A partir de crise conjugal, “A Separação” projeta tensões do Irã

Um ano após ganhar o Urso de Ouro em Berlim, o filme iraniano A separação estreia no Cinema da Fundação (Recife). Orientais o acusam de submissão à narrativa do Ocidente. Entusiastas celebram a crise do casal Nader e Simin como uma história universal. Indicado ao Oscar de melhor produção estrangeira, não será surpresa se o filme dirigido por Asgar Farhadi (À procura de Elly) seja o contemplado pela Academia.

O mérito de A separação está nas sutilezas e em representar as tensões de um país através da intimidade de duas famílias. Ambientado em Teerã, A separação trata de um impasse entre Simin (Leila Hatami), que quer sair do país para proporcionar mais oportunidades à filha Temeh (Sarina Farhadi). Seu marido, Nader (Peyman Moadi), concorda, mas não pode acompanhá-la, pois seu pai está doente. Em busca do divórcio, eles procuram o tribunal.

A tomada de posição é requisitada já antes dos créditos, em cena em que o casal discute o divórcio. De frente para o casal, a câmera está fixada (e nos coloca) no lugar do juiz. Sem a esposa em casa, Nader contrata Razieh (Sareh Bayat) para cuidar do pai, que sofre do mal de Alzheimer. Grávida, Razieh só anda de burca e liga para o disque-Alcorão quando fica em dúvida sobre a conduta, como, por exemplo, se é permitido trocar as calças molhadas do pai de Nader. Um acidente coloca a sua família em conflito com a de Nader e expõe as peculiaridades de uma nação islâmica.

O Globo de Ouro obtido mês passado e um possível Oscar para A separação podem parecer convenientes para os interesses ocidentais na assim chamada primavera árabe. Se o filme tem méritos artísticos e afinidades o suficiente com o cinema hollywoodiano, razões geopolíticas não faltam para que ele receba a estatueta. No entanto, apesar de conter criticas ao aparentemente inabalável regime iraniano, o filme foi rodado sob sua autorização. Uma contradição e tanto, para um país supostamente radical.

(Diario de Pernambuco, 25/02/2012)

Estreia // Invasão do mundo: batalha Los Angeles, de Jonathan Liebesman


Um pouco mais de pudor ideológico e bons roteiristas cairiam bem

Alienígenas implacáveis dominam a Terra, destroem cidades inteiras, ameaçam acabar com a vida humana. Guerra dos Mundos? Independence Day? Sim e também Invasão do mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles, EUA, 2011), a nova superprodução a glorificar a supremacia do exército norte-americano.

Cada época reedita invasores de outro planeta de acordo com a paranoia da vez. Se um dia eles representaram a ameaça comunista, hoje estão mais para o terrorismo pós-11 de setembro. Atacam sem motivo aparente, explicação ou ao menos esboçar a intenção de diálogo. Ao espectador, resta acompanhar a resistência voraz do destacamento de mariners liderados pelo sargento Nantz (Aaron Eckhart), tipo durão, patriota, que joga granada com uma mão enquanto protege criança inocente com a outra.

Aos que procuram alguma novidade, resta o deslumbre tecnológico provocado pelo formato de captação e exibição 4k, duas vezes superior à resolução Full HD, disponível em três salas do Recife: Kinoplex Recife 1, Tacaruna 1 e Plaza 5. Nelas é possível enxergar a invasão com precisão microscópica, como no momento em que milhares de naves se unem para formar uma única superestrutura voadora.

Sucesso comercial nos EUA, o longa de Jonathan Liebesman funciona bem como showroom de novas possibilidades do cinema digital. É uma pena, mas ao fim da projeção, fica a sensação de não ser nada que vá para além disso.

A não ser o game que foi lançado semana passada.

(Diario de Pernambuco, 18/03/2011)

Estreia // "O golfinho – a história de um sonhador"

Antes mesmo do sucesso do simpático Flipper, a presença de golfinhos como personagens do cinema fazia a cabeça da criançada. É nesse nicho que aposta a animação O golfinho – A história de um sonhador. O longa adapta livro homônimo de Sergio Bambarén sobre um golfinho adolescente e sonhador chamado Daniel Alexandre (voz de Marcos Mion na versão brasileira), que decide abandonar seu grupo e descobrir o mistério dos sete mares. A mensagem? “Siga os sonhos e escute a voz do coração”.

(Diario de Pernambuco, 09/10/2009)

Cinema // Roteiro da semana no Recife

No Recife, o fim de semana começa com quatro estreias. A animação Tá chovendo hambúrguer, a ficção Gamer (censura 18 anos) e os nacionais Salve geral e Apenas o fim.

Recomendo Salve geral, Anticristo, O grupo de Baader Meinhof e Garapa, que estreia domingo, às 12h10, na Sessão de Arte do UCI Plaza e segunda, às 19h, no UCI Tacaruna. O ótimo francês Bem-vindo continua a carreira no Multiplex Boa Vista hoje, às 21h e amanhã, às 11h.

No Cineclube Dissenso (Cinema da Fundação), a raridade da vez é Z00 (A Zed & two noughts, Inglaterra, 1985), de Peter Greenaway. Será amanhã, às 14h, com entrada franca.

Tá chovendo hambúrguer é a aposta do cinemão comercial. Fenômeno de bilheteria nos EUA, onde estreou há duas semanas. Conta a história de um inventor que colocou uma máquina de fazer comida no céu. Mexe com a preferência gastronômica americana por pizza, sorvete e sanduíches. No Recife, o desenho estreia em cinco salas 2D e na Box 3D, até ontem ocupada por Up – altas aventuras, que continua de vento em popa em sete salas.

Anticristo continua firme, ocupando a maioria dos horários do Cinema da Fundação. No entanto, o longa de Lars Von Trier não durou mais do que duas semanas no Multiplex Recife.

Vida curta teve Pacto secreto que, apenas uma semana após a estreia, regrediu para duas salas em horários restritos.

Quatro filmes saem de cena no fds: A garota de Mônaco (que volta segunda no Cinema Apolo), A pedra mágica, High School Band e Juízo final.

Veja roteiro completo aqui.

Estreia // "Salve Geral", de Sérgio Rezende

Em 2006, dois dias de terror mostraram a força do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa cujos tentáculos alcançaram mais do que as autoridades puderam imaginar.

Transformada em filme por Sérgio Rezende, a história ganha contornos de drama e ação.

Drama de Lúcia (Andréa Beltrão), a professora de piano que faz de tudo para salvar Rafa (Lee Thalor), o filho único que acaba de ir para a cadeia.

A ação fica por conta dos bandidos, que incendiaram ônibus e lojas, atiraram em policiais e delegacias e promoveram o maior engarrafamento da história de São Paulo.

Não bastasse o interesse espontâneo pelo tema, Salve geral (Brasil, 2009) estreia hoje nos cinemas do país com status de brasileiro favorito ao Oscar 2010.

A chance de ser indicado é pequena, pois a trama envolve certo nível de violência que os membros da Academia de Hollywood costumam rejeitar. Até lá, a bilheteria agradece o impulso extra.

Leia matéria completa sobre o filme aqui.

(Diario de Pernambuco, 02/10/09)

Estreia // "Gamer", de Mark Neveldine e Brian Taylor

Com a estreia de Gamer (EUA, 2009), o ator Gerard Butler estrela simultaneamente duas produções em cartaz (a outra é comédia romântica A verdade nua e crua).

Dirigido pela dupla Mark Neveldine e Brian Taylor, o filme é uma ficção futurista em que condenados à prisão participam de um sangrento e gigantesco videogame online, em que são controlados por jogadores de todo o mundo.

Após certo número de vitórias e mortes, é possível conseguir a liberdade. No entanto, o prisioneiro Kable (Butler) quer virar o jogo contra seu criador, Ken Castle (Michael C. Hall).

Atenção: a administração do grupo Severiano Ribeiro acaba de comunicar que Gamer está censurado para menores de 18 anos, devido a cenas de assassinato e mutilação.

(Diario de Pernambuco, 02/10/09), com alterações

O poder da bandidagem

Sérgio Rezende está de volta às telas de cinema com Salve geral (Brasil, 2009). Agregador de grandes audiências, o diretor de Zuzu Angel (2006), Guerra de Canudos (1997) e O homem da capa preta (1986), apenas para citar seus filmes mais assistidos, nos oferece mais um produto de apelo certeiro. Estrelado por Andréa Beltrão e Lee Thalor, o filme dramatiza para as massas episódio recente em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) colocou São Paulo em estado de sítio. Ele estreia nacionalmente sexta-feira, sob a aura de ser o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2009.

Sob o signo da Globo Filmes, a indicação pode ser entendida pela adequação de Salve geral ao padrão da imagem “brasileira” consumida pelo mercado estrangeiro. Não é acaso a semelhança temática e visual com dois outros filmes made in Brazil: Carandiru (2002) e Tropa de elite (2007). A exemplo destes, a narrativa faz um retrato da vida nos presídios e da rede de corrupção e violência ligada a diferentes esferas da polícia e governos. De forma que a possibilidade de “saber” (o filme é de ficção, é bom lembrar) como o PCC aterrorizou o país devem garantir que, mesmo desprovida de qualquer novidade, a produção esteja entre as mais assistidas do ano.

Rezende apresenta o PCC de forma plausível, como uma rede que seduz e incorpora, que age voraz e irreversivelmente no vácuo deixado pelo estado na luta pelos direitos dos detentos. “Paz, justiça, liberdade”, mesmo que na base da bala.

Para narrar o dia em que São Paulo parou (a frase de impacto foi adotada para a campanha de divulgação), Rezende optou por unir a estrutura dos filmes de ação com o drama familiar vivido pela viúva Lúcia (Andréa Beltrão) e seu filho, Rafa (Lee Thalor). Eles incorporam um fenômeno cada vez mais comum, o da classe média falida que se muda para a periferia. Já na primeira noite suburbana, Rafa se mete em confusão e mata alguém por acidente, em público. Sentença: oito anos de prisão.

Inconformada, Lúcia tenta libertar o filho a qualquer custo e com isso recuperar o que lhe resta de sentido na vida. Termina por se aliar à Ruiva (Denise Weinberg), advogada aparentemente disposta a ajudar, mas que é, na verdade, membro-chave do PCC. Lúcia reluta, mas termina por realizar pequenos serviços. “Não é nada que não se faça nesse país todos os dias”, argumenta Ruiva. Enquanto isso, relegado à superlotação de uma cela de triagem, Rafa compra por R$ 500 o direito a habitar um cubículo menos insalubre. Sem querer, o “playboy” se torna mais um “irmão” do crime.

Mãe – Ao longo da trama, o papel de Lúcia cresce em importância. Ao contrário da maioria das mães que sofrem com os filhos encarcerados, seu biotipo classe-média é essencial para gerar identificação e comoção na plateia. Sob a fantasia de estar fazendo o melhor pelo filho, ela abandona seu papel de vítima pobre para se envolver até a cabeça com o crime organizado, que providencia a ela estabilidade financeira, social e até afetiva (ela se torna namorada de um dos líderes do PCC).

Quanto à performance de Beltrão, basta dizer que é onde está uma das qualidades do filme. Outra está na reconstituição, passo a passo, dos eventos que precederam o inferno em que São Paulo se tornou nos dois dias em que a bandidagem mostrou seu maior poder: o de transformar uma megalópole em cidade fantasma.

(Diario de Pernambuco, 30/09/09)

Do terrorismo enquanto expressão da liberdade

Estreia hoje, no Cine Rosa e Silva, O grupo de Baader-Meinhof (Der Baader-Meinhof Complex, Alemanha, 2008), de Uli Edel. Indicado ao Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro, a produção mistura elementos de ficção com arquivos de época para reconstituir o período de dez anos em que a Facção Exército Vermelho aterrorizou os alemães com assaltos, sequestros e bombas. O filme capta o clima de revolta social que desembocou nos manifestos de maio de 68 e é apresentado como a versão cinematográfica definitiva sobre o assunto. Vigoroso, ele retoma com propriedade a linhagem do thriller político, gênero cujo maior representante é Costa-Gavras (Z, Estado de sítio).

Ao longo da projeção, fica clara a simpatia de Edel e Stefan Aust (autor do livro no qual o filme se baseou), que se revelam fascinados pela personalidade dos rebeldes e sua busca pelo prazer e anarquia. Filhos do nazismo, se recusam a assistir passivamente a conivência da Alemanha com o imperialismo americano.São herois jovens, corajosos, pulsantes, imprevisíveis. Já os representantes do poder instituído, atrás de óculos, ternos e barrigas proeminentes, são óbvios, chatos e impregnados de moral e bons costumes. Todos, exceto Horst Herold (Bruno Ganz), o chefe da polícia que planeja com astúcia o desmantelamento do grupo.

O filme começa em 1967, a propósito da visita do Xá do Irã Reza Pahlevi à Alemanha Ocidental. Um grupo se mobiliza num protesto pacífico, que logo vira pancadaria e morte com a conivência e participação da polícia. A jornalista de esquerda Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) presencia tudo e escreve seus manifestos radicais. Visita na prisão a estudante Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek), namorada de Andreas Baader (Moritz Bleibtreu), o líder agregador revolucionário. Lá, é convocada a sair da teoria e abandonar seus medos burgueses.

Quando Baader é capturado, Meinhof ajuda na fuga e entra com os dois pés na RAF, que passa a ser conhecida pelo nome da nova dupla. Baader, objetivo, agressivo e cativante; Meinhof, a intelectual que pega em armas, empresta a fama obtida na imprensa e dá estofo teórico às ações cada vez mais violentas e fora de controle. Para eles, roubar um banco é “desapropriação dos inimigos do povo”.

Não demora para o governo mobilize um aparato de guerra contra os militantes, já associados à organizações árabes pela libertação palestina. Há uma sequência na Jordânia, onde os jovens branquelos e indisciplinados recebem treinamento para combate. No entanto, a sanha anarquista em desafiar a ordem fala mais alto. Censurados por praticar o nudismo no teto do alojamento, respondem de forma insolente: “transar e atirar é a mesma coisa”.

A certa altura de um interrogatório, Baader aponta o lucro obtido com o terrorismo como uma de suas causas. Eis a ponte que conduz ao 11 de setembro e seus nefastos desdobramentos. Como o próprio Costa-Gavras afirmou em sua visita ao Recife, durante o último Cine PE, “numa sociedade onde não há possibilidade de mudança da forma democrática, provavelmente a única maneira de fazê-lo é pelo terrorismo”.

(Diario de Pernambuco, 25/09/09)
*com acréscimos

Estreia // Pequenos invasores

Pequenos invasores (Aliens in the attic, EUA, 2009), de John Schultz, é a mais nova produção a unir crianças e aliens, combinação certeira no cinema americano desde Contatos imediatos do terceiro grau e ET – O extraterreste.

Só que aqui o tom oscila entre comédia e aventura infanto-juvenil. Ashley Tisdale, a Sharpey de High School musical, é a protagonista da história sobre uma família em férias que, após receber extraterrestres pelo telhado, precisa defender o planeta de uma invasão, com a ajuda de um alienígena bonzinho.

O filme foi escrito e produzido por Mark Burton, criador de Madagascar e Wallace e Gromit – A batalha dos vegetais.

Estreia // Pacto secreto

Pacto secreto (Sorority row, EUA, 2009) é um remake de The house of the sorority row (1983), nunca lançado no Brasil.

Ele vem na onda de filmes de terror atualizados dos anos 80, neste caso, um slasher movie, subgênero que coloca mulheres seminuas nas mãos de psicopatas assassinos como Jason e Freddie Kruger.

As mulheres da vez são as jovens Cassidy (Briana Evigan), Jessica (Leah Pipes), Claire (Jamie Chung), Ellie (Rumer Willis, filha de Demi Moore) e Megan (Audrina Patridge). Irmãs de uma fraternidade universitária, elas passam a ser perseguidas por uma figura misteriosa um ano após ocultar o cadáver de Megan, que foi morta durante uma brincadeira numa festa.

O que vem a seguir, como era de se esperar, é bastante sangue.

Estreia // Jogando com prazer

Jogando com prazer (Spread, EUA, 2009), de David Mackenzie, é um filme sobre o mundo de sexo e dinheiro que Hollywood oferece para pessoas bonitas e ambiciosas como Nikki (Ashton Kutcher). O jovem hedonista usa de seu talento com mulheres para viver com luxo em Los Angeles.

Com Samantha (Anne Heche), sua última conquista, ele ganhou tudo que sempre sonhou. Ela parte para uma viagem e confia sua mansão a Nikki, que resolve dar uma festa. Porém, ao conhecer a garçonete Heather (Margarita Levieva), a situação se inverte. Ele tenta, mas não consegue resistir à sedução da garota, que passa a dar as cartas em sua vida.

Tela Grande (estréia): "Quarteto Fantástico e Surfista Prateado"

Adaptação dos quadrinhos para o cinema, o Quarteto Fantástico chega ao segundo longa, bem mais de acordo do que no desastroso debut, em 2005. A estréia nos cinemas brasileiros é neste fim de semana. Assim como o antecessor, “Quarteto Fantástico e Surfista Prateado” (Fantastic Four: the rise of Silver Surfer), é um filme bastante conservador na forma, mas que pode funcionar positivamente para todas as partes envolvidas. Os fãs, que podem curtir os heróis com som e movimento; os neófitos mais jovens em férias escolares, ansiosos por filmes de ação, raios e muita quebradeira; e os bolsos dos produtores – continuações quase sempre são fruto de pesquisas de mercado que apontam lucro certo.

O novo longa dirigido por Tim Story (Táxi) não é tão bom quanto Homem-Aranha e X-Men (outros títulos da Marvel Comics), mas consegue ser melhor do que o antecessor, lançado em 2005. A história ganhou mais ritmo e humor, e os efeitos especiais, bastante melhorados.

Contextualizando: Reed Richards (Ioan Gruffudd), Susan Storm (Jéssica Alba), Johnny Strom (Chris Evans) e Ben Grimm (Michael Chiklis) são quatro cientistas-astronautas que, durante uma missão, acidentalmente receberam uma chuva de raios cósmicos. Com isso, ganharam superpoderes colaterais: Dr. Fantástico se estica como borracha; o Coisa é uma criatura de pedra; o Tocha-Humana pega fogo e voa; e a Mulher-Invisível, bem, fica invisível. Como heróis, salvam a Terra repetidas vezes. O preço é a perda do anonimato e do sossego.

O novo filme começa com o casamento de Richard e Susan, ameaçado por perturbações climáticas geradas por uma forte radiação. Descobrem que a ameaça é o Surfista Prateado, que veio anunciar a chegada de seu mestre Galactus, o devorador de mundos. De forma que entra em cena o Exército americano, a convocar o Quarteto para uma associação com seu maior inimigo, Victor Von Doom (Julian McMahon), o Dr. Destino.

Juntos, tentam reverter o poder cósmico do Surfista, sem saber que seu chefe é que é o verdadeiro problema. No meio do quebra-quebra, dá pra entender um pouco de origem do personagem: que seu nome é Norrin Radd, e que deixou-se escravizar por Galactus,
desde que seu planeta natal fosse poupado. Sua concepção visual está impressionante, mais até dos que nos quadrinhos. A altivez de sua postura, por exemplo, comunica bem o espírito do personagem, digno, consciente e quase sempre acima do bem e do mal. Seu olhar, amargurado, solitário, completa a composição com chave de ouro. Um sinal de que seu longa solo, previsto para 2009, deve acertar no ponto.

Os acontecimentos se desenrolam de forma frustrante, tendo em vista a história em quadrinhos original que inspirou o roteiro (The Galactus Trilogy ). Quem leu, sabe do que estou falando. O temido Galactus, por exemplo, não entra em cena uma vez sequer. Dr. Destino, vilão tipicamente soturno e quase sempre estático, não deveria “pilotar” a prancha do surfista.

É importante dizer o que já parece óbvio: o Surfista, uma animação digital, é melhor do que todos os outros atores juntos, mais o roteirista, o diretor, e a equipe toda. Uma pena que o tom filosófico-existencialista, marca registrada de suas histórias, se resumiu à frase: “Sim, nós sempre temos uma escolha”. Felizmente, isso vale para o próprio filme.

Tela Grande (estréia): "13 homens e um novo segredo"

Já nos estilosos créditos iniciais, “13 homens e um novo segredo” (Ocean’s Thirteen) não esconde a que veio: angariar muito dinheiro, como um dos tantos caça-níqueis instalados num cassino de luxo, cenário principal do filme. A receita é tão infalível que, no momento em que escrevo este texto (27 de junho, 14h48), ele figura em segundo lugar na lista dos mais vistos no Brasil (só perde para Shrek Terceiro).

Ao contrário do que ostenta o infeliz título traduzido para o mercado nacional, não tem segredo, nem mistério. É só juntar atores estelares, cenários suntuosos, figurino de capa de revista, e música supercool. A superprodução, dirigida por Steven Sodebergh, é um filme com muita chinfra. Como uma boa casa de jogos de Las Vegas deve oferecer, é claro.

A estética retrô anos 60 paga tributo ao filme que deu origem à série. O primeiro “Ocean Eleven” foi feito em 1960, com Frank Sinatra no papel de Danny Ocean, o líder dos golpistas. Sinatra que, aliás, está presente não só numa seqüência musical, mas também como personagem desta nova empreitada.

Para colocar a coisa de forma econômica (até para não revelar muito a história), a trama gira em torno de um cassino cinco estrelas e um suposto código de honra, que proibiria a trapaça entre aqueles que um dia apertaram a mão do velho cantor de olhos azuis. O bom humor e as cenas grandiosas entretém até o final, mas o efeito não dura mais do que cinco minutos após a projeção.

Hoje vivido por George Clooney, o malandro-golpista-bem-vestido Danny Ocean parece estar enfadado, burocrático. Assim como seus 12 companheiros (o novo integrante é um antigo inimigo cooptado), e o antagonista interpretado com exageros por Al Pacino. Talvez seja hora da franquia parar, pois insistir no mesmo golpe pode pegar mal com o espectador.

Tela Grande (estréia): Extermínio 2

O título original, “28 weeks later” (28 semanas depois) é auto-explicativo para a seqüência do filme “Extermínio” (28 days later). O primeiro, dirigido por Danny Boyle, mostra o que aconteceria se fosse disseminado na Inglaterra um vírus com o poder de transformar pessoas em zumbis sanguinários.

Extermínio 2“, a cargo Juan Carlos Fresnadillo (e produzido por Boyle), retoma a narrativa quando a cidade britânica começa a voltar ao normal, ainda que sob a vigilância do exército norte-americano. Os minutos iniciais enfocam no drama de uma família sobrevivente. Os filhos, Tammy e Andy ( Imogen Poots e Mackintosh Muggleton) se alegram em reencontrar o pai (Robert Caryle) e a mãe (Catherine Mccormack).

É através desta mãe portadora, mas imune ao vírus, que a epidemia volta às ruas, mobilizando franco atiradores, seguidos de fogo e bombas de gás, fazendo Londres arder em chamas novamente. Para representar os ataques do ponto de vista dos infectados, a câmera se movimenta de tal maneira que parece ter sido colocada na mão de um Diabo da Tasmânia. Um filme de terror OK.

Tela Grande (estréia): Zodíaco, de David Fincher

Downey JR. e Jake Gyllenhaal: grandes atuações

Jack o Estripador, o primeiro serial killer a virar celebridade, era inglês. Apesar disso, a fama obtida pelo maníaco naquela época não é nada se comparada com a obsessão norte-americana em torno do tema. Gente maluca que sai matando existe em qualquer lugar, mas é nos EUA que eles alcançam status de efêmeros popstar. Um deles, surgido em San Franscico no fim dos anos 60, se auto-batizou Zodíaco, se comunicava por complexos criptogramas enviados para a imprensa, e acaba de ter sua história recontada com competência no novo filme de David Fincher (“Clube da Luta“), que estréia hoje nos cinemas do Brasil.

Subgênero recorrente na indústria hollywoodiana, os filmes sobre serial killer quase sempre usam a mesma fórmula para produzir tensão no público, e podem ser tão ou mais numerosos do que os casos reais. No suspense “Zodíaco” (Zodiac, 2007), Fincher volta ao tema, já trabalhado em “Seven – Os Sete Pecados Capitais“, só que menos apelativo, sem tantos clichês. O diretor fez um filme investigativo, sóbrio e de marcha lenta, ambientado em sua maior parte dentro de uma redação de jornal.

Zodíaco nunca foi capturado, apesar de todas as evidências apontarem Arthur Leigh Allen como o matador. Nesse processo, o jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr., em grande interpretação) e o policial Dave Toschi (Mark Ruffalo) vêem suas carreiras escorrer ralo abaixo. Aos poucos, Zodíaco sai de cena, mas o cartunista político Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), o cartunista político fissurado em decifrar códigos obscuros, decidiu continuar a busca de evidências. Autor de sete livros sobre serial killers, ele dedicou dois deles para o Zodíaco. Ele acredita que, usando como precedente o exemplo de um casal de históriadores que decifrou – antes do FBI, CIA ou Nasa – as mensagens do Zodíaco publicadas nos jornais, algum espectador consiga solucionar os códigos em aberto e, quem sabe assim, encerrar o caso.

O encadeamento cerebral e a longa duração (mais de 2h30), características constantes nos trabalhos de Fincher, caem como uma luva como representação do cansaço e frustração decorrentes de um caso nunca resolvido. Sem clímax ou redenção, este quebra-cabeça infinito guarda seu talento na estética estabelecida, atuações instigantes, e uso de uma métrica linear de narração. Fincher aprendeu com mérito a lição de Alan J. Pakula (“Todos os homens do presidente“), Sidney Lumet (“Um Dia de Cão“) e do mestre maior, Alfred Hitchcock. A trilha sonora, uma seleção de vigorosos temas de rock’n’roll do período, é outro ponto positivo deste filme nada comum.

300 de Esparta: divagações sobre a suposta "fidelidade" do cinema aos quadrinhos


“Fidelidade” é uma palavra que tem sido repetida orgulhosa e infinitamente por Zack Snyder, diretor do filme “300“, inspirada na graphic novel homônima de Frank Miller. Muito bem divulgado pela imprensa, “300” está à disposição do público desde ontem, em 550 salas brasileiras. Por um lado, vitória para os quadrinhos, arte geralmente diminuída, aqui enobrecida pelo tratamento de luxo e evidência nunca desfrutada em sua centenária trajetória.

Por outro, problemas no tocante ao processo de adaptação me saltam aos olhos. Nas cenas acima, não resta dúvida. “Igualzinho”, não é?

Não é bem o caso da pintura abaixo, veja bem como os espartanos foram retratados:

Nada tão “macho” quanto os guerreiros de Miller.

Enquanto escrevia uma crítica de “300” para o site da Continente Multicultural, me questionei bastante sobre a utilização da linguagem dos quadrinhos no cinema. Naturalmente não cheguei a muitas conclusões. Como explicar a artificialidade e falta de fluidez de filmes como “300”, meu caro Watson? Foi inevitável, enquanto assistia ao filme, fiquei o tempo todo comparando: “nossa, é igualzinho mesmo!”.

Bom, tenho que admitir que a cópia transposta por Snyder é muito bem feita. Realmente, o filme conseguiu manter intacta a estética original. Não tão obsessivamente quanto Robert Rodriguez e o próprio Frank Miller fizeram em “Sin City“, clonagem quadro-a-quadro que chega a dar náuseas após duas horas de projeção. “300” utiliza mais recursos de cinema, graças a Zeus.

Talvez as melhores adaptações dos quadrinhos para o cinema sejam as assumidamente traduzidas para a linguagem audiovisual, ou seja, são cinema antes de tudo. Tomem, por exemplo, os filmes de super-heróis. Eles parecem bem resolvidos quanto a isso. Neles, a fidelidade está em, durante o processo de tradução estética entre uma linguagem (HQ) para outra (cinema), preservar as características dos personagens, o contexto em que foram criados, enfim, sua essência. Filmes como “Ghost World”, “Hulk”, “Homem-Aranha”, “X-Men” e “Quarteto Fantástico” vem fazendo isso muito bem.

Claro que não é o caso de invalidar experiências como “300” e “Sin City”. Elas não são meros subprodutos das HQs. Pelo contrário, apontam para um diálogo de linguagens onde só o equilíbrio pode gerar bons frutos. Quando este for alcançado, teremos filmes bem mais interessantes de se assistir. Um bom exemplo neste sentido é o não tão recente “American Splendor” (Robert Pulcini), que conta a história do roteirista de quadrinhos Harvey Pekar.

Júlio Bressane, em seu ótimo livro-ensaio “Cinemancia”, trata do processo de tradução de uma forma mais livre e essencial. De uma língua para outra, analisando o caso de São Jerônimo, que converteu a Bíblia do Sânscrito para o grego. E da literatura para o cinema, exemplificando com sua então recém lançada adaptação de Machado de Assis, “Brás Cubas”. Quem assistiu ao filme, sabe que ele é uma viagem de sons e luzes ao universo machadiano. Nem de longe passa por uma transposição literal de diálogos e descrições de ambiente contidos no romance original. O sentido e a maneira machadiana de olhar para a realidade, no entanto, brilha no filme inteiro.

Isso porque para Bressane, a recriação é imprescindível no processo de tradução. Tanto que seu Brás Cubas reinventado para o cinema é diametralmente oposto (e infinitamente superior) ao interpretado por Reginaldo Faria no filme de André Klotzel, que se dispôs a adaptar “fielmente” o livro de Assis. O máximo que uma obra assim pode atingir é o da reverência ao original. Um culto que termina em si, que não extrapola como arte.

De volta aos espartanos, o “fiel” (como um escravo?) diretor Snyder demonstra com orgulho ter reproduzido a luz, a textura, os diálogos, enquadramentos, exatamente como na HQ original, esta servindo como o mais perfeito storyboard do planeta. Um sinal de respeito e tributo, mas também de engessada submissão, característica limitante do potencial que um bom filme pode atingir.

Caro Watson, onde está Wally (Snyder)? Cadê o seu olhar como tradutor?

Por fim, como bem provou Mary Shelley, ao criar seu Frankenstein há quase dois séculos, encerro com a máxima nada matemática: a soma das partes nunca é igual ao todo.

Animação na tela da Fundaj

A partir desta semana, o Quadro Mágico passa a publicar a programação do Cinema da Fundação, sala que desde 1997 vem oferecendo aos cinéfilos do Recife uma, digamos, alternativa ao que passa nas salas comerciais. A começar por este que vos escreve, tantas vezes salvo por filmes como Touro Indomável, Funny Games, 2001, Invasões Bárbaras, Dançando no Escuro, Irreversível, Caché, etc, etc, e bote etc. nisso!

Ano passado, graças ao patrocínio da Chesf, a sala – e o público – ganhou o tratamento que merece: equipamento, climatização e poltronas de primeira, mais a reforma na estrutura.

A novidade mais recente é a aquisição do equipamento de projeção digital, que passa a funcionar este mês de março. Um sistema que desobriga aos cinemas se prenderem a títulos distribuídos em película. Agora, um filme pode ser exibido a partir de um HD, internet ou sinal de satélite.

A estréia da semana é

Scanner Darkly, de Richard Linklater, prossegue com a técnica iniciada pelo diretor em 2001 no filme Waking Life, a rotoscopia, técnica que transforma cenas “live action” em desenho animado ultra-realista. Desta vez, em corpos de gente famosa como Keanu Reeves (acima), Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Rider.

Abaixo, a programação completa:
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CINEMA da FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO

Promoção: Diretoria de Cultura – Rua: Henrique Dias, 609, Derby 3073.6688 e 3073.6689 -cinema@fundaj.gov.br – Ingressos: R$ 6,00 (inteira) – R$ 3,00 – (acima de 60 anos/estudantes)

Semana 11

Programação de 23 a 29 de março de 2007

Lembramos que Todas as Quartas-Feiras, Professor apresentando documentação tem entrada franca no Cinema da Fundação, via “Sessão Bossa Mestre”

Pro Dia Nascer Feliz (Brasil, 2006). De João Jardim. Depois de investigar o olhar no bem sucedido Janela da Alma (lançado no Recife em 2002 pelo Cinema da Fundação), o cineasta João Jardim registra o adolescente brasileiro e sua relação com a escola. São meninas e meninos, ricos e pobres, em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros (Pernambuco, Rio, São Paulo), em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial da formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades no país a partir da realidade escolar. Prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2006.

Exibição em digital / Tela Plana / Dolby SR / 88 min. / Copacabana Filmes / Livre

HORÁRIO

Sexta (23mar): 17h / 18h45
Sábado (24mar): 18h30
Domingo, terça e quinta (25, 27, 29 mar): 16h30
Qua (26 mar): 16h30 / 18h20

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ESTRÉIA

De Richard Linklater – O HOMEM DUPLO (A Scanner Darkly, EUA, 2006). Com Keanu Reeves, Robert Down Jr., Winona Ryder, Wood Harrelson. “A Scanner Darkly” é um ensaio fascinante sobre os estados alterados da mente humana, em especial através de drogas químicas. Ambientado em pelo menos quatro camadas possíveis de realidade, o filme adapta a obra de Philip K. Dick (cujos escritos também inspiraram Blade Runner – O Caçador de Andróides) como uma análise da percepção inusitada do mundo, e a tristeza da mais dura loucura. Com imagens na técnica Rotoscope (animação sobreposta a imagens ‘live-action’) também usada em “Waking Life”, o filme nos leva ainda a uma Los Angeles de um futuro não muito distante, quando um policial usa um novo sistema de disfarce para investigar os seus próprios amigos. E a ele próprio. Seleção Festival de Cannes 2006 – Fora de Competição.

100 min. / Tela Plana / Dolby SR / Inédito / Warner / 16 anos.

HORÁRIO

Sexta, sábado (23, 24 mar): 20h30
Domingo (25mar): 18h20 – 20h30
Ter & Qui (27, 29 mar) : – 18h20 / 20h20
Qua (26 mar): 20h20

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7a. Semana – Sessão Especial
O Labirinto do Fauno (El Labirinto del Fauno, México, 2006), de Guillermo del Toro. Com Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdu. Em 1944, logo após a guerra civil da Espanha, uma menina se muda para o norte do país com seu padrasto e sua mãe grávida. Ela se esconde da dura realidade, criando um mundo imaginário de fadas e contos. Vencedor de 3 Oscars. 16 anos / Warner / 112 min. / Dolby SR / Tela Plana

Horário
Sábado (24 mar): 16h10

Edgar Navarro no Recife

Hoje, às 19h, no Cinema da Fundação (Fundaj – Derby), tem a pré-estréia de Eu Me Lembro, o primeiro longa do diretor baiano Edgar Navarro (O Rei do Cagaço, Porta de Fogo, O Super-Outro). Ele chegou hoje de manhã no Recife para participar da sessão e falar um pouco sobre o filme, vencedor de sete prêmios no Festival de Brasília 2005.

Autobiográfico, Eu Me lembro é uma volta felliniana ao passado do diretor, durante os anos 60 e 70, ou seja, sexo, drogas e muito cinema. O filme entra em cartaz a partir de amanhã (sexta).