Gavras visitou o estado para pesquisar um personagem real aproveitado no filme Estado de sítio (1973) e, depois, em 1990, numa escala para o Chile. Não bastasse, Michelle revelou à imprensa um segredo de família: “tenho o sonho de que Costa faça um filme sobre sua origem na Grécia”.

Os melhores momentos, transcritos a seguir, também servem de provocação para convocar o público para a sabatina a ser promovida por jornalistas da Folha de São Paulo hoje, às 15h, no Recife Palace Hotel (inscrições pelo e-mail eventofolha@grupofolha.com.br). A agenda do cineasta ainda conta com uma visita, às 9h, ao ensaio da Orquestra Cidadã dos Meninos do Coque. Gavras já pensa em colaborar com o projeto. Às 18h, ele será recebido no Palácio das Princesas pelo governador Eduardo Campos e família, com quem Gavras deve trocar boas histórias.

Formação política
Minha formação é literária e cinematográfica. Quanto à formação política, essa se deu com a vida. Vivi num país ocupado por nazistas, que depois passou por uma tremenda guerra civil, a guerra fria e suportou governos conservadores e ditatoriais. Quando fui para a França, descobri uma forma de liberdade que não conhecia. Encontrei pessoas que faziam oposição política de forma clara e precisa, sem dogmatismo. Sempre me interessei na forma como um sistema político maneja os civis. Enquanto estudava cinema, parecia que isso era algo que faltava nos filmes. Poderia me dedicar a fazer filmes românticos, mas acho que, de uma forma ou outra, todos os filmes são políticos.

Miguel Arraes

Tive uma relação próxima com Miguel Arraes. Em 1990, quando acompanhava uma delegação francesa no transporte dos restos mortais de Salvador Allende até Santiago, paramos no Recife por algumas horas e encontrei o governador. Ele falou mais comigo do que com os ministros franceses! Sem dúvida, havia uma relação interessante entre nós.

Eden à l’ouest

É um filme muito pessoal. Não chega a ser biográfico, pois sou um imigrante que chegou à França legalmente. Hoje a imigração ilegal é um problema enorme. É muito importante tomar partido. O tema já gerou muitos filmes, todos dramáticos. Quis colocar o problema de uma forma diferente, mais cotidiana, e mesclar o drama com um ritmo frenético. Jaques Tati disse que, para fazer comédia, basta retratar a sociedade como ela é. Quis fazer isso em O corte (2005) e me pareceu indispensável utilizar o mesmo recurso para tratar da imigração. Me pareceu mais positivo. Essa gente pode criar uma nova cultura e quis apresentá-la de forma adequada, pois a história de Elias (o protagonista), é a história de nós mesmos, da nossa sociedade.

Mídia e terrorismo

Hoje a palavra terrorismo é usada pela mídia de diferentes formas. Penso que é preciso refletir sobre o que isso significa pois, algumas vezes, é algo necessário. Claro que da forma praticada no Oriente Médio é algo negativo. Mas numa sociedade onde não há possibilidade de mudança da forma democrática, provavelmente a única maneira de fazê-lo é pelo terrorismo.

Ideias x entretenimento

Penso o cinema como um espetáculo. Não vamos ao cinema para receber lições políticas ou universitárias, vamos pelo sentimento. Para chorar, rir, odiar, amar. Tudo isso é ligado à vida cotidiana. Claro que a utilização do thriller, por exemplo, não é sempre necessária. Pode “matar” o conteúdo político e social e dar ao filme uma direção distinta do objetivo inicial. Por isso, Estado de sítio começa com a morte do personagem, o que acabou com um suspense desnecessário.

Novas linguagens
A cada nova tecnologia, o cinema muda muito esteticamente. Não podemos desconsiderar a influência da televisão e o advento da linguagem do videoclipe. Hoje, a capacidade dos espectadores seguir as elipses (recurso que faz cortes abruptos de tempo/espaço) é muito maior. Isso muda o estilo de se fazer um filme. Agora entramos em um novo paradigma, que é o digital, o que mudaa economia, a estética e a forma de apresentar um filme para o público. Essa é uma facilidade que esconde um perigo, pois pode aumentar a concentração de poder na exibição de filmes. Mas pouca gente sabe o que está por vir.

A maratona do Cine PE começou


CONSTANTIN COSTA-GAVRAS, PRESTES A RECEBER HOMENAGEM, ONTEM, NA ABERTURA DO CINE-PE
Foto: Beto Figuerôa

Ontem, com a presença do cineasta Constantin Costa-Gavras e a exibição de seu novo filme, Eden à l’ouest, o Cine PE fez um providencial upgradepara continuar relevante no cenário de festivais brasileiros. Com o início da mostra oficial de curtas e longa-metragens, tem início uma maratona cinéfila, que segue até o próximo domingo, com a exibição de O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira. Somente hoje, serão nada menos que cinco horas de projeção no Teatro Guararapes (Centro de Convenções), com direito a pausa para homenagem a atriz Dira Paes.

Abre a competição de longa-metragens a ficção Mistéryos, de Pedro Merege e Beto Carminatti, dois representantes da nova geração de filmes feitos no Paraná. De acordo com os produtores, trata-se de um suspense surreal, baseado em O mez da grippe e outros livros (Companhia das Letras), de Valêncio Xavier. O “Y” grafado no título é uma referência ao português arcaico que Xavier fez uso na obra.

Em conversa por telefone, Merege diz que não houve dificuldade na adaptação para o cinema. “Classifico o livro como lítero visual, pois ao ler os contos, era como se estivesse assistindo a um filme cheio de links”.

A trama, que transita entre cinco contos do livro, começa com o desaparecimento de Jucélia Ramos (Sthefany Brito), que em 1969 entrou num trem-fantasma, para nunca mais sair de lá. Anos depois, o escritor VX (Carlos Vereza, que viveu Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere), a reencontra de forma um tanto inusitada, como uma das atrizes de Sapho, o amor entre as mulheres, filme erótico produzido em 1922. Ainda no elenco estão Leonardo Miggiorin, os paranaenses Marco Zeni, Janaína Spoladore e a veterana Lala Schneider (1926-2007), em sua derradeira atuação.

Merege ainda disse ao Diario que utilizou imagens de arquivo e de envelhecimento digital para simular o filme feito nos anos 20. “Buscamos a verossimilhança, mas a artificialidade do processo digital acabou entrando como mais um elemento de um jogo com infinitas relações”.

Programação intensa – As atividades do Cine PE começam logo cedo, às 9h30, no Recife Palace Hotel, com o seminário Desenvolvimento audiovisual – Os caminhos da co-produção internacional. Participam da mesa os produtores Paula Barreto, Assunção Hernandez, Alberto Flaksman (Ancine), Gualberto Ferrari (França/Argentina) e mediação do secretário do audiovisual do Ministério da Cultura, Silvio Da-Rin. A entrada é franca.

Às 18h30, começa a mostra competitiva. Os curtas digitais são Nello’s (SP), documentário de André Ristum; Teteco (RJ), ficção de Glauco Kuhnert; Eiffel (PE), documentário de Luiz Joaquim; e 6.5 Megapixels (CE), ficção de Michelline Helena, Gláucia Soares e Janaina de Paula. Logo após, serão exibidos os seguintes curtas 35 mm: Selos (CE), de Graciely Dias – produzido pela escola de audiovisual de Fortaleza; Distração de Ivan (RJ), de Cavi Borges e Gustavo Melo – novo trabalho do coletivo Nós do Morro; e Muro (PE), de Tião, premiado ano passado no Festival de Cannes. Nossos ursos camaradas, novo filme de Fernando Spencer, terá exibição hors concours.

Amanhã, das 15h às 17h, a Sabatina Costa-Gavras, promovida pelo jornal Folha de São Paulo, promete render pano pras mangas. Será no Recife Palace Hotel (Boa Viagem), e terá como entrevistadores os jornalistas Alcino Leite Neto, Silvana Arantes e Inácio Araújo. Até o fechamento desta edição, 50 vagas ainda estavam à disposição. A inscrição é gratuita, e deve ser feita pelo email eventofolha@grupofolha.com.br.

Em tempo: a organização do Cine PE informou ontem que, motivada pela grande procura, a exibição do filme Z, de Costa-Gavras, foi transferida do Cinema da Fundação para o Cineteatro Guararapes. Será na próxima sexta-feira, às 16h, com entrada franca.

*publicado no Diario de Pernambuco

Luiz Joaquim fala sobre Eiffel, que concorre ao Calunga de melhor curta no Cine PE 2009

O curta-metragem Eiffel, de Luiz Joaquim, é úm dos selecionados para mostra competitiva do 13º Cine-PE: Festival do Audiovisual.

Realizado em 2008, ele é a primeira produção de Joaquim, que exerce a função de crítico de cinema da Folha de Pernambuco e editor do site Cinema Escrito.

Eiffel concorre com mais 15 curtas da categoria curtas digitais, a serem exibidos entre 27 de abril e 3 de maio de 2009, no Centro de Convenções.

“A partir da combinação de uma trilha sonora clássica sobre imagens contemporâneas do centro do Recife, o curta sugere uma crônica político-cinematográfica sobre a capital pernambucana, tendo como foco um de seus novos ‘monumentos'”, diz o autor, sobre a obra, em nota pública.

Cine PE 2009 divulga resultado dos curtas em competição


CENA DE MURO, CURTA 35MM DIRIGIDO POR TIÃO, UM DOS SELECIONADOS PARA O CINE-PE 2009

A organização do Cine PE acaba de anunciar a lista de 38 filmes em curta-metragem selecionados para a competição que começa em 28 de abril, durante a 13a. edição do evento, sediado no Centro de Convenções de Pernambuco.

Na categoria curta-metragem 35mm, foram escolhidos 19 entre 101 candidatos, em curadoria formada por João Vieira Junior, Oscar Malta e Tetê Matos. Já as 15 produções digitais de curta duração foram selecionadas por Bernardo Queiroz, Pedro Pinheiro e Rodrigo Homem, entre 399 inscritos.

Este ano, a “prata da casa” está representada nas produções pernambucanas Muro, com direção de Tião, vencedora do prêmio Novo Olhar da seção paralela Quinzena dos Produtores do Festival de Cannes 2008; N° 27, de Marcelo Lordello; e Superbarroco, de Renata Pinheiro, premiado como melhor curta do Festival de Brasília no ano passado.

Apesar de classificada como produção paulista, Menino-aranha, da jornalista recifense Mariana Lacerda, é um documentário inteiramente rodado em Pernambuco, sobre o menino Tiago, que no fim dos anos 90 subia edifícios para furtar tesouros da burguesia recifense.

Na categoria digital, disputam o Calunga os pernambucanos Abril pro Rock-Fora do Eixo, de Everson Teixeira, Ricardo Almoêdo e Júlio Neto; Eiffel, de Luiz Joaquim; e Um artilheiro no meu coração, de Diego Trajano, Lucas Fitipaldi e Mellyna Reis.

De acordo com a assessoria de imprensa da Bertini Produções e Eventos, empresa organizadora do festival, a lista dos longa-metragens em competição deve sair até meados de abril. Eles serão escolhidos entre 66 obras inscritas.

No entanto, conforme noticiado aqui no Quadro Mágico, a grande atração do Cine PE 2009 será a presença do cineasta grego naturalizado francês Constantin Costa-Gavras, que vem ao Recife apresentar seu novo longa-metragem, Eden à l’ouest.

A seguir, lista completa dos curtas.

CURTAS-METRAGENS EM 35MM
FICÇÃO/35mm

A mulher biônica (CE), ficção
Direção: Armando Praça

Ana Beatriz (DF), ficção
Direção: Clarissa Cardoso

Blackout (RJ), ficção
Direção: Daniel Rezende

Dez elefantes (RJ), ficção
Direção: Eva Randolph

Distração de Ivan (RJ), ficção
Direção: Cavi Borges e Gustavo Melo

Eu e crocodilos (SP), ficção
Direção: Marcela Arantes

Hóspedes (RS), ficção
Direção: Cristiane Oliveira

Muro (PE), ficção
Direção: Tião

Nº 27 (PE), ficção
Direção: Marcelo Lordello

Os sapatos de Aristeu (SP), ficção
Direção: Sergio Luiz René Guerra

Selos (CE), ficção
Direção: Gracielly Dias

Superbarroco (PE), ficção
Direção: Renata Pinheiro

Teresa (SP), ficção
Direção: Renata Terra e Paula Szutan

DOCUMENTÁRIO

Cocais-A cidade reinventada (SP), documentário
Direção: Inês Cardoso

Menino aranha (SP), documentário
Direção: Mariana Lacerda

Nós somos um poema (RJ), documentário
Direção: Sergio Sbragia e Beth Formaggini

Phedra (SP), documentário
Direção: Claudia Priscilla

ANIMAÇÃO
Juro que vi: o saci (RJ), animação
Direção: Humberto Avelar

Silêncio e sombras (PR), animação
Direção: Murilo Hauser

CURTAS-METRAGENS EM DIGITAL

Abril pro Rock–Fora do Eixo (PE), documentário
Direção: Everson Teixeira, Ricardo Almoêdo e Júlio Neto

A Ilha (DF), animação
Direção: Ale Camargo

Cattum (GO), animação
Direção: Paulo Miranda

Eiffel (PE), documentário
Direção: Luiz Joaquim

Hagakure (SP), ficção
Direção: Marcos Rocha

Manual para se defender de alienígenas, zumbis e ninjas (SP), ficção
Direção: André Moraes

Nello’s (SP), documentário
Direção: André Ristum

O anão que virou gigante (RJ), animação
Direção: Marão

O troco (SP), ficção
Direção: André Rolim

Pelo ouvido (MA), ficção
Direção: Joaquim Haickel

Quem será Katlyn? (SP), documentário
Direção: Caue Nunes

Quintas intenções (RJ), ficção
Direção: Maurício Rizzo

Teteco (RJ), ficção
Direção: Glauco Kuhnert

Um artilheiro no meu coração (PE), documentário
Direção: Diego Trajano, Lucas Fitipaldi e Mellyna Reis

6.5 Megapixels (CE), ficção
Direção: Michelline Helena, Gláucia Soares e Janaína de Paula

Inscrições para Cine PE batem recorde

A Bertini Produções e Eventos, organizadora do Cine PE, informa que 566 obras audiovisuais se inscreveram nas categorias competitivas. Sçao produções originárias do Nordeste, Sul e Sudeste.

São 99 a mais que na edição anterior do festival. O resultado da categoria curta-metragem deve sair ainda hoje, no fim do dia de hoje. A lista dos longas selecionados será anunciado duas semanas antes do evento começar.

O Cine PE será realizado de 27 de abril a 3 de maio, no Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Pernambuco.

De acordo com a produtora, foram 99 inscrições a mais do que na edição passada. Este ano, foram inscritos 399 curtas metragens digitais, 101 curtas em 35mm e 66 longas metragens.

As inscrições de documentários prevaleceram entre os longa-metragens, com 43 títulos contra 23 filmes de ficção. Na mostra de curta-metragens, houve 74 títulos de ficção, 18 documentários e nove animações inscritas.