Cineclubismo busca seu QG

Encaixotados, cerca de 3 mil livros e revistas sobre cinema aguardam para ser descobertos. Eles foram cedidos em maio, pela Cinemateca Brasileira, à Federação Pernambucana de Cineclubes. A maior parte do presente é de periódicos: edições da revista American Cinematographer, da francesa Cahiers du Cinéma, da italiana Bianco e Nero e das brasileiras Cinejornal e SET. Entre os livros estão História do Cinema Brasileiro, de Maria Rita Galvão e exemplares da Coleção Ensaio. Sem local fixo para organizar o acervo, a organização, que representa 30 cineclubes do litoral, interior e Fernando de Noronha, decidiu pleitear sede própria, onde pretendem abrir uma biblioteca especializada em cinema aberta para consulta pública.

O acervo fazia parte do catálogo de obras duplicadas da biblioteca da Cinemateca, sediada em São Paulo. Em visita ao Recife, Adilson Mendes, do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira conheceu Gê Carvalho, presidente da Fepec e promoveu o intercâmbio. “Percebi o engajamento da Fepec e achei que ela poderia transformar esse acervo duplicado em algo construtivo”, disse Mendes.

Acumulado por décadas, o acervo da Cinemateca Brasileira é um dos maiores do país. Parte dos filmes, cartazes e fotos está digitalizada e disponível, em caráter experimental, no site do Banco de Conteúdos Culturais. Títulos de livros e periódicos podem ser consultados no site da instituição. Desde 2001, quando se instalou na Vila Mariana, ela passou a trocar exemplares duplicados com bibliotecas parceiras. “O caso da Fepec é específico. Encontramos na doação uma forma de incentivar a fundação de uma sede”, diz João Pedro Moraes, gerente da Biblioteca Paulo Emílio Salles Gomes, da Cinemateca.

Enquanto o QG não vem, a Fepec usa como base para reuniões a residência de seu presidente, que também serve de central para os 200 filmes que disponibiliza para filiados. Os livros permanecem nas caixas em que foram enviados, longe das condições ideais de conservação.

Fundada em 2008 durante encontro no primeiro Festival de Triunfo, a Fepec quer organizar e fomentar a atividade, em crescimento no estado. Estima-se que atualmente existam cerca de 100 cineclubes em Pernambuco, a maioria com incentivo do poder público federal, estadual e federal. “Em Pernambuco temos o governo como aliado e isso é motivo de inveja em outros lugares do país”, diz Carvalho, que desenvolve um sistema digital que monitora a atividade no estado. “Agora temos como dimensionar periodicidade e público das sessões”. De acordo com Carvalho, cinco estados brasileiros vão replicar este modelo de relatório.

A Fundarpe, que apoia a Fepec desde sua criação, dispôs de uma sala para servir de base aos cineclubistas, mas a oferta foi refutada. “Somente uma sede pode suprir nossa necessidade estrutural”, diz Gê Carvalho, que justifica a decisão enumerando necessidades administrativas, possibilidades formativas e utilidade pública, como uma sala de exibição e o espaço para a biblioteca. Para ele, convênios com órgãos públicos e privados podem viabilizar o projeto.

Ponto de encontro – Em setembro, o Recife será ponto de encontro de cineclubes do mundo inteiro. Cerca de 500 pessoas estarão reunidas em torno de dois eventos: a 28ª Jornada Nacional de Cineclubes e um encontro da Federação Internacional de Cineclubes, da qual participam mais de 30 países. Segundo João Batista Pimentel Neto, secretário do Conselho Nacional de Cineclubes, esta será a primeira assembleia do gênero em um país não-europeu.

Pimentel diz que o encontro nacional coroa a retomada do processo de articulação do movimento cineclubista, iniciado em 2004. Hoje, o Brasil conta com aproximadamente 1.200 cineclubes. “O foco será na educação e na democratização do acesso aos bens audiovisuais. Vamos fazer um balanço dos últimos anos, eleger uma nova diretoria e estabelecer novas perspectivas”. O local dos encontros deve ser definido com a Fundarpe, que ao lado do Ministério da Cultura, apoia os eventos.

(Diario de Pernambuco, 24/07/2010)

Edital público em avaliação

A Fundarpe convoca o segmento do audiovisual para participar de fórum sobre o edital que regulará a segunda etapa do Funcultura 2010-11. O encontro será hoje, das 16 às 19h, no auditório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan (Rua Benfica, 1150 – Madelena). O objetivo é que produtores contribuam para aperfeiçoar as regras que determinam a seleção de projetos.

A ser lançado no fim de julho, durante o Festival de Triunfo, o novo edital teve recursos elevados para R$ 8 milhões. Se somado com os R$ 6 milhões do ano passado, este é o maior investimento de recursos públicos estaduais na cadeia produtiva do audiovisual de Pernambuco ou de qualquer outro estado do Brasil.

O curto intervalo entre o anúncio dos selecionados pelo edital anterior e o anúncio do novo levou a Fundarpe a organizar uma reunião única, com participação direta dos produtores. “Geralmente esse processo dura quatro meses. No ano passado, foram mais de dez reuniões”, diz Carla Francine, da coordenadoria de cinema da Fundarpe. “Diante da urgência, um encontro coletivo pode ter um retorno mais efetivo”.

Para Cynthia Falcão, presidente da seção pernambucana da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD/PE, um dos pontos críticos a serem discutidos na reunião de hoje é a lacuna que permite filmes que ainda não foram rodados a captar verba para a fase de finalização. “Na maioria dos editais, há é preciso apresentar o material bruto para obter a finalização. No último edital do Funcultura, filmes que não chegaram a esse ponto foram selecionados, enquanto outros que já estavam com o material gravado nem chegaram à defesa oral”.

Outro ponto a ser defendido pela ABD é o estabelecimento de um teto para produtos para TV. “Foram poucos aprovados esse ano e alguns projetos bons ficaram de fora porque estavam muito acima do valor disponível. Um limite, talvez a partir da média desse ano, resolveria isso”. Já Carla Francine defende a existência de uma justificativa escrita para projetos que chegaram à defesa oral e não foram aprovados, como forma de satisfação ao produtor.

Já o cineasta Jura Capela defende a criação de um mecanismo que controle o número de projetos aprovados pela mesma produtora ao longo dos anos e a especificação dos critérios técnicos e estéticos que levam à aprovação de um projeto. “Existem produtoras com mais de dez projetos aprovados em editais de 2008 pra cá. Além disso, outros projetos são aprovados nas mesmas categorias por anos consecutivos. E os critérios técnicos e de temática devem ser claros para o júri, mas não para os realizadores”.

Cine + Cultura amplia alcance no estado

A partir de agora, associações culturais como Maracatu Piaba de Ouro, N.A.V.E, Mulheres de Ibimirim, Artistas Populares de Sertânia e Artistas Plásticos de Fernando de Noronha passam a ter ao menos uma característica em comum. Eles fazem parte do grupo de 46 entidades que se tornaram pontos de exibição de filmes, com o aval do Ministério da Cultura, através da ação Cine + Cultura. Realizado em parceria com o governo do estado, o resultado foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. Os aprovados recebem kit com câmera, projetor, telão, DVD, rack e um pacote de filmes selecionados pela Programadora Brasil, além de oficinas de capacitação organizadas pela Fundarpe. O objetivo é formar uma rede nacional de exibição alternativa. Com a nova leva, somente Pernambuco contará com 87 pontos. Até o fim do ano, a meta é atingir 2.200 em todo o Brasil.

Coube à presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, contextualizar a ação dentro da escassez de espaços de fruição cinematográfica. Números tristes: 13% dos brasileiros vão ao cinema ao menos uma vez ao ano; mais de 90% dos municípios não têm cinema, teatro ou museu. Silvana Meireles, coordenadora do programa + Cultura, vai além. “A maioria das salas de exibição comercial está em shoppings, que são inacessíveis em vários aspectos”, diz Meireles. De acordo com ela, a ideia é tornar essa rede não só “a maior diversão” (em referência ao slogan da rede de cinemas Severiano Ribeiro), mas um espaço de cidadania. “O Brasil em poucos anos será a 5ª economia mundial, mas atualmente ocupa a 75ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Precisamos diminuir essa diferença e a cultura é vetor importante. Os Cines + Cultura servem para formação de identidade dessa parcela excluída”.

Vestido de vaqueiro, Renato Magalhães, da Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte), não só veio a caráter, como soprou seu berrante antes de cumprimentar as autoridades. Ele é da segunda geração de realizadores da cavalgada anual, no mês de maio. “Antes, a mostra de filmes era itinerante. Agora vamos fazer no memorial, numa sala para 50 pessoas”, diz o jovem vaqueiro. Paulo Lima, que coordena o espaço de exibição do Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto Velho (Olinda), diz que com o novo acervo será possível renovar a programação, até então restrita a 40 DVDs oferecidos pelo Banco do Nordeste. Outros que comemoram são Fernando Carmino e Jorge Costa, da Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos, pois a sala de 120 lugares que administram passará a ter tela grande e projetor apropriado para exibir filmes.

Mas nem todos estavam felizes após a cerimônia. Arimatéia Martins, da Associação Cultural Vida é Uma Arte, veio de Floresta para constatar que seu projeto não foi contemplado porque duas propostas foram feitas para o mesmo espaço, o Cine Teatro Recreio (90 anos de construção, 160 lugares, 14 anos fechado). A proposta dupla resultou na anulação de ambas. “Há três anos realizamos sessões quinzenais no cinema, pois o equipamento é emprestado”. Com o kit Cine + Cultura, afirma Martins, as exibições seriam mais frequentes.

Capacitação – As oficinas de formação começam em maio e fazem parte da contrapartida de 33% oferecida pelo governo do estado, com apoio do Conselho Nacional de Cineclubes e da Federação Pernambucana de Cineclubes. A ementa inclui história e organização do cineclubismo, do cinema, sua linguagem, produção e distibuição. Mas o principal, diz Gê Carvalho, presidente da Fepec, é a educação para o olhar. “Eles aprendem a assistir a um filme e refletir sobre o que foi visto, da técnica ao conteúdo. E aí a consciência se transforma”.

Confira os grupos selecionados

Região metropolitana do Recife
1. Maracatu Piaba de Ouro (Olinda)
2. Centro SUVAG de Pernambuco (Recife)
3. Associação Satélite (Olinda)
4. Unacomo (Olinda)
5. Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos – APTB (Recife)
6. Diálogos (Olinda)
7. Graúna – Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento (Olinda)
8. Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha (Fernando de Noronha)
9. Associação Teatral Ato – Art’s ATA (Itamaracá)
10. Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto velho (Olinda)
11. Movimento de Articulação Ambiental e Cultural- MAAC (Recife)
12. Centro de Atendimento a Meninos e Meninas – CAMM (Recife)
13. Sociedade Cultural Pernambuco na Estrada (Recife)
14. Nave- Sociedade de Arte e Tecnologia (Recife)
15. Laboratório de Intervenção Artística – Laia (Camaragibe)
16. Lar de Sandro (Recife)
17. Espaço Cultural de Santo Amaro(Recife)

Zona da mata
18. Sociedade de Cultura Artística 22 de Novembro (Paudalho / Mata Norte)
19. Grupo Cultural dos Palmares – Grucalp (Palmares / Mata Sul)
20. Ponto de Cultura Retretas – Filarmônica 28 de Junho (Condado / Mata Norte)
21. Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Vicência / Mata Norte)
22. Associação Cultural dos Mamulenguieros e Artesãos de Glória do Goitá (Glória do Goitá / Mata Norte)
23. Centro de Educação Musical de Joaquim Nabuco (Joaquim Nabuco / Mata Sul)

Agreste
24. Grupo de Apoio aos Meninos de Rua – GAMR (Gravatá / Agreste Central)
25. Cia. de Eventos Lionarte (Limoeiro / Agreste Setentrional)
26. Associação Caruaruense de Ensino Superior – Asces (Caruaru / Agreste Central)
27. Associação do Comércio da Indústria e Agroindustrial de Garanhuns (Garanhuns / Agreste Meridional)
28. Centro de Criação Galpão das Artes (Limoeiro / Agreste Setentrional)
29. Sociedade Musical Padre Ibiapina (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
30. Associação de Desenvolvimento e Assistência Social de Taquaritinga do Norte – Adastaq (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
31. Centro de Artesanato Tareco e Mariola de Belo Jardim (Belo Jardim / Agreste Central)
32. Associação Capoeira e Taekwon-do: O pé do clã (Brejo da Madre Deus / Agreste Central)

Sertão
33. Associação e Movimento Comunitário Aliança (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
34. Federação das Associações Comunitárias do Cedro – Faced (Cedro / Sertão Central)
35. Associação dos Artesãos e Artistas Populares de Sertânia (Sertânia / Sertão do Moxotó)
36. Associação Nação Coripós (Santa Maria da Boa Vista / Sertão do São Francisco)
37. Associação de Arte e Cultura de Jatobá (Jatobá / Sertão de Itaparica)
38. Instituto Chico Torres (Salgueiro / Sertão Central)
39. Jovem Sertão (Petrolina / Sertão do São Francisco)
40. Associação Cultural, Artística e Social Raízes (Petrolina / Sertão do São Francisco)
41. Associação das Mulheres de Ibimirim – AMI (Ibimirim / Sertão do Moxotó)
42. Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte / Sertão Central)
43. Maracatu Nação Matingueiros (Petrolina / Sertão do São Francisco)
44. Associação São Geraldo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
45. Associação Solidária de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais (Belém de São Francisco / Sertão do São Francisco)
46. Associação Urucungo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)

(Diario de Pernambuco, 13/04/2010)

Sai a lista do Funcultura 2009

Uma das listas mais esperadas do ano, o resultado do edital 2009 Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. É a primeira vez que o luxuoso espaço é utilizado para essa função, até então realizada no Palácio do Campo das Princesas. A grandiosidade do salão deixou muitos espaços vazios, o que gerou a impressão de que o evento foi pouco prestigiado. Mas foi impressão e só, pois compareceram mais de 200 pessoas, grupo batizado por Luciana Azevedo de “tecido sócio-cultural”. A presidente da Fundarpe conduziu as formalidades, o que incluiu a utilização da tela do São Luiz como suporte para um power point com o balanço do Funcultura durante a gestão Eduardo Campos.

Nesta primeira etapa, R$ 15 milhões foram distribuídos entre 232 projetos, de um universo de 1.185 inscritos. Como sempre, a área de música foi a mais beneficiada, com R$ 3,7 milhões, seguida por teatro, formação e capacitação e artes integradas. As áreas menos disputadas foram ópera, circo, fotografia e artesanato. O menor investimento, para a gravação de CD, contemplou Hugo Linns (R$ 12 mil) e o maior, três obras de restauro e preservação de patrimônio (R$ 200 mil cada). “Temos vários programas de rádio, projetos de formação e patrimônio. Mas acima de tudo, o resultado corresponde à diversidade da cultura do estado”, disse Luciana.

Onze das doze regiões de desenvolvimento foram contempladas. Noventa por cento dos projetos circularão pelo estado, via Festival Pernambuco Nação Cultural, estações culturais e Pontos de Cultura. “Esse foi um dos critérios de seleção. Outro foi a geração de postos de trabalho, mesmo que sazonais, assim como a cana-de-açúcar. Então também vamos fazer esse enfrentamento”. Este ano, os números remetem a 6 mil postos de trabalho temporários e a quase 3 milhões de pessoas com acesso ao resultado dos projetos. “Queremos garantir patamares para a população sair da exclusão cultural, do cais ao Sertão”, disse Luciana.

O atraso do anúncio do resultado (as inscrições se encerraram em 9 de outubro de 2009), justificou Luciana, ocorreu devido a mudanças no processo de seleção e na própria comissão deliberativa, que foi parcialmente renovada. “É mudar o modelo com o carro andando. Não é só selecionar projeto e colocar na rua. Em 2006, a comissão deliberava recursos de R$ 4 milhões. Hoje são R$ 24 milhões, em três etapas. Temos um modelo de avaliação e monitoramento para interagir projetos com um contexto maior”.

Luciana aproveitou a ocasião para anunciar que o Funcultura 2010-2011 será lançado em julho, durante o Festival de Inverno de Garanhuns. Se o resultado não sair ainda este ano, segundo a Fundarpe, a lei garante que os recursos sejam liberados na próxima gestão. Já a segunda etapa do Funcultura 2009, exclusiva para o audiovisual, será divulgada em maio. A terceira, para eventos consolidados, abre para inscrições em maio, com resultado em setembro. Em tempo: também no São Luiz, nos dias 3 e 4 de maio, haverá uma plenária pública de avaliaçãodo Funcultura. Todo o “tecido sócio-cultural” está convidado.

Lista completa dos contemplados pelo Funcultura 2009 aqui.

Polytheama é aberto sem programação


Foto: Priscila Buhr

Goiana (PE) – Boas notícias primeiro: o Polytheama, uma das mais antigas salas de cinema do país voltou a abrir as portas para a população de Goiana. A má notícia é que ainda não há programação definida para ocupar o novo espaço, que assim como o Cine Guarany de Triunfo (inaugurado em 2008), fechará as portas logo após o Festival Pernambuco Nação Cultural.

Por 28 anos, o histórico município da Zona da Mata pernambucana assistiu o sucateamento do centenário edifício da Rua Marechal Deodoro da Fonseca, conhecida como Rua Direita, que desde 1912 funcionava como sala de cinema, já havia mudado de nome para Nacar e Rex, e nos últimos dias funcionou como cinema pornô.

A reinauguração do Polytheama aconteceu na noite da última sexta-feira, com direito a festa com fogos de artifício, música da tradicional Sociedade Musical Curica e presença de representantes dos poderes públicos estadual e municipal, doravante responsáveis pela gestão do espaço. A restauração custou R$ 2,2 milhões aos cofres do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco – Promata.

Em 1982 o Polytheama foi comprado pela prefeitura de Goiana, que somente agora, com a conjugação de esforços do governo estadual, conseguiu ressuscitar o local, que volta mais como espaço de múltiplas funções do que para exibição de filmes. Tanto que a primeira atividade do Polytheama, logo após o discursos das autoridades, foi receber o espetáculo A Chegada da prostituta no Céu. O programa elaborado pela coordenação de cinema da Fundarpe em parceria com a Federação de Cineclubes de Pernambuco ficou para o dia seguinte. A recuperação do Polytheama faz parte de um plano de resgate para antigas salas de cinema do estado. A próxima será o Cine Apollo, de Palmares.

O tom sentimental marcou os discursos das autoridades, que evocaram a memória afetiva dos que viveram os dias de ouro do Polytheama. “É um momento de restauração de nossa história”, falou o prefeito de Goiana, Henrique Fenelon. “É um novo espaço para a democratização da cultura. Todas as rotas libertárias passam pela Zona da Mata”, diz Carlos Carvalho, diretor de políticas culturais da Fundarpe, em referência direta à revolução de 1817, episódio cuja dramatização O nascimento da bandeira, de Ronaldo Correia de Brito, acontecera minutos antes na Igreja do Carmo. Também estiveram presentes Aloísio Costa, secretário executivo da Casa Civil, José Patriota, Secretário de Articulação Regional e Luciana Santos secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.

“Me lembro de ter assistido filmes de Rock Lane, Roy Rogers, O Fantasma e o seriado A Caveira do Terror, que passava todas as quarta-feiras”, disse Antônio Nelson, Secretário de Turismo e Desenvolvimento Artístico-Cultural de Goiana. De acordo com ele, o Polytheama trazia peculiaridades como o apartheid social, que dividia a sala em duas. Do lado da frente, sentavam os que podiam pagar entrada inteira. Os demais, assistiam o filme do lado oposto, que contava com um narrador para traduzir as legendas projetadas ao contrário. Lembrou também de Zefa Deão, personagem constante nas sessões, que se vestia com calça e vestido, chapéu, paletó, usava um cajado e um cachimbo. “Ninguém sentava na primeira cadeira da esquerda, que era reservada para ela”.

Disfarçadamente, a história se repete. Na reinauguração do Polytheama, primeiro entraram as autoriadades; depois, os bem vestidos; para então, pouco antes da peça começar, os demais ocupassem as cadeiras vazias. Enquanto o público assistia a peça do lado de dentro, numa das paredes externas do Polytheama um grupo de jovens do Cineclube Iapoi projetava o curta Engenho Prado – guerra de baixa intensidade. “Nossa crítica não é à ausência de filmes na noite de hoje (sexta), pois eles serão exibidos no sábado e domingo, mas porque nem todos puderam ter acesso ao evento”, disse Caio Dornelas, do cineclube.

A reforma do Polytheama custou quase o dobro do que a do Cine São Luiz (R$ 1,2 milhão) porque o Polytheama estava em ruínas e precisou ser praticamente reerguido, do piso ao teto. Instalações elétricas, hidro-sanitárias, sistema de combate a incêndio e de climatização não foram recuperados, mas substituidos por novas unidades. Para receber espetáculos, há equipamento de cenotecnia (sonorização, projeção e iluminação) e camarins. O complexo ainda conta com salão para exposições, anfiteatro, sala para reuniões e um telecentro com dez computadores, para oficinas e capacitações e um espaço de convivência na cobertura.

Quanto à ausência de programação, Guilherme Almeida, da assessoria de comunicação da Fundarpe, informou que “a ideia é que ele tenha uma pauta frequente, definida em gestão compartilhada entre poder público e população”. O primeiro passo nesse sentido será dado em reunião marcada para 15 de abril.

O secretário Antônio Nelson diz que, diferente do suntuoso Cine Urubatã, o maior cinema do interior do estado (1500 lugares), o Polytheama escapou de virar templo ou supermercado. Agora, diz a Fundarpe, ele se torna “locus” da política pública de interiorização da cultura e atenderá a demanda de 19 municípios da região. Por enquanto, não há previsão para o início das atividades contínuas como, por exemplo, a exibição de filmes. Com 220 cadeiras, a sala de exibição conta com uma tela de 7 x 4 metros, projetor digital de 6500 ansi lumens e som estéreo. Há planos para instalação de equipamento de projeção com código Rain, o que permitirá interligar salas estaduais em rede.

(Diario de Pernambuco, 29/03/2010)  *com acréscimos

Curto-circuito no São Luiz

Nem bem voltou à ativa e o Cine São Luiz voltou a fechar as portas. O motivo é a rede elétrica, que mais uma vez entrou em pane na noite do último domingo, durante sessão de O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira. De acodo com a assessoria de comunicação da Fundarpe, a previsão é que a sala retorne em “curto período de tempo”, provavelmente na semana que vem.

Coincidência ou não, Lula Cardoso Ayres Filho, engenheiro aposentado da Celpe, volta a participar de forma efetiva das atividades técnicas do São Luiz e de outros equipamentos geridos pela Fundarpe, que renovará por mais quatro meses o contrato entre sua diretoria de difusão cultural e a Sétima Arte (empresa de Lula) e reconhece publicamente o valor do serviço especializado que tem oferecido.

“Estamos fazendo uma análise minuciosa da subestação para eliminar a ocorrência que gerou o curto-circuito. Acredito que depois dos reparos, a volta será definitiva”, diz Lula. Ele diz sentir ambiente favorável para a criação da Cinemateca Pernambucana e um núcleo de preservação de filmes, projetos incialmente vinculados ao São Luiz e que devem encontrar abrigo com a reabertura do Mispe. Nunca estivemos afastados. A volta do São Luiz é maior do que tudo. E o mais importante é que o cinema está pronto. Espero que no futuro possamos participar das discussões que decidem a programação dos filmes”.

(Diario de Pernambuco, 12/03/2010)

Cine São Luiz passa por testes

Após uma série de mudanças, o São Luiz abre as portas a partir de hoje. A alteração que interessa diretamente ao público diz respeito à programação, que ainda não está completamente definida. Até sexta-feira haverá sessões gratuitas, às 19h, em regime de teste, para até 500 pessoas.

A bilheteria abre às 17h para a retirada de senhas, por ordem de chegada. O filme inaugural será Baile perfumado. Antecede o curta Nossos ursos camaradas. Anunciado para esta sexta, o longa Lula – o filho do Brasil deve chegar ao São Luiz no dia 22. O atraso preservará o lucro dos cinemas comerciais. Caso o São Luiz insista na ideia de exibir filmes do circuitão, uma sala de 900 cadeiras com ingresso a R$ 4 pode ser uma ameaça. O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira, está na pauta.

A volta soft open do São Luiz é questão de honra para a Fundarpe, que coloca o cinema para funcionar na data prometida, mesmo que sem condições para tanto. A começar pela sub-estação elétrica, que entrou em pane nodia 28 de dezembro e ainda não foi reparada. Assim como a sessão inaugural, as desta semana serão movidas a gerador de energia. Fora do horário dos filmes, o São Luiz continua no escuro, à espera de uma peça que resolverá o apagão. Além disso, com exceção do projecionista, não há pessoal específico para trabalhar no cinema. Não há ao menos bilhetes para serem vendidos. Nesses primeiros dias, senhas serão distribuídas ao público por funcionários, que também farão a limpeza e a segurança.

Nada disso é de estranhar, considerando o histórico de atrasos, conflitos e improvisos que têm marcado a reinauguração do São Luiz. Inicialmente anunciado para o dia 9 de dezembro, o cinema foi inaugurado, somente para convidados, no último dia 28. Não por restrições na agenda do governador ou porque os Irmãos Luimére fizeram a primeira projeção da história neste dia, como a assessoria de imprensa da Fundarpe justificou. Simplesmente a reforma não estava pronta.

Capítulo à parte foi o embate entre Lula Cardoso Ayres Filho – até então tido como curador do São Luiz – e Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe. Sem sequer ter assumido a função, Ayres permanece afastado do cinema que ajudou a restaurar. “Me senti usado. Depois que as licitações estavam prontas, fui gradativamente sendo afastado do projeto. Assinei um contrato de gestão cultural que vale até 19 de fevereiro, mas até agora ninguém me procurou para dizer nada”.

Em resposta ao silêncio, Ayres faz questão de dizer que sua divergência com a Fundarpe é conceitual. “Sonhei em trazer de volta o verdadeiro São Luiz, não só em sua forma física, que servirá de palco das ações da Fundarpe. Primeiro eles queriam inaugurar o cinema com o Festival de Vídeo. Depois, era com a Conferência Estadual de Cultura. Eu me opus a isso, porque antes de tudo, o São Luiz precisa retomar sua identidade”.

No último dia 30, data em que o Diario de Pernambuco publicou entrevista em que Ayres denuncia o escanteio, um comunicado oficial foi enviado à imprensa pela Fundarpe, anunciando a criação de uma curadoria coletiva. Na primeira reunião, semana passada, o grupo declinou da função. Optou pelo caráter consultivo. A escolha e disposição dos filmes agora fica na mão da coordenadoria de cinema da Fundarpe, avalizada pelo conselho consultivo.

Presidido por Carlos Carvalho (diretor de Políticas Culturais) e Carla Francine (coordenadora de audiovisual), o conselho consultivo será formado por doze entidades ligadas ao audiovisual e terá reuniões mensais para discutir as diretrizes não somente do São Luiz, mas dos demais cinemas geridos pelo Estado. Fazem parte da comissão Isabelle Cribari (Fundaj), Paulo Cunha (UFPE), Osman Godoy (Fórum do Audiovisual), Cynthia Falcão (ABD-Apeci), Gê Carvalho (Fepec) , Andréa Mota (Cine Escola), João Jr. (ABPA), Adelmo Aragão (Diretor de Difusão Cultura da Fundarpe) e Geraldo Pinho (Mispe). Não há representantes da prefeitura do Recife.

Uma das primeiras ações do comitê foi nomear Geraldo Pinho como consultor técnico e Cristiano Régis como gestor administrativo. “O trabalho derestauração está muito bem feito. O São Luiz está um brinco. Agora precisamos criar uma rotina de cinema, estudar a dinâmica do centro e fazer do São Luiz o cinema que a cidade merece”, diz Pinho.

Programação

Terça-feira (12)
Nossos ursos camaradas (2009, 12 minutos), de Fernando Spencer
Baile perfumado (1996, 93 minutos), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas

Quarta-feira (13)
Até o sol raiá (2007, 12 minutos), de Fernando Jorge e Leanndro Amorim
Orange de Itamaracá (2006, 78 minutos), Franklin Júnior

Quinta-feira (14)
Ave Maria ou mãe dos sertanejos (2009, 12 minutos), de Camilo Cavalcante
KFZ-1348 (2008, 81 minutos), Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso

Sexta-feira (15)
Cachaça (1995, 13 minutos), Adelina Pontual
Deserto feliz (2007, 88 minutos), Paulo Caldas

(Diario de Pernambuco, 12/01/2010)

Mais três patrimônios vivos

Maestro Nunes, o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, e o Clube Indígena Canindé do Recife são os três novos Patrimônios Vivos de Pernambuco. O título foi concedido ontem, pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe. Significa que a partir de agora eles receberão do governo de Pernambuco bolsas vitalícias mensais no valor de R$ 750 (pessoas físicas) e R$ 1,5 mil (grupos culturais). Como contrapartida, os eleitos se comprometem a manter preservadas as manifestações as quais representam e transmitir seus conhecimentos em eventos e programas de ensino ligados à Fundarpe.

A premiação chega em boa hora, já que o carnaval está chegando e os três eleitos estão diretamente ligados à festividade. Autor de Cabelo de fogo, Maestro Nunes já está com vários frevos prontos para fevereiro. Sua sede continua no segundo andar da Federação Carnavalesca (Pátio de Santa Cruz), onde ensina os segredos do frevo.

Dona Olga, a matriarca do Estrela Brilhante soube da notícia através da reportagem do Diario. “Agradecemos pelo presente”, diz, com alegria. Em homenagem a Dona Emília, a boneca da agremiação, haverá queima de fogos na virada do ano. “Ela é quem ganhou o prêmio. Ela manda, a gente só administra”, diz Gilberto Batista, filho de Dona Olga e porta-estandarte do maracatu. Batista disse que pretende economizar o dinheiro das bolsas para que o Estrela tenha um ônibus próprio e deixe de depender de políticos e órgãos públicos para fazer as apresentações em outras cidades.

Mais antigo maracatu em atividade – mês passado completaram-se 185 anos desde que o avô de Dona Olga passou a liderar o grupo, na Ilha de Itamaracá, o Estrela Brilhante aos poucos vai ganhando reconhecimento oficial. Pelo Goveno Federal, ele recebe recursos e equipamentos como Ponto de Cultura. No entanto, na esfera municipal, Batista diz que não há apoio algum. “A Prefeitura de Igarassu não chama a gente pra nada. No Recife, fomos sorteados para abrir o Carnaval no Marco Zero, mas os outros maracatus protestaram alegando que somos de outra cidade. Mesmo com Igarassu sendo parte da Região Metropolitana, fomos cortados da programação”.

Com 120 membros, o Canindé do Recife é o mais antigo caboclinho do estado e vai completar 113 anos no próximo mês de março. Até o momento, ele se mantinha com cachês e recursos de editais. Agora, terá estabilidade para investir em mais estrutura para a sede, na Bomba do Hemetério. No próximo domingo, recomeçam os treinos para o Carnaval. “Há cinco anos nos inscrevemos e agora conseguimos. Estou muito empolgada e feliz pelo reconhecimento”, diz Juracy Simões, presidente da agremiação.

Instituída em 2002, a Lei do Patrimônio Vivo objetiva reconhecer e valorizar as manifestações populares e tradicionais da cultura pernambucana. Entre os 21 contemplados estão a cirandeira Lia de Itamaracá, a Orquestra Curica de Goiana e o cineasta Fernando Spencer.

(Diario de Pernambuco, 31/12/2009)

20 anos sem Gonzagão // Nem todos se lembram do Rei do Baião


O caderno Viver encerra hoje a série 20 Anos Sem Gonzagão, que desde o último domingo trouxe matérias, entrevistas e reportagens sobre o Rei e seu legado. Durante cinco dias, conversamos com pesquisadores, ex-parceiros, parentes, “afilhados” e também o herdeiro inconteste, o sanfoneiro Dominguinhos. Fomos até Exu para conferir in loco a falta que seu mais ilustre filho faz. Viajamos ao Ceará, terra de Humberto Teixeira, imprescindível parceiro de Asa branca e outros imbatíveis baiões. Por fim, mapeamos o alcance de sua obra, que transita, impávida, pelo improvável percurso que liga o sertão do Araripe aos clubes noturnos de Nova York.

Consciente do papel de Luiz Gonzaga na construção da identidade nordestina, o governo de São Paulo investiu R$ 1,5 milhão em três dias de homenagens, no Vale do Anhangabaú, centro da capital paulista. A programação contou com 35 shows gratuitos com Dominguinhos, Alceu Valença, Elba Ramalho e Cordel do Fogo Encantado, espetáculos decirco e teatro e barracas de comidas típicas e artesanato. Representado por seus familiares, Gonzagão também recebeu a Ordem do Ipiranga, honraria mais elevada do estado. Mais de 200 mil pessoas compareceram ao evento.

Enquanto isso, em Pernambuco, o poder público tratou os 20 anos sem Luiz Gonzaga como fosse uma data qualquer. No último domingo, o principal programa foi promovido pela Prefeitura do Recife, através do Memorial Luiz Gonzaga, que realizou shows, oficinas e mostras no Pátio de São Pedro. Já o governo do estado apoiou a programação de Exu, realizada no Parque Aza Branca, antiga casa dos Gonzaga. O aporte foi de R$ 30 mil, a pedido da ONG que administra o espaço. Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe, informou ao Diario que a grande celebração está reservada para o aniversário de Gonzagão, no próximo 13 de dezembro, quando o festival Pernambuco Nação Cultural encerra as atividades no Sertão do Araripe. “Esse foi o acerto com a região, discutido em fóruns”, diz Azevedo. Como nas demais etapas dofestival, haverá shows, teatro e mostras de cinema, artes plásticas e fotografia.

Ela explica que a Fundarpe optou por investir na sustentabilidade do Aza Branca, tombado patrimônio estadual na última sexta-feira. O acordo prevê o levantamento do acervo de Luiz Gonzaga em parceria com a Fundação Gilberto Freyre e a recuperação física do imóvel que abriga o museu e a casa onde o artista morou. “Não trabalhamos de forma pontual. Estudamos por dois anos o tombamento. Conseguimos homologar no Diário Oficial no último final de semana”, diz Azevedo, que na mesma visita, oficializou o Ponto de Cultura Alegria Pé-de-Serra, que também funciona no local.

(Diario de Pernambuco, 06/08/2009)

Fundarpe apresenta plano para economia da cultura

A Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural de Pernambuco apresentou seu Plano de Apoio para o Desenvolvimento da Economia da Cultura do Estado, a ser gerido pelo recém-criado Núcleo de Apoio à Economia da Cultura. No evento, realizado na segunda-feira, fizeram as honras, para um público de aproximadamente 100 pessoas, Luciana Azevedo, presidente da Fundarpe e Edgar Andrade, responsável pelo novo núcleo.

Nessa primeira versão, o plano prevê um conjunto de dez ações, entre elas o levantamento do Produto Interno Bruto (PIB) da cultura, algo inédito no estado. De acordo com a Fundarpe, somente em 2008, o investimento feito pela instituição gerou quase 120 mil postos de trabalho temporários, que geraram produtos e eventos usufruídos por 19 milhões de pessoas. Para dimensionar melhor esses números, basta comparar com os 70 mil postos temporários gerados pela economia da cana-de-açúcar no mesmo período. “Não temos uma estimativa de quanto a cultura gera para o estado”, disse Andrade, que por isso pretende fazer um mapeamento da cadeira produtiva da cultura.

Em seu discurso, Luciana ressaltou a necessidade de construir um novo modelo de desenvolvimento. “Alguns têm usado a economia da cultura para desinvestir na cultura, e isso é algo indefensável”. Enquanto Andrade descreve essa primeira versão do plano como “uma provocação”. “Queremos que todo o setor produtivo se envolva, pois essa discussão é muito nova no país, e temos poucas informações e referências. Precisamos da experiência de produtores e artistas para acelerar esse processo”, disse o gestor.

O lançamento, realizado no Cinema da Fundação, ainda promoveu sessão inédita no Recife de Tudo isto me parece um sonho, documentário sobre a vida do General Abreu e Lima, com direção de Geraldo Sarno, e participação do especialista no tema, o professor Vamireh Chacon.

Rodado no Brasil e Venezuela e premiado no último Festival de Brasília, o longa foi exibido como símbolo dos esforços da Fundarpe e Odebrecht (patrocinadora do filme)em inserir o estado no Mercosul Cultural e países da América Latina. A Odebrecht é parceira do Núcleo de Economia da Cultura e apoiará ações desenvolvidas pela Fundarpe. Em fase de planejamento, estão uma missão audiovisual na Venezuela (em parceria com a Ancine) e o intercâmbio cultural com Buenos Aires.

Ao apresentar o filme, Chacon defendeu a entrada da Venezuela no Mercosul. “Se não houver Mercosul Cultural, não haverá o econômico, pois as divergências culturais entre os países são entraves ao comércio”, disse, para então exaltar o pioneirismo de Abreu e Lima na busca desse intercâmbio cultural, até hoje à procura de melhor definição.

Pernambuco // Quarenta e sete projetos aprovados no 2º Edital do Audiovisual

A Fundarpe acaba de anunciar os projetos selecionados pelo Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual. São 47 projetos, que receberão um total de R$ 4 milhões no sistema de patrocínio direto.

Eles foram escolhidos por uma comissão formada por Rosemberg Cariri, Carlos Dowling, Lis Paim, Geyson (Zonda Bez) e Luiz Cardoso Ayres Filho.

Lista completa a seguir.

CATEGORIA CURTA-METRAGEM

Bob Lester – Márcia Mansur de Oliveira

Azul – Set Produções Audiovisuais e Comunicação Ltda.

Poeta Urbano – Antônio Luiz de Souza Carrilho

Café Aurora – Pablo Polo Bezerra Guimarães

Animal Político – Bruno Ferreira Bezerra

Incenso – Ruth Maria Coelho de Pinho

Não me deixe em Casa – Daniel Aragão

Calma Monga, Calma! – Petrônio Freire de Lorena

Homem-planta – Orquestra Cinema Estúdios LTDA.

Dia de Clássico – Rafael Travassos Pires

Cruzeiro – Marcelo Pedroso Holanda de Jesus

JMB, o famigerado – Luci Alcântara

Do Morro – Ekaterina Mykaella Mota Plotkin

CATEGORIA LONGA-METRAGEM

Sangue Azul – Beluga Produções

Roliúde – Cabra Quentes Filmes Ltda.

Dinâmica de Grupo – Orquestra Cinema Estúdios Ltda

Era Uma Vez Verônica – Rec Produtores Associados Ltda.

Carranca de Acrílico Azul Piscina – Rec Produtores Associados Ltda

Um Lugar ao Sol – Plano 9 Produções Audiovisual Ltda.

Febre do Rato – Grupo Parabólica Brasil de Comunicação Audiovisual

História de um Valente – Camará Filmes

O Som ao Redor – Cinemascópio Produções Cinematográficas e Artísticas

Amor Sujo – 99 Produções Artísticas LTDA.

CATEGORIA PRODUTOS PARA TELEVISÃO

Eu Quero Nadar no Capibaribe e Você – 2º Temporada – Alice Frances Tilovita Sicato Chitunda

Mingote – Andre Rodrigues de Souza

Minuto Marinho – Hydrosphera Produções LTDA.

Tereza – Cor na Primeira Pessoa – José Amaro de Souza Filho

Zuleno, O Mestre da Luz – Diego Ramos Medeiros

Rio Doce/ CDU – Adelina Pontual Ferreira

Arabescos Sertanejos – Cabra Quentes Filmes LTDA

Pé na Rua – Cezar Augusto Monteiro Maia

Plano Aberto – Ateliê Produções LTDA

CATEGORIA PERNAMBUCO NAÇÃO CULTURAL

O mestre e a rabeca – Enaile Lima Damasceno

Pernambuco Imortal, Imaterial – Cezar Augusto Monteiro Maia

CATEGORIA DIFUSÃO E FORMAÇÃO

2º Janela Internacional de Cinema do Recife
Cinemascópio Produções Cinematográficas a Artísticas

Play Rec 2009
Oscar Manoel Salazar Malta

Aurora Filmes: Técnicas da Produção Audiovisual Independente – 2ª edição
Sandra Cruz Riberio

Cine Chinelo no Pé
Luiz Antônio de Carvalho Junior

Curta em Curso – Oficina de Realização cinematográfica em Recife e Petrolina
Maria José Pereira

Cinema no Interior
Antônio M. G. de Carvalho Produções Artísticas e Cinematográficas

Tankalé – Formação para o auto-registro audiovisual quilombola
Instituto Nômades

Festival Internacional de Cinema Infantil
B52 Desenvolvimento Cultural

Show Variado
José Rafael Coelho

Tem Preto na Tela
Marileide Alves de Lima

CINECLUBES

Cine Califórnia
Ruth Maria Coelho de Pinho

Cineclube Fernando de Noronha
Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha

Cocada Cineclube
Centro Cultural Farol da Vila

Fundarpe concede autonomia à literatura


Criação de uma pasta específica para o setor, antes atrelado às artes plásticas/gráficas, sinaliza nova disposição do governo com as letras
André Dib // Especial Para o Diario

A notícia ainda não foi divulgada oficialmente, mas desde outubro Pernambuco conta com uma coordenação específica para a literatura. O escritor e jornalista Samarone Lima foi nomeado para a pasta, até então conjugada com artes plásticas e gráficas, sob responsabilidade do artista plástico Félix Farfan. “Muitas pessoas ainda não estão sabendo porque foi uma entrada mansa. Antes de convocar o setor, precisei de um tempo para conhecer melhor a nova casa”, disse Samarone à reportagem do Diario.

A missão do novo coordenador será desenvolver no âmbito da literatura as diretrizes estabelecidas pela política cultural da gestão estadual. Para ele, o desmembramento para uma coordenadoria exclusiva foi um movimento natural por parte da Fundarpe. “O objetivo é colocar a literatura na pauta da sociedade. O estado tem tradição de grandes vôos na literatura, e como não havia uma interlocução específica, esse trabalho estava sendo tocado com certa dificuldade”.

Nascidono Crato, interior do Ceará, Samarone Lima se mudou em 1987 para o Recife, onde se formou jornalista pela Universidade Católica. Na imprensa, foi repórter do Diario de Pernambuco e da revista Veja, entre outros veículos. Como escritor, sua trajetória inclui passagem por pequenas e grandes editoras, onde publicou quatro livros. Outros dois estão em gestação: Adiós Nonino, sobre uma visita recente a Cuba; outro, baseado nas viagens que fez Brasil afora com o espetáculo Nau, de Ariano Suassuna.

Durante as viagens com a trupe de Suassuna, Samarone constatou que a presença de bibliotecas e livrarias nas cidades do interior é praticamente nula. Por isso, um primeiro passo no sentido de interiorizar a ação da coordenadoria será incluir a dimensão literária no circuito Pernambuco Nação Cultural. Enquanto isso, parcerias estão sendo estabelecidas com a UFPE, Companhia Editora de Pernambuco e da sociedade civil, através de ONGs como o Centro Luiz Freire, Pontos de Cultura e bibliotecas comunitárias. “Temos acesso ao registro dos fóruns realizados nas 12 regiões de Pernambuco, e acredito que podemos fazer muito articulando projetos isolados e promovendo encontros estaduais”.

“Sou uma pessoa apaixonada pela literatura. O desafio é transformar isso em políticas públicas, articular parceiros, e pensar projetos”, avalia Samarone. Para chegar a tanto, seu maior trunfo está na valiosa experiência de educador, desenvolvida nas Oficinas da Palavra com jovens do projeto Oi Kabum!. Nada mais emblemático do que o fato dos dois integrantes da nova equipe, Gabriela Alves Lima, 22 anos, e Aldemir Félix, 21 anos, virem justamente desse contexto. “Lá, lidando com alunos que antes odiavam livros, eu vi como a literatura pode transformar a vida das pessoas”, conta o escritor, que pretende interagir em bairros com histórico de violência, como o Santo Amaro, em parceria com o Pacto pela Vida. “Um jovem com um livro de poesia na bolsa está mais protegido”, acredita.

Apesar do orçamento para 2009 não ter sido revelado, Samarone adianta algunsplanos, como a criação dos agentes de leitura (nos mesmos moldes dos agentes de saúde) e do selo Amigo do Livro, que premiará os melhores projetos de leitura com incentivo financeiro para aquisição de acervo. “Se conseguirmos articular esses primeiros projetos, começaremos a respirar literatura e pensar em passos maiores”.

A publicação de livros, que talvez seja a demanda mais forte a ser enfrentada pela coordenadoria, terá regras a serem estabelecidas por um conselho editorial, ainda não definido. “É a maneira mais democrática de não privilegiar ninguém, pois diariamente chegam propostas de todos os tipos”, explica Samarone que, enquanto não conta com um espaço definitivo nos prédios da Fundarpe, informa o email para os primeiros contatos: literatura.fundarpe@gmail.com .

FIHQ começa hoje com premiação, exposição e apresentação circense

O 9º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco começa hoje (domingo), às 16h, na Torre Malakoff (Recife Antigo).

A homenagem deste ano é para RAL (Romildo Araújo Lima), veterano artista gráfico pernambucano que influenciou várias gerações de cartunistas. Ele é o criador do personagem Boi Misterioso, que serve de mascote do FIHQ 2007.

Na ocasião serão revelados os vencedores das cinco categorias da Mostra Competitiva. Cada um ganhará um troféu, o prêmio de R$ 6 mil e terá seu trabalho impresso no catálogo do evento.

Estarão presentes os artistas convidados para formar a comissão julgadora Baptistão (SP), Jota A (MA), Márcio Leite (MG), RAL (PE), os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá (SP), Alejandro Archondo (Bolívia) e Avril Filomeno (peruana radicada na Bolívia), ambos do coletivo de quadrinhos sediado em La Paz, Viñetas com Altura, grupo organizador Encuentro Internacional de Historietas de La Paz, mais os curadores João Lin, Mascaro e Samuca, da Associação dos Cartunistas Pernambucanos – Acape.

Nas várias salas da Torre Malakoff estão montadas exposições da Mostra Competitiva, e espaços individuais para cada artista convidado, o que inclui Nelson Cruz (MG). O mineiro que ilustrou o Moby Dick de Hermann Meville está ausente da abertura, mas participa do evento nas semanas seguintes como palestrante e oficineiro.

Durante a abertura, haverá uma performance especial dos artistas da ONG Arricirco.

Nos próximos finais de semana de setembro haverá artistas da Acape fazendo caricaturas ao vivo e gratuitas.

O FIHQ 2007 é uma realização da Associação dos Cartunistas Pernambucanos – Acape, em parceria com a ONG Auçuba – Comunicação e Educação, patrocinio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe (Governo do Estado), e apoio da Prefeitura do Recife e Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia.

Saiba quem são os convidados do FIHQ 2007

Os jornais do Recife hoje celebram a 9a. edição do “Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco“, o FIHQ-PE, com as seguintes chamadas: “América do Sul é destaque na 9ª edição do FIHQ“, assinada por Júlio Cavani no Diario de Pernambuco; e “FIHQ volta à agenda cultural firme e forte“, escrita por Carol Almeida no Jornal do Commercio.

O motivo é que, junto com o edital que abre as inscrições para o salão do evento, os organizadores do evento revelaram quais serão os convidados a formar a comissão julgadora. Este ano, o FIHQ se realizará entre 16 de setembro e 7 de outubro, no Observatório Malakoff (Praça do Arsenal – Recife Antigo).

Diferente dos dois últimos anos, em que ficaram guardados a sete chaves até a semana que precede a abertura do festival, a lista dos convidados foi divulgada com 45 dias de antecedência, em coletiva de imprensa, na manhã de ontem, no Teatro Arraial (Boa Vista).

São eles: o caricaturista paulista Baptistão, o ilustrador mineiro Nelson Cruz, o chargista maranhense Jota A, o cartunista mineiro Márcio Leite, os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, o artista plástico paraibano Shiko, e o caricaturista e artista plástico boliviano Alejandro Archondo (ou somente ARXONDO, do coletivo de quadrinhos sediado em La Paz, Viñetas com Altura).

O grande homenageado é lendário cartunista Romildo Araújo Lima, o RAL, que ganha uma exposição retrospectiva de sua carreira, que começou nos anos 60, marcando as gerações seguintes de artistas pernambucanos (quando trabalhou na imprensa recifense) e brasileiros (desde os anos 70, quando passou a colaborar com o Pasquim). É de RAL a arte do Boi Misterioso, que será a marca e o troféu do evento deste ano(desenho acima).

Esta comissão julgadora premiará com R$ 6 mil (R$ 2 mil a mais do que no ano passado), o primeiro colocado em cada uma das cinco categorias.

Todos os artistas convidados terão exposições individuais montadas na Torre Malakoff, e provavelmente em outros locais da cidade. Além da exposição dos bolivianos Viñetas con Altura, haverá uma mostra com trabalhos de artistas do Peru, Bolívia, Uruguai, Chile e México.

Em maio deste ano, o Quadro Mágico publicou uma matéria sobre as novidades reservadas para o evento, que vão além da mudança do calendário – as oito primeiras edições do FIHQ foram realizadas sempre entre abril e maio. Para ler, clique aqui.

O FIHQ 2007 é uma realização da Associação dos Cartunistas Pernambucanos – Acape, em parceria com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe (Governo do Estado), e apoio da Prefeitura do Recife e Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia.

Confirmado para setembro o 9º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco – veja as novidades

Boas notícias no mundo das artes gráficas. A organização do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos confirmou sua nona edição, e antecipou algumas novidades sobre o evento que mais atrai visitantes ao Observatório Malakoff. A mudança mais visível é no calendário: o FIHQ foi transferido para setembro, cinco meses distante da época tradicionalmente reservada a ele.

“Nós já queríamos mudar a data há muito tempo. Em abril chove e venta muito, e isso prejudicava as atividades como exposições, feiras de quadrinhos, e palestras de convidados de outros estados e países. Por isso, a época ideal é durante o verão”, explica João Lin, presidente da Associação dos Cartunistas Pernambucanos, a entidade que organiza o festival junto com a Fundarpe.

A confirmação marca o fim das incertezas sobre a continuidade do evento, surgidas com o fim do governo Jarbas Vasconcelos, gestão na qual o FIHQ foi criado. Apesar de ser considerado um dos melhores festivais do país, ele teria condições de se reinventar para se desvincular da imagem associada ao governo anterior?

O novo governo estadual agiu positivamente, e se mostrou favorável à continuidade do festival desde a primeira negociação com a Acape. De janeiro para cá, eles vêm discutindo melhorias no formato do evento, na perspectiva de investir na educação e na interiorização. Ou seja, o FIHQ fica, e a edição deste ano arrisca ser a melhor de todos os tempos.

“A proposta da nova gestão em vincular educação e cultura encaixou com a nossa”, comemora João Lin. Ele adianta que haverá oficinas exclusivas e gratuitas para professores e alunos da rede pública, sobre teoria e prática das artes gráficas, um bom começo para a discussão da linguagem dos quadrinhos em sala de aula.

Outra surpresa em vias de se concretizar é a itinerância das exposições, o que permitirá ao público do interior do estado ter acesso a uma produção mundial até então restrita à capital. “Sempre desejamos isso. É um desperdício ter uma exposição montada e não percorrer outras cidades de Pernambuco”, afirma Lin.

E atenção, artistas: agora, o primeiro lugar em cada categoria ganha R$ 6 mil, R$ 2 mil a mais do que no ano passado. Assim, em termos de $$, o “novo” FIHQ só fica atrás do Salão de Humor das Cataratas do Iguaçu (PR), cujo prêmio é de U$ 10 mil (aproximadamente R$ 20 mil), e se equipara ao Salão Carioca de Humor(RJ).

Na edição de 2006, indicada para o troféu HQ Mix como um dos melhores festivais de quadrinhos do ano, o FIHQ inovou ao abrir no ano passado uma quinta categoria competitiva inédita no Brasil (ilustração editorial), e ousou politicamente ao colocar na mesma comissão julgadora um artista árabe (Naif Al-Mutawa) e um norte-americano (Peter Kuper).

Este ano, as inscrições devem começar em julho, e seguirão abertas durante 45 dias, para as categorias cartum/desenho de humor, charge, história em quadrinhos, caricatura e ilustração editorial. A cada edição, o evento recebe uma média de 400 trabalhos de 20 diferentes países.