Pernambucanos faturam prêmios em Brasília

Brasília (DF) – O 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro terminou na última terça-feira, com uma cerimônia de premiação que privilegiou o longa paulista É proibido fumar, de Anna Muylaert. O filme foi contemplado em oito categorias: melhor filme, ator (Paulo Miklos), atriz (Glória Pires), atriz coadjuvante (Dani Nefussi), roteiro (Anna Muylaert), direção de arte (Mara Abreu), trilha sonora (Márcio Nigro), montagem (Paulo Sacramento) e o prêmio da crítica. Uma pré-estreia e tanto – a estreia comercial será em 4 de dezembro.

Entre os curta-metragens, Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, e Recife frio, de Kleber Mendonça Filho, receberam prêmios principais. O primeiro ganhou prêmios de melhor filme, fotografia (Beto Martins) e som (Nicolas Hallet, também premiado pelo trabalho em Azul, de Eric Laurence). Esta é a primeira vez que Cavalcante, duas vezes eleito melhor diretor em Brasília, vence nessa categoria. Já o crítico e programador de filmes Kleber Mendonça se consagra como realizador – apesar de já ter vencido em Brasília com Noite de sexta, manhã de sábado e Vinil verde, ele nunca colecionou tantas estatuetas e prêmios: melhor filme (júri popular), melhor direção, melhor roteiro, Prêmio Aquisição Canal Brasil, Prêmio Saruê, Prêmio Vagalume e prêmio da crítica. Kleber confirmou que em dezembro o Cinema da Fundação fará uma sessão especial com os quatro curtas locais exibidos em Brasília. Diretor de Faço de mim o que quero ao lado de Sérgio Oliveira, Petrônio Lorena disse que artistas do brega que participam do filme serão convidados a fazer uma performance.

Após a cerimônia, Evaldo Mocarzel, eleito melhor diretor pelo longa Quebradeiras, evocou não somente mineiros como pernambucanos como vanguarda do cinema nacional. “Da mesma forma que o documentário mineiro está bombando, Pernambuco continua imbatível na ficção”. Para o ano que vem, ele pretende apresentar o novo filme, São Paulo Cia de Dança, no festival É tudo verdade. Assim como em Quebradeiras, ele investe na estética sensorial e radical que explora imagens de composição rigorosa e trilha de áudio desprovida de palavras. E quer voltar a Brasília com Cuba libre, um “doc gay almodovariano”.

Merecido o destaque para o longa Filhos de João – admirável mundo novo baiano, que recebeu o voto do júri popular, prêmio especial do júri oficial e troféu Vaga-lume, concedido por integrantes do projeto Cinema para Cegos. Com depoimentos generosos de Tom Zé, o filme foi de longe o mais querido do festival. “A todos os filhos de João espalhados por aí, crentes de que podemos fazer algo diferente, porque o mundo está muito chato”, disse o diretor estreante Henrique Dantas. Representando o grupo na noite de terça, Moraes Moreira cantou, declamou poesia e disse que o sonho dos Novos Baianos não acabou. “Ele continua no filmes, nos filhos, nos shows de cada um de nós, através do som dos ‘novos novos’ baianos”, disse o compositor.

* O repórter viajou a convite do festival

(Diario de Pernambuco, 26/11/2009)

Festival de Brasília // Pernambucanos de olho no Candango

A 42ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começa hoje, com a pompa de sediar a primeira exibição pública do filme Lula, o filho do Brasil. Até o dia 24, seis longas e doze curtas-metragens concorrem ao troféu Candango, sinônimo de prestígio para os realizadores.

Afinal, falamos do mais antigo e um dos mais conceituados festivais do país. Quatro novos curtas pernambucanos estreiam no evento: Faço de mim o que quero, de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena, Azul, de Eric Laurence, Recife frio, de Kleber Mendonça Filho e Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante.

Juntos, eles correspondem a um terço dos filmes em competição, clara demonstração da força do cinema feito no estado. Laurence, que concorre pela primeira vez no festival, enxerga na situação favorável mais do que talento de seus realizadores. “É reflexo do apoio e incentivo que o cinema têm recebido em Pernambuco”, diz o cineasta.

Estrelado por Zezita Matos, Magdale Alves e Irandhir Santos, Azul é o terceiro curta de ficção dirigido por Laurence (Entre paredes), que também assume a montagem. Na equipe estão Antonio Luiz Mendes (fotografia), Isabella Cribari (produção executiva), Dantas Suassuna (direção de arte) e Carlinhos Borges (trilha sonora). Inspirado em conto de Luzilá Gonçalves (Uma doce maneira de ir morrendo), o roteiro gira em torno da solidão de uma mulher analfabeta que mora numa casa isolada e todos os dias procura uma amiga que lê a mesma carta, escrita pelo filho.

Se o curta de Laurence estabelece um locus existencial / ficcional (o cenário foi especialmente construído pela produção), Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante, se debruça nas possibilidades da interseção documentário / poesia. O filme utiliza a mesma estrutura de Ave Maria ou mãe dos oprimidos (2003), desta vez aplicada ao universo do Sertão, onde, às 18h, as rádios executam a música Ave Maria sertaneja, de Luiz Gonzaga.


Ave Maria ou mãe dos sertanejos, de Camilo Cavalcante

“Diferente do anterior, que mostrava a quase resignação dos moradores do centro do Recife com Nossa Senhora, entre os sertanejos há uma relação mais íntima”, fala Camilo, duas vezes premiado em Brasília (por História da eternidade e O presidente dos Estados Unidos). Seu novo “filho” conta com fotografia de Beto Martins, som de Nicolas Hallet, edição de Caio Zad e produção de Stella Zimmermann.

Recife frio, do crítico e cineasta Kleber Mendonça Filho (outro ganhador de Candangos por Vinil verde e Noite de sexta, manhã de sábado), parte da suposição de que a capital pernambucana passou por mudanças climáticas que inverteram a temperatura proporcionada pelo sol intenso. O plano inicial era simular um falso documentário, com depoimentos dos cidadãos que mudam hábitos para se adaptar às novas condições que tornaram o Recife, nas palavras do diretor, “um cenário de ficção científica”. Enxuta, a equipe é formada por Kleber, Emilie Lesclaux e Juliano Dornelles.

O universo da música brega é o mote de Faço de mim o que quero, parceria entre Petrônio Lorena (O som da luz e do trovão, 2004) e Sérgio Oliveira (Porcos corpos, 2003). Rodado em locações como a praia de Brasília Teimosa (entre Boa Viagem e o centro do Recife), o filme procura traduzir a cultura mais popular da capital ao acompanhar um carrinho de CDs que propaga o som de compositores do gênero, como o Conde do Brega, não por acaso, um dos personagens.

(Diario de Pernambuco, 17/11/09)