Panorama Recife de Documentários começa hoje

A partir de hoje começa a sexta edição do Panorama Recife de Documentários. Neste ano, a mostra promovida pela Prefeitura do Recife preparou uma programação de fôlego. Até a próxima sexta-feira, os cinemas Apolo e do Parque exibirão nada menos do que meia centena de obras dedicadas a filmar a realidade, ou o que se convencionou classificar como tal.

Os longas em 35 mm foram abrigados no Cinema do Parque que, como de praxe, terá sessões com ingressos a R$ 1. Já o Cinema Apolo terá 90% da programação exibida em projeção digital, em mostras de curta, média e longa-metragens, todas gratuitas. Durante o evento haverá sessões especiais em homenagem à produtora Página 21 (terça), à produção da Universidade Católica (quarta) e ao cineasta francês Chris Marker (quinta). Além disso, o documentário francês terá espaço garantido, em mostra especial trazida do acervo da cinemateca do Consulado da França no Rio de Janeiro. Um dos destaques é O tempo redescoberto, sobre o estilista Yves Saint Laurent (1936-2008).

Hoje, o Cinema do Parque exibe os longas Musicagem (às 14 e 16h) e O aborto dos outros (às 18h e 20h). No primeiro, os diretores Nereu Cerdeira e Edu Felistoque abordam o ciclo produtivo da música, a partir de depoimentos de seus atores, entre eles, os artistas e produtores André Abujamra, Júlio Medaglia e Thaíde. No segundo, autoria de Carla Gallo, mereceu menção honrosa no festival É Tudo Verdade 2008 e é uma das poucas peças audiovisuais a se arriscar neste tema ao mesmo tempo espinhoso e necessário.

No Apolo, o programa é mais intenso. Às 14h, temos A arquitetura do corpo (MG), de Marcos Pimentel, Ivy Katu (SP), de Eduardo Duwe, Travessia (PE), de Tiago Martins Rego, Ruínas da loucura (RS), de Karine Emerich e Mirela Kruel e Hotel central (PE), de Ana Paula Almeida, Clarissa Azevedo, Manuela Andrade e Juliana Lins. Às 16h, há o média Memórias finais da república de fardas (DF), de Gabriel Marinho, Pau da missa (SP), de Alex Moletta e Maestro Formiga (PE), de Amaro Filho e Rafael Coelho. Às 18h, o longa L.A.P.A (RJ), de Cavi Borges, faz o mapeamento da cultura hip hop no famoso bairro carioca e, às 20h, encerra a noite o francês A máquina da morte Khmer Vermelho, do cineasta Tithy Pahn.

À frente do evento, o gerente do audiovisual Ernesto Barros disse ao Diario que o Panorama não se pautou pelo ineditismo. Nem por qualquer temática específica para a escolha dos filmes. “A ideia é apresentar a maior quantidade possível de filmes”. O que não impediu uma concentração espontânea de filmes nunca exibidos na cidade e que giram em torno de temas recorrentes ao cinema documental: música, política e denúncia social.

Dois exemplos são Zeitgeist Addendum (EUA), segunda parte de uma trilogia dedicada a estudar as relações entre a fé cristã, atentados terroristas e o sistema monetário internacional, e O milagre de Santa Luzia (SP), de Sérgio Rozemblit, em que nosso Dominguinhos faz uma viagem pelo Brasil que toca sanfona, de Arlindo dos Oito Baixos ao gaúcho Renato Borghetti. Ambos serão exibidos sexta-feira à noite, no Apolo.

Até sexta, o Parque ainda exibe Serras da desordem (Brasil, 2006), de Andrea Tonacci, Procedimento operacional padrão (EUA, 2008), de Erol Morris, e Linha de montagem (Brasil, 1982), de Renato Tapajós, registro in loco dos eventos que levaram à prisão os líderes sindicais de São Bernardo do Campo, entre eles, o futuro presidente Lula.

* publicado no Diario de Pernambuco

Tela Grande (estréia): Dois festivais de documentários simultâneos no Recife

A partir de amanhã, Recife se transforma na capital do cinema documental. Por coincidência, dois eventos dedicados a esta forma de fazer filmes concorrem pela atenção do público: entre os dias 2 e 6 (de sábado a quarta-feira) há o Panorama Recife de Documentários 2007, organizado pela Prefeitura do Recife; e de 4 a 10 (de segunda a domingo), se realiza o projeto Documentário em Pauta, produzido pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Entre as presenças ilustres a debater seus filmes e discutir os rumos e sentidos do documentário, figuram João Moreira Salles, diretor de “Santiago” (2007), Amir Labaki – organizador do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, e Linduarte Noronha, que vem apresentar “Aruanda” (1960), marco zero do documentário sociológico brasileiro, e uma das sementes responsáveis pelo Cinema Novo.

Pela primeira vez, o É Tudo Verdade estende sua programação até o Recife. A abertura é de “O Longo Amanhecer“, a cinebiografia de Celso Furtado, assinada pelo carioca José Mariani. Krzysztof Kieslowski, um dos diretores homenageados este ano, integra a programação com três curta-metragens: “O Escritório” (1966), “Curriculum vitae” (1975), e “Meu Kieslowski“, uma entrevista com a filha do cineasta polonês feita por Irina Volkova. Na quarta-feira, é a vez dos curtas “Aruanda” e “O Cajueiro Nordestino” (1962), do paraibano Linduarte Noronha, outro grande nome homenageado. O filme tem proporções míticas, e adquire ainda mais importância com a presença do diretor. Amir Labaki, o idealizador da mostra, estará na terça-feira lançando três livros por ele escritos ou organizados: Introdução ao Documentário Brasileiro; Reflexões sobre a Cultura do Documentário; e O Cinema do Real.

Por sua vez, a quarta edição do Panorama Recife de Documentários traz uma maratona de 40 produções audiovisuais de 14 estados brasileiros e nove países, para as telas os municipais Cinema Apolo (com entrada franca) e Cinema do Parque (R$ 1). São 12 longas-metragens, sete médias e 21 curtas. Além disso, haverá debates na Livraria Cultura (Paço Alfândega – Recife Antigo). A homenagem desta edição vai para a TV Viva, sediada em Olinda, que está representada na programação com o curta “Desde Cuba Hasta Pernambuco“, de Nilton Pereira (Cinema Apolo, domingo, às 15h).

Oscar Niemeyer – A Vida É Um Sopro“, de Fabiano Maciel, abre a mostra numa cidade em pleno fogo cruzado quando o assunto é o arquiteto comunista – pois é dele o polêmico projeto para o futuro Parque de Boa Viagem. João Moreira Salles vem ao Recife apresentar seu “Santiago” na quarta-feira, às 19h, no Apolo. O filme é uma entrevista com o mordomo de Salles, que revela em suas memórias sua vasta cultura.

A programação completa do É Tudo Verdade está aqui, e do Panorama Recife de Documentários, aqui.