Como foi: Dia do Quadrinho Nacional em Pernambuco

por Amaro Braga, organizador do evento

Na última sexta-feira, 29 de janeiro, os Pernambucanos comemoraram o Dia do Quadrinho Nacional com uma série de palestras memoriais no Auditório Capiba da Faculdade Maurício de Nassau. O público assim que chegava se deparava com uma exposição em banners retratando as origens das Histórias em Quadrinhos, que finalizava na publicação dos quadrinhos de Ângelo Agostini que marcam a data de 30 de janeiro como dia do Quadrinho Nacional e colocam o Brasil como o 3° pais a produzir a versão moderna das histórias em quadrinhos, muito antes do Yelow Kid nos EUA.

A abertura do evento ficou por conta da conferência de Laílson de Holanda Cavalcanti sobre as sete edições memoriais do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco – FIHQPE, suas inovações estéticas e os ilustres convidados, nacionais e internacionais, com especial destaque para a vinda de Will Eisner. Antes disso, Laílson premiou a platéia com uma excelente retrospectiva de sua trajetória profissional, resgatando na fala, a uma parte significativa dos eventos importantes sobre Quadrinhos, charge e Cartum que ocorreram no Estado e sua influência na introdução de Pernambuco no circuito internacional do humor e dos quadrinhos e que se encontra defasado nos últimos anos pela não continuidade do Festival.

A seguir a desenhista e professora Danielle Jaimes resgatou a recente produção de quadrinhos voltados para a educação e a história de Pernambuco, com a série “Passos Perdidos, História Desenhada” sobre a Presença Judaica em Pernambuco, e o álbum “Heróis da Restauração Pernambucana”, sobre a Capitulação Holandesa. Sua explicação mostrou o resgate que a equipe fez da urbanização dos bairros da cidade, do resgate histórico e cultural.

Depois destas duas falas foi montada uma mesa sobre o Perfil da Produção Atual de quadrinhos no Mercado em várias perspectivas: primeiro com o Grupo PADA – Produtora Artística de Desenhistas Associados, através dos membros Milson Marins e Arnaldo Lúis que compartilharam com o público a trajetória de publicação de seu Fanzine/Revista Prismarte, atualmente na edição de número 51.

Depois foi a vez do professor doutor Henrique Magalhães da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) expor sua trajetória profissional e acadêmica com a publicação de tirinhas de quadrinhos e o estudo sobre os Fanzines, no brasil, França e na Espanha, finalizando sua exposição com o perfil editorial da Marca de Fantasia, única editora especialziadano Gênero quadrinhos do Norte-Nordeste, publicando não só quadrinhos dos amis diversos gêneros, dos independentes aos comerciais, como é a única editora brasileira especializada na publicação de estudos Acadêmicos sobre o Gênero Quadrinhos.

A mesa findou com a fala do quadrinhista Pedro Ponzo, que diferente dos demsi, tem sua produção voltada quase que esclusivamente para o mercado norte-americano. Ponzo dividiu com a platéia a experiência de trabalhar como Ghost (desenhista que não tem o crédito nas publicações e que preparara as páginas para os desenhistas oficiais) até ser reconhecido e assinar a primeira edição publicada nos EUA.

Após a surpreendente visão ampala dos mercado no qual os quadrinhistas pernambucanos estão inseridos, foi avez do professor Amaro Braga, organziador do evento mapear através de imagens a pré-história das histórias em quadrinhos, registrando as cenasq eu incirpiravam alinguagem sequencial nas pinturas rupestres,nos murais egípcios, nos vãos gregos, nos códices Maias e até nas tapeçarias medievais e nos murais romanos, vinculando a História dos Quadrinhos ao panorama da História da Arte universal.

Como previsto, a programação se encerrou com a fala e conversa com a platéia do jornalista do Diário de Pernambuco, André Dib, comentando sua experiência com o jornalismo sobre quadrinhos. Atualmente Dib é o único jornalsita que tem administrado e assinado de forma constante a pauta sobre quadrinhos no Estado.

Novos títulos da editora Marca de Fantasia

A editora paraibana Marca de Fantasia acaba de lançar mais dois números da série Veredas, dedicada a estudos acadêmicos sobre comunicação e artes.

O primeiro título é O documentário paraibano no cinema brasileiro – Mito, reconstituição e ficção em Aruanda (R$ 10), organizado por Lúcio Vilar e Cecília Porto.

O livro reúne artigos dos críticos e cineastas João Batista de Brito, Wills Leal, Jean-Claude Bernardet, Sílvio Da-Rin e Amir Labaki, acerca do cultuado filme do paraibano Linduarte Noronha, que também é nome de festival.

O segundo, O príncipe lê jornais: cotidiano e poder no jornalismo impresso (R$ 14), tem organização do professor da UFPB Wellington Pereira, e é fruto de seus estudos com alunos sobre as mídias e sua relação com o cotidiano.

Os livros estão à venda somente no site da editora.

A Marca de Fantasia é uma editora independente, com base em João Pessoa, PB. Fundada há mais de 10 anos, seu objetivo é publicar e discutir quadrinhos, fanzines, e demais artes gráficas. Recentemente, este blog publicou um post a respeito, com uma longa entrevista com Magalhães.

Sua mais nova série se chama Biografix, dedicada a mestres da HQ e catuns brasileiros. A Caravela, de Nilson; Shima: HQs clássicas de um samurai dos quadrinhos, de Julio Shimamoto; e Você sabia?, de Edson Rontani são os lançamentos mais recentes.

Por email, Henrique Magalhães antecipa os próximos lançamentos:

“O próximo número do Top! Top! trará uma longa entrevista com Edgar Franco, realizada por Michelle Ramos, do sítio ZineBrasil, tratando das investigações desse autor no campo das histórias em quadrinhos eletrônicas e outras áreas de seus estudos. O número seguinte fará uma homenagem a Henfil”.

Professor de comunicação, Henrique disse ao Quadro Mágico que está iminente a criação do Núcleo de Histórias em Quadrinhos na UFPB: “Agora que estamos implantando o Mestrado em Comunicação, ficará mais fácil montar um núcleo de pesquisa em histórias em quadrinhos. Estamos elaborando o projeto, que deve estar pronto neste semestre”.

Marca de Fantasia – exemplo de qualidade e independência editorial

Durante boa parte do dia, Henrique Magalhães trabalha na Universidade Federal da Paraíba, onde dá aula de laboratório de pequenos meios para estudantes de comunicação. Nas horas livres, em vez de descansar, ele começa outro expediente, dedicado a fazer livros e revistas em quadrinhos. Henrique é dono da Marca de Fantasia, a editora independente e absolutamente não-comercial, que há mais de dez anos vem prestando grande serviço aos quadrinhos nacionais.

A Marca de Fantasia começou como fanzine, que circulava em João Pessoa nos idos de 1985. Após voltar da França, onde se pós-graduou no tema, Henrique decidiu ampliar seu trabalho para um projeto editorial mais abrangente, que contemplasse inclusive livros teóricos sobre quadrinhos, fanzines e artes afins.


A NOVA ONDA DOS FANZINES, DE HENRIQUE MAGALHÃES

Para um independente, o catálogo de Henrique impressiona. Dos 70 títulos já publicados, cerca de 50 estão disponíveis em seu catálogo virtual, vendidos ao preço máximo de R$ 15.

Essa fantástica fábrica de revistas em quadrinhos funciona no conforto de um apartamento, na beira mar de João Pessoa. O equipamento – um computador conectado a uma impressora laser, está montado num quarto simples e tranquilo, ideal para a atividade. Nas paredes, estantes revelam o estoque de edições disponíveis para envio imediato. Ao redor há algumas telas, algumas assinadas por Shiko, uma das melhores revelações dos quadrinhos autorais brasileiros dos últimos anos.


MARGINAL, COLETÂNEA DO TRABALHO DE SHIKO EM FANZINES

Além de Shiko, cujo trabalho está na coletânea Marginal, a Marca de Fantasia publicou praticamente todos os artistas paraibanos em atividade: Mike Deodato, Cristóvão Tadeu, Emir Ribeiro, e o próprio Henrique, que além de editor e pesquisador, cria seus próprios quadrinhos.


TOP! TOP! 23 APRESENTA ENTREVISTA INÉDITA COM O GAÚCHO EDGAR VASQUEZ

Semestralmente, o fanzine Top! Top! (o nome vem da onomatopéia feita pelas mãos do Fradinho, o mais sacana personagem de outro Henrique, o grande Henfil) traz uma seleção de quadrinhos que inclui material estrangeiro, além de entrevistas com artistas e estudiosos – as mais recentes são com o paulista Marcio Baraldi, o gaúcho Edgar Vasquez (criador do antológico Rango), o pernambucano Jô Oliveira e o pesquisador paulista Gazy Andraus.


RANGO, UMA DAS CRIAÇÕES DE VASQUEZ

Aliás, dois anos após a morte de Henfil, Magalhães o homenageou fundando a gibiteca Henfil, que veio antes da localizada no Centro Cultural Vergueiro, São Paulo. “Tudo bem, Henfil merece várias gibitecas”, brinca, na entrevista abaixo, concedida pessoalmente, direto de João Pessoa.

O encontro se deu no ano passado, na mesma época do lançamento da Coleção Biografix, dedicada a publicar mestres dos quadrinhos brasileiros. Henrique estava bastante satisfeito em informar que o livro de estréia seria Lugares In-Comuns, de Jaguar, um belo resgate de uma obra há décadas fora de catálogo. Dois dias depois, a decepção: o título deveria ser retirado de circulação, por razões contratuais entre o artista e a editora Desiderata, atual detentora dos direitos de publicação de sua obra. No post abaixo, entre outros assuntos, Henrique fala sobre este frustrante e desnecessário episódio.

Entrevista // Henrique Magalhães: "O quadrinho está deixando de ser um produto de massa para ser uma comunicação dirigida a pequenos públicos"

Como surgiu a Marca de Fantasia?
No início, Marca de Fantasia era um fanzine que eu editei aqui em 1985. Quando eu voltei da França, onde fiz meu doutorado de sociologia comparando o modo de produção entre os fanzines brasileiros, portugueses e franceses, achei interessante fazer um projeto editorial, e não apenas um fanzine. Na França vi tanta coisa, principalmente no meio independente, que eu pensei em adotar essa tendência para os produtos locais. Criar o próprio mercado, independente e específico para a produção nacional. E ocupar um nicho de mercado que não era ocupado pelas editoras comerciais. Que era o mercado das livrarias especializadas, que começava a se expandir. Eu tinha dos EUA, eu vi isso crescendo na França. A idéia não era manter um título, mas um projeto editorial que pudesse publicar a produção nacional independente, os novos autores, dar visibilidade a gente que fica restrita a seus estados, como os produtores de São Luis, Salvador, Porto Alegre, Recife, João Pessoa. E ao mesmo tempo continuar uma produção jornalística, que é o fanzine, com crítica, análise, entrevista.

Daí a editora foi fundada em três linhas: o fanzine Top Top!, que permanece até hoje; os quadrinhos poéticos, que eu reuni numa revista chamada Mandala até o início do ano 2000; e a série Das Tiras Coração, editada com Edgar Guimarães, da revista Quadrinhos Independentes (QI), em Minas Gerais. Cada publicação seria trimestral, o que daria uma por mês. Isso durou mais ou menos um ano.

E os livros teóricos?
Com o tempo, vi que haviam muitos trabalhos acadêmicos sendo feitos por alunos e professores, e que ficavam nas gavetas depois de defendidos. Então eu criei a coleção Quiosque, onde estes estudos são veiculados. É uma coleção de bolso que já tem 18 números de material nacional e estrangeiro. Até hoje continuo lançando livros teóricos, que é o que tem tido maior repercursão dos trabalhos da editora, porque fundamenta outros trabalhos teóricos.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS: ESSA DESCONHECIDA ARTE POPULAR, DO FRANCÊS THIERRY GROENSTEEN – À VENDA POR APENAS R$ 8.

Eles representam que parte de sua produção atual?
Representam mais de 50%, em vendas e títulos disponíveis. Mais do que os quadrinhos. Os álbuns eu lanço mais pelo capricho do que pela viabilidade.

De onde vem esse interesse acadêmico pelos quadrinhos?
Os quadrinhos marcaram a infância de todo mundo. Mesmo quem leu pouco, já passou pelos quadrinhos. E é algo sedutor demais porque mexe com a linguagem própria, que não são as artes plásticas, não é a literatura, é a fusão das duas. Não é cinema, é outra coisa, é outra arte. Isso motiva muita gente. É uma fonte de pesquisa inesgotável.


RISCOS NO TEMPO, DE J. AUDACI: LIVRO-PESQUISA SOBRE A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS PARAIBANOS

Como funciona a produção dos livros, álbuns e revistas?
Produzo conforme a demanda. Todo trabalho é artesanal. Antes eu reproduzia com fotocópias. Mas precisava terceirizar, e não deu pra manter a qualidade. Então comprei uma impressora laser pra fazer o miolo das publicações em casa. Quando vou lançar um livro, faço a capa em off-set, papel cartonado colorido, 200 cópias. E depois faço o miolo conforme a demanda, de 20 em 20 cópias. Todo o trabalho é feito em casa, porque é mais barato para o esquema de pequenas tiragens.

E a divulgação e distribuição?Para divulgar, mando os lançamentos para uma lista de emails, e quando as pessoas acessam o site, acabam se interessando por outros livros. Tem toda uma rede online que faz o círculo de leitores. E cada vez tem mais gente nova procurando a editora, principalmente no meio acadêmico.

Qual a história da Gibiteca Henfil?Foi fundada em 1990, e passou 12 anos no Espaço Cultural José Lins do Rego.

Não tem nada a ver com a gibiteca do Centro Cultural São Paulo, que leva o mesmo nome?
Não. A daqui foi fundada antes (risos). Mas tudo bem, Henfil merece várias gibitecas (risos). Ela foi baseada no meu próprio acervo, na minha coleção. Como eu tinha muita revista, muito fanzine, e não dava mais conta do recado, eu disse: vou socializar isso. E abri uma gibiteca. E ela se transformou num projeto de extensão da faculdade. Mas quem menos dava atenção para a gibiteca era o próprio espaço cultural. A gibiteca circulou em todos os lugares de lá, porque a cada mudança de direção eles tentavam acabar com o projeto, dizendo que era um monte de papel velho. E mudavam para um canto cada vez mais escondido. Briguei com todas as diretorias. Até chegar ao ponto em que eu construí um espaço lá dentro, com a ajuda da prefeitura.

Foi tanto descaso que resolvi tirar a gibiteca de lá. Hoje está no departamento de comunicação da UFPB, que é onde eu trabalho. Eu dou aula nela, atendo aos alunos, mas não está aberta ao público.

Quais os planos para ela?
É continuar no departamento, e servir de fonte de pesquisa. Vou fundar um núcleo de pesquisa em quadrinhos dentro da gibiteca.


LUGARES (IN) COMUNS, DE JAGUAR – LIBERADO ANTES, CENSURADO DEPOIS

Como se deu a censura da reedição do livro de Jaguar, Lugares In-Comuns?
Pela manhã recebi um telefonema da editora da Desiderata, que foi muito indelicada. O acordo com Jaguar houve, sim, há um ano, quando ele morava em Brasília e novamente agora, em junho, por telefone, antes do anúncio do livro. Depois que lhe expliquei que a Marca de Fantasia não tem fins lucrativos e que não se chocava com os interesses da Desiderata, ele concordou que eu fizesse a edição. Enviei-lhe um exemplar já pronto e um modelo de contrato, onde coloco, inclusive, a forma de pagamento dos direitos autorais.

Só que a Desiderata disse que eu desrespeitei o autor, que fiz a publicação sem sua autorização, que não pago o autor. Um monte de desinformação. Liguei pra Jaguar pra tentar resolver o caso e pedir que ele intercedesse pela Marca de Fantasia junto à Desiderata. Ele foi super ríspido, disse que não tinha autorizado nada, que um ano, desde o primeiro contato, era uma eternidade e que ele não permite, de forma alguma que eu prossiga com a edição. Disse até que não tinha mais tido contato comigo, depois de Brasília. Ora, o endereço dele no Rio foi ele mesmo que me deu, quando lhe telefonei em junho deste ano. Certamente ele sentiu a pressão da Desiderata e resolvel voltar atrás, da pior maneira possível. Em vez de assumir o que disse, tentou me chamar de mentiroso e desonesto. Uma coisa realmente triste.

A coleção Biografix continua, não vai parar por isso. Estamos em negociação, eu e Wellington Srbek, para a edição de um livro de Nilson, outro de Shimamoto e mais outro de Edson Rontani. Os autores são muito simpáticos com a proposta da coleção e da editora, mas só farei as edições depois de ter todos os contratos assinados.

Na sua opinião, porque hoje há menos revistas em quadrinhos nas bancas do que 20 anos atrás?
O quadrinho está deixando de ser um produto de massa para ser uma comunicação dirigida a pequenos públicos. A não ser os quadrinhos de super-herói ou os infantis, que realmente são mercados muito amplos. Mas aí você vê gente que tem uma formação literária forte, que está ligada aos quadrinhos, como o Mutarelli, que faz literatura e faz quadrinhos. É um outro ramo, um outro nível de produção.

Claro que as bancas da minha infância havia mais títulos. Mas a gente ta vivendo uma mudança nos meios de comunicação com a informática e com o cinema baseado na informática. Isso de certa forma tira o público dos quadrinhos. Talvez os quadrinhos estejam se tornando um objeto mais de culto, para um público mais adulto, que vai buscar nas livrarias especializadas o seu livro, o seu álbum. Mas sempre vai haver os quadrinhos de massa. Eles sempre vão existir, como o mangá é um fenômeno que não se esperava que acontecesse. Quando as publicações de super-herói entraram em crise, apareceram os mangás, que vendem mais ainda. Não acredito que os quadrinhos no suporte papel vão se acabar.