Quadro Mágico entrevista RAL: "o Pasquim foi o meu curso superior"



Quais quadrinhos você lia quando criança?

Gostava de Cavaleiro Negro, Batman e Tarzan. Dos outros, o estilo desenho não me agradava, mas as histórias sim: Brucutu, Perdidos no Espaço… gostava das tirinhas, essa coisa da seqüência.

Você já gostava de desenhar naquele tempo?
Meu irmão desenhava bem, e eu comecei a imitá-lo. Ele fazia revistinha no caderno da escola, ou no papel de pão. Ele pedia na padaria, e desenhava histórias completas. Com 13 anos, fiz um curso de desenho, em Arcoverde (interior de Pernambuco). Meu irmão, não. Ele já estava adolescente, e queria outras coisas. Vi o anúncio oferecendo o curso: Escola Pan-americana de Arte, “o curso dos famosos artistas” (risos). Entre eles tinha Ziraldo. Nem sabia o que era cartum, queria ser desenhista de quadrinhos. Mandava trabalho, e eles avaliavam, até receber o diploma. Em 1966, minha família resolveu se mudar para o Recife, e eu resolvi tentar a minha área.

Então você começou cedo.
É, foi uma aventura. Em 1968, com 17 anos, fui colaborador do Jornal do Commercio, tentando cavar um local pra mim.Eu acreditava em outra coisa. Meu irmão começou a trabalhar em seguro, área administrativa, minhas irmãs foram ser professoras. Nessa época, a pressão era pra deixar de desenhar, e procurar um emprego, coisas que dão dinheiro. Mas eu vivia freqüentando uma banca de revista de um tio meu. Um dia, vi uma que tinha um tipo de concurso pra publicar na revista deles, da editora Edrel (Editora e Distribuidora de Livros e Revistas, de São Paulo). Na época nem chamava de cartum, era do tipo “anedotas e piadas”. Mandei o material dentro do estilo, aquela coisa mais do humor pelo humor, só pra fazer graça. E consegui entrar como colaborador, trabalhando daqui. Fiz um pezinho de meia.

Quando a Edrel fechou as portas, fiquei de novo num mato sem cachorro (risos). Tive que procurar outra alternativa além do cartum. Aí procurei meu amigo Ivan Maurício, que tinha uma publicação alternativa chamada Resumo, e comecei a publicar por lá. Depois, conheci um amigo dele, um psicólogo chamado Ronaldo, que me indicou pra uma agência de publicidade. Peguei também o trabalho publicado na Edrel, e consegui publicar na coluna de um jornalista chamado Paulo Fernando Craveiro, que trabalhou muito tempo na imprensa. Depois eu o encontrei já no Diário de Pernambuco, quando fui editor de arte.

A partir de quando foi isso?
Em 1995, quando entrei no Diario como ilustrador, não existia setor de arte. Era só o departamento comecial, que fazia os anúncios, e um infografista chamado Júnior. Em 1997, Ivan Maurício deu esse empurrão e criou o setor. Me chamou, chamou Júnior, e eu chamei João Lin. Lá de dentro, consegui tirar Paulo Brasil, que ainda hoje trabalha lá. Fiquei no Diario até 1998, quando Mascaro ainda era estagiário. Daí passei três meses na Folha de Pernambuco, e de lá fui pra Gazeta Mercantil. Não deixou de ser escola, já que não existia escola de desenhista.

E no Pasquim, como você entrou?
Graças ao sustento que ganhava fazendo jornais institucionais, pude colaborar com cartuns para o Pasquim. O Pasquim eu também conheci nessa banca do meu tio. Um dia eu tava lá, e chegou um jornal estranho, com uma entrevista com o Ibrahim Sued. O Pasquim foi a minha escola. O primeiro grau foi o curso de desenho; o segundo foram os jornais locais; o Pasquim foi o meu curso superior (risos). Foi quando comecei a fazer as coisas com uma noção maior de engajamento.


CAPA DO PASQUIM NÚMERO 1

Você colaborou com o Pasquim estando o tempo todo no Recife?
Sim. Eu visitei uma vez a redação do Pasquim no Rio de Janeiro. Fui pro Rio com meu material de quadrinhos pra ver se publicava um livro, intitulado Know-RAL. Não consegui, mas conheci Ziraldo, Jaguar, Millôr…(risos). Logo depois, quem chegou foi José Lewgoy. Presenciei a secretária chegando com um pacote de envelopes com o material censurado. Eles ficaram indignados.


RAL AO LADO DO BOI MISTERIOSO, SUA CRIAÇÃO MAIS FAMOSA, E QUE GANHOU UM BONECO GIRATÓRIO NO FIHQ

Qual é a história do Boi Misterioso?
Mais uma vez, Ivan Maurício (risos). Ele estava como editor do Diário da Noite, mantido pelo Jornal do Commercio – que era um Folha de Pernambuco da época. Ele chamou a mim, Paulo Santos e Bione, e disse: “vocês vivem reclamando que não tem espaço pra publicar tira. Então vamos publicar”. Nenhum deles fez, e então pensei: “é a minha chance”. Comecei a rabiscar, pensando no bumba-meu-boi que eu via no interior, e pensei: “é um bom personagem”. Mas eu não sabia a parte toda do folclore do boi. Um dia estava conversando com Ivan, e ele tinha um livro de Hermilo Borba Filho com uma parte só sobre isso. Eu peguei o livro – nunca mais devolvi (risos) – e comecei a ver os personagens: o Capitão, a Catirina, dá pra fazer uma brincadeira com isso. E já que estávamos na ditadura, coloquei o Capitão como a autoridade, e o Boi como o povão. Apesar do bumba-meu-boi original ser bem colorido, lá embaixo está alguém, uma pessoa pobre, oculta. Pensei: “vou colocar isso pra frente: o boi vagabundo, com a roupa remendada”.

Quais são seus novos projetos?
Eu acho legal o blog, porque não precisa de editor pra distribuir, não é? (risos) Comecei, mas não amarrei, porque se não alimentar, não tem graça. Quando tiver alguma coisa nova, publico (nota: a entrevista foi feita antes de RAL lançar o blog). Para o ano que vem, pretendo reunir meu trabalho em antologia. Uma vez fiz uma aposta com Clériston*, pra ver quem fazia um livro primeiro. Somos dois preguiçosos!

* Antonio Clériston, autor do projeto HQCD: e o som virou quadrinhos, e chargista diário da Folha de Pernambuco.

Hoje: Palestra sobre humor gráfico e formação do leitor no 9º FIHQ

Em cima da hora: Hoje (quarta), às 19h, haverá uma palestra gratuita sobre o Humor Gráfico e a Formação do Leitor. A palestra faz parte da programação do 9º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco e se dará nas dependências da Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia (Rua do Bom Jesus, 147, Bairro do Recife). Os palestrantes são Carmem Lúcia Bandeira, da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e o professor universitário e artista gráfico Antônio Clériston.

A entrada é grátis.

O estudo desenvolvido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) denominado “Retrato da Escola” aponta o fato de que os docentes que lêem HQs apresentam melhores rendimentos, pois o índice de proficiência dos alunos é superior ao daqueles alunos cujos professores não lêem quadrinhos. Segundo o relatório, este tipo de leitura permite ao professor conhecer o universo dos alunos, se aproximar deles e falar a mesma língua, usando exemplos desse universo como paradigma para as aulas.

*com informações da assessoria de imprensa do FIHQ, Exclusiva BR

Hoje tem novos lançamentos da Livrinho de Papel Finíssimo (Recife)

Corrigindo (e detalhando) o post abaixo:

Hai-Kaidos Volume 2“, de Samuca e Ricardo Mello, será lançado hoje, às 16h, no Bar do Lula (Rua Padre Roma, 722, Parnamirim). Vale a pena visitar o blog do projeto.

Na tarde de hoje, ele estará à venda por R$ 5. Camisetas confeccionadas com reproduções dos textos e desenhos serão vendidas por R$ 15,00. Um kit com livreto, camiseta e mini-pôster sai por R$ 20.

Já o livro de João Lin (sem título) e outro, de Fernando Duarte, (“Corte Digitao“), serão lançados hoje, às 20h, no Bar do Biu (Rua do Sossego, 144, Boa Vista). O preço de cada um é R$ 5.

Se trata de 34 desenhos aditivados por comentários de vários amigos. Entre as participações ilustres estão a dos artistas Clériston, Fábio Zimbres, Neilton (guitarrista do Devotos), Renato Valle, Públius (da banda Azabumba e Forró Rabecado), Rosinha Campos e Braz Marinho.

Os livros estão sendo lançados pela editora Livraria de Papel Finíssimo, o coletivo que produz revistas, livros e zines a baixo custo.

É exemplar ver artistas de porte como os acima publicando material nesse sistema faça-você-mesmo, quase artesanal. Uma luz para que outros, por falta de patrocínio, não deixem seu material parado na gaveta.

Abaixo, reproduzo matéria publicada no Diario de Pernambuco de hoje:

Pequenos prazeres ilustrados
Livretos de João Lin, Fernando Duarte e a dupla Samuca e Ricardo Mello devolvem a graça das velhas (e boas) impressões na máquina xerox
Júlio Cavani
DA EQUIPE DO DIARIO

“É importante que existam publicações de luxo com produção cara, mas para fazer um bom trabalho não é preciso patrocínio ou leis de incentivo”. Esse pensamento do artista plástico Fernando Duarte expressa bem o espírito independente dos três livros de bolso que são lançados hoje no Bar do Biu, impressos com qualidade em uma máquina de xerox, no lema do faça você mesmo. Junto com ele, o desenhista João Lin e a dupla Samuca & Ricardo Mello também criaram seus livretos ilustrados.

Para fazer seu livro, que não tem título, Lin produziu um conjunto de 34 desenhos e pediu para amigos escreverem textos espontâneos que expressassem impressões e sentimentos provocados pelas imagens. Seus traços, que combinam técnicas artesanais e digitais, sem deixar aparente onde começa e onde termina cada uma, são econômicos e labirínticos e se concentram no potencial poético da linha preta sobre fundo branco (e vice e versa).

Entre os convidados que participaram do livro com palavras, que mesmo assim ficaram bastante visuais, estão Clériston, Fábio Zimbres, Neilton, Renato Valle, Públius, Rosinha Campos e Braz Marinho. Em cada página, Lin apresenta um personagem novo, com corpos e rostos cujas formas traduzem seus estados de espírito.

Corte digitao, de Fernando Duarte, é uma espécie de caderno de anotações do artista. Se seus quadros já costumavam ser divididos em retângulos preenchidos por pequenos desenhos, o formato limitado da publicação ficou perfeito para seus seres imersos em reflexões sobre a vida cotidiana e as questões essenciais do ser humano.

Oportunidade – A liberdade de expressão é o que mais chama atenção em Corte digitao, que se parece com um diário de esboços. Fernando diz que está com pouco tempo para produzir seus quadros, mas não pára de desenhar e tem centenas de imagens para mostrar, então o recurso do livrinho se mostrou oportuno para compartilhar essa produção com o público. Só de rostos, o artista tem um caderno com mais de 200. Ele diz que não conseguiria ser cartunista porque seu traço é solto demais e nãosegue regras de organização narrativa.

Hai-kados 2, de Samuca (desenhos) e Ricardo Mello (texto), é formado por ilustrações simples que acompanham poemas simples. A lógica da economia de informações que se abre para múltiplas interpretações se manifesta tanto nas imagens quanto nos versos. Seus pequenos poemas ilustrados são como lampejos de idéias mínimas que podem se maximizar nas interpretações do leitor. Juntos, eles dois já fizeram sete livros, incluindo o primeiro Hai-kados.

“A gente só tá fazendo isso porque rolou uma ação coletiva. Cada um no seu canto não faria esse negócio”, admite Lin. Os três trabalhos foram impressos pela Livrinho de Papel Finíssimo Editora, que funciona na mesma Rua do Sossego onde se localiza o Bar do Biu. A noite de autógrafos começa às 20h, mas antes, às 16h, Samuca e Ricardo também lançam Hai-kados 2 no Bar do Lula, em Parnamirim. Além de assinarem os livros, todos eles prometem fazer desenhos nas contracapas para tornar único cada exemplar.

Serviço
Lançamento dos livros de João Lin, Fernando Duarte e Samuca & Ricardo Mello
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Bar do Biu (Rua do Sossego, 144, Boa Vista)
Informações: 3222-6422

Lançamento de Hai-kados 2, de Ricardo Mello & Samuca
Quando: Hoje, às 16h
Onde: Bar do Lula (Rua Padre Roma, 722, Parnamirim)
Informações: http://www.hai-kados.blogspot.com