"Antes que o mundo acabe" é a principal atração de hoje no Fici

Premiado no Festival de Paulínia 2009, Antes que o mundo acabe (Brasil, 2010) vem literalmente subindo o país. Porto Alegre, Rio, São Paulo. De acordo com sua distribuidora, a Imagem Filmes, o longa acumulou em torno de 20 mil espectadores. Público acima da média para uma produção independente. Não se sabe se ele realmente estreará no Recife, portanto, as sessões promovidas hoje (às 16h no Cine São Luiz) e segunda-feira pelo 8º Festival de Cinema Infantil podem ser a chance do público assisti-lo no cinema.

E faz todo o sentido que a exibição ocorra durante o Fici. O primeiro longa de Ana Luiza Azevedo é colorido, leve e lúdico. Personagem principal, Daniel (Pedro Tergoline) não é uma criança, mas acaba de deixar o posto para viver dilemas e tensões próprios da adolescência. Seu ritual para a vida adulta passa pela descoberta do pai que vive do outro lado do mundo, história ocultada pela mãe.

Antes que o mundo acabe é romance de formação sobre duas rodas – Daniel vive em Pedra Grande, cidade de 16 mil habitantes e oito mil bicicletas. O encontramos pouco antes de receber as primeiras cartas do pai, perdendo a namorada para o melhor amigo e incompreendido pela família, que recebe seu mau humor como uma variação de hormônios típica da idade. A irmã mais nova (Caroline Guedes) de língua solta assiste a tudo e solta comentários pontiagudos e engraçados. Entre o folk e o rock’n’roll, a trilha sonora alterna de acordo com o humor de Daniel.

O primeiro longa de Ana Luiza surge após extensa carreira de produtos para a TV e curtas, entre eles Barbosa, um dos melhores dos anos 1980. Foi assistente de Jorge Furtado em Ilha das Flores, O homem que copiava e Meu tio matou um cara. Em 2003, foi premiada no Cine PE por Dona Cristina perdeu a memória e ano passado dirigiu a série global Decamerão. Baseado em livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, que a diretora conheceu através de seus filhos, o filme reafirma a marca da Casa de Cinema de Porto Alegre em fabricar filmes bem cuidados e acessíveissem apelar para a vulgaridade.

(Diario de Pernambuco, 09/10/2010)

Janela de Cinema anuncia curtas em competição


Foto de Haruo Ohara, fotógrafo e imigrante japonês cuja obra inspirou o curta de Rodrigo Grota

A 3ª Janela Internacional de Cinema do Recife anunciou ontem os curtas em competição. Eles serão exibidos entre 12 e 21 de novembro, no Cinema da Fundação e Cine São Luiz. Ao todo são 69 filmes, selecionados de um universo de 629 inscrições de 20 estados brasileiros e 37 países, alguns exibidos e premiados em grandes festivais como Cannes e Berlim.

Eles serão distribuídos em programas temáticos. Por exemplo, o premiado em Gramado Haruo Ohara (PR), de Rodrigo Grota, e Janela molhada (PE), de Marcos Enrique Lopes, devem ser vistos em uma única sessão, sobre a busca da memória via imagens de arquivo. “Os curtas ainda contam com poucos espaços de exibição e trazem uma diversidade e liberdade que não vejo nos longa-metragens”, diz Emilie Lesclaux, produtora do evento.

Emilie também faz parte da comissão de seleção de curtas, ao lado do roteirista Luiz Otávio Pereira, do crítico Fernando Vasconcelos (Kinemail) e do jornalista Rodrigo Almeida (Cineclube Dissenso). Kleber Mendonça Filho, diretor artístico do festival, supervisionou o processo. Até o fim deste mês, cerca de 15 longas, mostras temáticas e retrospectivas com curadoria de KMF serão anunciados.

Realizadores com passagem anterior no evento, como os irmãos Pretti, de Fortaleza, e o italiano Blu, apresentados na cidade em edições anteriores do Janela, estão de volta com filmes recentes. Há inéditos, como Viagem à marte, de Antonio Castro e Permanências, de Ricardos Alves. Entre os estrangeiros, destaque para Chienne d’Historie, de Serge Avédikian, Palma de Ouro em Cannes 2010. Outros pernambucanos em competição são A banda, de Chico Lacerda, Aeroporto, de Marcelo Pedroso, Pacífico, de Jonathas de Andrade, As aventuras de Paulo Bruscky, de Gabriel Mascaro, Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena e Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante.

Programação completa e video aqui.

(Diario de Pernambuco, 07/10/2010)

Tempo para pensar o cinema

De hoje a quinta-feira, o Recife sedia a maior encontro de ideias sobre cinema do Brasil. A 14ª reunião da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual – Socine mobiliza cerca 350 pesquisadores brasileiros, mais representantes três países: Portugal, Argentina e México. O convidado de honra, o francês Dominique Chateau, fará conferência de abertura hoje, às 19h30, no Cine São Luiz (Boa Vista), em evento aberto ao público. Logo depois, será exibido o curta Muro, de Tião.

Realizado ao custo de R$ 150 mil, o 14º Socine é organizado pelo curso de graduação de cinema da UFPE e consiste em dezenas de mesas, apresentações, seminários e lançamento de livros, se espalhadas pela UFPE. Para realizar o evento, foi necessário buscar apoio com a Capes, CNPq, Facepe e da Sociedade de Amigos da Cinemateca, via Secretaria do Audiovisual do MinC.

“A abertura do curso de cinema da UFPE foi decisiva. É um sinal de que há uma demanda no âmbito do audiovisual, tanto do ponto da produção como da pesquisa. A Socine vir pra cá é um reconhecimento disso”, diz Mariana Baltar, secretária da diretoria e professora da Universidade Federal Fluminense. Para ela, o estabelecimento da Socine como referência está ligado ao crescimento do audiovisual no Brasil, não só de cursos, pós-graduações e linhas de pesquisa, mas da produção. “Inclusive as políticas do MinC tem contemplado a pesquisa, sinal de que para consolidar cinema e audiovisual no Brasil não se pode deixar de lado a reflexão. E nisso, a Socine é um norte”.

Esta é a segunda vez que a cidade é escolhida para sediar um encontro da Socine – em 2004, o evento foi recebido pela Universidade Católica de Pernambuco. “Naquele momento não havia graduação em cinema na cidade. Hoje a gente tem várias e a nossa é a primeira do nordeste numa universidade pública”, diz Ângela Prhyston, que com a Socine encerra sua última atividade como coordenadora do curso de cinema, em transição para Rodrigo Carrero.

Angela e Carrero fazem parte da comissão local de coordenação do Socine. “Para quem trabalha com cinema, esta é uma oportunidade singular “, diz Carrero. “Porque é não só o maior, mas o principal evento brasileiro onde se encontram as pessoas que pesquisam cinema no país. A área de cinema cresceu muito não só em filmes produzidos, mas em reflexão também. Do ponto de vista lógico, não teremos nada parecido no Recife nos próximos dez anos. Digo para os alunos que está é a hora de conhecer os autores dos livros que eles estudam”.

Com presença de Ivana Bentes, Ismail Xavier, Arlindo Machado e Fernando Mascarello, o evento não é voltado somente a acadêmicos e estudiosos. Mediante inscrição de R$ 100, cinéfilos e demais interessados na linguagem do cinema podem participar dos encontros como ouvintes. A capacidade nas dez salas reservadas à Socine é de 750 pessoas.

Outro bom programa são as mostras cinematográficas. A partir de amanhã às 13h, até o próximo sábado, o Cineclube Dissenso promove sessões com filmes portugueses. De amanhã a sexta as sessões serão no Centro de Artes e Coumunicação (UFPE). No sábado, será no Cine São Luiz. Outros filmes serão exibidos: amanhã às 20h, haverá première do longa Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro, no Cinema da Fundação. Antecede o premiado curta Recife frio, de Kleber Mendonça Filho. Na quinta, às 19h30, uma mesa sobre cinema pernambucano com Marcelo Pedroso e Sérgio Oliveira será mediada pelo professor Paulo Cunha.

Entrevista // Dominique Chateau: “A montagem no cinema é primordial”

Professor da Universidade de Paris I Pantheon Sorbonne, Dominique Chateau diz que, antes de o cinema ser usado em prol da filosofia, é preciso perceber como a filosofia pode ajudar a entender o cinema. Nessa perspectiva, ele tem dedicado décadas de estudo sobre a montagem como recurso definidor da estética do cinema. Chateau antecipa alguns pontos da conferência que preparou para a abertura do 14º encontro da Socine. No fim da conversa, o mestre pede uma última palavra: “É uma grande oportunidade viver na época do cinema, que é uma arte extraordinária”.

De que forma a filosofia pode ser utilizada para entender o cinema?

Não trabalho com filósofos específicos, mas com elementos da filosofia. Um bom exemplo é o que acontece com a montagem. Existe uma teoria em torno da montagem no cinema, que surgiu precisamente a partir de 1918, com o cineasta russo Lev Kuleshov. Ele escutou diretores de fotografia franceses a palavra “montagem”, que para o que até então era usado o nome inglês, edti. E ele entendeu que a montagem ia muito além da técnica da edição. E que o cinema, por si, designa uma filosofia própria.

É comum ouvir que a diferença entre o cinema e as demais artes está na montagem.

A montagem existe em outras artes como na fotografia, na música e na literatura, mas no cinema ela é primordial a ponto de, historicamente, o cinema moderno começar pela montagem. Isso vale até mesmo para o cinema em que a montagem não era tão importante, como no neorealismo italiano e na nouvelle vague que utilizavam longos planos. Hoje, Deleuze tremeria na tumba se pudessever a hipermontagem dos blockbuster. Ao contrário da imagem-tempo que ele identificou, há uma montagem histérica, de decupagem de planos e efeitos sonoros extremamente rápidos. A semente dessa hipermontagem vem de Eisenstein, com a diferença de que ela tinha utilidade ideológica, que ficou um pouco fora de moda.

Internet e videogames estão cada vez mais presentes nos filmes. Essa é uma tendência passageira ou definitiva?
Não trabalho diretamente com isso mas posso dizer que não é uma moda. Assim como a tentativa de introduzir efeitos 3D no cinema, esses filmes buscam o realismo da percepção, que funciona com efeitos e simultaneidade visual e sonora da hipermontagem. A maioria dos filmes derivados de jogos não são bons. Mas esse é um tema importante porque lida com dois níveis de violência. Um está na montagem histérica, que Walter Benjamin identificou como a necessidade do traumatismo. E o outro está em efeitos visuais que espalham sangue para todos os lados. A estética da violência está a obra de arte como Laranja mecânica. Mas também em Kill Bill e sua violência incessante e sem profundidade, que o torna apenas um espetáculo.

(Diario de Pernambuco, 05/10/2010)

"Noites de Cabíria" na Cinemateca do São Luiz

A Sessão Cinemateca do Cine São Luiz traz Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria, Itália, 1957), um dos melhores filmes de Federico Fellini, em cópia restaurada 35mm.

Nele, Giulietta Masina interpreta Maria “Cabíria” Ceccarelli, uma garota de programa que, a despeito das colegas desencantadas, acredita no amor. Porém, dada a natureza de sua profissão, ela termina por se iludir com homens mentirosos e sem escrúpulo. Às decepções, soma-se a dura sina de sobreviver na Itália do pós-guerra.

Adaptado à personalidade da atriz, o papel se tornou o mais memorável de sua carreira e rendeu à Masina o prêmio máximo em Cannes. O carisma do filme resisde na personagem que, mesmo sob situações adversas, insiste em sonhar.

Uma Jornada Particular

Em cartaz na Sessão Cinemateca do São Luiz, Um dia muito especial (Una giornata particolare, Itália, 1977), de Ettore Scola, é um filme grandioso que se ilumina pela simplicidade. Trata de assunto caro, o fascismo, a partir do encontro de dois vizinhos que moram no mesmo condomínio de apartamentos.

A trama acontece no dia em que Hitler visita Mussolini em Roma, em 1938. A animosidade toma conta da família de Antonietta (Sophia Loren), esposa dedicada e sofredora, que limpa a cozinha enquanto o marido e filhos vão à praça ouvir líderes.

Alheia ao grande evento, Antonietta corre atrás do pássaro fujão até encontrar Gabriele (Marcello Mastroianni), vizinho do andar de cima. Ousado na dose certa, seu perfil misterioso, cortês e afeito às artes seduz a mulher, até então adormecida na pele de dona de casa.

A história inteira se passa na intimidade desse encontro. Ao vivo, o discurso fascista invade o ambiente doméstico – uma das armas do totalitarismo. Imagens de arquivo que mostram a chegada do líder alemão abrem o filme.

Politicamente perseguido, Gabriele pressente os maus tempos que estão por vir. Não tem chance nem mesmo na mão da zeladora que, via fofoca, crucifica o inquilino como “perigoso” e “homossexual”.

Foi em pessoas intolerantes e ignorantes como esta que o holocausto se fincou. A esperança de Scola está depositada nos olhos de Antonietta, mulher comum capaz de se apaixonar e com isso enxergar a tragédia que está por vir.

Vale registrar o que é assistir um Scola em película, tendo como moldura o suntuoso salão do Cine São Luiz. Um privilégio.

(Diario de Pernambuco, 23/07/2010)

Mostra especial traz cinco curtas de Kleber Mendonça ao Cine São Luiz


Recife frio, um dos melhores filmes do ano, é atração principal

Cinco curtas-metragens de Kleber Mendonça Filho serão exibidos hoje, às 20h, no Cine São Luiz (Boa Vista). Pela primeira vez será possível assistir Recife frio (2010), Noite de sexta manhã de sábado (2007), Eletrodoméstica (2005), Vinil verde (2004) e A menina do algodão (2002) em conjunto, numa sala de cinema. Com aproximadamente 80 minutos, a sessão será seguida de diálogo entre a plateia e o realizador, que mês que vem começa a rodar seu primeiro longa de ficção, O som ao redor.

Colocados em perspectiva, os filmes remontam a recente e premiada trajetória do cineasta pernambucano. Realizados em diferentes formatos e bitolas, eles acumulam quase uma centena de prêmios em festivais do mundo. Codirigido com Daniel Bandeira (Símio Filmes), A menina do algodão traz uma visão atual para a lenda urbana que nos anos 1970 circulava nas escolas do Recife; montado apenas com imagens em still (como uma colagem de fotografias), Vinil verde contemporaniza um antigo conto russo para a realidade urbana; Eletrodoméstica faz um retrato da intimidade da classe média recifense, caminho que o diretor deve seguir em O som ao redor; E Noite de sexta manhã de sábado narra de forma etérea o amor de duas pessoas separadas por um oceano.

Ficção travestida de documentário para a TV, Recife frio é a grande estrela da programação. Esta visão ácida e bem-humorada da cultura da capital pernambucana tem provocado repercussão por onde passa. Para quem não assistiu, esta é uma boa oportunidade para fazê-lo. Talvez leve algum tempo para surgir outra. Por isso, rever também é um bom programa.

Opção menos atraente, mas acessível para o público que não mora no Recife é assistir aos curtas de Kleber via internet. Desde janeiro, com exceção de Recife frio, toda a sua produção está disponível no site de compartilhamento Vimeo (www.vimeo.com/cinemascopio), inclusive Homem de projeção (1992), Enjaulado (1997) e o experimental Luz, industrial, mágica (2008).

(Diario de Pernambuco, 08/06/2010)

Meu Tio, de Jacques Tati, reinaugura Sessão de Arte do Cine São Luiz

A Sessão de Arte do Cine São Luiz está de volta. A programação de clássicos, que por mais de 40 anos formou gerações de cinéfilos, reabre as atividades com a comédia Meu Tio (Mon Oncle, França, 1958), de Jacques Tati.

Em caráter extraordinário, a exibição de Meu Tio será neste domingo, às 10h, precedida pelo curta pernambucano Até o sol raiá (2007), de Leanndro Amorim e Fernando Jorge. A partir da semana que vem, as sessões serão sempre às sextas (20h) e sábados (10h). Em breve, o cinema incluirá a Matinê infantil na programação dos domingos.

Na direção e papel principal, Tati é Monsieur Hulot, personagem criado em 1953 para o longa As férias do Senhor Hulot e que perduraria por mais dois filmes, Playtime (1967) e Trafic (1971). Do contraste entre a periferia onde vive e o bairro moderno onde vai visitar a irmã, surgem situações interessantes e engraçadas. Enquanto a família quer que o solteirão Hulot se case e arrume um emprego, ele se contenta em fazer passeios com o sobrinho.

A atitude jeca de sua família frente à facilidade da vida moderna é algo que Tati se dedica a evidenciar, enquanto Hulot, mudo e de trejeitos caricatos, é o clown a representar valores que insistem em destoar num mundo regido pela tecnocracia. Claramente retirado dos filmes mudos dos anos 1920, ele é objeto estranho entre máquinas automáticas e uma arquitetura que, ao contrário do que deveria, coloca seres humanos a serviço do design.

Sessão de Arte – De acordo com o programador do São Luiz, Lula Cardoso Ayres Filho, o retorno da, como o próprio define, “verdadeira” Sessão de Arte, faz parte de um plano para resgatar o brilho que a sala tinha em seu auge. “Queremos trazer de volta o público que gosta de cinema”.

Surgida no início dos anos 1960, a Sessão de Arte já contou com a curadoria dos críticos Alex, Fernando Spencer, Ivan Soares e Celso Marconi. “Fez tanto sucesso que o gerente da Severiano Ribeiro teve que transferir o projeto para o Cine Coliseu, que tinha 1.800 lugares”, lembra Lula, que ressalta a importância de apresentar obras importantes e desconhecidas pelo grande público.

Nesse sentido, a distribuidora Pandora é a primeira de uma série de parcerias, que inclui filmes restaurados pela Cinemateca Brasileira. Na pauta para os próximos fins de semana estão Os incompreendidos, de François Truffaut, Quanto mais quente melhor, de Billy Wilder, Morte em Veneza, de Luchino Visconti, A doce vida, de Federico Fellini, obras de Ingmar Bergman e clássicos nacionais como O homem do Sputnik, Matar e morrer, filmes da Cinédia, Atlântida e do Cinema Novo.

Novas diretrizes para a programação do Cine São Luiz

O Cine São Luiz inaugura hoje espaço permanente para filmes de curta duração. O filme que abre a nova fase é o premiado Muro, de Tião. Ele será exibido três vezes por dia, sempre antes do longa As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky. Outros curtas, selecionados em convocatória, virão na sequência. Além disso, uma mostra com curtas de Kleber Mendonça Filho, Recife frio incluído, está confirmada para 7 de junho, uma segunda-feira, que a partir de então será reservada para programas especiais.

De acordo com o programador da sala, Lula Cardoso Ayres Filho, com a novidade, o São Luiz se torna o único cinema do país a respeitar a lei do curta. “A partir de agora, antes da cada longa teremos um curta, não necessariamente pernambucano”, diz Lula. Boa notícia para os realizadores, que não somente terão seus filmes disponibilizados para o público, como terão direito a 5% da bilheteria. Por limitações técnicas, somente curtas em 35mm foram escalados. Em breve, com ainstalação de equipamento RAIN atualmente em licitação, acabará os problemas de bitola.

Filmado em 16 mm e ampliado para 35 mm scope , Muro é o único curta-metragem feito em Pernambuco a receber o prêmio Regard Neuf (novo olhar) na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Atualmente envolvido com a filmagem de Animal político, Tião define Muro como sua forma de narrar histórias que podem não se tocar, mas falam sobre as outras e sobre a distância entre as pessoas. “Ter um filme em cartaz é diferente de participar de festivais. A visibilidade é bem maior”, resume Tião.

Nova programação – Há três semanas, com o afastamento de Geraldo Pinho da função, Lula Cardoso Ayres assumiu o cargo de programador através de sua empresa, a Sétima Arte, inicialmente contratada como consultora técnica na restauração do São Luiz. Com a entrada de Lula – devidamente alinhado com as diretrizes do conselho consultivo e da coordenadoria de cinema da Fundarpe – o São Luiz deve evitar filmes do cinemão norte-americano, como Ilha do medo, Preciosa e Nine (exibidos com três ou quatro semanas depois da estreia comercial) e retomar a antiga programação que formou gerações de recifenses.

O primeiro movimento nesse sentido é a volta da matinê infantil no domingo, às 10h e 14h. O segundo será o retorno da, como define Lula, “verdadeira Sessão de Arte”, às sextas (22h) e sábados (10h). A negociação com as distribuidoras está em pleno vapor.

(Diario de Pernambuco, 11/05/2010)

Cine PE se antecipa amanhã e domingo com mostra pernambucana

A cerimônia oficial de abertura do 14º Cine PE – Festival do Audiovisual será na próxima segunda-feira, mas o evento se antecipa, amanhã e domingo, com a 3ª Mostra Pernambuco de curtas e longas-metragens no Cinema São Luiz. A programação é competitiva e traz 18 produções – 15 curtas e três longa-metragens de diretores pernambucanos ou que tenham vínculo com a cultura do estado. As sessões começam às 19h e ingressos poderão ser retirados gratuitamente na bilheteria do cinema, a partir das 17h.

Entre outros, serão exibidos no sábado o curta Matriuska, adaptação de contos de Sidney Rocha pelo diretor Pablo Pólo e produção de Isabella Cribari, e dois longas: o documentário Travessias, de José Eduardo Souza Lima (o Zé José), sobre estudantes do ensino público que participam de programa patrocinado pela Fundação Roberto Marinho; e Nas rodas do choro, de Milena Sá, pernambucana radicada no Rio de Janeiro, conhecida como percussionista e VJ das últimas edições do Rec Beat.

No domingo, a mostra de curtas traz A minha alma é irmã de Deus (foto), de Luci Alcântara, adaptação do romance inédito de Raimundo Carrero, roteirizado pelo próprio escritor. Na mostra de longas, será exibido pela primeira vez o documentário Porta a porta, de Marcelo Brennand. Em tempo: ontem, a organização do Cine PE informou que, apesar de inicialmente escalado, o curta Incenso, de Marco Hanois, está fora da competição por “motivos de produção”.

3ª Mostra Pernambuco – Programação completa

Sábado, 24 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Tchau e Benção (Digital, Ficção, Direção: Daniel Bandeira, 10’, PE)
Aqui Mora Uma Pessoa Feliz (Digital, Ficção, Direção: Jean Santos, 5’, PE)
Fôlego (Digital, Ficção, Direção: Larissa Cavalcanti, 4’48”, PE)
Matriuska (Digital, Ficção, Direção: Pablo Pólo, 15’20”,PE)
Lula em Cortes (Digital, Documentário, Direção: Marcos Santos, 10’15”, PE)
O Mar de Lia (Digital, Documentário, Direção: Hanna Godoy, 12’51”, PE)
Profissional da Noite (Digital, Documentário, Direção: Kleber Castro Dibianchi, 15’, PE)
Retratos (Digital, Documentário, Direção: Leo Tabosa e Rafael Negrão, 20’, PE)

21h-Exibições de longas-metragens
Travessias (Digital, Documentário, Direção: José Eduardo Souza Lima, 84’,PE/RJ)
Nas Rodas do Choro (Digital, Documentário, Direção: Milena Sá, 50’, RJ)

Domingo, 25 de abril

19h-Abertura e exibições de curtas-metragens
Balé (Digital, Ficção, Direção: Caio Sales, 10’, PE)
Tereza – Cor na Primeira Pessoa (Digital, Documentário, Direção: Amaro Filho e Marcílio Brandão, 20’, PE)
À Felicidade (Digital, Ficção, Direção: Carlos Nigro, 5’, PE)
Amor Selvagem (Digital, Animação, Direção: Evandro José Mesquita, 3’33”)
Não Sei Se Devo (Digital, Ficção, Direção: Gabriel Muniz e Luis Vitor,4’11”)
Ossos do Ofício (Digital, Ficção, Direção: Camila Rocha, Luciano Branco, Ricardo Arruda, Thiago de Albuquerque e Yure Serbedja, 12’, PE)
A Minha Alma É Irmã de Deus (Digital, Ficção, Direção: Luci Alcântara, 18’, PE)

21h-Exibição de longa-metragem
Porta a Porta (Digital, Documentário, Direção: Marcelo Brennand, 80’, PE)

(Diario de Pernambuco, 23/04/2010)

Cine + Cultura amplia alcance no estado

A partir de agora, associações culturais como Maracatu Piaba de Ouro, N.A.V.E, Mulheres de Ibimirim, Artistas Populares de Sertânia e Artistas Plásticos de Fernando de Noronha passam a ter ao menos uma característica em comum. Eles fazem parte do grupo de 46 entidades que se tornaram pontos de exibição de filmes, com o aval do Ministério da Cultura, através da ação Cine + Cultura. Realizado em parceria com o governo do estado, o resultado foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. Os aprovados recebem kit com câmera, projetor, telão, DVD, rack e um pacote de filmes selecionados pela Programadora Brasil, além de oficinas de capacitação organizadas pela Fundarpe. O objetivo é formar uma rede nacional de exibição alternativa. Com a nova leva, somente Pernambuco contará com 87 pontos. Até o fim do ano, a meta é atingir 2.200 em todo o Brasil.

Coube à presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, contextualizar a ação dentro da escassez de espaços de fruição cinematográfica. Números tristes: 13% dos brasileiros vão ao cinema ao menos uma vez ao ano; mais de 90% dos municípios não têm cinema, teatro ou museu. Silvana Meireles, coordenadora do programa + Cultura, vai além. “A maioria das salas de exibição comercial está em shoppings, que são inacessíveis em vários aspectos”, diz Meireles. De acordo com ela, a ideia é tornar essa rede não só “a maior diversão” (em referência ao slogan da rede de cinemas Severiano Ribeiro), mas um espaço de cidadania. “O Brasil em poucos anos será a 5ª economia mundial, mas atualmente ocupa a 75ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Precisamos diminuir essa diferença e a cultura é vetor importante. Os Cines + Cultura servem para formação de identidade dessa parcela excluída”.

Vestido de vaqueiro, Renato Magalhães, da Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte), não só veio a caráter, como soprou seu berrante antes de cumprimentar as autoridades. Ele é da segunda geração de realizadores da cavalgada anual, no mês de maio. “Antes, a mostra de filmes era itinerante. Agora vamos fazer no memorial, numa sala para 50 pessoas”, diz o jovem vaqueiro. Paulo Lima, que coordena o espaço de exibição do Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto Velho (Olinda), diz que com o novo acervo será possível renovar a programação, até então restrita a 40 DVDs oferecidos pelo Banco do Nordeste. Outros que comemoram são Fernando Carmino e Jorge Costa, da Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos, pois a sala de 120 lugares que administram passará a ter tela grande e projetor apropriado para exibir filmes.

Mas nem todos estavam felizes após a cerimônia. Arimatéia Martins, da Associação Cultural Vida é Uma Arte, veio de Floresta para constatar que seu projeto não foi contemplado porque duas propostas foram feitas para o mesmo espaço, o Cine Teatro Recreio (90 anos de construção, 160 lugares, 14 anos fechado). A proposta dupla resultou na anulação de ambas. “Há três anos realizamos sessões quinzenais no cinema, pois o equipamento é emprestado”. Com o kit Cine + Cultura, afirma Martins, as exibições seriam mais frequentes.

Capacitação – As oficinas de formação começam em maio e fazem parte da contrapartida de 33% oferecida pelo governo do estado, com apoio do Conselho Nacional de Cineclubes e da Federação Pernambucana de Cineclubes. A ementa inclui história e organização do cineclubismo, do cinema, sua linguagem, produção e distibuição. Mas o principal, diz Gê Carvalho, presidente da Fepec, é a educação para o olhar. “Eles aprendem a assistir a um filme e refletir sobre o que foi visto, da técnica ao conteúdo. E aí a consciência se transforma”.

Confira os grupos selecionados

Região metropolitana do Recife
1. Maracatu Piaba de Ouro (Olinda)
2. Centro SUVAG de Pernambuco (Recife)
3. Associação Satélite (Olinda)
4. Unacomo (Olinda)
5. Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos – APTB (Recife)
6. Diálogos (Olinda)
7. Graúna – Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento (Olinda)
8. Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha (Fernando de Noronha)
9. Associação Teatral Ato – Art’s ATA (Itamaracá)
10. Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto velho (Olinda)
11. Movimento de Articulação Ambiental e Cultural- MAAC (Recife)
12. Centro de Atendimento a Meninos e Meninas – CAMM (Recife)
13. Sociedade Cultural Pernambuco na Estrada (Recife)
14. Nave- Sociedade de Arte e Tecnologia (Recife)
15. Laboratório de Intervenção Artística – Laia (Camaragibe)
16. Lar de Sandro (Recife)
17. Espaço Cultural de Santo Amaro(Recife)

Zona da mata
18. Sociedade de Cultura Artística 22 de Novembro (Paudalho / Mata Norte)
19. Grupo Cultural dos Palmares – Grucalp (Palmares / Mata Sul)
20. Ponto de Cultura Retretas – Filarmônica 28 de Junho (Condado / Mata Norte)
21. Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Vicência / Mata Norte)
22. Associação Cultural dos Mamulenguieros e Artesãos de Glória do Goitá (Glória do Goitá / Mata Norte)
23. Centro de Educação Musical de Joaquim Nabuco (Joaquim Nabuco / Mata Sul)

Agreste
24. Grupo de Apoio aos Meninos de Rua – GAMR (Gravatá / Agreste Central)
25. Cia. de Eventos Lionarte (Limoeiro / Agreste Setentrional)
26. Associação Caruaruense de Ensino Superior – Asces (Caruaru / Agreste Central)
27. Associação do Comércio da Indústria e Agroindustrial de Garanhuns (Garanhuns / Agreste Meridional)
28. Centro de Criação Galpão das Artes (Limoeiro / Agreste Setentrional)
29. Sociedade Musical Padre Ibiapina (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
30. Associação de Desenvolvimento e Assistência Social de Taquaritinga do Norte – Adastaq (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
31. Centro de Artesanato Tareco e Mariola de Belo Jardim (Belo Jardim / Agreste Central)
32. Associação Capoeira e Taekwon-do: O pé do clã (Brejo da Madre Deus / Agreste Central)

Sertão
33. Associação e Movimento Comunitário Aliança (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
34. Federação das Associações Comunitárias do Cedro – Faced (Cedro / Sertão Central)
35. Associação dos Artesãos e Artistas Populares de Sertânia (Sertânia / Sertão do Moxotó)
36. Associação Nação Coripós (Santa Maria da Boa Vista / Sertão do São Francisco)
37. Associação de Arte e Cultura de Jatobá (Jatobá / Sertão de Itaparica)
38. Instituto Chico Torres (Salgueiro / Sertão Central)
39. Jovem Sertão (Petrolina / Sertão do São Francisco)
40. Associação Cultural, Artística e Social Raízes (Petrolina / Sertão do São Francisco)
41. Associação das Mulheres de Ibimirim – AMI (Ibimirim / Sertão do Moxotó)
42. Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte / Sertão Central)
43. Maracatu Nação Matingueiros (Petrolina / Sertão do São Francisco)
44. Associação São Geraldo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
45. Associação Solidária de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais (Belém de São Francisco / Sertão do São Francisco)
46. Associação Urucungo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)

(Diario de Pernambuco, 13/04/2010)

Curto-circuito no São Luiz

Nem bem voltou à ativa e o Cine São Luiz voltou a fechar as portas. O motivo é a rede elétrica, que mais uma vez entrou em pane na noite do último domingo, durante sessão de O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira. De acodo com a assessoria de comunicação da Fundarpe, a previsão é que a sala retorne em “curto período de tempo”, provavelmente na semana que vem.

Coincidência ou não, Lula Cardoso Ayres Filho, engenheiro aposentado da Celpe, volta a participar de forma efetiva das atividades técnicas do São Luiz e de outros equipamentos geridos pela Fundarpe, que renovará por mais quatro meses o contrato entre sua diretoria de difusão cultural e a Sétima Arte (empresa de Lula) e reconhece publicamente o valor do serviço especializado que tem oferecido.

“Estamos fazendo uma análise minuciosa da subestação para eliminar a ocorrência que gerou o curto-circuito. Acredito que depois dos reparos, a volta será definitiva”, diz Lula. Ele diz sentir ambiente favorável para a criação da Cinemateca Pernambucana e um núcleo de preservação de filmes, projetos incialmente vinculados ao São Luiz e que devem encontrar abrigo com a reabertura do Mispe. Nunca estivemos afastados. A volta do São Luiz é maior do que tudo. E o mais importante é que o cinema está pronto. Espero que no futuro possamos participar das discussões que decidem a programação dos filmes”.

(Diario de Pernambuco, 12/03/2010)

Primeira sessão lotou o Cine São Luiz

Do lado de fora, palhaços de perna-de-pau fazem malabarismos. Vendedores de pipoca e cachorro-quente a todo o vapor. Muita gente na fila. A descrição pode lembrar um dia de circo, mas trata-se da aguardada volta do Cine São Luiz. O cinema-monumento voltou a funcionar ontem, em regime de teste. Mais de 600 pessoas compareceram.

Durante o dia, carros de som divulgaram a reabertura pelo centro da cidade. Por volta das 15h, já havia aglomeração de pessoas para garantir uma vaga. A fila dobrava duas esquinas em direção a Av. Conde da Boa Vista. Na esquina oposta, dois geradores garantiram a eletricidade necessária para tudo funcionar. De acordo com Rodrigo Coutinho, assessor de comunicação da Fundarpe, o problema com a energia elétrica será resolvido no decorrer do dia de hoje.

“Ele é muito importante para a cidade, não dava pra ficar sem”, disse o cineasta Fernando Spencer, presente para a exibição de seu último curta, Nossos ursos camaradas, que antecedeu o longa Baile perfumado. “É uma grande honra. Em toda a minha carreira, inclusive como crítico de cinema por 40 anos no Diario de Pernambuco, nunca imaginei em ver um filme meu exibido na tela grande do São Luiz”.

Sob aplausos, Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe, disse que a missão está cumprida. “O cinema está entregue à população, que faz essa imensa nação cultural chamada Pernambuco”.

Ao entrar no salão, exuberante, as pessoas observavam tudo, menos para a tela. Até que a luzes se apagaram e só havia um lugar para olhar. A sessão pode começar.

Antes dos filmes anunciados, houve a projeção de trailers dos próximos longas: Lula – o filho do Brasil e O homem que engarrafava nuvens. Ambos foram aplaudidos efusivamente.

O público achou graça da semelhança entre os slogan dos dois filmes: “Você sabe quem é esse homem, mas não conhece sua história” (Lula) e “Você sabe quem é esse homem?” (O homem…)

Até a próxima sexta-feira, o São Luiz oferece sessões gratuitas, sempre às 19h. Os filmes de hoje são Até o sol raiá, de Fernando Jorge e Leandro Amorim e Orange de Itamaracá, de Franklin Júnior.

(Diario de Pernambuco, 13/01/2010)
*com acréscimos

Cine São Luiz passa por testes

Após uma série de mudanças, o São Luiz abre as portas a partir de hoje. A alteração que interessa diretamente ao público diz respeito à programação, que ainda não está completamente definida. Até sexta-feira haverá sessões gratuitas, às 19h, em regime de teste, para até 500 pessoas.

A bilheteria abre às 17h para a retirada de senhas, por ordem de chegada. O filme inaugural será Baile perfumado. Antecede o curta Nossos ursos camaradas. Anunciado para esta sexta, o longa Lula – o filho do Brasil deve chegar ao São Luiz no dia 22. O atraso preservará o lucro dos cinemas comerciais. Caso o São Luiz insista na ideia de exibir filmes do circuitão, uma sala de 900 cadeiras com ingresso a R$ 4 pode ser uma ameaça. O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira, está na pauta.

A volta soft open do São Luiz é questão de honra para a Fundarpe, que coloca o cinema para funcionar na data prometida, mesmo que sem condições para tanto. A começar pela sub-estação elétrica, que entrou em pane nodia 28 de dezembro e ainda não foi reparada. Assim como a sessão inaugural, as desta semana serão movidas a gerador de energia. Fora do horário dos filmes, o São Luiz continua no escuro, à espera de uma peça que resolverá o apagão. Além disso, com exceção do projecionista, não há pessoal específico para trabalhar no cinema. Não há ao menos bilhetes para serem vendidos. Nesses primeiros dias, senhas serão distribuídas ao público por funcionários, que também farão a limpeza e a segurança.

Nada disso é de estranhar, considerando o histórico de atrasos, conflitos e improvisos que têm marcado a reinauguração do São Luiz. Inicialmente anunciado para o dia 9 de dezembro, o cinema foi inaugurado, somente para convidados, no último dia 28. Não por restrições na agenda do governador ou porque os Irmãos Luimére fizeram a primeira projeção da história neste dia, como a assessoria de imprensa da Fundarpe justificou. Simplesmente a reforma não estava pronta.

Capítulo à parte foi o embate entre Lula Cardoso Ayres Filho – até então tido como curador do São Luiz – e Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe. Sem sequer ter assumido a função, Ayres permanece afastado do cinema que ajudou a restaurar. “Me senti usado. Depois que as licitações estavam prontas, fui gradativamente sendo afastado do projeto. Assinei um contrato de gestão cultural que vale até 19 de fevereiro, mas até agora ninguém me procurou para dizer nada”.

Em resposta ao silêncio, Ayres faz questão de dizer que sua divergência com a Fundarpe é conceitual. “Sonhei em trazer de volta o verdadeiro São Luiz, não só em sua forma física, que servirá de palco das ações da Fundarpe. Primeiro eles queriam inaugurar o cinema com o Festival de Vídeo. Depois, era com a Conferência Estadual de Cultura. Eu me opus a isso, porque antes de tudo, o São Luiz precisa retomar sua identidade”.

No último dia 30, data em que o Diario de Pernambuco publicou entrevista em que Ayres denuncia o escanteio, um comunicado oficial foi enviado à imprensa pela Fundarpe, anunciando a criação de uma curadoria coletiva. Na primeira reunião, semana passada, o grupo declinou da função. Optou pelo caráter consultivo. A escolha e disposição dos filmes agora fica na mão da coordenadoria de cinema da Fundarpe, avalizada pelo conselho consultivo.

Presidido por Carlos Carvalho (diretor de Políticas Culturais) e Carla Francine (coordenadora de audiovisual), o conselho consultivo será formado por doze entidades ligadas ao audiovisual e terá reuniões mensais para discutir as diretrizes não somente do São Luiz, mas dos demais cinemas geridos pelo Estado. Fazem parte da comissão Isabelle Cribari (Fundaj), Paulo Cunha (UFPE), Osman Godoy (Fórum do Audiovisual), Cynthia Falcão (ABD-Apeci), Gê Carvalho (Fepec) , Andréa Mota (Cine Escola), João Jr. (ABPA), Adelmo Aragão (Diretor de Difusão Cultura da Fundarpe) e Geraldo Pinho (Mispe). Não há representantes da prefeitura do Recife.

Uma das primeiras ações do comitê foi nomear Geraldo Pinho como consultor técnico e Cristiano Régis como gestor administrativo. “O trabalho derestauração está muito bem feito. O São Luiz está um brinco. Agora precisamos criar uma rotina de cinema, estudar a dinâmica do centro e fazer do São Luiz o cinema que a cidade merece”, diz Pinho.

Programação

Terça-feira (12)
Nossos ursos camaradas (2009, 12 minutos), de Fernando Spencer
Baile perfumado (1996, 93 minutos), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas

Quarta-feira (13)
Até o sol raiá (2007, 12 minutos), de Fernando Jorge e Leanndro Amorim
Orange de Itamaracá (2006, 78 minutos), Franklin Júnior

Quinta-feira (14)
Ave Maria ou mãe dos sertanejos (2009, 12 minutos), de Camilo Cavalcante
KFZ-1348 (2008, 81 minutos), Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso

Sexta-feira (15)
Cachaça (1995, 13 minutos), Adelina Pontual
Deserto feliz (2007, 88 minutos), Paulo Caldas

(Diario de Pernambuco, 12/01/2010)