Estreia // Longa desvenda alma do "Doutor do Baião"

O cinema brasileiro tem prestado um belo serviço ao narrar episódios e biografias do universo da música. O problema é que parte dessa filmografia é servil à temática e fala somente para o público diretamente ligado a um artista, gênero musical ou uma época da MPB.

Nesse contexto, O homem que engarrafava nuvens (Brasil, 2009), novo longa-metragem de Lírio Ferreira, é uma exceção. Obra autônoma, ao mesmo tempo em que satisfaz os seguidores do baião ao contar a história de seu criador, Humberto Teixeira, não depende disso para se afirmar enquanto filme.

Aqui o foco está em Teixeira (1915-1979), advogado cearense, autor de Asa branca, No meu pé de serra, Qui nem jiló, Assum preto, Baião, entre 400 outras composições. Mas com tantas personalidades obscuras na música brasileira, por que motivo o diretor de Baile perfumado (1996) e Árido movie (2005) aponta a câmera para o parceiro de Luiz Gonzaga? A resposta está na atriz Denise Dummont, filha do “doutor do baião”. Produtora do longa, ela convidou Lírio para dirigir sua investigação. Este é seu segundo documentário – em 2007, ele codirigiu com Hilton Lacerda Cartola – Música para os olhos.

O homem que engarrafava nuvens segue a mesma linha, que reúne imagens de arquivo e interpretações de gente famosa como David Byrne, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gilberto Gil e os pernambucanos Alceu Valença, Lenine, Lirinha e Otto. Muitos cantam num show especialmente produzido para o filme. A estratégia funciona e se desdobra em duas frentes. Numa, a importância do baião é dimensionada e colocada em perspectiva na história da MPB. Em outra, Denise redescobre seu pai em depoimentos de amigos e familiares de Iguatu (cidade natal de Teixeira) a Nova York, onde o encontro com a mãe gera momento decisivo para a identidade do filme.

(Diario de Pernambuco, 15/01/2010)

"O homem que engarrafava nuvens", de Lírio Ferreira, é o preferido da crítica no 19º Cine Ceará


O diretor Lírio Ferreira e a produtora Denise Dummont celebram o prêmio

O prêmio da crítica elegeu O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira, como o melhor longa em competição no 19º Cine Ceará.

Superbarroco, de Daniela Pinheiro, foi eleito o melhor curta na opinião dos críticos.

20 anos sem Gonzagão // O Rei e o Doutor do Baião

Fortaleza (CE) – Compositor que reinventou o baião, primeiro grande parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira (1915-1979) se tornou a atração principal do 19º Cine Ceará. O documentário sobre sua história, O homem que engarrafava nuvens, foi exibido no evento no último domingo, data em que Gonzaga completou 20 anos de morte. Para receber o público, um trio de forró tocava as músicas da dupla. Teve até quem dançasse enquanto esperava a abertura das portas do Cine São Luiz.

“Aqui tem mais de cem Teixeiras”, garante Evangelina Margarida, prima do advogado que prefere classificar como poeta-compositor. Responsável pela convocação da família, dividida entre Fortaleza e a pequena Iguatu, a cidade natal do criador de clássicos como Asa Branca, Baião, Assum preto, Paraíba e Juazeiro, Margarida recebia o primo, Gonzagão e a cantora Carmélia Alves na própria casa durante os shows no interior cearense. “Ele poderia ter sido um mito, mas era muito recatado”. A prima descreve Teixeira como simples, afetuoso e um flautista de mão cheia – com 13 anos, ele tocava nas sessões do Cine Majestic em Fortaleza. “Nosso avô Lafayette ensinou as primeiras notas”.

Após a parceria, Teixeira continuou a compor, mas nem tanto. O parente Eurico Teixeira Júnior lembra que, enquanto advogado, ele se dedicou à luta pelos direitos autorais dos músicos, à época vitimizados por contratos leoninos com as gravadoras. Mais tarde, como deputado federal, criou a Lei Humberto Teixeira, que financiou a circulação de artistas em caravanas pelo Brasil e outros países. Como suplente da Câmara dos Vereadores de Iguatu, Eurico pretende promover um festival de música e um memorial em homenagem ao filho mais famoso da cidade.

Denise Dummont, filha de Teixeira e produtora do longa dirigido por Lírio Ferreira, subiu ao palco para apresentar o filme visivelmente emocionada, por “trazer esse homem de volta para casa”. “Luiz Gonzaga foi a cara do baião, mas meu pai foi o doutor do baião, apelido dado pelo próprio Gonzaga como reconhecimento. É normal que o intérprete ofusque o homem que compôs as canções. Por isso, ele nem sempre teve o reconhecimento que merece”, diz Dummont, antes da projeção começar.

Longa-metragem resgata figura do compositor

Ao longo da estreia cearense de O homem que engarrafava nuvens, as palmas incontidas e gente cantando junto deixaram claro de que o doutor do baião pode não ser tão conhecido assim, mas não há fronteiras para sua obra. Esse é justamente um dos objetivos do longa: contar a história do baião através de seus idealizadores e intérpretes, de Luiz Gonzaga à David Byrne e a japonesa Miho Hatori.

Com lançamento comercial previsto para outubro – mês dos 30 anos de morte de Humberto Teixeira – o novo longa Lírio Ferreira reconstitui a década de ouro do baião (1946-56) com imagens de arquivo costuradas a depoimentos. Método já utilizado no documentário anterior, Cartola – música para os olhos. “São trabalhos irmãos, com o mesmo DNA, apesar do Cartola ser mais lúgubre e noturno, e este ser mais solar, colorido”, diz Ferreira, ao Diario. “No Cartola, optamos por colocar uma ‘ponta preta’ no filme, para representar o sumiço dele enquanto viveu com uma terceira mulher, entre Deolinda e Dona Zica. Essa ‘ponta preta’ começaem 1944 e termina em 1954, exatamente a década de ouro no baião. Não foi só a história com a mulher que colocou Cartola na obscuridade. Aquela ponta preta é O homem que engarrafava nuvens. É aí que os filmes se completam”.

Mais do que um documentário sobre uma fase obscurecida da MPB, O homem que engarrafava nuvens é um acerto de contas pessoal em que a filha parte em busca do pai que a criou, mas foi negado por tanto tempo. Em momento “divã”, de emoções carregadas, Dummont pergunta quem era o pai à própria mãe, que deixou tudo por outro homem e foi morar em Nova York. “Eu tinha muito ressentimento. Amava minha mãe, mas por 50 anos fiquei pensando como ela foi capaz de me abandonar”, disse a atriz, na coletiva de imprensa ontem pela manhã.

"O homem que engarrafava nuvens", de Lírio Ferreira, hoje, no Cine Ceará


Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: parceria preciosa e nem sempre conhecida

O homem que engarrafava nuvens, documentário de Lírio Ferreira, será exibido hoje à noite no 19º Cine Ceará.

Nada mais simbólico. Hoje se completam 20 anos desde que Luiz Gonzaga morreu.

Além disso, fazem 30 que se foi Humberto Teixeira, parceiro na criação dos primeiros e definitivos sucessos.

Na sala de imprensa, a produtora do longa, a atriz Denise Dumont, protesta ao ler os jornais locais, que dedicaram várias páginas ao velho Lua.

Ela tem motivos para tanto: é filha de Teixeira, o “doutor baião”.

Apenas uma matéria fala sobre o trabalho do pai. No título: “Humberto Teixeira reforçou parceria”.

“Ele criou a parceria!”, responde Denise.

O filme foi a forma de Denise apresentar o pai ao mundo, que sem saber o “conhece” via palavras cantadas por Gonzagão. É dele as letras de Asa Branca, Baião, Assum preto, Paraíba, Juazeiro, entre outros.

Projetado primeiramente em Nova York, no Museum of Modern Art (Moma), O homem que engarrafava nuvens percorreu festivais internacionais como o prestigiado International Documentary Film Festival of Amsterdam (IDFA), e mostras do Rio de Janeiro e do Pantanal, em Campo Grande, onde foi premiado pelo público e júri.

No último Cine PE, ele foi exibido fora de concurso, após a cerimônia de premiação.

"Che: o guerrilheiro" será lançado no Cine Ceará – veja a programação completa

Che: a guerrilha será lançado nacionalmente na próxima terça-feira.

A segunda parte da saga dirigida por Steven Soderbergh será a atração principal da noite de abertura do 19º Cine Ceará – Festival Ibero Americano de Cinema.

A cerimônia contará com a presença do ator chileno Santiago Cabrera. Em Che: part 1, ele interpreta Camilo Cienfuegos, o amigo revolucionário de Ernesto “Che” Guevara.

Na mostra competitiva, há a presença dos pernambucanos Lírio Ferreira e Renata Pinheiro, além de Heitor Dhalia, que nasceu no Rio mas prefere ser conhecido como pernambucano.

Ferreira apresenta seu novo longa, O homem que engarrafava nuvens , doc biográfico sobre Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga.

Não por acaso, imagino, ele será exibido no dia 2, em que Gonzaga completa 20 anos de falecimento. Teixeira é cearense, daí pode-se imaginar o barulho que o filme causará.

Pinheiro concorre com Superbarroco, um dos melhores curta-metragens da temporada, exibido em Cannes e vencedor dos prêmios máximos nos festivais de Brasília e Pernambuco.

Para quem não viu, basta dizer que o filme é uma aposta acertada no experimentalismo de linguagem e traz como ator principal o paraibano Everaldo Pontes, que contracena consigo próprio e… a cantora Dalva de Oliveira.

Em sua segunda exibição no País, À deriva deve novamente dividir opiniões.

Enquanto entusiastas aplaudirão o apelo imagético produzido por Dhalia e equipe, principalmente o olhar voyeur voltado à ninfeta candidata a atriz Laura Neiva, outros poderão questionar a narrativa um tanto “solta” em torno de uma família em crise enquanto passa férias numa casa em Búzios.

A seguir, a programação da mostra competitiva brasileira de curta-metragem e ibero-americana de longa-metragem.

29/7, quarta-feira
19h30 – curtas: Leituras Cariocas (Consuelo Lins Doc., 13’, Cor, RJ, 2009)
Selos (Gracielly Dias, Ficção, 15’, Cor, CE, 2008)
A Mulher Biônica (Armando Praça, Ficção, 19’, Cor, CE, 2008)

Longa-metragem: O Prêmio (El Premio), de Alberto Chicho Durant (ficção,35mm, 92’,Cor,PERU)

30/7, quinta-feira
19h30 – curtas: Silêncio e Sombras (Murilo Hauser, Animação, 9’, P&B, PR, 2008)
Passos no Silêncio(Guto Parente, Ficção, 17’, P&B, CE, 2008)

Longa-metragem: Os Deuses Quebrados (Los Dioses Rotos), de Ernesto Daranas (Ficção, 35mm, 96´,CUBA, 2008)

31/7, sexta-feira
19h30 – Curtas:Flores em Vida (Rodrigo Marques e Eduardo Consonni, Doc., 12’, Cor, SP, 2008)
Josué e o Pé de Macaxeira (Diogo Viegas, Animação, 12’, Cor, RJ, 2009)
A Montanha Mágica (Petrus Cariry, Doc, 13’, Cor, CE, 2009)
Os Filmes que não Fiz (Gilberto Scarpa, Ficção, 16′, Cor, MG, 2008)

Longa-metragem: Haroldo Conti – Homo Viator, de Miguel Mato (documentário, 2008, 90 min, ARGENTINA)

01/08, sábado
19h – Longa-metragem: Coração do tempo (Corazón del tiempo), de Alberto Cortés (ficção, 2008, 90 min, MÉXICO)
Se nada mais der certo (Jose Eduardo Belmonte , ficção, 120 min, BRASIL)

02/08, domingo
19h – Curtas: Vida Vertiginosa (Luiz Carlos Lacerda, Ficção, 15’, Cor, RJ, 2009)
Bolívia te extraño (Dellani Lima e Joacélio Batista, Exp., 7’ Cor, MG, 2009)
Sweet Karolynne (Ana Barbara Ramos, Exp. 15’, Cor, PB 2009)
Os Sapatos de Aristeu (Renê Guerra, Ficção, 17’, P&B, SP, 2008)

Longa-metragem: O Homem que engarrafava nuvens, (Lírio Ferreira,documentário, 2008, 105 min, BRASIL) classificação etária:

03/08, segunda-feira
19h30 – Curtas: Nordeste B (Mirela Kruel, Exp.,15’, Cor/P&B, RS 2008)
Superbarroco (Renata Pinheiro, Ficção, 17’, Cor, PE, 2008)

Longa-metragem: Pequeno Burguês – Filosofía de Vida, (Edu Mansur documentário, 2008, 70 min, Brasil) – classificação etária
A Deriva (Heitor Dhalia,Ficção,103’,Cor,SP,2009)

04/08, terça-feira
20h – Cerimônia de encerramento, para convidados, com exibição do longa-metragem Siri-Ará, de Rosemberg Cariry.

Lírio Ferreira leva Humberto Teixeira a Paris

O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira, será exibido no Festival do Cinema Brasileiro de Paris.

O documentário, traduzido para o francês como L’Homme qui embouteillait les nuages, trata da vida de Humberto Teixeira (1915-79). Cearense de Iguatu, ao longo da vida Teixeira acumulou as funções de advogado, deputado, e principal parceiro de Luiz Gonzaga. Seu maior sucesso, Asa Branca, não deixa dúvida sobre seu talento. No entanto, não ofusca outras composições emblemáticas do cancioneiro nordestino, como Baião, Juazeiro, Respeita Januário, Qui Nem Jiló, Assum Preto, todas criadas com Gonzagão.

Entre 29 de abril a 12 de maio, a 11ª edição do Festival do Cinema Brasileiro de Paris traz para território francês 30 filmes, entre eles, Meu Nome Não é Johnny, de Mauro Lima, Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, O Mistério do Samba, de Carolina Jabor e Lula Buarque de Holanda, Jards Macalé: Um Morcego na Porta Principal, de Marco Abujamra, João Pimentel, Vinícius, de Miguel Faria, Se Nada Mais Der Certo, de José Eduardo Belmonte, Feliz Natal, de Selton Melo e Todo mundo tem problemas sexuais, de Domingos de Oliveira.

Programação completa aqui.