Antes que o mercado ditasse as regras


Crítico e realizador, Celso Marconi é uma das fontes que resgatam a memória cinéfila.
Imagem: BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

São Saruê. Vigilante Cura. Macunaíma. Siri. Projeção 16. Vagalume. Leila Diniz. Jurando Vingar. Revezes. Barravento. Não são poucos os cineclubes que marcaram época em Pernambuco. Apesar da forte tradição e das histórias que se confundem com a do próprio cinema, não há registro suficiente dessa trajetória. Para suprir essa lacuna, está em andamento o projeto Memória do Cineclubismo Pernambucano.

A partir de 32 entrevistas, a atividade será mapeada de 1943, quando o Cine Siri foi fundado, até 2007, um ano antes da criação da Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), da qual o coordenador do projeto, Gê Carvalho, é presidente. O resultado será editado em formato de e-book, que ficará disponível em site próprio. Tudo está sendo realizado com R$ 25 mil, disponibilizados por edital do Funcultura.

Até o momento, 19 depoimentos foram recolhidos, entre eles, o de Fernando Spencer, Osmar Barbalho, Alexandre Figueirôa, Hugo Caldas, Alex, Nilton Pereira, Geraldo Pinho, Paulo Cunha e Kátia Mesel. Até mês que vem, será a vez de Geneton Moraes Neto, Marcelo Gomes e Cláudio Assis.

Em entrevista ao projeto na última quarta-feira, o crítico e realizador Celso Marconi assim explicou a atração local pelo cineclublismo: “Pernambuco tem uma ligação com o pensamento ideologizado. Isso nos leva a certas modificações, não só nos cineclubes. Nossos filmes demonstram isso por não seguirem as leis do mercado”.

Marconi não chegou a participar de nenhum cineclube, mas acompanhou todos como jornalista e programador da Sessão de Arte ao lado de Fernando Spencer, que ao longo de uma década lotou os cinemas Soledade, Trianon, São Luiz, AIP, Parque e Coliseu. “Nossa filosofia era a mesma dos cineclubes. Exibir filmes que possam provocar discussão”. E diz que, apesar das mudanças de contexto político e ideológico, a função da atividade continua a mesma: a busca da conscientização. “A ditadura acabou com o debate, os cineclubes acabaram por um tempo. E hoje quem manda não são as armas, mas o mercado”.

Gê Carvalho encontrou no depoimento de Celso pistas para seguir em frente na investigação. “Ele citou nomes importantes, como os de Nelson Simas, Pedro Arão, Valdir Coelho e Vital Santos”. Apesar da pesquisa estar em estágio avançado, não foram encontrados dados sobre alguns cineclubes, como o São Saruê e Macunaíma, falta que deve ser resolvida até o fim das entrevistas. Informações a respeito destes e outros cineclubes podem ser enviadas para nanoproducoes@yahoo.com.br.

(Diario de Pernambuco, 22/04/2011)

Nova HQ de Art Spiegelman no Brasil

Não bastasse ter publicado HQs inéditas de Angeli, Laerte e ilustrações de Millôr em edições passadas, a revista Piauí deste mês se superou ao trazer um trabalho inédito do americano Art Spiegelman.

“Retrato do artista quando jovem” segue a linha biográfica-experimental já conhecidos no Brasil através dos famosos livros Maus e À sombra das torres ausentes. Aliás, a história tem a mesma proposta da que Angeli publicou meses atrás, sobre sua relação de amor obsessivo com um vinil dos Rolling Stones. Só que Spiegelman vasculha sua memória um tanto perturbada para contar como começou a desenhar.