Admiráveis baianos


Sessão hoje, no Festival Mimo de Cinema

Quando estreou no Festival de Brasília de 2009, Filhos de João – Admirável mundo novo baiano chamou atenção por vários motivos. Primeiro pela pesquisa de imagens de arquivo sobre os Novos Baianos, costuradas com valiosos depoimentos de seus integrantes: Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Paulinho boca de Cantor, Luiz Galvão, Gato Felix e Dadi. Segundo, pela recusa de Baby Consuelo em participar do filme.

A cantora foi convidada, mas pediu um cachê alto demais para o orçamento do longa, que marca a estreia do diretor Henrique Dantas. Terminou liberando o direito de uso das imagens da época, entre elas, o registro dos anos em que viveram no mitológico sítio em Jacarepaguá, no Rio, onde compuseram o terceiro álbum, Novos Baianos F.C.

O nome do filme remonta à origem do grupo, apadrinhado de João Gilberto (Galvão é seu conterrâneo de Juazeiro), que frequentava o apartamento dos garotos no início dos anos 1970, em sessões de música e fumaça, que resultaram no clássico Acabou chorare.

Mais do que sobre um grupo de músicos, Filhos de João trata dos anseios de uma geração, que por um lado sofreu com a repressão militar e, por outro, experimentou uma vida libertária. O saldo está aí, para ouvir e, agora, assistir.

(Diario de Pernambuco, 06/09/2011)

Pernambucanos faturam prêmios em Brasília

Brasília (DF) – O 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro terminou na última terça-feira, com uma cerimônia de premiação que privilegiou o longa paulista É proibido fumar, de Anna Muylaert. O filme foi contemplado em oito categorias: melhor filme, ator (Paulo Miklos), atriz (Glória Pires), atriz coadjuvante (Dani Nefussi), roteiro (Anna Muylaert), direção de arte (Mara Abreu), trilha sonora (Márcio Nigro), montagem (Paulo Sacramento) e o prêmio da crítica. Uma pré-estreia e tanto – a estreia comercial será em 4 de dezembro.

Entre os curta-metragens, Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, e Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, receberam prêmios principais. O primeiro ganhou prêmios de melhor filme, fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet, também premiado pelo trabalho em Azul, de Eric Laurence). Esta é a primeira vez que Cavalcante, duas vezes eleito melhor diretor em Brasília, vence nessa categoria. Já o crítico e programador de filmes Kleber Mendonça se consagra como realizador – apesar de já ter vencido em Brasília com Noite de sexta, manhã de sábado e Vinil verde, ele nunca colecionou tantas estatuetas e prêmios: melhor filme (júri popular), melhor direção, melhor roteiro, Prêmio Aquisição Canal Brasil, Prêmio Saruê, Prêmio Vagalume e prêmio da crítica. Kleber confirmou que em dezembro o Cinema da Fundação fará uma sessão especial com os quatro curtas locais exibidos em Brasília. Diretor de Faço de mim o que quero ao lado de Sérgio Oliveira, Petrônio Lorena disse que artistas do brega que participam do filme serão convidados a fazer uma performance.

Após a cerimônia, Evaldo Mocarzel, eleito melhor diretor pelo longa Quebradeiras, evocou não somente mineiros como pernambucanos como vanguarda do cinema nacional. “Da mesma forma que o documentário mineiro está bombando, Pernambuco continua imbatível na ficção”. Para o ano que vem, ele pretende apresentar o novo filme, São Paulo Cia de Dança, no festival É tudo verdade. Assim como em Quebradeiras, ele investe na estética sensorial e radical que explora imagens de composição rigorosa e trilha de áudio desprovida de palavras. E quer voltar a Brasília com Cuba libre, um “doc gay almodovariano”.

Merecido o destaque para o longa Filhos de João – admirável mundo novo baiano, que recebeu o voto do júri popular, prêmio especial do júri oficial e troféu Vaga-lume, concedido por integrantes do projeto Cinema para Cegos. Com depoimentos generosos de Tom Zé, o filme foi de longe o mais querido do festival. “A todos os filhos de João espalhados por aí, crentes de que podemos fazer algo diferente, porque o mundo está muito chato”, disse o diretor estreante Henrique Dantas. Representando o grupo na noite de terça, Moraes Moreira cantou, declamou poesia e disse que o sonho dos Novos Baianos não acabou. “Ele continua no filmes, nos filhos, nos shows de cada um de nós, através do som dos ‘novos novos’ baianos”, disse o compositor.

* O repórter viajou a convite do festival

(Diario de Pernambuco, 26/11/2009)