Cientistas fazem arte


Vitalino, de Jarbas Jácome Foto: Mozart Sales

Três projetos pernambucanos foram selecionados para a edição 2010 do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o mais importante da América Latina: Vitalino, de Jarbas Jácome, Marvim Gainsbug, de Jeraman e Filipe Calegario e Metrobang, de Ricardo Brazileiro.

Os três utilizam tecnologia digital para propósitos artísticos, foram escolhidos entre 1.230 inscrições de 44 países e estão entre os 90 indicados que agora concorrem a prêmios em dinheiro. Através do site http://www.fileprixlux.org é possível conhecer e, até 25 de junho, votar nas obras preferidas. As mais votadas em cada categoria (arte interativa, linguagem digital e sonoridade) ganha menção honrosa e R$ 10 mil.

Para votar, clique aqui.

Em dez anos de vida, esta é a primeira vez que o File institui um prêmio oficial e popular. Para divulgar esta última e apresentar o evento, os idealizadores e organizadores Paula Perissinotto e Ricardo Barreto estarão no Recife. O lançamento será na quinta, dia 20, às 18h, no Instituto Cultural Banco Real (Recife Antigo), mantido peloSantander Cultural, principal patrocinador do File. Antes, às 14h, Jácome, Jeraman e Brazileiro oferecem oficina do Laboratório de Computação e Artes – Laboca.

Algumas obras já estão pré-selecionadas para a exposição que será montada em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Uma delas é Vitalino, que produz uma escultura digital a partir de movimentos dos dedos capturados por câmeras. “É a virtualização do tato”, diz Jácome. “Apalpar o ar é uma boa metáfora do mundo virtual, onde é difícil ter controle e saber os limites”. O próximo passo é transformar a invenção em instrumento de música visual, capaz de “moldar” o som.

Jácome inventou Vitalino utilizando o software ViMus, desenvolvido durante seu mestrado em ciência da computação e com o qual criou outras instalações, como Crepúsculo dos ídolos (onde a voz interfere em transmissões de TV), Pernambuco percussivo (que desenha o mapa do Estado com batidas) e Afrobeat machine (em homenagem ao músico Fela Kuti). Dentro do espírito da cultura livre, a ideia étornar Vitalino acessível a qualquer interessado: o ViMus está disponível em seu site e o hardware – webcam USB, lâmpada, caixas de cereal, cartolina, palito de madeira, cola, tesoura, régua e lápis – está ao alcance de qualquer pessoa. “Chamo este protótipo de VxV, Vitalino e Virgílio. Virgílio é um mestre do papelão que mora em Brasília, com quem aprendi a modelar com caixa de cereal e palito de dente. Para o File, vou fazer uma versão de acrílico”, diz Jácome.

Marvim Gainsbug é um programa que compõe canções a partir de palavras selecionadas pelo usuário. A fonte para a letra são postagens retiradas do Twitter e a música é criada a partir do mapeamento da extensão das palavras. Conectado a um microfone, Gainsbug simula inteligência ao “conversar” com o usuário. Sua voz lembra a de HAL 9000, o computador pensante de 2001 – Uma odisseia no espaço. “Batizamos assim em homenagem a Marvim, personagem do Guia do mochileiro das galáxias, e ao músico Serge Gainsbourg”, diz Jeraman.

Criado por Brazileiro, Metrobang captura as frequências e ruídos de discos de vinil e os sintetiza em linhas de baixo e percussão. O que se ouve não é a música original do disco, mas sua ressignificação digital. A partir de 5 de junho, será possível experimentar as três obras, no Memorial Chico Science (Pátio de S. Pedro).

(Diario de Pernambuco, 17/05/2010)

Mestre Vitalino também foi criança

Um livro ilustrado com memórias de infância de Mestre Vitalino será lançado em breve pela Fundação Joaquim Nabuco. Voltado para as crianças, mas longe de se restringir a essa faixa de leitores, Vitalino menino tem 40 páginas e deve ser lançado em maio. Ele faz parte de uma nova coleção concebida pelo Museu do Homem do Nordeste intitulada Brincadeiras de Mestres, que adapta para o formato a infância de artistas da cultura popular. Os próximos serão sobre Patativa do Assaré e Mestre Bimba, criador da capoeira regional.

João Lin, que ilustra o volume de estreia, explica que a infância de Vitalino está representada a partir de suas peças de barro mais emblemáticas. Em páginas duplas, episódios de sua vida são contados de forma não linear, diferente das biografias tradicionais. “A peça do Gato Maracajá, a primeira que Vitalino teve consciência de que podia criar e comercializar, ele fez pensando nas caçadas que o pai fazia”.

Parte das passagens foram baseadas em relatos e depoimentos do próprio Vitalino ou de pesquisas sobre ele, encontrados em arquivos de texto, áudio e vídeo disponíveis no acervo da Fundaj. As demais, foram criadas a partir da livre interpretação de Lin, ao lado do designer Rodrigo Sushi e do poeta Valter Ramos, responsável pelo texto final, de acento popular. “Não encontramos nenhuma história sobre a peça do Batismo, disponível na Fundaj. Então inventamos uma, em que ele é o batizado”, diz Lin, que teve como assistente para as ilustrações o desenhista Rafael Anderson. O livro, que tem tiragem de 3 mil cópias, deve ser comercializado a R$ 10.

Vânia Brainer, coordenadora geral do Museu do Homem do Nordeste, diz que o projeto conseguiu definir uma unidade entre o traço de João Lin e a forma dos bonecos de Vitalino. “Ficou tão interessante que até os adultos estão encantados”. O know-how de Lin, que em 2009 assinou os cinco primeiros volumes da série Pequenos craques (Editora Callis) reforçou o interesse da instituição em dar o pontapé inicial do novo projeto convidando o desenhista.

“Entre outros, contei a infância de Garrincha e João do Pulo, do momento do nascimento à adolescência. Só que de forma mais cronológica. Com Vitalino, tive mais liberdade para fragmentar a narrativa e fantasiar a partir do desenho das peças. Penso nas histórias como uma grande tela, que traz uma ilustração ou narrativa de quadrinhos”, diz Lin, que em outro episódio utiliza da mistura dos dois gêneros das artes gráficas para contar a história do Lobisomem a partir de imagens oníricas da noite de lua cheia. Ele também adianta que Vitalino menino pode render produtos derivados, como um desenho animado.

(Diario de Pernambuco, 04/04/2010)