“Habibi”, a declaração de amor dos quadrinhos à cultura árabe

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Em árabe, “habibi” é o adjetivo mais usado para se referir a quem se ama. Em “Habibi” (Quadrinhos na Cia., 672 páginas, R$ 57), novo romance gráfico do norte-americano Craig Thompson, o amor que protege duas pessoas não diz respeito somente a elas. Nele repousam séculos, histórias novas e antigas, civilizações modernas e ancestrais. A beleza e os conflitos desta descoberta correspondem à criação da vida.

Em seu livro anterior, “Retalhos” (2003), o autor chamou atenção pelo domínio nar­rativo ao desenvolver o mes­mo tema, ambientado no interior dos Estados Unidos, tendo como protagonistas um casal pós-adolescente.

Foram sete anos até chegar nesta segunda obra, que supera expectativas ao explorar a riqueza e complexidade da cultura islâmica. É preciso ressaltar a importância de que esse reconhecimento venha de um artista ocidental, estabelecido no pós-11 de setembro, sinceramente interessado no imaginário árabe a ponto de entrela­çar sua busca criativa na caligrafia das páginas do alcorão.

A religiosidade é fator intrínseco à história de Dodola e Zam, crianças que se unem para sobreviver e se separam por imposições ligadas a escravidão e ao servilismo feminino. Sim, a violência está ali, pesando contra seres frágeis, desde que o mundo é mundo. Resta às vítimas sobreviver e/ou procurar a Deus/Alah, manifestado na natureza. Natureza, inclusive, do próprio corpo, que reproduz a vida. Dessa dimensão (o divino) surge a escrita, conhecimento que salva e ilumina o caminho dos personagens com uma infinidade de histórias. No princípio era o verbo, conjugado em narrativas que refletem, entre outras referências, as mil e uma noites.

Nesse contexto, destaca-se a força das palavras como casulos, habitáveis, promovendo o conforto em momentos de fragilidade.

Em “Habibi”, cada página pode ser contemplada como uma obra à parte. Para compor sua visão romântica do amor, Thompson explora como poucos e amplia limites de uma linguagem quase sempre subutilizada – a das histórias em quadrinhos. Em seus desenhos, ele dá a animais e seres humanos formas cartunescas, enquanto trabalha cenários, objetos, paisagens e símbolos com precisão geométrica. Páginas se tornam painéis, que servem suporte para sua visão da arte muçulmana.

Em determinada passagem, a paixão entre o Rei Salomão e a Rainha Bilqis é traduzida em triângulos que formam estrelas, que se tornam anéis, que derivam para texturas exuberantes. Justapostos, desenhos formam uma narrativa que desnuda camadas de fabulação e fantasia até que a áspera realidade se torne algo suportável.

(Folha de Pernambuco, 15/10/2012)

Harvey Pekar (1939-2010)

Harvey Pekar, criador da série em quadrinhos American Splendor, morreu ontem, aos 70 anos, em sua residência, nos EUA. O corpo do artista foi encontrado pela esposa, Joyce Brabner. A causa da morte não foi divulgada mas, desde os anos 1980, Pekar nunca escondeu suas lutas contra o câncer – o primeiro round gerou o elogiado álbum Our cancer year, inédito no Brasil. Em 2003, Pekar foi vivido no cinema pelo ator Paul Giamatti, no filme American Splendor, dirigido por Robert Pulcini e premiado no Festival de Sundance e Associação dos Críticos de Nova York.

Pessimista compulsivo e mau-humorado, Harvey Pekar nasceu e morreu em Cleveland, cidade conhecida por ter sido onde Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Superman. Nos anos 1970, então arquivista em um hospital, Pekar percorreu o caminho oposto e, sem super-poderes ou qualquer grandiosismo, transformou a si próprio em personagem. Com a colaboração de amigos desenhistas, nascia a série de HQs autobiográficas American Splendor. Seu parceiro mais famoso foi Robert Crumb, cujo talento ajudou a revelar o amigo de Cleveland. Ao longo dos anos, o time de colaboradores cresceu e inclui nomes como Joe Sacco e Alan Moore. No Brasil, o material desenhado por Crumb está reunido na íntegra no livro Bob & Harv – dois anti-herois americanos (Conrad Editora, R$ 33), único título de histórias escritas por Pekar disponível no País.

A seguir uma amostra do trabalho a quatro mãos de Crumb e Pekar.

A História em quadrinhos*

Para os brasileiros, durante décadas, histórias em quadrinhos foram pouco mais do que um passatempo pueril. Com o tempo, e certo esforço das editoras, esse reducionismo provocado pela indústria dos comics norte-americanos foi sendo quebrado. Hoje, o mercado de HQs oferece bem mais do que super-herois, camundongos e outros bichos. Ele reflete uma produção mundial, que utiliza a linguagem peculiar dos quadrinhos para tratar de temas densos e nada engraçados, como a bomba de Hiroshima e o holocausto, apenas para citar dois grandes marcos: Gen, de Keiji Nakazawa, e Maus, de Art Spiegelman.

Após sua publicação, nos anos 1970, os quadrinhos históricos ganharam relevância não somente pelo compromisso social de relembrar fatos importantes do passado, mas pela evidente criatividade de seus melhores autores. De tempos em tempos, há uma onda de boas publicações do gênero, e estamos passando por uma delas. Recentemente, dois bons exemplares vieram à tona, calcados em fatos históricos que marcaram a América Latina no século passado. O primeiro é Chibata! – João Cândido e a Revolta que Abalou o Brasil, da dupla cearense Hemetério e Olinto Gadelha. O segundo é Che – os últimos dias de um herói, obra argentina produzida 40 anos atrás, logo após a morte do líder revolucionário.

Listado no index da ditadura argentina, a versão nacional para Che chegou somente mês passado, e preenche uma lacuna na bibliografia nacional. A HQ, criada por Hector Oesterheld e Alberto Breccia, é considerada uma obra prima não somente pelo caráter político-histórico, mas por narrar a trajetória do personagem com maestria no uso das técnicas de claro-escuro. Além disso, o próprio livro entrou pra história, ao vencer a cruel ditadura argentina. No entanto, o roteirista Oesterheld e todas as suas filhas foram presos, torturados e assassinados pelo regime dos generais. Ao longo do tempo, a dupla tem sido adotada como referência básica por gigantes como Hugo Pratt (criador da série Corto Maltese) e Frank Miller.

Os dois títulos foram lançados pela editora paulista Conrad Livros. “Durante mais de 50 anos, os quadrinhos foi a arte mais censurada do Ocidente. Como eram considerados uma coisa de criança, só se aceitava que tratasse de temas que os adultos julgassem adequados às crianças. Ainda hoje, qualquer quadrinho que trate de temas mais complexos que guerras intergaláticas ou brigas de patos são obrigados a trazer o aviso: ‘quadrinhos adultos’, mesmo que não tenham cenas de sexo ou excesso de violência”, diz Rogério de Campos, diretor da Conrad, que ostenta em seu catálogo outros capítulos da história mundial, como os conflitos no Oriente Médio e leste europeu narrados pelo jornalista gráfico Joe Sacco.

“Creio que os quadrinhos estão vivendo seu momento de libertação. A queda das vendas dos gibis de super-heróis e os outros gêneros tradicionais abriam espaço para outros tipos de quadrinhos. Veio também abaixo aquele muro de preconceito e ignorância que impedia muita gente de perceber que os quadrinhos são uma linguagem artística como outra qualquer, com os mesmos direitos e deveres”, reflete Campos.

Ele conta que a ideia de quadrinizar a Revolta da Chibata, episódio propositadamente obscurescido pela historiografia brasileira, partiu da própria editora. “Nos agrada pensar que Chibata! surgiu em parte como resultado desse trabalho da Conrad de mostrar que quadrinhos podem falar de qualquer tema”, provoca o editor. A aposta deu certo: o projeto é considerado pela crítica especializada uma das melhores HQs de 2008.

Parte do mérito veio da confiança depositada nos artistas convocados para a missão. “A Conrad foi corajosa, ao confiar nos nossos instintos e nos deixando em paz para trabalhar”, conta Hemetério, que desenhou as 244 páginas do livro. “A história brasileira é rica em fatos, mas pobremente documentada. E quando tudo vem à tona, sempre passa um quê de ranço oficial. Quanto mais houver pesquisas e questionamentos, mais os fatos poderão ser analisados à luz da crítica. Os quadrinhos nacionais podem ter um papel relevante nessa divulgação, desde que sejam divertidos e criativos, por exemplo, ao dar voz a quem a história oficial tentou calar, ou mostrar as coisas por outro ângulo”, pensa o artista.

Para ter acesso a informações sobre o levante liderado por João Cândido, o “almirante negro”, o roteirista Olinto Gadelha desenvolveu um cuidadoso trabalho de pesquisa, que se valeu de bibliotecas tradicionais à internet, que para ele foi ótima fonte iconográfica. “Um dos motivos que me atraíram foi o fato de que o público pouco sabe sobre o tema. A visão escolar é muito resumida, e isso simplifica a importância dos eventos de 1910. Por ter sido uma insurreição contra uma forte instituição nacional, e ressaltado o que havia de pior nas relações sociais e raciais da nossa sociedade, o tema sempre foi tratado com reserva. Nestes 98 anos desde os fatos, muitos que ousaram se pronunciar sobre os eventos foram perseguidos e censurados”, afirma Gadelha.

Para o desenhista, o sucesso das HQ sobre temas históricos está na busca dos leitores por melhores exemplos. “Nos faltam heróis. A história do nosso povo é cheia de distorções, ídolos fajutos, feitos atribuídos a quem teve pouca ou nenhuma relação com os mesmos, e muita gente heróica como João Cândido é deixada no esquecimento porque seus atos ou origens iam de contra-mão à norma estabelecida”.

Outro nome que tem se destacado no ofício das adaptações da história para os quadrinhos é o ilustrador, cartunista e quadrinista João Spacca de Oliveira. Nos últimos anos, ele produziu Santô e os pais da aviação, Debret – Viagem quadrinhesca ao Brasil e D. João Carioca, todos pela Companhia das Letras. “Tenho a impressão de que a HQ precisa desses e outros referenciais para ser melhor aceita. Tradicionalmente ela é fruto da indústria cultural, ou seja, é entretenimento descartável. Mas como nos filmes B de Hollywood, surgiram autores que se destacaram e conseguiram fazer evoluir essa linguagem ao estado da arte”, avalia Spacca.

Em meio a efemeridade da imprensa escrita, há que destacar a linha editorial do Diario de Pernambuco, que usa dos quadrinhos para aproximar os leitores dos fatos históricos recentes, como na premiada série sobre Lampião e o cangaço, com texto do jornalista Paulo Goethe e arte de Greg Holanda.

Neste processo em comum a todos os casos aqui descritos, a atualização de um passado “oficial” a partir do olhar de cada autor, os quadrinhos extrapolam a condição de objeto de entretenimento para assumir uma das funções sociais da arte: estimular o pensamento – e por que não? – a ação.

* publicado na revista Continente nº 98 – fevereiro/2009

Fantasma da crise ronda quadrinho nacional


HQ // Com o mercado em ebulição, profissionais dizem que ano será de retração, mas algumas editoras preparam surpresas
André Dib // Especial para o Diario
andrehdib@gmail.com

Há 140 anos nascia a primeira história em quadrinhos produzida no Brasil: As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte, série criada pelo italiano (depois naturalizado brasileiro) Angelo Agostini, e publicada no periódico Vida Fluminense.

Hoje, o caminho inverso foi percorrido: o artista brasileiro Rafael Grampá publicou sua primeira HQ no exterior, para depois conquistar a terrinha com Mesmo delivery (Desiderata), um dos melhores lançamentos dos últimos tempos. O trabalho de estréia rendeu prêmios, elogios e o convite para desenhar o personagem Constantine, criado por Alan Moore com roteiro do celebrado Brian Azarello.

O caso de Grampá contrasta com o espaço reservado à maioria dos autores nacionais, quase sempre espremidos entre editais públicos e a instabilidade de um mercado que investe em novos e promissores artistas, mas que pode estar entrando em recessão. A suspeita é baseada em indícios como o fechamento da Opera Graphica, que há pelo menos 15 anos publicou diversos autores brasileiros. Outros episódios preocupantes: a Conrad, uma das maiores editoras do ramo, teve parte das ações vendidas para poder seguir em frente; Cassius Medauar, responsável pelos quadrinhos da Pixel, pediu as contas (“Acabei não me encaixando mais nos planos da empresa”, escreveu no seu blog); e o editor S. Lobo saiu do cargo que ocupava na Desiderata para criar a própria editora, a Barba Azul.

Para Gabriela Javier, atual editora da Desiderata, o ano será de muita cautela. “As empresas devem preferir projetos de retorno garantido, e o retorno financeiro dos quadrinhos ainda não é o mesmo que o de livros de prosa convencional. Espero que os prêmios – tanto os internacionais quanto o Jabuti conquistado pelo Fábio Moon e o Gabriel Bá pela versão em quadrinhos do Alienista – e a adoção pelas escolas públicas dessas publicações ajudem a rebater os efeitos dessa possível retração”.

Indo pelo caminho inverso, a Companhia das Letras acaba de lançar o Quadrinhos e Cia, selo exclusivo para o gênero. Os planos são os melhores possíveis: ao lado das HQs Jimmy Corrigan, de Chris Ware, e American Born Chinese, de Gene Yang, serão lançados Jubiabá, adaptação de Spacca para o romance de Jorge Amado, e Cachalote, graphic novel de Daniel Galera e o Rafael Coutinho. “Acho que é um mercado novo, e há vários modelos a serem explorados. Estamos otimistas porque conseguimos uma série de títulos ótimos, porque as edições estão ficando muito bonitas. E porque acreditamos que há um público enorme que não lê quadrinhos, mas que, por inúmeros fatores, está muito mais aberto para começar”, afirma o editor André Conti.

A postura otimista é compartilhada por Carlos Mann, ex-editor da Opera Graphica. Apesar da empresa ter fechado as portas definitivamente, ele acredita que a crise mundial afetará o mundo dos quadrinhos não a ponto de haver uma derrocada, mas sim, um resfriamento. “Esta visão fatalista a respeitode 2009 é, a meu ver, equivocada, pois coloca o foco em apenas um dos quadros do mercado brasileiro. Se, por outro lado, olharmos um panorama mais amplo de uma ou duas décadas, teremos uma análise menos pessimista e mais real. Nunca houve tantas editoras de médio e grande portes lançando quadrinhos, muito menos tamanha diversidade de gêneros, estilos e formatos”, diz Mann. Apesar da transição acionária, a Conrad também guarda boas notícias: “temos muito material bom para lançar, e certamente o faremos ao longo de 2009”, garante o coordenador editorial Alexandre Boide.

Aú, O Capoeirista >> agenda de lançamento

Foi lançado hoje, em Salvador, o mais novo personagem da HQ nacional: Aú, o capoeirista. A estratégia de divulgação levará o cartunista Flávio Luiz, criador do personagem, a cinco outras capitais: Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo.

No Recife, será no próximo dia 14, às 19h, na Livraria Cultura (Paço Alfândega – Recife Antigo). A programação conta com bate-papo de 30 minutos, seguido de sessão de autógrafos com Flávio Luiz e Laílson sobre quadrinho autoral e mercado nacional.

Abaixo, o release completo do projeto, com agenda dos lançamentos:

As histórias, ambientadas na capital baiana, são repletas de aventura, humor e consciência ecológica mostrando o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo, o macaquinho Licurí. A edição de luxo, em capa dura, será lançada também em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Por meio do site, o leitor saberá como adquirir a publicação e mais informações sobre os personagens e a história da capoeira no País.

Nascido em 1992, dos traços do premiado cartunista Flávio Luiz, Aú – cujo nome significa um conhecido movimento da capoeira -, começou com o esboço de um típico capoeirista baiano recepcionando uma francesa nas ruas do pelourinho e foi criado por ocasião da exposição Bandes Dessinée – quadrinhos franco-belgas, em parceria com a Aliança Francesa, em Salvador.

Nascia assim a idéia de criar um personagem com características do povo brasileiro. Anos mais tarde, Flávio Luiz desenhou um capoeirista mirim, na época com oito anos. Por meio de sucessivos estudos, esboços e aperfeiçoamento no traço, o personagem se consolidou, ganhou vida e atualmente tem 16 anos.

Segundo Flávio Luiz, o objetivo da publicação de Aú, o capoeirista, é conquistar um público leitor de histórias em quadrinhos carente de personagens tipicamente brasileiros, no cenário das HQ nacionais. “A hospitalidade, a alegria, a criatividade do povo baiano retratada nos personagens servirá para divulgar ainda mais os lugares, ritmos e as diferenças da nossa cultura, principalmente a cultura negra e seu sincretismo”, declara Flávio.

Flávio Luiz tem seus trabalhos reconhecidos no Brasil e no exterior (I Festival Internacional de Cartoon da Suécia, em Malmo com o tema ecologia). Foi ganhador de prêmios em vários salões de HQ, entre eles o importante Salão de Piracicaba (1994 e 2000). Em 2000 recebeu o Troféu HQMix – considerado o Oscar dos quadrinhos no País – com a revista independente Jayne Mastodonte Adventures #1.

A publicação de Aú, o capoeirista, viabilizada com recursos da Lei Rouanet de incentivo à Cultura, é fruto da árdua caminhada do desenhista que acreditou na construção de um personagem “heróico” representando a essência do povo brasileiro. “Aú é jovem, forte, educado, hospitaleiro e corajoso. Ele chegou para enfrentar o que for”, afirma, orgulhosamente, Flávio Luiz.

Serviço:

Aú, o capoeirista.

Álbum em edição de luxo, capa dura, 21,5 cm x 29 cm, papel couché.
Preço de capa: R$ 48,00

Salvador – 11 de outubro, às 10 horas.
Local: Livraria LDM
Rua Direita da Piedade, 20
Salvador – BA
TEL.: (71) 2101-8007

Recife – 14 de outubro, às 19h00.
Local: Livraria Cultura
Paço Alfândega
R. Madre de Deus, s/nº
Recife – PE
Tel.: (81) 2102-4033

Belo Horizonte – 16 de outubro, às 19h.
Local: Café da Travessa Livraria
Av. Getúlio Vargas, 1405 – Savassi
Belo Horizonte – MG
Tel.: (31) 3223 8092

Rio de Janeiro – 20 de outubro, às 19h.
Local: Livraria Letras & Expressões
Av. Ataulfo de Paiva, 1292 – Leblon
Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2511-5085

Curitiba: 21 de outubro, às 19h.
Local: Itiban Comic Shop
Av. Silva Jardim, 845.
Curitiba – PR
Tel.: (41) 3232-5367

São Paulo – 24 de outubro, às 19h30.
Local: HQMix Livraria
Praça Franklin Roosevelt, 142 – Centro.
São Paulo – SP
Tel.: (11) 3259 1528 / 3258 7740

"Fun Home" ganha edição nacional pela Conrad

Acabei de receber uma cópia da edição brasileira de Fun Home – uma tragicomédia em família (Conrad Livros, R$ 42,90), a premiada HQ autobiográfica de Alison Bechdel.

Livro do ano (Time Magazine, 2006) e melhor graphic novel de 2007 (Eisner Awards), Fun Home tem forte influência da literatura de Proust, Camus, Wilde, Joyce e… A Família Adams.

A relação (ou a falta dela) com o pai é o foco principal do livro de Bechdel. Homossexual não assumido, o pai é apresentado como frio, metódico, e obcecado por decoração vitoriana.

Além de ser professor de inglês, outra atividade do pai da desenhista era cuidar de uma casa funerária, em inglês funeral home, batizada palas crianças de fun home (casa de diversão).

Fun Home aumenta a lista de boas obras do gênero, como Epiléptico, American Born Chinese, Persépolis, e os clássicos Maus , Gen e os quadrinhos de Robert Crumb.

Devir lança Whiteout: Morte no Gelo

Whiteout: Morte no Gelo (128 páginas, R$ 25) é o novo lançamento da Devir/Dark Horse. Antes que você pergunte, não, a arte da capa acima não é de Frank Miller. É de Steve Lieber, o mesmo desenhista de Grendel Tales e Civil War: Frontline. Ele dá forma à história de Greg Rucka, um bem executado thriller policial ambientado na Antártida.

A protagonista é a policial norte-americana Carrie Stetko. Cercada de gelo por todos os lados, ela vive isolada do mundo e gosta muito disso. Só que para continuar por lá, precisa prender um assassino com um furador de gelo na mão.

Um corpo congelado na neve, protagonista com tendências lésbicas, um mistério a ser investigado. Elementos bastante parecidos com a HQ Umbra, outro título publicado pela Devir no início deste ano.


ARTE DE FRANK MILLER PARA A CRIAÇÃO DE GREG RUCKA

A série de quatro revistas chega ao Brasil encadernada em formato livro. Cada capítulo traz como bônus a arte dos mestres Mike Mignola (HellBoy), Dave Gibbons (Watchmen) e Frank Miller (precisa mesmo apresentar?), ótimas referências para dar consistência a qualquer trabalho.

Shiko, o samurai dos quadrinhos

É difícil definir os desenhos e pinturas de Shiko. Sua arte desprovida de moral e bons costumes é imprevisível e prazeirosa como um solo de jazz.

A primeira vez que li sobre ele foi no site colaborativo Overmundo. Nas duas matérias (aqui e aqui) Desenhos que enchem os olhos e os textos quase reverentes, mais um acalorado e indiscreto debate nos comments, me levaram a crer que o cara deve ser mesmo uma figura.

Logo depois, minha amiga Leda me deu um toque sobre ele, elogiando bastante. Depois, outra amiga, a Rosana. A mesma coisa.

Pelo que disse naquelas matérias, ele não gosta de ser chamado de artista plástico. Mas o que dizer de quem cria com grafite, tatuagem, escultura, pintura em tela, fanzine, grafismos, animação e HQ??

Seu universo quase sempre auto-referente é um emaranhado de derivações sensoriais e perceptivas. Generalizando um pouco mais, Shiko não abre mão do sexo-drogas-rock’n’roll: amplia para jazz, literatura e cinema. Em seu fanzine, adapta contos de Albert Camus, Giovani Papinni e uma música da banda pernambucana Mundo Livre. Mulher Honesta, adaptação de um post do blog de Xico Sá, é seu projeto mais recente.

Um de seus temas conhecidos (e vendidos) é a série de telas a óleo com uma releitura erótica de Olívia Palito, a namorada de Popeye, seminua num balcão de bar.

Meses atrás Shiko publicou o que considero a melhor HQ nacional de 2007 (e olha que o ano nem terminou): Blue Note.

Projeto assinado em parceria com Biu (poeta e escitor), Blue Note conta a história de um rapaz que sai do interior paraibano (a pequena Rio Tinto, cidade natal de Biu), para se entregar à toda sorte de paixões.

Auto-proclamada “obra fonográfica”, esta desconcertante “experiência emocional executada ao vivo” trata-se de uma narrativa não-linear, cuja carga poética é aditivada de referências do jazz, blues, rock e também do cinema – há cenas retiradas de Cinema, Aspirinas e Urubus.

Há também uma seqüência inteira de “Amarelo Manga, analisada com maestria pelo crítico Kléber Mendonça como “o plano detalhe do sexo feminino via saia levantada, imagem que filmada ou desenhada fecha as relações produtivamente promíscuas entre a imagem em movimento e aquela que sugere ação” (revista Continente Multicultural / setembro de 2007).

Natural de Patos, Francisco José de Souto atualmente mora em João Pessoa. Virou Shiko quando morava em Brasília trabalhando com publicidade. Lendo um mangá, ele aprendeu que shiko é a palavra que define a área de alcance de uma espada samurai. Como já havia outro Chico no mercado de lá, resolveu adotar o codinome japonês.

Na Paraíba, Shiko é talento reconhecido. Expõe em eventos de arte; teve seu Marginal Zine publicado como coletânea pela editora independente Marca de Fantasia; teve Blue Note patrocinado pelo Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos, mantido pelo governo da Paraíba; e está desenvolvendo um videoclipe de animação para os parceiros da Chico Correia Eletronic Band.

Fora do estado ele ainda é uma novidade, e aos poucos vai ganhando terreno. Mês de julho, Flora recebeu o prêmio de melhor HQ no concurso Alfaiataria de Fanzines; no mesmo evento, Blue Note recebeu menção honrosa na categoria publicação independente.

A seguir, uma seleção de cenas de Blue Note.

Se, como dizem seus conterrâneos, Shiko está somente começando, o que está por vir realmente deve ser de outro mundo.


Palestra, lançamento e festa no segundo dia de FIHQ

MOON E BÁ FALAM SOBRE SUA EXPERIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE QUADRINHOS INDEPENDENTES

Nesta segunda-feira (17) FIHQ dá início à programação de palestras, mas também têm direito à lançamentos e festa.

Começa às 19h, com palestra sobre quadrinhos independentes proferida por quatro latino-americanos.

Dois brasileiros, paulistas, desenhistas e roteiristas, que após dez anos investindo em trabalho autoral, conseguiram entrar no concorrido mercado internacional sem fazer concessões – pelo menos não muitas. Somam-se à dupla um boliviano, Alejandro Archodro, e uma peruana Avil Filomeno, que falarão sobre sua experiência no coletivo sediado em La Paz, Viñetas con Altura.

A palestra será na sede da Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia (Rua do Bom Jesus, 147, Bairro do Recife).

Logo após, às 21h, tem início o “circuito experimental” do FIHQ, com o lançamento de mais dois volumes da série Olho de Bolso, uma parceria da Livrinho de Papel Finíssimo Editora e o selo Ragú Zine.

A Livraria de Papel Finíssimo Editora é um coletivo de editores e artistas formado por Camilo Maia, Diogo Todé e HKE, e tem por objetivo facilitar o escoamento da produção autoral de quadrinhos, fanzines e outras publicações impressas. Sempre com a meta de não ultrapassar o preço final de R$ 5 por cópia.

A Ragú Zine é um selo do coletivo Ragú, criado para experimentar novos formatos de publicação, mais informal e despojado do que o padrão de conteúdo e qualidade gráfica estabelecidos pelos próprios e visível nas revistas Ragú e na série Domínio Público.

Desta vez, a Olho de Bolso traz a arte de Mascaro, com o título Debris, e Moacir Lago, o Moa, que assina o livrinho Paradoxo. Ambos serão vendidos por módicos R$ 3.

Com eles, a série de doze títulos chega ao número 4. Os dois primeiros, Cartuns Filosóficos, de Silvino, e Umas Visões de Um Mundo, de Serjão, foram lançados mês passado.

Para comemorar o feito, haverá festa, com som ao vivo a cargo do DJ Evandro Q? e da nova banda O Monstro Amor. O show será, de acordo com um dos integrantes, “uma intervenção político-sensorial”.

Tudo isso acontece na sede da Livrinho, batizada Iraq: Rua do Sossego, 179 – Boa Vista, Recife.

Quadrinhos de Fábio Moon e Gabriel Bá à venda no FIHQ 2007

STAND DOS IRMÃOS MOON E BÁ NO SAN DIEGO COMIC-CON 2007

Fábio Moon e Gabriel Bá, convidados especiais do FIHQ 2007, viajam o mundo em eventos de quadrinhos, sempre levando suas revistas para apresentar ao público. Na última San Diego Comic-Com International, onde foram indicados ao Eisner Awards 2007 de melhor graphic novel estrangeira publicada nos EUA (De:Tales), lá estavam eles expondo seu trabalho.

No Recife não será diferente. A dupla, que está na cidade desde sexta-feira, avisa que trouxe na bagagem uma boa quantidade de quadrinhos, dos mais difíceis de encontrar, ao recentemente publicado O Alienista, a adaptação do texto machadiano já resenhada por mim na Folha de Pernambuco, e aqui neste blog.

“Às vezes, acho que o mercado brasileiro de quadrinhos não cresce porque ninguém sabe o que está sendo produzido. Ninguém sabe que existe vida além de Mônica, super-heróis e mangá. Viagens são boas oportunidade de conhecer um público novo, que não nos conhece, e que está sedento por material novo”, diz Fábio Moon, ao Quadro Mágico.

Os preços variam entre R$ 5 e R$ 30, geralmente a metade do valor cobrado pelas livrarias.

Reproduzo os títulos que estarão à venda amanhã (segunda-feira), na palestra que os irmãos farão às 19h na Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia (Rua do Bom Jesus, 147, Bairro do Recife) e, logo após, na festa de lançamento dos novos títulos da coleção Olho de Bolso (Livraria de Papel Finíssimo e Ragú Zine). Mais detalhes dois posts acima.

O Alienista R$ 30
10 Pãezinhos – Meu Coração, Não Sei Por Quê R$ 20
10 Pãezinhos – Um Dia, Uma Noite – (vencedora do HQ Mix desse ano de melhor revista independente) – R$ 5 (com Grampá, Becky Cloonan e Vasilis Lolos)
Rock’Roll – R$ 5 (versão da Image)

Revistas americanas (R$ 5 cada)
Casanova 2 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 3 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 4 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 5 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 6 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 7 (arte do Gabriel Bá)
Casanova 8 (arte do Fábio Moon)
Casanova 9 (arte do Fábio Moon)

Piauí de setembro traz três HQs

A revista Piauí deste mês traz três HQs bem diferentes entre si.

A primeira é uma estranha história sem assinatura, sobre um cartunista que é obrigado a matar seu único personagem por problemas com uma família de lituanos, cujo falecido pai usava o mesmo apelido. O tal personagem, que usa um aquário no lugar do cérebro, já havia aparecido na edição de agosto da Piauí.

A segunda (imagem acima) é de autoria de Joe Sacco. Maltês radicado nos EUA, ele se tornou mundialmente famoso por suas reportagens em quadrinhos sobre as zonas de guerra. A série de seis tiras “Retrato do Artista Quando Jovem” faz parte de outra vertente de seu trabalho, mais focada para a crítica dos costumes sociais.

Sacco passou a ocupar as páginas da Piauí no mês passado, quando o periódico publicou a história de Zacarias Daboina, que virou estrela na mídia por colocar seu gato Flanela em greve de fome como protesto pela construção de uma usina nuclear ao lado de sua casa. O gato morreu, a usina foi inaugurada, mas Zacarias ficou bastante famoso.

Desta vez, Sacco apresenta Alessio Mancha K. Valete, que vive bancado pelos outros graças à pose de artista plástico genial e explosivo.

Já o desenhista francês Marcel Gotlib, frequentador assíduo da revista desde o primeiro número, desta vez usa seu peculiar senso de humor para ridicularizar o Príncipe Valente, clássico personagem das histórias de capa e espada.

Devir lança "Clube da Lulu"

Clube da Lulu” é o novo volume de histórias em quadrinhos da Luluzinha e sua turma.

As histórias deste livro foram organizadas nos EUA pela Dark Horse, editada no Brasil pela Devir Livraria, são as primeiras a ser criadas pela dupla de artistas John Stanley (roteiro e desenhos) e Irving Tripp (arte final).

Para quem está acostumado com os quadrinhos lançados no começo dos anos 80, alguns inclusive desenhados por artistas brasileiros, vai perceber que o traço das primeiras histórias é bem diferente, mais duro e econômico. Sem falar na personalidade das crianças, variante entre a inocência e a perversão.

Personagens criados por Marjorie Henderson Buell, e que marcaram várias gerações desde 1935, quando começou a ser publicada nos jornais em forma de tirinhas diárias, até 1984, quando as revistas em quadrinhos pararam de chegar às bancas do mundo inteiro.

Enquanto Buell trabalhava nas charges e tirinhas originais, as HQ’s ficaram por conta da dupla Stanley / Tripp. Fizeram o que, como outros já devem ter esctrito por aí, um clássico para todas as idades.

"O Beijo no Asfalto" em quadrinhos: entrevista com Arnaldo Branco

“Tá lá o corpo estendido no chão”, assim como diz João Bosco, na música “De frente pro crime“. Atropelado no cruzamento da Praça da Bandeira, Rio de Janeiro. Arandir, um dos curiosos, se aproxima do moribundo. Este lhe pede um beijo derradeiro. Arandir atende o último desejo do homem.

Escrita por Nelson Rodrigues em 1961, após insistência de Fernanda Montenegro (que queria uma peça para seu grupo teatral), “O Beijo no Asfalto” acaba de ganhar uma ótima versão em quadrinhos. Os artistas Arnaldo Branco e Gabriel Góes assinam a recriação, a convite da editora Nova Fronteira.

Esta narrativa tipicamente Rodrigueana parte do fatídico beijo, percebido por um repórter do jornal “A Última Hora”. Na busca de audiência, ele tratou de resenhar o ocorrido em tom de novela: havia um caso entre eles há mais de um ano, as esposas traídas nunca perceberam, a sociedade indignada com tudo – e lendo jornal. E a viúva, o que tem a dizer? Fofocas e olhares maldosos correm soltos, neste retrato trágico dos costumes e vícios sociais.

A adaptação é de primeira. Capta o clima do texto original com equilíbrio texto-imagem; a arte de Gabriel Góes (que já havia adaptado literatura em quadrinhos no volume 2 de “Domínio Público”) instiga de tal forma que os olhos só desgrudam do papel quando o livro chega ao fim.

O Quadro Mágico conversou por email com Arnaldo Branco, que adaptou o texto original de “O Beijo no Asfalto” para a linguagem dos quadrinhos.

Entre outros trabalhos, Arnaldo Branco assina a tira “Joe Pimp” e a seção de humor “O Sexysta” para a revista Sexy; a tira “Mundinho Animal“, no portal da Globo, o G1; é colunista da revista Zé Pereira (RJ); e tem três propostas de livro em andamento: um de cartuns do Joe Pimp, outro da tira “Entrevistas em quadrinhos“, que saía na revista “F.” e, o segundo episódio de seu maior sucesso, “As Aventuras do Capitão Presença”.

ENTREVISTA ARNALDO BRANCO // Beijo no Asfalto: “Respeitamos até quase a obsessão o texto original”

Como foi o processo de transformação do texto de Rodrigues para os quadrinhos?
Como adaptamos um texto de teatro – que é mesmo uma obra em aberto, esperando uma interpretação, achamos totalmente natural o processo. “O Beijo no Asfalto” já teve adaptações para outros meios que não o teatro – para o cinema, para a TV – e quadrinhos é só uma forma de transcrição para outro meio audiovisual – um meio menos cotado, é verdade, mas nem por isso necessariamente de menor valor artístico. Soube de uma montagem teatral de “O Beijo” com a Fernanda Rodrigues interpretando a Dália – aposto contigo que o bonequinho desenhado pelo Gabriel para o personagem é mais expressivo.

É o teu primeiro trabalho nesse sentido?
Nesse sentido (texto de outro autor, peça de teatro, cânone da literatura brasileira) é o primeiro.

Foi um trabalho de iniciativa própria ou você foi convidado para fazê-lo?
Fui convidado pela Nova Fronteira – não sei como chegaram ao meu nome, mas acertaram em cheio: li tudo o que publicaram em livro do Nelson, peças, romances – assinados ou sob pseudônimos – , crônicas… minha monografia foi sobre ele.

O filme te influenciou de alguma forma?
O Beijo no Asfalto” teve duas adaptações para o cinema: uma do Tambellini de 66, “O Beijo” e outra de 81, creio, com o Tarcísio Meira e Nei Latorraca. Bem, as duas são um tanto irregulares, mas o Gabriel curtiu fazer o Dália tão mignon que parece uma criança, provavelmente inspirado pela Lídia Brondi no filme de 81. A fotografia do filme de 66 é impressionante, mas não consegui uma cópia para mostrar para o Gabriel.

Qual tem sido a reação dos leitores?
Muito boa. Acho sensacional quando me dizem que adoraram a história – pessoas que não conheciam o texto se sentem como se tivessem assistido a uma montagem (uma boa, espero); todos se sentem conduzidos pela trama até o final surpreendente bolado pelo Nelson. Isso é gratificante, porque respeitamos até quase a obsessão o texto original, só aparando mínimas arestas de diálogo que não levavam a história para frente, que funcionam bem no palco, mas não em HQ. Segui o conselho que dava para os diretores de suas peças: “seja burro!”. Inventei o mínimo possível.

"Estórias Gerais", de Srbek e Flávio Colin, em pré-venda no site da Conrad

A Conrad Livros se prepara para lançar “Estórias Gerais“, de Wellington Srbek e Flávio Colin. Este é um dos últimos trabalhos do mestre Colin, falecido em 2002, um ano depois de ter concluído a obra.

Lançada de forma independente em 2001 (com apoio da Lei de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte), a primeira edição de “Estórias Gerais” se esgotou, e rapidamente virou lenda entre os amantes dos quadrinhos brasileiros.

Dividido em seis partes que se entrecruzam, o livro conta a história de um jornalista que chega a uma cidade fictícia no norte de Minas para apurar a história de um cangaceiro que aterroriza a região. Tudo isso se passa no começo do século 20, o que aproxima mais ainda o trabalho da dupla do universo literário de Guimarães Rosa.

Depois de receber dois HQ MIX e dois Troféus Angelo Agostini, “Estórias Gerais” foi publicada na Espanha pela editora Editions du Ponent sob o título “Tierra de Historias” (em julho de 2006).

De acordo com a editora Conrad, que colocou o livro em pré-venda (R$ 24) desde a última sexta-feira, “Estórias Gerais” é um dos mais importantes álbuns brasileiros de quadrinhos desta década. (com informações do release).

Wellington Sberk é historiador formado pela UFMG e roteirista de quadrinhos. Desde meados dos anos 90, vem editando revistas, fanzines e escrevendo livros sobre teoria e história dos quadrinhos.

Flávio Colin (1930-2002) começou a publicar em 1956, pela Rio Gráfica Editora. Durante os anos 60, ao mesmo tempo em que fez HQs de terror e participou da Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre, na busca de fortalecer a produção nacional. Em 1964, criou o personagem Sepé, um índio que viveu no tempo das missões.

Foi o primeiro de seus projetos voltados para o folclore e história nacional, como “A Guerra dos Farrapos” e a “História de Curitiba“. Seu último trabalho, “O Curupira“, foi publicado em outubro do ano passado pela Pixel Media.

Festival Recifense de Literatura terá mesa redonda sobre quadrinhos e literatura

Domínio Público: um bom exemplo de literatura em quadrinhos

O 5º Festival Recifense de Literatura incluiu na programação desta edição a mesa redonda “Quadrinização do Texto Literário“. Ela está marcada para o dia 17 de agosto, às 19h, no auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega – Recife Antigo).

Participam do evento os artistas Mascaro e João Lin , que ao lado do jornalista Mário Hélio, formam o núcleo editor do projeto de literatura em quadrinhos Domínio Público, e Ester Calland Rosa, Diretora Geral de Ensino e Formação Docente da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer do Recife.

Texto sobre "Passos perdidos – história desenhada", vencedor do HQMix 2007

Originalmente publicado em 16 de maio de 2006, no Diario de Pernambuco, na ocasião do lançamento do projeto:

Passos dos judeus em Pernambuco – por André Dib

A presença judaica em Pernambuco consta desde o Descobrimento. No século 16, novos cristãos provenientes da Peníssula Ibérica por aqui se instalaram, para depois serem expulsos junto com os holandeses ou se espalhar sertão adentro. Uma segunda leva – Ashkenazitas da Europa Central e Oriental – chegou em fins do século 19. Na época, muitas famílias deixaram a Polônia e a Romênia, fugindo do crescente anti-semitismo.

A trágica história dos que ficaram por lá é bem conhecida. Mas e os imigrantes, como se adaptaram à nova vida nos trópicos? E mais: como o Recife do início do século 20 reagiu aos novos moradores? Este é o tema de “Passos perdidos – história desenhada”, uma história em quadrinhos que terá lançamento amanhã, às 19h, na Livraria Cultura (Paço da Alfândega – Recife Antigo). O evento inclui um recital de música Klezmer, uma vertente instrumental do judaísmo europeu, cujos intérpretes são Olga Sedycias, Fábio Lispector e Ricardo Brafman.

Primeiro volume de uma série de cinco, a publicação é uma iniciativa do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, que assim pretende não só satisfazer a comunidade judaica em Pernambuco, como oferecer um instrumento educacional. O livro será distribuído gratuitamente para escolas e bibliotecas públicas. “Ele deixa de ser um trabalho de judeu para judeu, porque foi apropriado por outras áreas de conhecimento. Ao se integrar à arte da histórias em quadrinhos, entra o aspecto lúdico como proposta didático-pedagógica”, comenta a professoa Tânia Kaufman, autora da tese de doutorado que originou a história em quadrinhos: “Passos perdidos – história recuperada”.

A idéia de traduzir as 300 páginas da tese para a liguagem da arte seqüencial veio de Amaro Braga aluno de graduação de Kaufman na disciplina Judaísmo, religião e cultura. Além de adaptar e escrever o roteiro, é dele a direção de arte do projeto. “Superamos a perspectiva de mera adaptação”, diz Braga, que para conduzir o leitor inseriu uma conversa entre uma avó e a neta, inserindo assim características da cultura judaica. “Utilizamos recursos da tradição oral, que está dentro do arcabouço cultural judaico. Usei as informações sem me preocupar com uma lógica acadêmica que está no original”.

Para além do texto de Kaufman, o livro resgata paisagens desconhecidas dos recifenses do século 21, desenhadas pela dupla de artistas Danielle Jaimes e Roberta Cyrne. “É um resgate arquitetônico e paisagístico do século 19, que funciona como cartões postais da década de 30, em grandes ângulos de abertura”, compara Amaro.

"Fetichast", um retrato tenebroso da "geração X(uxa)"

Estes são os primeiros quadros de “Fetichast – províncias dos cruzados“, uma história em quadrinhos totalmente desenhada e finalizada a lápis por J. Márcio Nicolosi, e editado pela Devir Livraria (112 páginas, R$ 30).

A trama é construída em torno de uma distopia em que a república fictícia de Fetichast é controlada por um único canal de TV. Os personagens são ou pessoas sedentas por poder, ou apresentadoras de programas infantis seminuas, ou meninos e meninas pobres, que vivem nos sinais de trânsito.

Naquele país ninguém fala corretamente sua língua. E, assim como no livro “Fahrenheit 451” (de Ray Bradbury, filmado por François Truffaut), a leitura parece estar abolida. A história é contada por um violeiro ao estilo “mariachi”, que encontra três crianças numa encruzilhada qualquer. A música, assim como o cinema, são possibilidades para entender que o mundo é bem maior do que o que passa na telinha, mas será que ainda restam possibilidades de convivência não totalitárias nessa sociedade “midiotizada”?

Veterano da HQ nacional, Nicolosi desenha profissionalmente desde 1974, como funcionário da Maúrício de Souza Produções. Nos anos 80 partiu para uma carreira independente no ramo da animação publicitária. Em 1990, volta para a MSP para trabalhar nos desenhos animados da Turma da Mônica. Atualmente, desenvolve o material para o projeto “Cine Gibi 3” e para o longa animado do dinossauro Horácio.

Este é o segundo volume de “Fetichast”, projeto explicitamente autoral e independente, começou a ser desenvolvido em 1991, em plena era Collor. Na época, o Brasil passava por vários escândalos políticos e ao mesmo tempo vivia um “boom” comercial de programas infantis.