Capa da nova Ragu, por Guazzelli


A nova Ragu, por Eloar Guazzelli

Vale a pena reforçar, desta vez com a imagem da capa e mais informações.

Quinta-feira chega o novo volume da Ragu, um dos melhores projetos de quadrinhos e arte gráfica do Brasil.

O lançamento será no Bar Central (Rua Mamede Simões, Boa Vista – Recife), às 21h.

Allan Sieber, Fábio Zimbres e Daniel Bueno são alguns dos colaboradores da sétima edição da coletânea.

No total, são 33 artistas, dez de língua espanhola, egressos da Espanha, Bolívia, Cuba, Peru e Argentina.

Eis a lista completa:

Brasileiros – Allan Sieber, Andrés Sandoval, Daniel Cabballero, Bueno, D’Salete, Guazzelli, Gabriel Góes, Walter Vasconcelos, Silvino, Jarbas, Greg, Mascaro, João Lin, Fábio Zimbres, Fernando Almeida, Joana Lira, Fernando Lopes, Fernando Peres, Kleber Sales, Chiquinha, Caio Gomez, Rodrigo Rosa e Samuca.

Espanha – Àngel de la Calle, Alberto Vazquez, Brais Rodriguez; Bolívia – Joaquin Cuevas, Alejandro Archondo, Al Azar; Cuba – Frank Arbelo; Peru – Jorge Perez, Avril Filomeno; Argentina – Ariel Lopez.

A Ragu 7 estará à venda por R$ 30, no local. E também na rede da Livraria Cultura.

Novos contornos para O pagador de promessas

Não muito tempo depois de encenar a peça O pagador de promessas, em 1960, o dramaturgo baiano Dias Gomes enfrentou a nada sutil censura do regime militar. E pouco adiantou a versão para o cinema, dirigida por Anselmo Duarte, ter sido contemplada com a Palma de Ouro em Cannes, dois anos depois. A vigilância em torno de seu trabalho atingiu inclusive as telenovelas – seu Roque Santeiro amargou dez anos para que fosse liberado pela nascente Nova República.

Filiado ao PCB, Gomes fazia parte de um grupo de intelectuais e artistas, entre eles o conterrâneo Jorge Amado, com clara e quase didática determinação de denunciar injustiças sociais e promover uma mobilização popular. Isso sem o ranço panfletário ou maniqueísta de certas obras “engajadas”.

Se há dúvida, basta conferir a recém-lançada versão em quadrinhos para O pagador de promessas (Agir, R$ 44,90). Nas palavras de Ferreira Gullar, que assina o prefácio da bela adaptação, trata-se de “levar a um público amplo,em linguagem teatral despojada e comunicativa, um tema de grande complexidade ideológica e social”. Nos traços do artista gráfico gaúcho Eloar Guazzelli, a força do texto de Gomes ganha apelo visual inédito nos palcos ou telas (além do cinema, há a minissérie para TV exibida em 1988).

Na HQ (ou graphic novel, como preferem os editores), a história do caboclo ignorante que, para cumprir promessa feita a Santa Bárbara / Iansã, desafia a igreja e a polícia, ganha novos e interessantes contornos. Usando técnicas de nanquim e colorização digital, o desenhista transportou a obra original para uma linguagem pictórica que a aproxima das artes plásticas, e traz em si o frescor de projetos com identidade própria. “Procurei um caminho mais difícil, fugi intencionalmente. Dado o valor desses trabalhos, o peso da tradição poderia me sufocar”, conta Guazzelli, em entrevista exclusiva ao Diario.

Para ele, a via-crucis de Zé do Burro, que após ter seu animal milagrosamente curado, insiste em entrar na Igreja com uma cruz parecida com a carregada por Cristo, é o drama da intolerância e exclusão que não perdeu sua atualidade. “O recente e lamentável episódio da excomunhão da menina violentada pelo padastro é um exemplo do caráter perene desse texto”, acredita o artista.

O tratamento dado a Salvador e seus habitantes é outro ponto positivo, já exercitado por Guazzelli em Florianópolis (sua contribuição para a série Cidades Ilustradas). Uma concepção um tanto subjetiva de representação urbana, hoje desenvolvida em torno da capital boliviana, La Paz (onde esteve a convite do festival de quadrinhos Viñetas con Altura), em material a ser publicado em breve, na próxima edição da coletânea Ragú. “Procurei realçar esse personagem subliminar que é a própria cidade. Procurei inserir tipos humanos e um pouco da paisagem com planos aéreos da cidade. É o espaço que criei para mostrar meu trabalho, que passa longe do registro fotográfico”.

* publicado no Diario de Pernambuco