São Paulo (SP) – Três curtas com DNA pernambucano foram destaque no 23º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que terminou na última sexta-feira (31.08) à noite, em cerimônia na Cinemateca Brasileira. Apesar de não ter caráter competitivo, o Festival de Curtas conta com júris montados pelos patrocinadores, além de incentivar a participação dos espectadores com uma votação popular.
A animação “Dia estrelado”, de Nara Normande, ficou entre os dez mais votados pelo público, além de ter ganhado o prêmio do CTaV. Com a assinatura da Rec Produtores Associados, “Quinha”, dirigido pela paulista Caroline Oliveira, também está entre os preferidos do público; e outra animação, “A vida plural de Layka”, foi agraciada com menção honrosa pelo júri do MinC (Prêmio Itamaraty).
Dos três, “Quinha” é o único inédito. Nele, Hermila Guedes interpreta uma mãe solteira, que leva a filha de nove anos para batizar. Com quase um ano de carreira “Dia estrelado” estreou na 4ª Janela Internacional de Cinema do Recife. Totalmente artesanal, feito com a técnica de stop-motion, este é o primeiro curta de Nara Normande e levou quatro anos para ser concluído. O montador, João Maria, recebeu o prêmio por Nara
Dirigido por Neco Tabosa, “A vida plural de Layka” usa diferentes técnicas de animação para narrar duas histórias paralelas, a de um trabalhador oprimido pelo batente e seu vizinho, que relembra proezas sexuais sem limites. O curta, que começa carreira em festivais com o pé direito, foi representado pelo roteirista Henrique Koblitz. Atá então, ele havia sido exibido em duas ocasiões no Recife, uma em cinema pornô no centro da cidade e outra no Cinema da Fundação. Do Rio Grande do Norte, Neco Tabosa falou ao Portal Cinema Pernambucano. “Estímulos como este vão manter a vontade forte de não seguir nenhum impulso que não seja sincero. Ou como diria Koblitz, ‘eu só deseho o que eu sinto’. A vontade é de fazer continuar fazendo filmes assim”.
Outros pernambucanos que participaram do festival são “Porcos raivosos”, de Leonardo Sette e Isabel Penoni, “Dique”, de Adalberto Oliveira e “A vida noturna das igrejas de Olinda”, de Mariana Lacerda, todos inéditos no Brasil. Lançado na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, “Porcos raivosos” parece documentário antropológico, mas é na verdade uma peça de ficção onde índias do povo Kuikuro (Alto Xingu) dramatizam uma situação em que seus homens se transformaram em animais.
“Dique” é um documentário rodado na beira-mar de Olinda, sobre as transformações ocorridas na orla da cidade, longe do movimento turístico concentrado na área tombada como patrimônio. Destaque para o belo trabalho de captação de som de Thelmo Cristovam.
Visualmente inspirado na obra do ilustrador gaúcho Eloar Guazzelli, “A vida noturna das igrejas de Olinda” é uma obra que usa de recursos do cinema sobrenatural e fantástico para captar a memória de ambientes seculares, um dos primeiros construídos no país que ainda perduram. São monumentos que testemunharam cinco séculos de história e Mariana Lacerda utiliza sua câmera e, com um precioso trabalho de som mixado em Dolby 5.1, examina o que aquelas paredes grossas, de blocos selados a gordura de baleia e revestidos com azulejos portugueses têm a dizer.
Este é o segundo curta de Mariana, que estreou em 2008 com “Menino-aranha”, em que assume o ponto de vista do garoto que escalava prédios no bairro de Boa Viagem, percorrida em suave sobrevôo. No que pode ser entendido como uma investigação estética, é com esta mesma suavidade (obtida com equipamento steadycam) que a diretora percorre relevos e texturas das igrejas de Olinda. Um filme poético sobre história, memória e o desejo de retornar para olhares e lugares que mudaram ou simplesmente não podem mais existir.