Clássicos infantis em versão para adultos

Alan Moore e Melinda Gebbie: união amorosa e trabalho de qualidade

 

Alice, Wendy e Dorothy, as meninas dos clássicos infanto-juvenis “No País das Maravilhas”, “Peter Pan”, e “O Mágico de Oz”, já tiveram suas aventuras contadas inúmeras vezes. Mas nunca assim, tão apimentadas quanto no álbum em quadrinhos “Lost Girls – Meninas crescidas”, de Alan Moore e Melinda Gebbie, que acaba de ser lançado no Brasil. Este livro, somente para adultos, é o primeiro de três volumes que compõem uma das mais belas e provocantes histórias em quadrinhos já feitas.

A história se situa no ano de 1913, quando as personagens, já adultas, se encontram num luxuoso hotel austríaco. Lá, confidenciam detalhadamente suas experiências sexuais. O projeto levou quase 20 anos para ficar pronto e, durante o processo, os dois artistas iniciaram um relacionamento amoroso que dura até hoje.

Naquele tempo, Moore começava a se destacar por suas narrativas iconoclastas e terrivelmente bem construídas, como “Watchmen”, em que super-heróis são usados na guerra fria, e logo depois “V de Vingança”, a distopia orwelliana que dinamitou o discurso da democracia ocidental. Em “Lost Girls”, a subversão está em mostrar sexo explícito com a mesma naturalidade e bom gosto presentes nos escritos originais.

O projeto começou quando Moore entendeu os vôos mágicos de Peter Pan e Wendy como uma metáfora para as descobertas sexuais da adolescência. Sob este ponto de vista legitimamente freudiano, situações como o apressado Coelho Branco que leva Alice ao País das Maravilhas, e Dorothy a dar piruetas dentro do furacão, ganham dimensões insuspeitas até então.

A estética muda de acordo com cada capítulo, seguindo padrões de uma exaustiva pesquisa do casal sobre a pornografia feita na era vitoriana e na Belle Époque, “muito mais humana e centrada no prazer” do que a atual, “quase toda fotográfica”, disse o escritor ao periódico eletrônico Sci Fi Weekly, na ocasião do lançamento.

Ainda na entrevista, ele afirmou que o sexo tem sido sub-representado na literatura. “Há gêneros dedicados a todos os outros campos da experiência humana – até os mais rarefeitos como o mundo dos detetives, astronautas ou caubóis. Já a pornografia, o único gênero em que o sexo pode ser discutido abertamente, não tem reputação alguma, é desagradável, de baixo nível, e consumida às escondidas”.

Na contra-corrente do sexo tosco e perverso mostrado nas “Tijuana Bibles” dos anos 30 e 40, e das sacanas montagens digitais com bichinhos fofinhos que circulam na internet, cada quadro de “Lost Girls” é marcado por muito requinte e delicadeza. Um produto que eleva este gênero tão desqualificado ao nível da mais pura e transcendente arte.

Serviço
Lost Girls – Livro Um: Meninas Crescidas (Devir Livraria)
Quanto: R$ 65 (112 páginas)

Quadrinista americano Art Spiegelman vem ao Brasil, a convite do Flip 2007

Não é especulação, nem boato. Art Spiegelman estará no Brasil entre 4 e 8 de julho, a convite do Festival de Literatura Internacional de Parati – Flip, no Rio de Janeiro. É o que informou o caderno “Ilustrada” (Folha de São Paulo), na última sexta-feira. Segundo a matéria de Eduardo Simões, a confirmação veio diretamente da organização do evento, na pessoa de Cassiano Elek Machado, o novo diretor de programação do Flip.

Machado acertou em cheio: neste momento em que a “nona arte” está consolidando o inequívoco status de gênero da literatura, nada melhor do que convocar um vencedor do Pulitzer de melhor obra de ficção, pela graphic novel Maus, em 1992.

Esta será a primeira edição do Flip a incluir uma mesa redonda sobre quadrinhos na programação oficial.

Os 300 de Esparta invadem o Jornal do Commercio

O Caderno C do Jornal do Commercio (Recife) trouxe ontem, dia 25 (domingo), duas matérias sobre Os 300 de Esparta, que já foi assunto deste blog em janeiro. Para ter acesso às matérias, é necessário ser assinante do jornal, ou do portal UOL.

Em “Heróis vestem vermelho”, a repórter Carol Almeida trata do relançamento da série em quadrinhos em formato livro (capa acima), num belo trabalho da Devir Livraria. Na segunda, ela revela como foi o papo (no Rio de Janeiro) com o diretor da adaptação cinematográfica, Jack Snyder, e com Rodrigo Santoro, o único brasileiro a atuar na produção que estréia no Brasil neste dia 30 de março (sexta). Eles estarão no Brasil durante a semana toda, para promover a esperada adaptação da obra de Frank Miller.

Pra quem ainda não sabe, Rodrigo Santoro está quase irreconhecível interpretando Xerxes, o rei dos Persas, que em 480 a.C. invade a Grécia para ampliar seu império. Apesar de algumas interpretações enxergarem em Os 300 de Esparta uma crítica ao imperialismo norte-americano, o governo do Irã (país que fazia parte da Pérsia) condenou duramente a maneira como os persas são retratados, considerando o filme como um ataque à cultura iraniana, e atribuindo a ele “comportamento hostil, resultado de uma guerra psicológica e cultural”. Ao que parece, um filme nunca é só um filme, até para os iranianos…