Uma arte de projeção


Joselito Gomes, há 13 anos projecionista do Cinema da Fundação

Praticamente invisíveis, eles estão ali, cuidando da sua sessão de cinema. Apesar de serem lembrados somente quando o filme falha, um atestado recente da importância dos projecionistas está em carta enviada pelo diretor Terrence Malick, que recomendou aos projecionistas normas de afinação do equipamento para exibir seu novo filme, A árvore da vida.

Há 15 dias, Michael Bay fez o mesmo para garantir que seu Transformers 3 não perdesse em virtude da luz filtrada pelos óculos 3D. Neste fim de semana, a produtora de Harry Potter também indicou parâmetros para sua correta exibição. A preocupação procede, já que nos últimos anos o que temos visto é a multiplicação de salas de shopping, que se preocupam mais com qualidade da pipoca do que com as condições em que os filmes são exibidos.

No Recife, poucos projecionistas “à moda antiga” estão em atividade. Com o fim dos cinemas de rua, nos quais se alternavam operadores com décadas de experiência, acabou-se também o romantismo da profissão. A gradual digitalização das salas é outro fator que aponta para o acanhamento da função. Assim como diminui a interação com o público e com o próprio filme a ser exibido, há menos intimidade com a maquinaria.

Thiago Augusto, projecionista do UCI Ribeiro Casa Forte, vê nesse distanciamento um processo de alienação. “A gente tem alcance limitado para mexer no equipamento, quando precisa tem que acionar a manutenção especializada. Além de ter um custo para o cinema, o projecionista fica de mãos atadas”.

Para Joselito Gomes, que trabalha no Cinema da Fundação, no futuro próximo bastará alguém que saiba apertar botões, já que a projeção digital se resume a acionar aparelhos pré-ajustados. “Uma sala de shopping com 12 salas desempregou 11 projecionistas. Para quem está começando talvez isso seja um sofrimento, porque esta é uma profissão que apaixona”. O segredo para uma boa projeção? “Tem que ter sensibilidade e estar atento, senão o público deixa de prestar atenção no filme para reparar nos problemas”.

Joselito começou no extinto complexo Trianon – Art Palácio. Em 1998 foi para o Cinema da Fundação, por indicação do falecido Seu Alexandre (Moura), que não pôde assumir pois já trabalhava no Cinema Arraial. “Aprendi olhando. Fui contratado como mecânico do ar-condicionado, mas era rato de cabine. Chegava mais cedo e treinava, fui pegando o jeito até que chegou um tempo em que o projecionista ia dormir e eu ficava fazendo o serviço dele”.

Depois de contratado, Joselito testemunhou várias situações inusitadas – outras apimentadas – mais nada como o dia em que, durante sessão superlotada de Rambo 3, o público quebrou tudo, até as poltronas. “O gerente quis exibir uma cópia para duas salas. Como o rolo não chegou a tempo no outro cinema, o público protestou. Teve gente que até arrancou a camisa”.

Antes de trabalhar no Apolo, Luciene Arruda começou a carreira no UCI Ribeiro Recife. “Queria trabalhar na bomboniere, mas como tenho curso de eletrotécnica, me escalaram para a cabine. Quando entrei, fiquei horrorizada e quis desistir, eram dez máquinas!”. As condições de trabalho também não eram as melhores. “Lá você não respira, não para pra comer, até ir ao banheiro é complicado”.

Luciene é uma das poucas – se não a única – representante feminina numa profissão tradicionalmente masculina. “Sou uma enxerida”, se classifica. “Eles dizem que eu sou pequena demais pra subir e descer escada com os rolos, mas pra trabalhar direito, precisa é disso aqui”, diz, apontando para a cabeça.

Thiago Augusto, que já trabalhou no Box Guararapes, compartilha a opinião. “É bem cansativo. Acontecia muito de ficar sozinho nas 12 salas. Não sei como o Box está hoje, mas na época foi bem difícil”. Chamado para o UCI Casa Forte, Thiago chegou a trabalhar na montagem das salas. “Como eu comecei com a carga pesada no outro complexo, tiro as cinco salas de letra. E em termos técnicos, o Casa Forte é o paraíso dos projecionistas”.

Vidas dedicadas ao cinema – Os projecionistas entrevistados pelo Diario concordam que esta é uma profissão apaixonante. O que mais justificaria vidas inteiras dedicadas, inclusive fins de semana madrugadas adentro? Paulo Bezerra Bento, o mais antigo em atividade no Recife, começou como zelador no Cine Nossa Senhora de Fátima, em Paratibe e passou por vários outros desde então. “É uma profissão muito esquecida, as condições não são ideais”. Lá de cima, na cabine, ele disse que já viu de tudo. “Casal que namora, gente que dança, bate palma. Já vi até soltar bomba de São João”.

Já André Viana, assumiu o cargo do projecionista do antigo Cine Ribeira, pois o titular havia tomado uma cachaça na noite anterior. Anos depois, quando começou a trabalhar no Cine Floriano (onde hoje funciona uma igreja), nem poderia imaginar que ali, entre uma sessão e outra, iria conhecer a mulher com quem está casado há 25 anos. “A irmã era funcionária e a família dela estava sempre por lá”. Sem esconder a tristeza, ele lamenta não ter tido condições para ficar mais tempo perto da família. “Sustentei meus filhos com essa profissão. Mas não pude estar mais presente”.

Categoria quer mais reconhecimento – No circuito comercial, o salário de um projecionista está longe de corresponder à responsabilidade de sua profissão. Não há um sindicato próprio, o que diminui sua força com os patrões. “Só sei das reclamações, nunca dos elogios”, afirma Thiago Augusto que, da solidão de sua cabine, diz se sentir sozinho. “Muitas vezes nossa voz não é ouvida. As preocupações são outras, pois bilheteria é o menor dos lucros, o grosso vêm dos produtos vendidos na bomboniere. É com isso que eles se preocupam”.

Estudante de história, Thiago participa de um movimento para organizar um sindicato. “A insatisfação é grande. O salário não é ajustado há anos, a gente ganha no contracheque R$ 670. Tem gente lá embaixo vendendo pipoca que ganha mais do que a gente. Esse sentimento de estagnação leva a gente a pensar em procurar coisa melhor”. E não só Thiago tem outros planos para a carreira. Seus colegas também. “Todos adoramos aquele trabalho, é um emprego tranquilo. Mas estamos procurando outras coisas. É uma pena, pois é uma profissão bonita, é prazeroso promover uma sessão perfeita pra quem está assistindo”.

Para preparar novos profissionais, a Fundação Joaquim Nabuco tem o projeto de oferecer, em parceria com a Fundarpe, um curso de capacitação em que Joselito e Luciene fossem os professores. No entanto, o projeto ainda não saiu do papel.

O ranking dos projecionistas

Joselito Gomes
Dançando no escuro
Buena Vista Social Club
Irreversível
Gandhi
O último imperador

Paulo Bezerra Bento
Os dez mandamentos
Ben Hur
A noiva
O Corcunda de Notre Dame
… E o vento levou

André Tadeu Viana
Dio como te amo
Dirty dancing
A força do destino
O cobra

Luciene Arruda
O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas
Amistad
Julie & Julia
O discurso do Rei
Piaf

Thiago Augusto
Bastardos inglórios
Cisne negro
A conquista da honra
Bravura indômita
Meia-noite em Paris

Orientações de Terrence Malick para os projecionistas

1. O filme deve ser projetado no formato 1.85:1;
2. Por não conter créditos de abertura, “as luzes devem ser apagadas antes do frame inicial do primeiro rolo de filme”;
3. Coloque o Fader dos sistemas Dolby e DTS em 7.5 ou 7.7 (maior que o padrão 7);
4. As lâmpadas de projeção devem estar em “funcionamento padrão” (5400 Kelvin) e que o nível Foot-Lambert [medida de luminosidade comum nos EUA] esteja no “padrão 14”

(Diario de Pernambuco, 17/07/2011)

Em busca do cinema perfeito

O Recife conta com 47 salas de cinema. Um parque de exibição e tanto, se comparado com o de 15 anos atrás, quando poucos cinemas de rua restavam na cidade. Hoje podemos assistir a filmes projetados com a última palavra em tecnologia digital, a definição 4K, duas vezes maior do que o Full HD. Ou ao filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Entre tantas opções, escolher a sala certa pode ser um tiro no escuro. Cada uma tem qualidades e problemas e cabe ao espectador adequar necessidades e realidades.

Ir ao cinema é coisa cara – ingressos chegam até a R$ 23 e nada mais justo que exigir um serviço à altura. Em busca da sala perfeita, a reportagem do Diario visitou todos os cinemas do Recife – e não a encontrou. Há sempre o que melhorar, até mesmo entre os que estão próximos da excelência. Nosso test drive confirmou o que já era consenso: o complexo UCI Kinoplex Casa Forte tem a melhor infraestrutura e é tecnicamente impecável. Ficou ainda melhor desde janeiro, quando chegou o projetor Sony 4K, capaz de exibir em 2D ou 3D com ótimo resultado.

´Gosto daqui porque tem mais conforto e é mais moderno que os outros. Só não gosto tanto das poltronas, as do Box são melhores`, diz o estudante de pós-graduação Marcone Madruga. ´O Plaza é ótimo. Antes eu pegava uma fila para pagar e outra para sentar. Alguns cinemas da cidade têm cheiro de mofo e pouco espaço para sentar`, diz a economista Maíra Cavalcanti.

Há pouco tempo, os complexos Recife (Boa Viagem) e Tacaruna (Santo Amaro) passaram por melhorias e já ostentam a marca Kinoplex. Mas, com exceção das salas digitalizadas (duas em cada), o make up que reformou cadeiras, piso e modernizou terminais de atendimento não chegou à imagem e som.

O esmero da exibição faz falta na maioria das salas, comerciais ou independentes. Mês passado, a sala 2 do UCI Tacaruna exibiu O discurso do rei com som tão ruim que parecia radinho de pilha. Ontem, a mesma sala exibiu Bruna Surfistinha com som adequado, o que comprova erro operacional no passado. É comum filmes chegarem à tela com bordas borradas, chiados, som restrito às caixas frontais, imagem turva ou desfocada e outras imperfeições. Ou seja falta manutenção e outros cuidados.

Com exceção das salas acima citadas, todas precisam de algum tipo de reforma. A mais urgente é a do Cine Rosa e Silva, que apesar da ótima iniciativa de unir filmes comerciais e ´de arte`, faz tempo que deve a seu público um upgrade. De acordo com a direção do cinema, há planos de reforma das três salas, mas ainda sem cronograma definido.

O mesmo ocorre com o Box Guararapes, um ótimo cinema que carece de mais atenção dos administradores. Apesar da reforma recente, não há guias luminosos em corredores e escadas. Na sala 3D, há uma sombra permanente na parte esquerda da tela. Durante nossa visita, a sala THX (7) exibia Bruna Surfistinha com um som de dar dó. A assessoria do grupo informa que ainda neste ano serão instalados totens de autoatendimento e mudanças no foyer, incluindo iluminação moderna.

2012 é a data para o Multiplex BoaVista se tornar Kinoplex. Antes disso, em junho, um novo estacionamento abre no shopping, com mil vagas a mais. Enquanto isso, problemas são comuns. ´É um bom cinema, mas não se pode comparar com os outros`, diz Fernando Teixeira, engenheiro.

Cinema da Fundação – a melhor sala alternativa

À margem do circuito comercial, salas independentes agonizam. Grandes distribuidoras preferem grandes exibidores. De forma que pequenas salas precisam esperar a vez para reprisar o que já foi exibido pelos complexos de shopping. É o último estágio da cadeia de exibição – veja o caso do Cinema Apolo (em cartaz, Bravura indômita) e do Cinema São Luiz (De pernas pro ar e Enrolados), antes dos filmes serem lançados em DVD.

Caso à parte é o Cinema da Fundação, uma das poucas do Brasil a manter padrões de qualidade técnica, de conforto e no trato com o público. ´É um cinema público que tem uma imagem melhor que a dos cinemas comerciais, que cobram o dobro para exibir filmes lançados em escala mundial, sem oferecer em retorno um serviço à altura`, diz Kleber Mendonça Filho, programador da sala ao lado de Luiz Joaquim. Ele informa que, ainda neste ano, o sistema de som atual, analógico, será substituido por um sistema digital. ´A projeção está boa, mas queremos ela perfeita`.

O Cine São Luiz é mantido pelo estado e é um dos poucos cinemas de rua a funcionar no país. É de longe o cinema mais bonito da cidade e ainda aguarda direcionamento programático que o leve a uma identidade própria. Aos poucos, o público volta a frequentá-lo. ´É o meu cinema preferido. Ele tem história, enquanto cinemas de shopping não têm alma, são só uma tela e uma cadeira`, diz a agente ambiental Schirleide dos Santos Silva.

Tecnologia melhorou projeção

Enquanto isso, no reino do 3D, as opções têm melhorado. Até o ano passado, eram duas salas na cidade. Hoje são seis. As mais recentes são também as mais interessantes: as salas 1 e 10 do UCI Recife, 1 e 8 do Tacaruna e 5 do Casa Forte. São as mesmas que oferecem projeção 4K, da Sony.

O 3D destas salas também é melhor, não somente porque a tecnologia superior evita o efeito ´estrobo`, que cansa e causa enjoo em algumas pessoas. Mas porque os óculos são mais leves e higiênicos – todos passam por esterilização em água quente, sabão especial e são entregues ao público em embalagem de plástico. Não é o caso dos óculos do Box Guararapes (sistema Xpand), entregues à reportagem com manchas nas lentes e sem bateria. Em segunda tentativa, o aparelho falhou algumas vezes durante a sessão.

Especialista em cinema digital, o carioca Daniel Leite diz que a projeção das salas locais são superiores do que as do Rio de Janeiro. ´Se calibrados corretamente, esses aparelhos garantem que o filme seja visto da forma original. Ao contrário da película, que desbota a cor e arranha após certo número de projeções`. Ele atribui a qualidade da imagem projetada por esse equipamento mais ao fato dele ser novo do que pela alta definição obtida. ´Estudos afirmam que o olho humano não é capaz de perceber a diferença entre o Full HD (1920 x 1080 pixels) e o 4K (4096 x 2.160). Mas o grande trunfo da indústria do cinema é oferecer algo que ainda não temos em casa`.

Com a palavra, os cinéfilos – Além da investigação in loco, convidamos profissionais de cinema e cinéfilos de plantão para eleger o melhor cinema da cidade. O resultado, unânime, foi o Cinema da Fundação. Sinal de que, apesar de todas as inovações técnicas e confortos possíveis, a qualidade da programação e o cuidado com a exibição dos filmes são requisitos essenciais para fazer um bom cinema. Para justificar suas decisões, também pedimos para nossos especialistas explicarem seus critérios, sendo a categoria ´melhor cinema`, uma média das demais.

Leo Sette cineasta

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: Cinema da Fundação
Melhor som: UCI Casa Forte
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: Cinema da Fundação
Melhor atendimento: Cinema da Fundação

Acho muito desconfortável ter que pagar estacionamento, sentir cheiro e ouvir barulho de pipoca. Ter que andar pelos corredores do shopping para poder ver um filme, fora o preço alto dos ingressos. É importante apontar o problema sério que é a projeção das salas da prefeitura, o Cinema do Parque e Apolo. O projecionista de lá não tem o menor espírito de cinema, faz de qualquer jeito e não aceita críticas, é super mal-educado. Ele erra janela, foco, conversa e ri alto durante a projeção ao ponto de se poder ouvir da sala às vezes. Todo mundo já faz piada, apesar do carinho que temos pelas salas.

Tomaz Alves compositor de trilhas sonoras

Melhor cinema: Difícil responder essa. Seria mais fácil dizer os piores
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte
Melhor som: UCI Casa Forte
Sala mais confortável: UCI Casa Forte e Cinema da Fundação
Melhor atendimento: UCI Casa Forte

É uma pena que o hábito de ir ao cinema, para muita gente, não passa de mais uma coisa que se pode fazer no shopping. Isso porque quase todas as salas são de shopping. E aí fica o meu maior incômodo: a sujeira. As salas estão muito sujas, com exceção do Cinema da Fundação, onde se proíbe entrar com comida, e do Plaza, porque ainda é novo. Fora outros problemas como má projeção, defeitos de som. A única sala que eu continuava frequentando era o Box Guararapes, mas um dia cheguei até a ver foto de ratos na sala do cinema – um cara postou no Twitter. Foi o fim da picada!

Rodrigo Carreiro professor e crítico de cinema

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte 5
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte 5
Melhor som: Box Guararapes 5
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: Box Guararapes

No geral a qualidade das projeções é apenas razoável: o som digital se desgasta muito rápido, a maior parte das salas do UCI Recife e Tacaruna tem apenas quatro canais de áudio e a manutenção dos projetores anda vacilando. Projeções muito escuras são quase uma rotina. Nesse sentido o Plaza (por ter instalações mais recentes, talvez) e o Box Guararapes me parecem os complexos mais preparados para projeções de boa qualidade. A menção ao Cinema da Fundação é obrigatória e eu destacaria o conforto alcançado após a reforma, e não apenas dentro da sala, mas no programa como um todo.

Fernando Vasconcelos designer e crítico de cinema

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Plaza Casa Forte
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Recife 1 (Digital 4K)
Melhor som: UCI Recife 1 (Digital 4K)
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: UCI Plaza Casa Forte
Melhor atendimento: Cine Rosa e Silva

Melhor projeção e som, me refiro à sessão cabine de Invasão do mundo, visto no UCI Recife. Melhor atendimento, me refiro à gerência e funcionários do Cine Rosa e Silva, por serem muito atenciosos, informados e educados. Faz muita diferença, apesar do cinema ser deficiente tecnicamente em relação aos demais. Cabe um comentário sobre a péssima programação atual do São Luiz, que voltou depois do recesso de fim de ano com a pior programação da cidade, reprisando os piores filmes vindos dos multiplexes.

Clara Moreira arquiteta e ilustradora

Melhor cinema: Cinema da Fundação
Melhor sala de shopping: UCI Casa Forte.
Melhor sala alternativa: Cinema da Fundação
Melhor projeção: UCI Casa Forte
Melhor som: UCI Casa Forte
Melhor programação: Cinema da Fundação
Sala mais confortável: UCI Casa Forte
Melhor atendimento: Cinema da Fundação

Predomina nos shoppings um grande descaso com as sessões de cinema. O problema mais recorrente e mais aparente é a projeção – geralmente escurecida ou levemente desfocada. Na última vez que fui ao Cine Rosa e Silva, além da projeção escurecida e do foco desajustado, tinha uma região da tela que estava ainda mais desfocada que o resto, durante todo o filme. Sente-se claramente a preocupação dos que fazem o Cinema da Fundação para fazer o melhor em termos de programação, imagem e som, com um projecionista realmente preocupado em fazer o melhor.

Conheça o parque exibidor do Recife:

Box Cinemas Guaararapes. 12 salas; inaugurado em 2004. Projeção 35mm e digital Rain com lâmpada de 3 mil e 6 mil watts (salas 5, 6 e 7); som Dolby digital e analógico; funciona diariamente; café, bomboniére (dinheiro e débito) e estacionamento; acesso para cadeirantes; banheiro infantil; bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Av. General Barreto de Menezes, 800 – Shopping Guararapes (Piedade).
Telefone: 3207-1212.

Cine Rosa e Silva. 3 salas; inaugurado em 1997; lotação: 371; média mensal de público: 11.992 espectadores; projeção 35mm com lâmpadas de 2 mil watts; áudio: Dolby CP45; bomboniére (só dinheiro) e estacionamento; acesso para cadeirantes. bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Av. Rosa e Silva, 1406 (Aflitos).
Telefone: 3207-0100.

Cinema Apolo. 1 sala; inaugurado em 1842 (como teatro); lotação 282; projeção 35mm; áudio: Dolby analógico; bilheteria: dinheiro.
Endereço: Rua do Apolo, 121 (Recife Antigo).
Telefone: 3355-3118.

Cinema da Fundação. 1 sala; inaugurado em 1998; lotação: 200 pessoas; média mensal de público: 2,5 mil pessoas; projeção 35mm e digital Rain com lâmpada de 2 mil watts; som Dolby 4.1; aberto de terça a domingo; café e bomboniére (dinheiro, débito e crédito); bilheteria: somente dinheiro.
Endereço: Rua Henrique Dias, 609 (Derby).
Telefone: 3073-6688.

Cinema São Luiz: 1 sala com balcão; inaugurado em 1952 (reinaugurado em 2010); Lotação: 992; média mensal de público: 4 mil espectadores; projeção 35mm com lâmpada de 3 mil watts; som Dolby Stereo; aberto de terça a domingo; Acesso para cadeirantes; Bilheteria: somente dinheiro.Endereço: Rua da Aurora, 175, Boa Vista.Telefone: 3184-3000.

Multiplex Boa Vista. 6 salas; inaugurado em 2003; lotação: 887; média mensal de público: 44 mil espectadores. Projetores 35mm; som Dolby stereo analógico; aberto diariamente; bomboniére (dinheiro e débito) e estacionamento; acesso para cadeirantes; sanitário infantil; bilheteria: dinheiro e débito.
Endereço: Shopping Boa Vista (Rua do Giriquiti, 48 – Boa Vista).
Telefone: 3184-3000.

UCI Kinoplex Casa Forte (Shopping Plaza). 5 salas; inaugurado em 2007. Lotação: 957 pessoas. Média mensal de público: 54.930 espectadores. UCI Kinoplex Shopping Recife (Boa Viagem). 10 salas; inaugurado em 2000.
Lotação: 2.187 espectadores. Média mensal de público: 92.528 pessoas. UCI Kinoplex Shopping Tacaruna (Santo
Amaro). 8 salas; inaugurado em 2000. Lotação: 1.378 espectadores. Média mensal de público: 62.803 pessoas. Projetores 35mm, 3D e 4K. Som Dolby digital e analógico. Aberto diariamente. Bomboniére (dinheiro, crédito e débito) e estacionamento. Acesso para cadeirantes; Bilheteria: dinheiro, crédito e débito.
Telefone: 3207-0000.

(Diario de Pernambuco, 27/03/2011)

Estreia // "Ervas daninhas", de Alain Resnais

Por iniciativa do Cine Rosa e Silva, entra em cartaz no Recife o novo filme de Alain Resnais, 87 anos, um dos últimos mestres do cinema mundial em atividade, autor de Hiroshima mon amour (1959) e Medos privados em lugares públicos (2007). Em Ervas daninhas, ele retrata a aventura poética e amorosa de Georges Palet (André Dussolier), um senhor que encontra uma carteira perdida num estacionamento e entrega à polícia, que devolve o objeto à dentista Marguerite Muir (Sabine Azéma).

Ele se deixa seduzir pela situação e passa a seguir Muir e o que começa como curiosidade termina como obsessão. Para contar sua história, Resnais utiliza jogos de câmera, fusões, narração off e trilha sonora que soariam fora de moda não fossem coerentes com a longa a carreira do autor, que no último Festival de Cannes recebeu prêmio especial pelo conjunto da obra.

(Diario de Pernambuco, 19/02/2010)

Chaplin restaurado na Mostra Infantil

Após estreia movimentada no último fim de semana, o 7º Festival Internacional de Cinema Infantil se prepara para se despedir do público recifense. Hoje, amanhã e domingo, são cinco longas-metragens e dois programas de curtas à disposição da garotada.

Os adultos também podem se sentir contemplados com a exibição de dois clássicos do cinema mudo: O garoto (EUA, 1921), de Charles Chaplin e As aventuras do príncipe Achmed (Alemanha, 1926), de Lotte Reiniger. Uma das obras primordiais de Chaplin (e portanto, do cinema) será exibido em cópia 35mm, retirada da matriz recentemente restaurada pela Cinemateca de Bolonha, na Itália, em comemoração aos 120 anos do nascimento do cineasta.

Narrado com jogos de luz e sombras, As aventuras do príncipe Achmed (Alemanha, 1926) é fruto do empenho de Reiniger, a primeira mulher a se enveredar em técnicas do cinema de animação. Entre as novidades, Eu juro que vi Saci e O segredo de Kells, de Tomm Moore, um dos filmes mais vistos dasemana passada, que encerra o evento no domingo, às 16h30.

(Diario de Pernambuco, 16/10/2009)

Revolução que está por vir…


… tem data marcada

Pernambuco conta com oito salas digitais de cinema, incluindo a 3D do Box Guararapes; a digitalização dos espaços exibidores é um processo inevitável

Em breve, o Recife terá uma nova sala de cinema 3D. Ela será inaugurada em dezembro, no Multiplex UCI Ribeiro Recife, em Boa Viagem. Mais precisamente no dia 18 de dezembro, data prevista para a estreia de Avatar, a megaprodução de James Cameron. A novidade é apenas um dos indícios de que o cinema analógico, armazenado em rolos de película 35mm, está com os dias contados no Brasil. Somente nas últimas semanas, a rede Cinemark inaugurou cinco novas salas 3D em São Paulo. Das 412 salas do grupo, 9% contam com o equipamento.

Quem determina a mudança, naturalmente, é o fator econômico. De acordo com o site especializado Filme B, metade do faturamento norte-americano de Up, Força G e Era do gelo 3, três grandes lançamentos do ano, é proveniente das salas 3D, que representam um terço do total dos espaços de exibição de lá. Ainda segundo o Filme B, no Brasil, 54% da renda da animação Up é recolhida das 76 salas 3D.

Um mercado promissor, tendo em vista que há 2.100 salas no país. Até porque, as que não migrarem para o digital, com o tempo fecharão as portas. De acordo com Luiz Gonzaga de Luca, do grupo Severiano Ribeiro, essa conversão não sai por menos de R$ 600 milhões. “Se não houver intervenção do estado, não só os pequenos exibidores irão morrer”, diz o executivo, que defende que a conta deve ser financiada pelo governo e paga pelos estúdios, distribuidores e exibidores.

À primeira vista, todos saem ganhando. Após o período de adaptação, o lucro será maior, pois a logística será mais barata que a atual. O público também não terá do que reclamar. Não somente poderão experimentar filmes com maior qualidade de imagem e som. Assim como poderão, graças à convergência de mídias, assistir a shows, espetáculos e eventos esportivos em 3D.

Por enquanto, o Recife conta com oito salas digitais. Uma é a 3D do complexo Box Guararapes, que funciona com a tecnologia XPAND. As demais estão habilitadas a exibir filmes codificados pela Rain Networks, bitola adotada para filmes com distribuição independente. A pioneira funciona no Cinema da Fundação. As outras estão no Box.

“A digitalização das salas é um processo inevitável. O que torna as coisas mais difíceis é que aqui no Brasil ainda não temos um modelo de negócios definido. No ano passado quando implantamos as nossas salas 3D, gastamos 500 mil por sala. Hoje o dólar está mais baixo, e o custos dos equipamentos baixaram também, mas ainda custam mais ou menos 5 vezes mais que o 35mm”, afirma Rosa Maria Vicente, diretora de programação e marketing da Box Cinemas do Brasil.

A oferta de filmes digitais tem sido tanta que, no Cinema da Fundação, o projetor 35mm estava parado por mais de dois meses. Foi reativado para exibição de Anticristo, de Lars Von Trier. Foi a saída para ocupar uma área maior da tela, pois a versão codificada pela Rain reduziria a dimensão do formato Scope.

Em breve, o Cine Rosa e Silva colocará na cidade mais três salas do sistema Rain. Elas chegam com outras mudanças no complexo, uma reforma que inclui a troca de cadeiras e do sistemade ar condicionado. “Ficou difícil trabalhar com os filmes do circuito alternativo, porque eles lançam um filme com apenas uma cópia em película. O resultado é que quando um filme é muito requisitado, ficamos esperando pelo menos seis meses”, diz Carol Ferreira, programadora do Rosa e Silva.

No entanto, a incompatibilidade entre os sistemas de exibição – os grandes estúdios operando no sistema DCI e as pequenas salas independentes no sistema Rain – termina por colocar o dedo na ferida do circuito exibidor nacional, que terá uma divisão ainda mais acirrada. Estaremos às vésperas de oficializar a marginalização do cinema nacional, agora restrito às salas “alternativas”? E quanto ao circuito comercial, resta a ele assumir a função de mero operador da produção hollywoodiana? Como nos filmes de ficção, o futuro pode ser ao mesmo tempo fascinante e assustador.


Convergência sem ingenuidade
O processo de transição para o cinema digital no Brasil pode ser melhor entendido com um livro a ser lançado esta semana, durante o Festival do Rio. A hora do cinema digital (Imprensa Oficial de São Paulo, R$ 15), de Luiz Gonzaga de Luca, é o novo volume da Coleção Aplauso. Para Luca, o cinema, “o último veículo de comunicação analógico, está dando um passo que modificará o seu futuro”.

Seu livro é um guia – talvez o único disponível no mercado nacional – para acessar detalhes técnicos, políticos, históricos e econômicos sobre a revolução que está por vir. “A abertura que Glauber tanto falava na verdade chegou com o cinema digital”, diz o autor. “Mas para isso precisamos discutir convergência sem ingenuidade. Os padrões técnicos estão adotados, mas isso não resolve questões de mercado, onde TV domina o faturamento no audiovisual. Na Índia, o cinema controla 60% do mercado. O cinema é a TV da Índia”.

O assunto está na pauta do próprio Festival do Rio, que promove uma mesa com Joe Peixoto, executivo da Real D (fabricante de projetores 3D) e mediação de Luca, que apresentará as experiências brasileiras na produção de conteúdo tridimensional.

(Diario de Pernambuco, 27/09/09)

Reflexões sobre o ciclo da vida – "A Janela", em cartaz no Cine Rosa e Silva

A simplicidade talvez seja uma das mais admiráveis qualidades de um filme. É o caso de A janela (La ventana, Argentina/Espanha, 2009), que estreia hoje no Cine Rosa e Silva, em dois horários diários: 19h e 20h40. Uma obra que oscila entre prosa e poesia, marcada por reflexões sobre o ciclo da vida humana, sensível fruto da maturidade artística do diretor Carlos Sorin.

Entre a aurora e os últimos raios de sol, certo número de eventos se passam numa fazenda secular no norte da Patagônia. Tudo gira em torno de Antonio que, devido a um recente problema no coração, vive sob cuidados de serviçais, e se restringe a olhar o mundo através da grande janela de seu quarto. Ansioso, ele aguarda a visita do filho, pianista de sucesso há muito tempo radicado na Espanha.

Enquanto o filho não chega, preparativos tomam conta do belo casarão colonial: um técnico afina o piano há anos abandonado; o médico faz um exame de rotina. Até que, inconformado com a condição de enfermo, Antonio (não por acaso interpretado pelo veterano escritor Antonio Larreta) desafia as recomendações médicas e parte para um passeio no campo, momento máximo da beleza fotográfica dos 85 minutos de película.

Objetivamente há um tempo narrativo que percorre o dia. No entanto, para o protagonista há uma dimensão além, uma imersão subjetiva desencadeada a partir de um sonho em que relembra situações da mais tenra idade. Momentos construídos de tal forma que só o cinema poderia revelar.

* publicado no Diario de Pernambuco

"W", de Oliver Stone, estreia no Recife

Os anos George W. Bush não foram brincadeira: duas guerras, ataques terroristas, cataclismas climáticos, e por fim, a crise econômica. É natural que o filme que conta a vida do ex-presidente, W. (EUA, 2008), de Oliver Stone, chegasse aos cinemas envolto de expectativas. Especializado em cinebiografias de líderes como Kennedy, Nixon, Fidel e Hugo Chávez (documentário em produção), o diretor apresenta Bush (Josh Brolin) como um jovem problemático e beberrão, que demonstrava interesse não pela política, mas pela aprovação do pai (James Cromwell). Richard Dreyfuss (Dick Cheney), Jeffrey Wright (Colin Powell), Thandie Newton (Condoleezza Rice) e Ellen Burstyn (Barbara Bush) completam o elenco da produção, com pré-estreia em sessão única amanhã, às 20h20, no Cine Rosa e Silva.

Longe da ideia de Papai Noel


Feliz Natal, longa de estreia de Selton Mello, vai na contramão do espírito de amor, paz e família reunida no final de ano

A cada 25 de dezembro a cena se repete: família reunida, troca de presentes, espumante e muita comida na mesa. Ocasião perfeita para o parente bêbado dizer impropérios, e quem sabe provocar um “barraco” com a lavagem da roupa suja. Esse é o pano de fundo de Feliz Natal (2008), longa de estreia de Selton Mello. Com certo atraso, o filme entra no circuito do Recife via Cine Rosa e Silva.

Feliz Natal conta a história de Caio (Leonardo Medeiros), que quando jovem levou uma vida vazia e inconsequente, e após situação traumática, se exilou anos a fio numa cidade do interior. Hoje, na casa dos 40, um balanço existencial o leva a bater na porta da casa dos pais, em plena ceia natalina.

O que ele encontra não é nada bonito: a mãe (Darlene Glória), afogada em álcool e anfetaminas; o pai (Lúcio Mauro), obcecado pela performance sexual com a nova namorada de 20 anos; o irmão (Paulo Guarnieri) enfrenta decepção conjugal. Sinais de decadência encontráveis na própria casa onde um dia viveu, com alcatifa da parede e espelhos oxidados, em competente direção de arte de Renata Pinheiro (Superbarroco) e fotografia de Lula Carvalho.

Em pouco tempo, Caio deixa o “lar” novamente, e busca abrigo no apartamento de dois amigos “junkies”. No subúrbio de tons encardidos, ele pode reviver os fantasmas do passado. “Eu estou muito mais neste filme do que todos os personagens que já fiz”, garante Selton Mello, diretamente inspirado no cinema de John Cassavetes, por buscar na força interpretativa dos atores, um contraponto sombrio e visceral à pasteurizada imagem da noite feliz.