Cine + Cultura amplia alcance no estado

A partir de agora, associações culturais como Maracatu Piaba de Ouro, N.A.V.E, Mulheres de Ibimirim, Artistas Populares de Sertânia e Artistas Plásticos de Fernando de Noronha passam a ter ao menos uma característica em comum. Eles fazem parte do grupo de 46 entidades que se tornaram pontos de exibição de filmes, com o aval do Ministério da Cultura, através da ação Cine + Cultura. Realizado em parceria com o governo do estado, o resultado foi anunciado ontem pela manhã, em cerimônia no Cine São Luiz. Os aprovados recebem kit com câmera, projetor, telão, DVD, rack e um pacote de filmes selecionados pela Programadora Brasil, além de oficinas de capacitação organizadas pela Fundarpe. O objetivo é formar uma rede nacional de exibição alternativa. Com a nova leva, somente Pernambuco contará com 87 pontos. Até o fim do ano, a meta é atingir 2.200 em todo o Brasil.

Coube à presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, contextualizar a ação dentro da escassez de espaços de fruição cinematográfica. Números tristes: 13% dos brasileiros vão ao cinema ao menos uma vez ao ano; mais de 90% dos municípios não têm cinema, teatro ou museu. Silvana Meireles, coordenadora do programa + Cultura, vai além. “A maioria das salas de exibição comercial está em shoppings, que são inacessíveis em vários aspectos”, diz Meireles. De acordo com ela, a ideia é tornar essa rede não só “a maior diversão” (em referência ao slogan da rede de cinemas Severiano Ribeiro), mas um espaço de cidadania. “O Brasil em poucos anos será a 5ª economia mundial, mas atualmente ocupa a 75ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Precisamos diminuir essa diferença e a cultura é vetor importante. Os Cines + Cultura servem para formação de identidade dessa parcela excluída”.

Vestido de vaqueiro, Renato Magalhães, da Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte), não só veio a caráter, como soprou seu berrante antes de cumprimentar as autoridades. Ele é da segunda geração de realizadores da cavalgada anual, no mês de maio. “Antes, a mostra de filmes era itinerante. Agora vamos fazer no memorial, numa sala para 50 pessoas”, diz o jovem vaqueiro. Paulo Lima, que coordena o espaço de exibição do Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto Velho (Olinda), diz que com o novo acervo será possível renovar a programação, até então restrita a 40 DVDs oferecidos pelo Banco do Nordeste. Outros que comemoram são Fernando Carmino e Jorge Costa, da Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos, pois a sala de 120 lugares que administram passará a ter tela grande e projetor apropriado para exibir filmes.

Mas nem todos estavam felizes após a cerimônia. Arimatéia Martins, da Associação Cultural Vida é Uma Arte, veio de Floresta para constatar que seu projeto não foi contemplado porque duas propostas foram feitas para o mesmo espaço, o Cine Teatro Recreio (90 anos de construção, 160 lugares, 14 anos fechado). A proposta dupla resultou na anulação de ambas. “Há três anos realizamos sessões quinzenais no cinema, pois o equipamento é emprestado”. Com o kit Cine + Cultura, afirma Martins, as exibições seriam mais frequentes.

Capacitação – As oficinas de formação começam em maio e fazem parte da contrapartida de 33% oferecida pelo governo do estado, com apoio do Conselho Nacional de Cineclubes e da Federação Pernambucana de Cineclubes. A ementa inclui história e organização do cineclubismo, do cinema, sua linguagem, produção e distibuição. Mas o principal, diz Gê Carvalho, presidente da Fepec, é a educação para o olhar. “Eles aprendem a assistir a um filme e refletir sobre o que foi visto, da técnica ao conteúdo. E aí a consciência se transforma”.

Confira os grupos selecionados

Região metropolitana do Recife
1. Maracatu Piaba de Ouro (Olinda)
2. Centro SUVAG de Pernambuco (Recife)
3. Associação Satélite (Olinda)
4. Unacomo (Olinda)
5. Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos – APTB (Recife)
6. Diálogos (Olinda)
7. Graúna – Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento (Olinda)
8. Associação dos Artistas Plásticos de Fernando de Noronha (Fernando de Noronha)
9. Associação Teatral Ato – Art’s ATA (Itamaracá)
10. Grêmio Recreativo Escola de Samba Preto velho (Olinda)
11. Movimento de Articulação Ambiental e Cultural- MAAC (Recife)
12. Centro de Atendimento a Meninos e Meninas – CAMM (Recife)
13. Sociedade Cultural Pernambuco na Estrada (Recife)
14. Nave- Sociedade de Arte e Tecnologia (Recife)
15. Laboratório de Intervenção Artística – Laia (Camaragibe)
16. Lar de Sandro (Recife)
17. Espaço Cultural de Santo Amaro(Recife)

Zona da mata
18. Sociedade de Cultura Artística 22 de Novembro (Paudalho / Mata Norte)
19. Grupo Cultural dos Palmares – Grucalp (Palmares / Mata Sul)
20. Ponto de Cultura Retretas – Filarmônica 28 de Junho (Condado / Mata Norte)
21. Associação dos Filhos e Amigos de Vicência (Vicência / Mata Norte)
22. Associação Cultural dos Mamulenguieros e Artesãos de Glória do Goitá (Glória do Goitá / Mata Norte)
23. Centro de Educação Musical de Joaquim Nabuco (Joaquim Nabuco / Mata Sul)

Agreste
24. Grupo de Apoio aos Meninos de Rua – GAMR (Gravatá / Agreste Central)
25. Cia. de Eventos Lionarte (Limoeiro / Agreste Setentrional)
26. Associação Caruaruense de Ensino Superior – Asces (Caruaru / Agreste Central)
27. Associação do Comércio da Indústria e Agroindustrial de Garanhuns (Garanhuns / Agreste Meridional)
28. Centro de Criação Galpão das Artes (Limoeiro / Agreste Setentrional)
29. Sociedade Musical Padre Ibiapina (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
30. Associação de Desenvolvimento e Assistência Social de Taquaritinga do Norte – Adastaq (Taquaritinga do Norte / Agreste Setentrional)
31. Centro de Artesanato Tareco e Mariola de Belo Jardim (Belo Jardim / Agreste Central)
32. Associação Capoeira e Taekwon-do: O pé do clã (Brejo da Madre Deus / Agreste Central)

Sertão
33. Associação e Movimento Comunitário Aliança (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
34. Federação das Associações Comunitárias do Cedro – Faced (Cedro / Sertão Central)
35. Associação dos Artesãos e Artistas Populares de Sertânia (Sertânia / Sertão do Moxotó)
36. Associação Nação Coripós (Santa Maria da Boa Vista / Sertão do São Francisco)
37. Associação de Arte e Cultura de Jatobá (Jatobá / Sertão de Itaparica)
38. Instituto Chico Torres (Salgueiro / Sertão Central)
39. Jovem Sertão (Petrolina / Sertão do São Francisco)
40. Associação Cultural, Artística e Social Raízes (Petrolina / Sertão do São Francisco)
41. Associação das Mulheres de Ibimirim – AMI (Ibimirim / Sertão do Moxotó)
42. Associação Cultural Pedra do Reino (São José do Belmonte / Sertão Central)
43. Maracatu Nação Matingueiros (Petrolina / Sertão do São Francisco)
44. Associação São Geraldo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)
45. Associação Solidária de Pais e Amigos de Pessoas com Necessidades Especiais (Belém de São Francisco / Sertão do São Francisco)
46. Associação Urucungo (Arcoverde / Sertão do Moxotó)

(Diario de Pernambuco, 13/04/2010)

Mais Cultura amplia raio de ação

Para incentivar a difusão do audiovisual brasileiro, o Ministério da Cultura contemplará cem novos pontos de exibição audiovisual através do programa Mais Cultura. Desta forma, criou o edital nacional Cine + Cultura, que está disponível para inscrições até 18 de abril. O foco é voltado prioritariamente para núcleos localizados nas periferias de grandes centros urbanos, como é o caso do Recife.

Os cem projetos contemplados receberão equipamento de projeção digital, uma câmera MiniDV, obras do acervo da Programadora Brasil e oficinas de capacitação cineclubista. O objetivo é reforçar a rede de exibição não comercial, circuito de difusão que movimenta a produção independente, e muitas vezes não conta com o devido reconhecimento.

O lançamento do edital ocorreu em 11 de fevereiro, durante o Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília. As honras ficaram por conta do secretário do audiovisual Silvio Da-Rin, que esteve na primeira sessão deum Cine + Cultura, em São Sebastião da Boa Vista, arquipélago do Marajó, no Pará. A cerimônia foi transmitida por webconferência. Naquele mesmo momento, sete Cines + Cultura já contemplados por oficinas realizaram sessões nos estados do Acre, Bahia, Paraíba, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Eles fazem parte dos 80 contemplados pela primeira edição do edital, cujo resultado saiu em 2006.

De acordo com Frederico Cardoso, coordenador executivo da ação, chegar a 1200 pontos de exibição ao final de 2010 seria uma estimativa conservadora. “Nossa equipe está trabalhando para chegarmos aos 2 mil pontos de exibição. Apesar de não podermos encarar como meta oficial zerarmos o número de cidades sem projeção audiovisual coletiva, a partir da relação iniciada com as prefeituras, certamente podemos sonhar esse sonho e iniciar o processo”.

Gê Carvalho, presidente da Federação Pernambucana de Cineclubes, vê a profusão de editais específicos (como este, do MinC, e outros, como o do Funcultura) como resultado da articulação do movimento cineclubista. “É muito comum os cineclubes se envolverem na formação de platéia e deixar de lado a sustentabilidade. Por isso, esse formato de fomento é uma boa solução porque oferece estrutura e orientação para que a atividade não seja baseada somente na aventura”.

Regionalmente, a Representação Nordeste do Ministério da Cultura irá trabalhar na divulgação e orientação do edital do Cine + Cultura com bibliotecas comunitárias da RMR, que já integram a ação Pontos de Leitura. Além disso, haverá parceria com a Fepec. Telefone para informações do MinC-NE: 3224-0561.

Funarte propõe diálogo com gestores e produtores


O presidente da Fundação Nacional de Arte, Sérgio Mamberti, está no Recife desde ontem, onde cumpre agenda de encontros e eventos. Esta é a primeira visita oficial da Funarte à região Nordeste desde que Mamberti assumiu a frente da instituição, em novembro passado. O objetivo é estreitar laços com gestores públicos e atores do campo cultural discutindo as ações da Funarte para os próximos dois anos. Hoje, às 9h30, haverá reunião aberta ao público na sede da Representação Nordeste do Ministério da Cultura (Rua do Bom Jesus, 227 – Bairro do Recife).

Ontem, a agenda da comitiva formada por Mamberti e equipe foi cheia: pela manhã houve reunião a portas fechadas com funcionários do MinC Nordeste. À tarde, eles se reuniram com os secretários de cultura de oito estados e sete capitais do Nordeste. À noite, ele esteve no Teatro de Santa Isabel, no encerramento do Janeiro de Grandes Espetáculos (que este ano recebeu R$ 50 mil em recursos da Funarte), para a entrega do prêmio Apacepe de Teatro e Dança.

“Nesse momento o que nos interessa é ouvir, para que possamos construir nossas políticas com a participação da sociadade “, diz Mamberti. Em conversa com o Diario, ele disse que a principal meta de sua gestão é repensar a Funarte no contexto do século 21. Para tanto, ele renovou completamente a equipe de diretores. O único nome mantido é o de Myriam Lewin, que desde 2003 ocupa o cargo de secretária executiva da instituição. “Queremos trazer de volta a tradição da Funarte na prestação de serviços à cultura brasileira”, afirma Mamberti.

Mais do que uma missão de reconhecimento, a presença da Funarte no Nordeste tem a ver com a busca de novas parcerias, articulações e interlocuções, inclusive internas. Tanto que, em breve, o atual representante regional da instituição, Jorge Clésio contará com equipe e escritório próprio, que atenderá no mesmo prédio onde funciona o MinC. “A representação da Funarte é um salto de qualidade que nasceu de uma necessidade de ampliação. Será um novo nívelde inserção, um espaço integrado”, descreve Taciana Portela, chefe da representação do MinC-NE. No mesmo local, haverá uma galeria de arte, mantida em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste.

Por enquanto, este será o único espaço da Funarte no Nordeste, região cuja ausência de equipamentos tem gerado críticas recorrentes. “Somos feios e moramos longe”, conclui o produtor cultural Paulo de Castro, em tom de brincadeira. “Sabemos que no Sudeste tem se concentrado a maior parte das atividades da Funarte. Enquanto isso, precisamos de cursos e capacitação, além aparelhagem de som e luz para os teatros, que estão em certa decadência”, afirma Castro.

A retomada das câmaras setoriais será outro ponto de pauta. “Mais do que críticas, queremos saber quais são os planos da nova direção da Funarte”, diz Marília Rameh, uma das coordenadoras do Movimento Dança Recife, que ainda lembra o longo intervalo em que as câmaras setoriais estiveram suspensas, até serem retomadas no fim do ano passado.

Mamberti, que reservou boa parte de seu dia para dar conta das demandas do setor, adianta que as prioridades para 2009 estão ligadas a formação, circulação e a contribuição da Funarte na efetivação do Plano Nacional de Cultura. “Não temos a pretensão de resolver todos os problemas, mas ao menos queremos que as discussões se institucionalizem”, garante.